Mona Lisa escrita por FranHyuuga


Capítulo 1
Mona Lisa - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aviso IMPORTANTE: Essa OneShot é dedicada à Tifa Valentine que ganhou de forma merecida o primeiro lugar no Desafio Kiss Me do Fórum SasuHina.
- Flor, espero que aprecie este presente, apesar de ser simples demais a alguém talentoso como você. (L)



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Mona Lisa

{Por FranHyuuga}

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–Para Tifa Valentine-

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Woah, Mona Lisa

Eu pagaria para ver você franzir a testa

(The Ballad Of Mona Lisa – Panic! At The Disco)

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Eu sempre gostei do Sol.

Do calor que envolve o corpo e deixa os dias claros. Dos sorrisos que desperta nas crianças que aproveitam para se divertir ou dos casais enamorados que trocam carícias sob as árvores.

Eu sempre gostei da sensação quente sobre o meu rosto e especialmente do tom dourado desta poderosa esfera de fogo.

Talvez por isso ele tenha atraído a minha atenção.

Talvez por causar com seu sorriso o mesmo efeito.

Talvez por seus fios sedosos terem a cor de ouro que já apreciava.

Era impossível não sentir meu coração aquecer em sua presença.

Naruto era o meu Sol.

* * *

Ela caminhava silenciosamente pela Vila. Os passos calmos e a expressão cansada denunciavam o término de um dia intenso. A missão havia sido concluída com sucesso, mas internamente Hinata sabia que poderia ter se esforçado mais.


Poderia ter sido melhor do que havia demonstrado.


Era sempre assim. Após uma missão a frustração a invadia como um veneno corrosivo, deixando-a com a intensa sensação de que nunca seria capaz de se sentir satisfeita com seu desempenho. Sentia certa raiva ao pensar que seu pai estava certo em deserdá-la com a justificativa de que não tinha potencial suficiente para ser a herdeira do Clã Hyuuga.


Ela pensava que nunca poderia assumir a densa responsabilidade por tantas vidas. Era simples demais, frágil demais, benevolente demais. Sempre evitava matar os shinobis inimigos, a não ser que fosse estritamente necessário. Costumava acertar seus tanketsus apenas para desmaiá-los por tempo suficiente à execução da missão.


Hipócrita.

Por que, afinal, escolhera ser uma kunoichi quando lhe faltava a indiferença necessária? Quando seu coração não continha a frieza capaz de torná-la forte? Quando chegava das missões tão cabisbaixa e insatisfeita como nesse momento?


Estúpida.

Suspirou, derrotada. Nesses momentos em que o Sol resplandecia com suas cores avermelhadas sob as nuvens em um cenário poente, a Hyuuga sentia o coração apertar em sofrimento. Mais – ou menos – um dia chegava ao fim e ela ainda não se sentia próximo de ser o que Naruto merecia.


Um Sol como ele devia ter ao seu lado, ao menos, uma estrela brilhante. Devia ter ao seu lado uma pessoa tão iluminada como era. Alguém digno da sua presença acolhedora e quente.


Havia sido triste admitir que não tinha chances e não combinava com Naruto. Depois de algum tempo, já não alimentava esperanças. Contentava-se em vê-lo à distância, acompanhando seus passos e esforçando-se em ser cada vez melhor, como ele era aos seus olhos.


Naruto continuava sendo seu Sol.

Ironicamente tão distante quanto a própria esfera de fogo.


– Hina-chan! ­­– Uma voz feminina bradou em meio às pessoas e os perolados flagraram os longos cabelos dourados de Yamanaka Ino. – Que bom encontrar você! – A jovem expressou assim que estava perto o suficiente.


– Olá, I-Ino-chan. – A morena cumprimentou polidamente, sentindo-se tola por gaguejar devido a atenção que recebia por estar ao lado de uma das beldades de Konoha.

– Hoje vamos ao Ichiraku e você não poderá faltar. – As safiras eram brilhantes pela animação e a Hyuuga já considerava difícil negar. – É raro estarmos todos disponíveis, então, nem pense em dormir!

Um sorriso sem-graça demonstrou que a morena realmente pensava em descansar, mas quando Ino utilizava aquele tom de voz autoritário era quase impossível fazê-la aceitar qualquer argumento.


