Suzumiya Haruhi no Kisetsu escrita por Mayumi Sato, Sereny Kyle, Shiroyuki, Khaleel


Capítulo 3
Primavera: O renascer das flores - por: Khaleel


Notas iniciais do capítulo

"O-O que eu acabei de dizer?! Não. Péssimo. Haruhi, não me mate pelo que eu acabei de falar. Foi um lapso, um lapso sentimental excessivamente poderoso."



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 O crepúsculo iluminava as páginas do livro de Nagato, mas tinham pouco tempo para serem abraçadas pela luz, pois ela movia as folhas a uma velocidade que me permitia questionar: Ela realmente estava lendo? Seu rosto sequer se movia e seus olhos piscavam apenas para comprovar que ela não era uma estátua.

Do outro lado da mesa estava Koizumi golpeando insistente o indicador sobre a mesa. Às vezes penso que ele esteja apenas cumprindo um papel para que eu me sinta bem vencendo de alguém. Não é possível alguém ter levado tantos Mate Pastor e ainda estar tentando descobrir como era feito.

-Realmente uma jogada espetacular, como esperado de você. -disse ele, ocultando com um sorriso a falta de conformação com o lance. Desista Koizumi, fora uma jogada 100% legal.

Suspirei. O novo ano letivo mal tinha começado e tudo permanecia com um tremendo ar de nostalgia. Asahina-san concentrava-se em tornar o chá de hoje o mais saboroso para marcar o segundo dia do nosso reencontro nessa nova fase de nossas vidas, sinto o sabor da maturidade me alcançando. Mais próximo da universidade, mais perto de estar livre dos problemas causados por ela.

Haruhi. O que ela estava aprontando? Aquela garota faltava ser apenas uma arma biológica e não tinha aparecido nem na cerimônia de abertura nem no clube no horário do almoço. Aceitei a normalidade (Se isso for possível, afinal, estamos falando de Haruhi) e estive suportando a monotonia do segundo dia junto com os demais membros.

O chá quente foi colocado sobre a mesa e bela maid, Asahina Mikuru-sama ganhou um triplo 10 com o seu sorriso avassalador. Você deveria trabalhar em alguma agência de modelos, Asahina-san e quando estiver no topo, por favor, lembre-se de mim!

Porém, Asahina-san parou de sorrir. Seu rosto se moveu em direção da mesa onde Haruhi geralmente ficava encarando os números do contador de visitas do site da Brigada SOS como se pudesse fazê-los aumentar apenas com um olhar.

-Suzumiya-san não veio hoje... Espero que esteja tudo bem-foi o que ela disse. Apesar de ninguém na sala do antigo clube de literatura ter falado nada sobre isso anteriormente, todos mantinham isso em suas mentes. Inclusive eu, o que mostrava que realmente era uma questão que incomodava.

Recorri a primeira pessoa que me veio em mente.

-Nagato, aconteceu alguma coisa com a Haruhi?

A Alien levantou o rosto e encarou o vazio, seu rosto não alterou uma única linha facial. Seu silêncio permaneceu por alguns segundos, parecia que ela tinha apertado o botão verde para ligar os sensores de busca.

-Impossível determinar. -limitou-se a responder.

-Espere, ela está nesse mundo, certo?

Precisei perguntar isso. Os eventos ocorridos da ultima vez que Suzumiya Haruhi desapareceu ainda estão bem marcados em minha memória. Apesar de ter sido algo criado por Nagato Yuki, a experiência não fora das mais agradáveis. Muito pior fora aquela desistência de Haruhi por nosso mundo.

Não, não, não, não! Sem repetições.

Koizumi permanecia calmo em sua cadeira, captando minhas reações como se fosse uma câmera de alta precisão. Asahina-san apenas observava calada. Vocês são muito diferentes quando o alvo de suas observações não está aqui.

-Creio... Que devemos iniciar os preparativos.

Olhei para o estudante que parecia já ter finalmente aceitado o fim da partida. Espere... Vocês estavam esperando eu falar alguma coisa para começarem a agir? Se eu tivesse dito algo apenas 100 anos depois, vocês levariam isso sem muitas alegações?

Asahina-san assentiu como se fosse um soldado aceitando ordens de um general.

Maldição. Eles sempre fazem isso.

-Ei, o que está acontecendo? Alguém pode perceber que eu estou um pouco desorientado aqui?

A maid olhou para mim com um olhar que dizia “Me desculpe, eu esqueci!”. Tudo bem, você está perdoada. Sempre estará.

-Um evento programado foi iniciado. A minha agência aguardava as ações desse plano temporal para iniciarmos o conserto em uma falha na linha do tempo.

Espere um pouco. “Falha” e “Programada” não parecem coisas que normalmente aparecem juntas.

-Então você sabia que Haruhi não iria vir nos dois primeiros dias de aula?

-Isso é uma informação confidencial.

-Se vocês sabiam que haveria uma falha, por que não anteciparam as coisas ou simplesmente as consertaram?

-Informação confidencial.

...Perfeito.

Depois de todo esse tempo, eu acho que aprendi a lição valiosa de nunca esperar muito de pessoas que vem do futuro.

Koizumi se levantou da sua cadeira e se aproximou de mim, tocando o meu ombro.

-É melhor nós irmos dar uma volta, também tenho que fazer minha parte.

Não diga coisas que podem implicar um duplo sentido desnecessário. Não preciso do seu sorriso perto da minha cara.

-Eu sinto muito... Kyon-kun, mas é melhor você ir com ele.

Olhei para Nagato que também havia se levantado e agora olhava para a janela como se esperasse algo. A tarde estava quase acabando e logo todos os alunos sairiam da escola.

Uma escola comandada por uma Agência secreta abrigando atividades anormais em salas de clubes. Nada fora do comum.

Acompanhei Koizumi até os portões da escola, somente um ou dois alunos também faziam a mesma coisa e agora se dirigiam a suas casas.

-Muito bem, é hora de suas explicações e teorias completamente sem sentido.

Mais um risada, falsa como quase tudo naquele cara.

-Não se preocupe com isso agora, antes vamos a um lugar, sim?

Apontou para minha bicicleta e a dele, que estava coincidentemente ao lado muro do colégio. Aquela bicicleta estava guardada desde que Haruhi organizou um “Busca da diversão no novo ano!” e não havia saído do lugar onde costumava guardar.

-Espero que minha queixa de invasão à propriedade privada seja ouvida por um delegado não-esper.

Ignorando minha pequena ameaça, Koizumi pegou sua bicicleta e partiu com um ar de “Siga-me se puder”, sem muito que fazer resolvi o perseguir pela cidade e realmente, ele foi longe.

Passamos bem perto do centro da cidade, mas seguimos para uma área um pouco menos movimentada ao Leste. Deixamos nossas bicicletas em um lugar onde havia a garantia de que não seriam removidas.

-Pode ao menos dizer para onde estamos indo?

Koizumi olhou para mim e disse sem hesitação: Para uma floricultura.

Isso é alguma piada? Apesar de que eu não vou faz muito tempo a lugares assim, com toda certeza existem floriculturas muito mais perto do que a existente à quase 20 minutos da escola.

-Você não está falando sério.

-Estou sendo totalmente sincero com você. É naquele prédio. -Apontou para um prédio pintado de cima para baixo com um rosa nem um pouco discreto. Na entrada havia várias flores do mais variados tipos cujos nomes devem ter aparecido em alguma aula de biologia que eu fiz questão de dormir.

Levantei uma sobrancelha tentando expressar meu desgosto por entrar em um lugar assim nesse horário. Acho que meus pais prefeririam descobrir que eu estive em uma casa noturna.

Adentramos na loja e logo estávamos diante de uma atendente excessivamente animada. Tsuruya estava lá, bem diante dos meus olhos usando um avental florido e luvas, creio que para cuidar de roseiras.

-Olá, Kyon-kun!-disse ela levantando uma das mãos e acenando.

Apesar do choque e minha tentativa de assimilar o que estava acontecendo, Tsuruya mostrou-se receptiva aos seus clientes. Koizumi já se aproximava do balcão onde a atendente estava. Sem hesitação, apontei para a garota.

-O que você está fazendo aqui?!

Ela me olhou com uma expressão de dúvida.

-Huh...Kyon, do que está falando? Pessoas não podem ter trabalhos de meio período?

Eu não esperava um trabalho justo de você. Pode até combinar com sua personalidade, mas não vejo necessidade de uma garota tão rica trabalhar. Se eu estivesse tão bem de vida quanto você, já teria largado a escola há muito tempo.