– Certo... – A voz delicada expressou, contrariada. – Estarei lá.

E ao ver a Yamanaka afastar-se satisfeita, a jovem considerou que aquela noite talvez fosse longa demais.

* * *

A felicidade das pessoas sempre me deixou feliz.

É incrível como o sorriso dos meus amigos me aquece por dentro. Seus olhos brilhando em contentamento, seus corpos agitados pela empolgação de uma nova experiência, formavam um conjunto que sempre me animou.

Agradecer pelas conquistas dos meus amigos era o suficiente para me fazer esquecer dos meus próprios problemas. Observá-los, acompanhá-los, participar de sua felicidade, fazia-me esquecer de mim mesma.

Esquecer da minha vida chata, sem graça.

Esquecer das minhas fragilidades insuperáveis.

Então, de repente, vê-los tão felizes fez-me notar que não combinavam comigo. Eles sorriam com tamanha alegria que me senti solitária por não ser capaz de retribuir com o mesmo entusiasmo.

Porque, lá no fundo, meu maior desejo parecia aprisionar meus sentimentos.

Senti-me tola ao perceber que apenas desejava...

Ser feliz também.

* * *


Após o ataque da Akatsuki sobre Konoha, o Ichiraku Lámen havia recebido especial atenção ao ser reconstruído. O espaço era amplo com várias mesas de madeira polida, adornadas com toalhas brancas cuidadosamente bordadas. O ambiente era claro e acolhedor, mantendo certa simplicidade que ganhava modernidade com a música suave. Não era à toa que muitas pessoas utilizavam o Ichiraku como ponto de encontro.


Hinata adentrou o local com o coração descompassado, sem lembrar ao certo a razão para ter realmente aceitado aquela convocação. Só de pensar que deixou sua atraente cama seus pés quase traíam sua convicção. Quase. No entanto, ela havia dado a sua palavra e este era seu nindo.


Não que alguém realmente se importasse com isso.


– Hina, aqui! – O tom grave conhecido atraiu sua atenção e logo o sorriso alegre, porém não totalmente satisfeito, moldou-se em seus lábios rosados. Era muito bom reencontrá-lo.


– Kiba-kun! – A jovem expressou caminhando em sua direção para abraçá-lo. No caminho, notou que junto à mesa do amigo estavam outras pessoas conhecidas.


Ao notar que Shino ainda não estava presente para abraçá-lo, cumprimentou a todos com um sorriso tímido e sentou-se ao lado de Tenten na extremidade da mesa. À sua frente estava Sakura e ao seu lado esquerdo Ino. As kunoichis pareciam animadas em uma conversa casual e logo Hinata viu-se inclinada sobre a mesa para ouvi-las melhor.


– Então, ele me beijou! – Ino exclamou empolgada.


– Você deixou que o Kankurou lhe beijasse enquanto saía com o Neji? – A rosada questionou em tom incrédulo.


– Ah, o Neji não firmou suas intenções comigo. – A outra argumentou. – Tecnicamente não estamos namorando.

Tenten revirou os olhos, contrariada. E Hinata conteve uma expressão desgostosa. Afinal, não concordava com as atitudes impensadas da loira e Neji era seu querido primo. A sério, não lhe agradava em nada aquela conversa.


­- Não ouse dar sermões! – A loira ordenou com as safiras fixas sobre os verdes severos. – Você estava com o Shikamaru enquanto ele namorava a Temari, testuda.


– Ela não sabia que o Shikamaru estava namorando. ­– Tenten salientou franzindo as bonitas sobrancelhas em defesa da amiga. O tom enraivecido denunciava que a mestre das armas não gostava de saber que Ino traíra seu companheiro de Time em uma viagem a Suna.


– E você? – A jovem questionou encarando as esferas âmbar em desafio. – Sabia que o Kiba estava prometido em casamento quando fez de tudo para conquistá-lo, Tenten?


A castanha encarou a mesa em silêncio, sentindo-se oprimida pela pergunta. Ela sabia da condição do Kiba, mas o que sentia era maior que o bom senso. Estavam juntos há cinco meses e davam-se tão bem um com o outro. Desconhecia as consequências da anulação de uma promessa de casamento no Clã Inuzuka, mas evitava pensar nisso quando estava com o namorado.