-Indo direto ao assunto, vocês vieram buscar a encomenda, certo?

Seja lá o que for não fale como uma chefa de um cartel de drogas.

Como se tivesse lido minha mente, a garota de cabelos longos voltou a falar como se fosse uma metralhadora.

-Não se preocupe Kyon, não estamos fazendo nada ilegal por aqui. Mikuru-chan me pediu para guardar isso comigo quando fosse o momento. -Ela então se abaixou, pegando uma pequena caixa de madeira trabalhada. Era pequena, mas parecia extremamente cara. Algo como aquelas coisas inúteis e colecionadores fanáticos pagam milhões para ter.

Aproximei-me e peguei a caixa. Tinha uma pequena divisão na parte superior e comecei a abri-la, mas a mão de Koizumi impediu meu movimento.

-Apenas abra na hora certa. Por que não damos uma volta para tomar um pouco de ar?

Devem ser as flores. Tinha lido em algumas revistas que plantas não eram boas companheiras de noite por que absorviam todo o oxigênio que geravam no período da manhã, não que isso tenha impedido Koizumi de me arrastar para um banco em frente da floricultura.

-Esse evento é algo especial. Não é nada muito perigoso até onde nós sabemos, porém tudo tem que ser feito com o máximo de cautela.

-Alguma razão em especial para isso?

-Bom, podemos dizer que se não fizermos isso o mundo vai estar com um pé sobre o abismo, mas estamos confiantes que você terá sucesso.

-O que tem a caixa? E o que isso tudo tem a haver com a Haruhi?

-Suzumiya-san não está nesse momento. Ela ainda está nesse mundo, mas... Não nesse plano temporal.

-Tente simplificar. Se você não puder me explicar, dificilmente o que a Nagato responder vai ser mais fácil de entender.

Koizumi dessa vez não sorriu, apenas olhou para as poucas pessoas que passavam por nós enquanto a noite chegava.

-Apesar de seus poderes, Suzumiya-san tem elementos em comum com todas essas pessoas. Comigo, com você. Ela está passando por um momento de... Nostalgia. Não há sinais raiva, muito menos espaços restritos.

-Se não é ruim, por que ela desapareceu?

-Ah, eu não disse que isso não era algo ruim. Podemos dizer que Suzumiya-san pediu um tempo para o mundo para ficar sozinha e pensar um pouco. Apesar de isso ser normal para qualquer pessoa, graças a seus poderes o mundo fez o que era necessário. Ela continua sendo uma garota comum, só que suas vontades são acatadas como ordens pelo universo.

Haruhi, você é uma garota mimada.

-... Muito bem e onde ela está? Ela... Viajou no tempo?

Koizumi voltou a me encarar, mas não com o olhar falso e sorridente de sempre. Acho que pela primeira vez estava vendo um pouco de franqueza em suas palavras, algo que não tinha visto na primeira crise... Sinceramente, eu prefiro esquecer.

-Pode-se dizer que sim. Ela viajou no tempo e criou um espaço restrito no seu tempo “atual”. Isso levou a minha organização a tomar medidas emergenciais de cooperação com os superiores de Asahina Mikuru que também estão alarmados pelo nó na linha do tempo que Suzumiya-san está gerando.

Estou muito grato a ela agora, não que ela tivesse me causado problemas não menos incomuns e eu já estive perto do fim do mundo por duas vezes, porém continua sendo algo desagradável ter que sempre consertar coisas assim.

-Sobrou para mim não foi?

Um Koizumi sorridente foi minha resposta, ele realmente tem uma noção quase perfeita de timing.

-Se serve para algum consolo, eu irei acompanhar você até determinado momento e tudo o que você tem que fazer é entregar a encomenda a Suzumiya-san. Ela com certeza compreendera.

-E depois disso?

-Difícil de determinar. Teremos de confiar na sua intuição e julgamento. Acho que ainda é um pouco cedo para desejar-te sorte, por que ela chegou. -então Koizumi olhou para um dos becos próximos, onde saiu minha segunda surpresa no dia em questão de aparições incomuns. A versão adulta de Asahina-san.

Ela estava atraente como sempre, usando roupas que pareciam sempre combinar com sua beleza. Eu queria ter tempo para gravar aquela criação digna de Michelangelo na minha mente.

-Espero não ter os feito esperar. Estamos com um pouco de pressa, por isso vou pedir que fechem seus olhos, temos que ser rápidos.

Ignorando o fato de estarmos no meio da rua e por desconhecer como funcionava o TPDD, fechei meus olhos. Qualquer que fosse a razão, tanto Koizumi como Asahina-san adulta demonstravam estar agindo fora do seu normal.

Meu corpo começou a flutuar e novamente me senti tentando a abrir meus olhos e ver como era o processo de viagem do tempo, mas temi por uma punição para Asahina-san caso eu fizesse isso.

-Podem abrir agora - foi o que eu ouvi, em sua voz doce.

Quando abri, fiquei um tanto surpreso com o que estava vendo: Eu estava em um terreno irregular cercado por árvores, o céu estava fechado e com nuvens negras, mas não havia nenhum sinal de tempestade.

-Onde estamos?

Nenhum dos meus companheiros de viagem respondeu.

-Estamos aproximadamente a 2 anos, em um momento singular desde a criação dessa parte conhecida do universo, supostamente a teoria do paradoxo temporal tornou-se não aplicável nesse lugar.

Nagato, uma figura quase fantasmagórica se aproximou de nós, creio que os demais já aguardavam a vinda da representante do Conjunto (Ou seria base?) de dados Interligados ou coisa parecida.

Koizumi adiantou logo as respostas, sem que eu precisasse pedir uma explicação mais acessível.

-Nós viajamos no tempo para desfazer um nó no paradoxo temporal. Há exatos dois dias, Suzumiya-san realizou uma viagem do tempo aparentemente espontânea, devido aos eventos recentes. Para os viajantes do tempo que nos contataram, esse evento estava previsto, porém eles não esperavam que ela fizesse um Espaço restrito.

...Então, nesse tempo “atual” em que eu estou, existem duas Haruhis? Sigh...

-Tudo isso comprova que os poderes de Suzumiya-san estão muito além do que pensávamos. De qualquer forma, precisamos de você.

Era odioso pensar nisso. Koizumi. Nagato. Asahina-san... Todos com capacidades completamente incomuns. Apesar de já ter aceitado a natureza desses meus... Amigos? Ainda me pergunto por que no final de tudo sou eu que preciso acompanhar e fazer alguma coisa.

“Escolhido por Suzumiya-san”

Pare de falar isso. Eu não queria isso, eu gosto de coisas incomuns aconteçam, mas não é bom colocar o destino do espaço-tempo continuum nas costas de um aluno entediado do ensino preparatório.

Asahina-san adulta deu alguns passos para trás, olhando de canto para uma parte mais obscura daquele lugar. Olhando com mais atenção, esse lugar parece muito morto.

-Eu tenho que ir, Kyon-kun. Minha missão era apenas trazer você até aqui. Eu realmente lhe desejo muita sorte.

Fez uma breve reverência e partiu. Agora realmente esse lugar está realmente morto e monocromático.

-Koizumi, para onde vamos?

-Ela vai nos guiar. -respondeu o Esper apontando para Nagato que já havia se distanciado de nós, quase desaparecendo em meio às árvores.

Analisando um pouco mais profundamente isso a Nagato que estava comigo na sala do clube já tinha estado aqui antes. A pessoa que está me guiando na verdade é a Nagato de dois anos atrás, que...

Yare,Yare. Desisto.

Nagato parou de avançar, olhou para cima e disse apenas:

-Não posso prosseguir.

Não havia nada fisicamente impedindo ela de continuar andando, apenas mais floresta e àrvores. O caminho continuava o mesmo. Koizumi se aproximou dela e estendeu a mão, tocando no que parecia uma bolha gelatinosa. Sua mão ao atravessar a bolha gerou um atrito e pequenas faíscas começaram a surgir.

-Esse é o espaço restrito que Suzumiya-san criou nesse tempo. Segure minha mão, temos que atravessar.

Com um pouco de relutância, aceitei pegar na mão de Koizumi. Creio que como na minha ultima experiência em espaços restritos, eu não poderia retornar da mesma forma que entrei. Logo, falhar seria apenas a minha sentença de morte.

-Já ouviu falar no provérbio que diz “Se as raízes não são removidas durante a capinação, as ervas daninhas vão voltar na próxima primavera”?

Que boa hora para perguntas filosóficas Koizumi! Quantos milhões de ienes irei ganhar se responder que “Sim”?