Hinata observou as acusações em um silêncio incômodo. Não gostava quando as amigas discutiam daquela maneira velada, lançando umas sobre as outras suas falhas. O incômodo era maior porque ela nunca tinha o que dizer.


Sempre fora solitária. Aguardando um amor infantil correspondê-la. Era ridículo pensar que se declarou ao Naruto em uma situação que poderia matá-la e depois de alguns meses a única resposta que obtivera foi um simples sorriso nervoso.


O loiro decidira ignorar a situação.

Ela nunca se sentiu tão humilhada.


– A única entre nós que possui um caráter inquestionável é a Hinata. ­– Ino declarou e a morena encolheu-se na cadeira.


– Ela está aguardando uma pessoa especial, não é, Hina-chan? – A rosada questionou em timbre suave, quase temerosa de que a Hyuuga se sentisse ofendida.


– E essa pessoa seria loira de olhos azuis? – A Mitsashi perguntou sorrindo, alheia à expressão entristecida da amiga.


Há muito Hinata não aguardava Naruto. Além de ter seus sentimentos ignorados, ela sabia que o coração do jinchuuriki pertencia somente à Haruno. Apesar disso, alguns boatos indicavam que ele havia se envolvido com uma garota da Vila da Névoa. A morena nunca teria coragem de perguntar se eram verdade.


– Não. – Respondeu simplesmente, atraindo olhares surpresos.


– O quê? – Ino gritou na mesa, fazendo com que a conversa dos rapazes cessasse brevemente. – Kami, quando pretendia nos contar que há outra pessoa?

Os perolados arregalaram-se com a sentença. Não havia outra pessoa! Nunca houve. Ela simplesmente não estava aguardando por ninguém.


– N-Não é i-isso! ­– Corrigiu, visivelmente nervosa.


– Ah, mas deveria ser. – Sakura comentou solidária. – Você é uma pessoa incrível, Hina-chan.

O coração da jovem aqueceu com o elogio. Se suas amigas soubessem que nunca se sentira incrível.

– Com certeza merece uma pessoa especial. – Tenten concordou, sorrindo com carinho. – Não consigo entender como é feliz sozinha.


“Eu não sou”, pensou amargamente, deixando um sorriso no rosto. Era um pouco deprimente pensar que ninguém notava sua solidão.


– Acho que devia pensar, ao menos, como gostaria que fosse essa pessoa especial. – A Yamanaka completou antes que os rapazes passassem a atrair a atenção das jovens.


* * *


Sempre fui uma idealista incorrigível.

Acreditar que poderia casar e construir uma família feliz era o mínimo.

Então, você amadurece, experimenta e vive. E logo seus sonhos passam a se tornar cada vez mais difíceis de se realizar. Antes, um sorvete lhe fazia feliz. Depois, você deseja um emprego. Uma casa. Uma congratulação.

Antes, um abraço amigo era o suficiente para apaziguar sua dor.

Depois, não importam os abraços. A dor não vai embora.

E você entende que as lembranças permanecem.

E que algumas feridas simplesmente não curam.

E mesmo que tudo esteja ruindo ao seu redor, você continua a idealizar. Em uma permanente teimosia, agarrando-se à esperança como se fosse sua própria vida.

E, finalmente, você aprende que...

Não são as dificuldades para realizar os sonhos que frustram.

São suas próprias expectativas.

É lamentável admitir – e por vezes sinto-me tola –, mas...

Eu ainda sou idealista.

* * *


Hinata continuou sorrindo durante a noite, mesmo quando Naruto chegou com seu humor radiante e sentou-se ao lado da Sakura. Ela sorria das piadas, dos gestos exagerados dos amigos, dos comentários alegres.


Talvez sorrisse para manter a imagem de que estava feliz. Ela não suportaria que a vissem desnuda de sua armadura. Não suportaria que a julgassem como ela própria julgava. Alguém anônimo. Triste e descartável. Dar atenção ao seu mundo interno era decadente. Então, limitava-se a observar os outros.


Observou Neji trocar olhares furtivos com Ino; Sakura criticar um desenho do Sai; Naruto rir com Chouji e Shikamaru sobre algo que não deu atenção; Tenten beijar os lábios de Kiba; Akamaru dormir aos pés do dono; Shino – que chegou depois – fingir interesse sobre o que Lee dizia.