-Não.

-Significa que tudo aquilo que começamos, nós devemos terminar. Ou tudo que fizermos será em vão.

Isso é para elevar minha moral? Ah, obrigado.

-Faça o que deve ser feito.

O esper excessivamente sorridente me puxou para dentro daquela gelatina invisível. Era escuro lá dentro, muito escuro. Apesar de ser noite, eu sentia que lá dentro a escuridão era ainda maior. As árvores que antes nos acompanhavam verdes, agora estavam todas sem folhas.

Koizumi não parecia nada bem. Apesar de toda atmosfera daquele lugar, eu não me sentia com náuseas ou sentindo dores, porém mesmo com a máscara que ele usava, eu enxergava o enorme esforço que ele estava fazendo me levando até ali, parei de andar e soltei sua mão. Maldição! Por que eu o deixeiele segurar minha mão por tanto tempo?!

-Nós precisamos continuar. -fora o que ele me disse.

-Não. Eu preciso continuar, está escrito na sua cara o quanto você está mal por estar aqui.

Ele não respondeu. Logo depois que eu falei aquilo ele desabou no chão. Aproximei-me dele, tocando na sua cabeça. Se o organismo de um esper é idêntico ao de um ser humano, então ele estava com febre, muita febre.

-Ei, não era você que reclamava de eu ficar muito perto, violando seu espaço?

Calado. E não fale coisas que podem ter uma conotação de tamanho duplo sentido ou eu te largo aqui mesmo e volto para casa.

-Eu vou ficar bem, não se preocupe. Suzumiya-san está logo em frente. Vá até ela e faça o que precisa ser feito.

Peguei no meu bolso a caixa que Tsuruya me entregou na floricultura.

-É isso, certo?

Ele deu um sorriso amargo em resposta, seu corpo começava a ser consumido como na noite em que tive um dos piores pesadelos da minha vida.

-Sim, você saberá o que fazer. Não se preocupe comigo, eu sabia que não era bem vindo aqui. Eu sabia...

Silêncio. Seu corpo agora não era mais nada além de uma cabeça flutuante no ar.

-Eu sabia que não era eu que deveria estar aqui e tudo isso é apenas um pagamento pelo que eu sinto. Irônico, não? Invejo-te por conseguir até o final. Quando você voltar, traga de volta a Haruhi, Kyon.

Seu rosto se dissipou no ar. Acredito que ele tenha sido teletransportado para fora do espaço restrito e suas palavras foram completamente fora do comum. Eu iria perguntar para ele sobre isso quando tudo estivesse acabado.

Sem mais o que fazer no meio daquela floresta estéril, resolvi seguir em frente, escutando meus pensamentos e controlando minha curiosidade que vez ou outra me convencia que o melhor era eu abrir aquela caixa.

Segui os ensinamentos budistas em favor da paciência e do autocontrole, buscando a paz interior até encontrar Haruhi, onde essa paz seria quebrada como uma bola de baseball atingindo uma janela.

“O que você pretende fazer depois, Kyon? Quando esses dias estiverem terminados, o que você vai fazer?”

A voz de Haruhi. Dessa vez soando na minha cabeça. Quando eu disse que minha paz interior seria quebrada, não era para ser tão literal.

Nós logo vamos nos separar. Você, eu, Yuki-chan, Mikuru-chan, Koizumi-kun... Você acha que eu não penso nisso?”

Eu espero que você não possa ouvir os meus pensamentos, pois não iria gostar da resposta.

“... Novamente sozinha. Novamente perdida. É assim que vai ser de novo. E de novo. O que você pode fazer? Você não percebe nada, idiota!”

As coisas estão ficando sérias. Apressei meus passos e quando percebi já estava correndo o máximo que podia. Aquele caminho parecia sem fim. Sem fim e sem vida. Espaços restritos sempre têm um pouco de você, é assim que está se sentindo, Haruhi?

Talvez tenha me batido o desespero. Adentrei um campo aberto e comecei a gritar.

“HARUHI!!”

Ela estava lá, de costas para mim, olhando para o grande semicírculo de árvores mortas. Suas roupas eram as que eu estava acostumado a ver, aquele uniforme escolar de marinheiro... Mas... Ela estava... Chorando?

-Você finalmente apareceu, finalmente... Kyon idiota.