Os perolados continuaram fixos sobre a face inexpressiva do amigo de longa data. Não entendia como as pessoas consideravam Shino ilegível – até mais do que seu primo. Aos seus olhos atentos, as mínimas expressões do Aburame ganhavam significados.


Ela sorriu ao notar um leve arquear da sobrancelha direita. Era a maneira sutil de Shino expressar incredulidade. Não tardaria para que ele interrompesse e questionasse o que achava refutável. Quase riu quando poucos segundos depois a voz grave formulou algum argumento e Lee se calou com os negros assustados. Eram poucas as pessoas que podiam contra-argumentar Shino.


Logo as lentes escuras voltaram-se para ela, que retribuiu o olhar com um pequeno sorriso. Ela já previra que Shino sentisse que era observado. Ele possuía uma capacidade única de dedicar atenção a tudo.


Enquanto as horas passavam, Hinata manteve as palavras de Ino em mente.


Quem seria uma pessoa especial para si mesma? Naruto era especial, mas não para alguém como ela. E a hipótese de que talvez não houvesse esta pessoa era terrivelmente amedrontadora. Quando todos brindaram no término da noite, a jovem elevou o pequeno copo com saquê e desejou, profundamente, encontrar a resposta.


* * *


Dizem que todos têm sua alma gêmea. A metade da laranja. A tampa da panela. E outras frases tão otimistas – e pouco culturais – quanto essas.

Confesso que acreditei com todo o meu ser ter encontrado essa pessoa.

Naruto foi, por muito tempo, a força que não possuía.

Enquanto minha família me pressionava para cumprir minhas obrigações, Naruto simplesmente dizia para fazer o que acreditasse. Ele não torcia pela minha vitória, mas para que revelasse o melhor de mim. E naquela minha medíocre vida, sua presença me iluminou.

Então, dediquei tudo de mim por ele.

Porque o Naruto era a única pessoa que meus olhos viam. A única por quem meu coração se aquecia. A única que se preocupou em provar que todos estavam errados ao meu respeito.

Era impossível que uma pessoa despertasse um amor tão grandioso e não fosse “minha metade”, “meu complemento”. Era impossível admitir que ele não me amasse, porque apenas a sua existência era o suficiente para me fazer feliz.

Doeu quando percebi...

Meus sentimentos refletiam o intenso desejo em ser reconhecida.

Eles não revelavam nada além de mim mesma.

Não era ao Naruto a quem amava.

Era ao meu Naruto.

Ao meu Sol.

* * *

– Não precisava me acompanhar, Shino. – A voz de sinos expressou, condolente. Neji sumira no final do encontro, provavelmente na companhia de Ino, e o amigo dispôs-se a levá-la.

– Além de cuidar da sua segurança... – O tom rouco iniciou e a jovem mirou curiosa o rosto masculino. – Quero conversar com você.

Não soube identificar por que, mas o coração da Hyuuga pareceu dar um salto com a afirmativa. Apenas pelo timbre masculino, ela soube que o assunto seria importante. Shino era um homem de iniciativa, mas eram raros os momentos em que a pressionava.


Diminuíram o ritmo quando chegaram à fachada do prédio onde a Hyuuga morava desde que fora deserdada. Ela nada disse enquanto subia as escadas e o amigo a seguia, entendendo no silêncio que Shino aguardaria estarem no interior do pequeno apartamento para dizer o que pretendia.


Entraram na sala e a morena retirou o casaco deixando-o sobre o encosto do sofá de dois lugares. Ela foi até a cozinha e colocou a chaleira no fogo para preparar um chá. Era um hábito comum sempre que Shino a visitava.


Ao retornar para a sala encontrou o amigo sentado no sofá com um dos casacos sobre as pernas, deixando os cabelos castanhos livres do costumeiro capuz. Os cotovelos apoiados sobre os joelhos e as mãos grandes com os dedos entrelaçados formavam uma pose atraente. Eram poucas pessoas que viam Shino daquela maneira, mais natural e despojada, mas depois de alguns anos de convivência era uma cena comum à Hyuuga, muito embora ainda se surpreendesse.


Ele não se moveu quando o corpo feminino se acomodou ao seu lado. Hinata aguardou pacientemente até que a voz grave rompesse o silêncio:


– Há algum tempo percebo que não está bem, Hinata. – A sentença causou surpresa e a jovem remexeu-se incomodada. – Independentemente do que está havendo, você sabe que pode contar comigo.