Que belo jeito de dar as boas vindas. Eu nunca falaria alguma coisa assim se convidasse você para minha casa.

-Haruhi...

Eu realmente sentia falta dela. O inicio do ano, as poucas atividades da Brigada durante as férias. Deus, eu me senti completamente fora do meu normal diante daquelas férias monótonas depois de Janeiro. Só agora eu talvez tenha me dado conta, que eu não sei o que dizer para você, Haruhi.

-... Você não viu nada, entendido?!

Você chorando? Não se preocupe, é o tipo de coisa que eu guardo apenas para mim.

-Haruhi... É hora de voltarmos para casa.

Diferente do que eu esperava, ela não deu um passo sequer. Ela estava triste e sozinha. Abaixou sua cabeça, como se estivesse recordando de como era nossa vida naquele clube.

-Kyon, por que voltar?

...Quem é você e o que fez com Suzumiya Haruhi?

-É muito simples. As coisas estão ficando depressivas por que seu vice-líder é muito ineficiente quando o assunto é atividades divertidas.

-Entendo.

Eu esperava algo como “Ele será punido por desonrar uma valiosa instituição como a Brigada!”

-... Pode me contar por que está aqui? O que é esse lugar, Haruhi?

Faria sentido. Haruhi voltou para esse lugar em especial, imagino. Não quero nem saber como ela descobriu um espaço tão horripilante para passar a noite. Haruhi parecia muito pensativa sobre suas próximas palavras.

-Perto do começo das aulas, eu venho para cá. Normalmente é algo espantoso de se ver, eu diria que é a coisa mais perto do outro mundo que consegui encontrar.

Não me diga que vampiros existem nessa floresta, por favor.

-Porém... Esse ano eu encontrei isso. O lugar que eu tanto admirava está agora apagado e cinzento. Não suportei isso e resolvi ficar esperando. Esperando para ver se elas voltariam. Faz dois dias que eu estou aqui, não é? Eu pensei em muitas coisas nesse tempo livre.

Não exatamente livre, estava matando aula.

-Logo a brigada vai perder o sentido. Você me disse uma vez... -pausou um pouco e voltou a falar- em sonho que tudo aquilo que eu procurava estava mais perto do que eu imaginava, mas não é por isso que a Brigada perderá o sentido.

-Do que você está falando? Se não é sobre as coisas incríveis que todos nós estamos animados para procurar (Com a minha exceção) o quê é então?

-Logo nós iremos nos separar para sempre. Tomar rumos diferentes, fazer escolhas diferentes e deixaremos de ser uma brigada.

Ei, ei. Pare com esse papo melancólico. Não se dê ao trabalho de pensar coisas assim, está gastando seu precioso tempo de vida quando poderia estar vivendo algo melhor.

-Logo, todos os outros vão embora. Todos, incluindo você não é?

Só pude dizer o que precisava.

-SEM ESSA!

Eu realmente estava com raiva depois disso. Quando você ficou assim? Quando pensou que teve o direito de falar coisas assim? Estava fora de mim, fora de controle. Não consegui controlar minhas palavras.

-Por que eu abandonaria você? Eu não quero. Eu não vou. Estou aqui, não estou? Não importa o que você pense você está apenas gastando seu tempo nesse lugar, se sentido mal por coisas que não aconteceram.

-Quem te deu autoridade para falar dessa forma com sua superiora? Você é o pior! Ouviu Kyon?!

-Calada! Calada! Calada! O fato de eu estar agora segurando você, o fato de eu estar aqui. Acha que eu não sinto nada por você?! Eu amo você e você age como se fosse capaz de escapar do que eu sinto.

... O-O que eu acabei de dizer?! Não. Péssimo. Haruhi, não me mate pelo que eu acabei de falar. Foi um lapso, um lapso sentimental excessivamente poderoso.

Ela estava completamente muda agora. Não olhava nos meus olhos, mas para o terreno baldio e sujo. Comecei a me sentir arrependido de verdade, por favor, se algum Deus xintoísta está nos observando, faça o tempo voltar. Haruhi agora tinha voltado a chorar, com sua cabeça encostada em mim, me batendo com ela como se isso me puni-se, enquanto tentava controlar as lágrimas.

Sua mão se levantou e eu fechei os olhos esperando um tapa, mas ela agarrou meu colarinho e me fez a encarar.

-Como você pode ser infectado com essa doença mental que chamam de “amor”? Você é patético, Kyon.

Você rasgou muitos textos sobre a patologia na psiquiatria com essa frase.

E então continuou:

-E como pode me infectar com isso!?

Espere, esse é seu jeito de dizer...

Minha linha de raciocínio fora interrompido com um choque. Haruhi me jogou ao chão em um nocaute perfeito, ainda segurando parte da minha blusa, me beijou sem hesitar. Estou tentando descrever aquele beijo, por que meus olhos me traíram. Não posso descrever uma cena que não vi. Tudo que sei é que correspondi ao beijo de Suzumiya Haruhi.

A caixa em meu bolso caiu no chão, senti  cair durante a minha queda. Quando finalmente tomei coragem de abrir meus olhos, Haruhi estava em cima de mim, olhando para a caixa aberta. Dentro dela, estavam pétalas de sakuras.

Nem eu nem ela falamos coisa alguma, o conteúdo da caixa começou a ser levado pelo por uma ventania estranha. As pétalas começaram a dançar no ar, passando por nós e depois sobre as árvores.

Quando eu pisquei, todo aquele cenário obscuro tinha desaparecido, eu estava diante de centenas de flores de cerejeira, idênticas as que observei quando fazia minha caminha diária para escola no primeiro dia de aula. Eu entendo agora Haruhi, era isso que você queria ver, não era?

-Kyon, você está vendo a mesma coisa que eu ou estou sonhando?

-As árvores mágicas? Não se preocupe, acho difícil estarmos compartilhando um sonho, mas podemos estar loucos.

Não havia nada de especial na caixa, apenas em seu conteúdo. Não sei como eles fizeram para causar toda essa cena, talvez quisessem causar a falsa impressão que fora os nossos sentimentos que transformaram o lugar, quando deve ter sido algum encantamento da Nagato... Ou talvez tenha sido o desejo de Haruhi.

 -Ei, Kyon...Você se importa de ficar mais um pouco, para vermos essas cerejeiras?-disse a garota, desviando o olhar. Está arrependida do que aconteceu?

-Se você sair de cima de mim será muito mais agradável.

A face de Haruhi enrubesceu de leve, apenas por alguns segundos. Onde estava o meu celular para tirar uma foto e tornar isso meu wallpaper? Droga.

Alguns segundos depois estávamos ambos juntos observando aquelas flores. Minha roupa estava suja, mas eu continuava ali, pois aquela visão valia muito mais do que poderia descrever.

Eu não entendia exatamente o porquê disso. Poderiam ser as flores, a forma como tudo isso aconteceu ou pelo simples fato de estar junto de Haruhi novamente. Era aconchegante, quente.

-Nós bem que poderíamos chamar os outros membros, me sinto até mal de vermos isso sozinhos, não acha Haruhi? Hum... ?

Ela estava dormindo. Aquela idiota... Ela passou dois dias acordada, esperando que as flores nascessem do nada? Poderia ter morrido aqui, apesar dos lobos não serem vistos há séculos no Japão, ainda existem muitos riscos para uma garota sozinha em uma floresta escura.

O céu nebuloso começou a rachar como se fosse pedaços de vidro. O espaço restrito estava se desfazendo. Ao mesmo tempo, aquelas flores com seu brilho encantador começaram a se apagar e morrer.

O espetáculo estava acabado e tudo o que restou era novamente aquela floresta escura e uma garota dormindo. Peguei meu celular e vi que já passavam das 03:00. Vai ser complicado eu explicar esse horário para minha mãe amanhã.

Ouvi alguns passos e saindo de alguns arbustos, Koizumi apareceu sorridente.

-Fico feliz que tenha conseguido. Ficamos preocupados depois que vocês ficaram mais de 2 horas lá dentro.

Levantei a sobrancelha. “Nós?”

-Asahina Mikuru também está procurando vocês, Nagato Yuki sentiu sinais vitais vindo de você e após informar sua localização foi para casa.

Simples e discreto. Bem típico dela.

-Em que ano nós estamos? Acho que não foi apenas o espaço restrito que desapareceu, não é?

-Estamos no tempo atual e sim, não apenas aquele espaço restrito fora desmanchado como vocês avançaram até o tempo presente. Particularmente eu tenho uma boa teoria para explicar os eventos.

Apesar do meu sono, assenti como uma permissão para ele explicar.