Os perolados miraram o chão polido e o estômago da morena pareceu contrair-se com a ansiedade. Imaginara que Shino pudesse perceber sua falsa alegria, mas ele estivera envolvido com várias missões e viam-se tão pouco que manteve o sorriso no rosto e desconsiderou a possibilidade de expressar o que sentia realmente, preocupada em manter as aparências para não causar preocupação.


Aparentemente, Shino a conhecia melhor do que previra.


– N-Não é nada. – Sorriu calma, com sempre fazia, para não ser um fardo aos ombros cansados do amigo.


– Seu sorriso não me convence. – A voz soou assertiva, atraindo os perolados que reluziam tristeza. – Não gosto do que vejo sob suas expressões.


Ela sabia que Shino evitaria perguntar o que estava acontecendo, mas era quase impossível não se entregar àquela oportunidade de expressar o que sentia. Encarou o lado oposto da sala para que ele não visse seus lábios trêmulos, mas quando as mãos grandes e calorosas tocaram os braços frágeis e desnudos, uma agitação violenta tomou o corpo feminino e logo os perolados inundaram-se com as lágrimas.


A morena apenas deixou-se guiar pelo movimento sutil das mãos de Shino e logo seu corpo moldou-se ao dele em um abraço acolhedor. As mãos delicadas escondiam-se sob as costas do amigo e ela não o encarou quando apoiou sua cabeça no largo peito. O corpo do shinobi estava inclinado no sofá e suas mãos dançavam suavemente pelas madeixas índigo da jovem entre seus braços, em uma carícia que denunciava preocupação.


Hinata ouvia o coração compassado do Shino como uma melodia única. A respiração acalmou-se ao ritmo do arfar do peito masculino e as lágrimas silenciosas diminuíram, mas ela continuou naquela posição até que todos os seus sentidos estivessem cientes da proximidade dos corpos e das sensações despertadas. Ela nunca havia reparado como o perfume do amigo era agradável. Uma mistura de laranja e menta; envolvente e refrescante. Ainda, o calor que emanava do corpo de Shino era aconchegante, mesmo no verão como estavam. Ela sabia que a temperatura era elevada para manter os insetos em seu organismo, mas nunca imaginara que pudesse se sentir envolvida em um abraço morno. Era como o calor do Sol sobre seu corpo, tal como sempre gostou.

O som de um apito soou no ambiente silencioso e a jovem desvencilhou-se do abraço acolhedor com o rosto rubro. Ela não o encarou quando se afastou explicando ser a chaleira para o chá.


Somente quando caminhou até a cozinha, a Hyuuga percebeu.

Suas pernas nunca estiveram tão trêmulas.


* * *

Sabe aquela sensação de ter dedicado tempo e energia preparando-se para uma atividade que depois foi cancelada? Ou quando você estuda como um condenado para um teste que não avalia absolutamente nada do que estudou?

Foi como me senti quando descobri que meus sentimentos pelo Naruto, o meu Sol, não eram exatamente o que pensava.

Dizem que ao perder um grande amor, seu coração parece partir em milhares de pedaços que nunca serão reunidos de novo. Que a vida perde suas cores. Que nunca seremos felizes em outro relacionamento.

Então, você passa a observar pessoas que dizem terem amado mais de uma vez e flagra-se questionando qual dos relacionamentos era, definitivamente, amor. Isso porque é doloroso admitir que um sentimento tão especial possa ser “facilmente” construído tantas vezes.

E suas observações avançam ao ponto de constatar que, na verdade, não existe somente uma forma de amor. E justamente a capacidade de adquirir diferentes formas torna este sentimento tão admirável.

Então, aqueles homens com quem suas amigas se relacionaram adquirem um papel mais importante do que apenas uma aventura. E os ex-maridos das suas vizinhas não lhe parecem somente velhos bêbados e inúteis.

Cada pessoa que passa pela nossa vida, cada relacionamento que foi construído, consolidaram quem somos, nossa forma de amar.

Naruto foi especial para mim de um jeito que ninguém será.

Mas, neste momento meus olhos se abriram.

E era hora de mudar.