-Suzumiya-san, no tempo presente não viu as flores de cerejeiras que costumavam aparecer aqui. Movida por seu interesse pelo incomum e por considerar esse um lugar secreto começou a investigar.

-O primeiro dia que ela faltou.

-Exato, mas não conseguiu chegar a conclusão alguma sobre o caso, por isso ela precisou admitir algo nisso: Sua verdadeira intenção era apreciar essas flores, dominada por um sentimento de nostalgia e pelo tempo que ela teve para repensar em tudo ela ficou aqui e sem perceber, retrocedeu no tempo e criou um espaço restrito nesse tempo anterior.

-Ok, isso explica ela não estar nos primeiros dias de aula, mas por que as cerejeiras não estão vivas hoje? Essa é a estação delas.

Koizumi abriu um sorriso como se estivesse dizendo “Eu sabia que perguntaria isso”.

-Por que essas cerejeiras já floresceram fora de sua estação verdadeira, em um momento especial, dois anos atrás. Ou estou enganado?

De fato. Um momento especial.

Tentei ignorar o tremendo paradoxo temporal que acabei testemunhando, estava muito tarde e eu já não tinha mais paciência para criar hipóteses para o que aconteceu. Foi uma noite muito cansativa.

-Koizumi, como vamos levar a Haruhi? O que aconteceu... Simplesmente não fará sentido para ela amanhã.

-Não se preocupe com isso, meus companheiros já estão a caminho para levá-la para casa. Quando ela acordar vai pensar que tudo não passou de um sonho, os dias que ela passou ausente passaram despercebidos pelas pessoas.

Nem imagino que seja por que aquele colégio tem 1 esper por metro quadrado. Ou talvez a Nagato possa apagar a memória de algumas pessoas, mas no fundo vai ser uma pena, depois de tudo que aconteceu Haruhi vai pensar que tudo foi um sonho.

Olhei uma ultima vez para a garota que continuava dormindo, com uma expressão serena. Um dia eu irei falar aquilo de novo, Haruhi. Até lá, encontre uma forma menos dolorosa de responder.

Depois do almoço, resolvi ir para a sala do clube, acreditava que com sorte poderia encontrar Asahina-san fazendo um delicioso chá para mim, minhas expectativas foram violentamente negadas quando abri a porta e vi que Haruhi era a única dentro, sentada em cima da mesa, olhando diretamente para mim.

Antes que eu pudesse citar como é uma falta de educação tremenda sentar-se sobre a mesa, ela disparou:

-Não haverá atividades no clube hoje.

Entendo. Você não estava na aula, veio para escola somente para avisar isso?

Haruhi saiu da mesa e se aproximou de mim.

-Sei que o que vou dizer agora não vai fazer nenhum sentido e eu não vou responder nenhuma pergunta do por que de eu estar falando isso, mas... Eu estava esperando você naquela noite.

Como se não tivesse dito nada demais, Haruhi partiu em direção da porta. Não sabia como lidar com aquela situação, qualquer palavra e todo o paradoxo seria desfeito. Pensei que ela tivesse ido, mas ela estava ainda dentro da sala quando a escutei dizer.

-Eu realmente... Fiquei muito feliz. Aproveitei seu chá, a sua folga é apenas hoje.

E fechou a porta, me deixando sozinho naquela sala vazia, sentei em uma das cadeiras e comecei a pensar um pouco, antes de sair para voltar para sala de aula.

Haruhi. Haverá outro dia e nesse dia, não será um simples sonho.

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Notas finais do capítulo

Eu AMEI essa one!!! Eu nunca tinha lido uma one-shot "harukyon" escrita pelo Khaleel-kun e fui surpreendida positivamente com esse ótimo trabalho, com um roteiro EXTREMAMENTE interessante, elaboração de todos os personagens - em especial, o meu querido Koizumi-kun - e, como era esperado, cenas românticas encantadoras!*_*Em minha opinião, ele fez um ótimo trabalho, então valorizem os esforços dele, e façam comentários, sim?^_^PS:Sim, eu sei que a primavera não vem antes do inverno, mas a minha "one" ainda demorará um tempo para ficar pronta e achei que era injusto deixar o Khaleel esperando por mim. Quando postar a minha, corrigirei a ordem. Peço antecipadamente desculpas pela minha demora e pela extensão da minha one-shot. Peço desculpas MESMO!>.