* * *

Hinata sentia-se constrangida enquanto sorvia o chá em pequenos goles ao lado de Shino. Era estranha a situação, porque já havia experimentado a sensação de receber um abraço do amigo, mas agora que o vira diferente sua timidez parecia incontrolável.


– Posso ir embora se quiser. – O Aburame se pronunciou colocando a xícara de chá sobre a mesa de centro.


– Não! – A resposta foi rápida e a morena encolheu-se com a vergonha. – Quer dizer, n-não há n-necessidade, Shino. – Emendou na tentativa de reduzir a ansiedade anterior.


Ela não o encarou quando sentiu o corpo masculino aproximar-se um pouco mais. As grandes mãos retiraram a xícara que aquecia os dedos femininos, colocando-a também sobre a mesa de centro. Então, a voz rouca, quase sussurrante, pediu:


– Olhe para mim. – A morena mordeu o lábio inferior em nervosismo, antes de obedecer e fixar os perolados sobre as lentes escuras. ­– Quer me dizer o que está acontecendo?

Alguns segundos se passaram e logo a jovem assentiu, decidida a aproveitar a oportunidade de conversar com alguém confiável. Ela sabia que Shino era a pessoa mais discreta e honesta que conhecia. Não havia, necessariamente, pelo que temer.


– Shino, você... – Começou, suspirando enquanto formulava a pergunta em sua mente. – Já se sentiu solitário?

A sobrancelha esquerda elevou-se minimamente e a Hyuuga compreendeu que o amigo estava refletindo a pergunta.


– Penso que todos nos sentimos assim algumas vezes. – Respondeu, por fim, após poucos minutos. – Você se sente solitária?

– Acho que nunca encontrarei... – Hesitou desviando o olhar para a xícara de chá. – Alguém. – Completou em um sussurro constrangido.


– Você provavelmente se sente assim por ouvir suas amigas compartilhando experiências. Por quê? – Explicou ajeitando o óculos sobre o nariz reto. – Porque é muito observadora, o que dificulta ter suas próprias experiências.

A morena sorriu. Em parte porque concordava. Em parte porque sempre achara graça quando Shino perguntava e respondia a si mesmo.


– Você deve ter razão. – Ela afirmou, sentindo que não devia falar mais.


– Não devia permitir que ele domine suas escolhas. – A voz rouca soou um pouco rude e Hinata entendeu a quem o amigo se referia. Naruto. – Você, mais do que ninguém, deve ser capaz de escolher o que lhe faz feliz.


Ela mordeu o lábio inferior mais uma vez e assentiu. Shino sempre sabia o que dizer. Era fácil ser sincera quando se recebe a retribuição do gesto.


Os perolados pousaram sobre o rosto masculino e a jovem sentiu o interior vibrar ao admirá-lo. Algumas vezes, Hinata pensava que as mulheres da Vila apenas não corriam atrás de Shino porque nunca o observaram atentamente. E o casaco que o amigo usava revelava sua discrição intencional.


De uma forma estranha, desta vez, a jovem não pôde evitar sentir-se um pouco vaidosa por ser uma das únicas mulheres capazes de vê-lo tão próximo. De admirá-lo como fazia neste momento, tendo-o sentado tão à vontade em seu sofá. O sorriso alargou-se com a constatação.


– Nesse momento... – Ela começou, sem notar o timbre melodioso de sua voz. – Você me faz feliz.


Ela ainda sorria quando Shino inclinou-se um pouco mais, ao ponto de seus lábios quase tocarem os dela. Não ousou ou conseguiu emitir qualquer reação, tamanho o torpor que sentiu quando as mãos masculinas retiraram o óculos escuro lentamente, como uma peça de roupa.


Quando os perolados encontraram os olhos de Shino, a jovem engoliu em seco. As esferas pareciam chocolate derretido com sua cor amendoada, mas a proximidade revelava alguns detalhes esverdeados que a morena flagrou-se desejando analisar. Foram raras as vezes que vira aqueles olhos, mas esta certamente era a primeira vez que podia admirá-los.


Eram orbes quentes, seguros, intensos. Hinata sequer ousou piscar para gravar em memória cada nano-segundo da experiência. Encarar Shino era como mergulhar de um penhasco e não alcançar o solo, mas se sentir tranquila e controlada. Era possuir tudo e reconhecer-se no nada.


E o único sentimento que prevalecera quando a morena pousou suas mãos suavemente sobre a face masculina era de que desejava mais. Ela desejava Shino, de uma forma tão intensa como nunca desejara ninguém. Queria aprofundar a intimidade que ele havia iniciado ao despir o óculos. Queria provar um pouco daquela pequena parcela de insanidade.


Os perolados mantiveram-se fixos sobre aqueles olhos tão enigmáticos até o momento em que os lábios se tocaram em uma carícia suave, quase inexistente, sentindo a textura e o confronto do hálito quente sobre a face. Ela permitiu que os pulmões se inflassem de ar; coragem e ousadia adentrando o corpo com o oxigênio.


Então, a jovem pressionou seus lábios contra os dele com maior intensidade e sentiu-o reagir ao contato. As mãos masculinas que antes a acariciaram pacientemente agora embrenhavam-se nos longos cabelos intensificando a proximidade. A jovem arfou quando sentiu a língua aveludada pedir passagem e sua racionalidade parecia tê-la abandonado quando o gosto de Shino misturou-se ao seu em sincronia e movimentos ousados.


O coração parecia explodir no peito quando a mão do Aburame abandonou os fios sedosos e envolveu sua cintura, apertando-a de maneira possessiva. Seu corpo inteiro parecia queimar a cada toque, a cada investida da língua vigorosa contra a sua, a cada respiração pesada de Shino.


E ali, naquele momento, ela descobriu estar entre os braços de uma pessoa especial.


* * *


É engraçado como a vida pode nos conduzir a lugares imprevisíveis.

Se antes estive solitária e triste, reconheço grande parcela de responsabilidade. Não foi necessário que uma pessoa desconhecida surgisse em seu cavalo branco e armadura brilhante, perfeita segundo minhas idealizações, para resgatar-me de meu próprio inferno pessoal.

Foi necessário, apenas, observar melhor quem havia ao meu redor.

E, acima de tudo, foi necessário dar uma chance a mim mesma.

Lembro-me que depois daquela noite, começamos a namorar. E não tardou para que o Shino se revelasse cada vez mais especial em minha vida. Certa vez, perguntei a ele como notou minha tristeza sob a perfeita encenação e a resposta – sempre sincera – comparou-me à Mona Lisa.

Um sorriso genuinamente pintado para tornar a imagem bonita, mas que não trazia brilho aos olhos. Um sorriso topograficamente atraente, mas pouco interpretado.

Foi impossível não sorrir verdadeiramente com a comparação. Assim como Da Vinci, somente Shino poderia analisar minhas expressões com tamanha sensibilidade.

Se hoje respondesse Yamanaka Ino, poderia dizer com tranquilidade as características de uma pessoa especial. E o faria orgulhosa por não se tratar de mera idealização, mas por reconhecer em alguém estas qualidades.

Uma pessoa especial...

Conheceria minhas expressões o suficiente para observar haver algo errado sob meus sorrisos. Demonstraria genuína preocupação ao me visitar apenas para ouvir minhas aflições. Respeitaria o meu tempo e espaço pessoal.

Uma pessoa especial...

Seria sincera e honesta. Teria a seriedade necessária para lidar com as situações. Não me subestimaria. Não hesitaria em me amar intensamente ou desejar.

E...

No caso de Aburame Shino...

Nunca, nunca, tiraria o óculos diante de outra mulher.

~Owari.



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Notas finais do capítulo

!Chegamos ao Fim!
.
Que saudades de vocês, povo!!!! õ/
.
Ah, foi especial escrever essa OneShot.
Primeiro porque adoro o casal, mas é raro encontrá-lo por aqui. *chora*
Segundo porque Shino é um personagem tão fodástico!!! Adoro sua personalidade.
.
Estou super curiosa para saber o que acharam! =)
Especialmente a Tifa Valentine, para quem essa OneShot é dedicada.
.
Honestamente, como sempre, não gostei muito.
Falta experiência com o casal, suponho.
.
O que importa, na verdade, é a opinião de vocês. *-*
O QUE ACHARAM DA HISTÓRIA E DO CASAL?
.
Por favor, comentem...
Espero retornar em breve com novo capítulo de alguma história.
.Saudades.
.
Aceito~
!Flores ou Pedras!
.Em reviews.