Falso escrita por Hime_xD


Capítulo 1
Único




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Cândida estava a passear longamente pelo pátio do Colégio. Apreciava cada respirar, cheios de gases poluentes; sentiu o cheiro de cada canteiro da escola - mais inspirou pólen do que o próprio perfume das flores -. Sentou-se em um banco e olhou o céu durante um longo tempo, recolheu suas coisas e foi-se embora.

Eu a observava já tinham alguns meses, e obviamente estava apaixonado por ela. Sim, apaixonado, completamente. Estudávamos em classes diferentes, mas eu me apaixonara por seus sorrisos; por seu modo inibido e envergonhado de conversar; suas meias palavras e meias frases; suas expressões contidas e singelas; sua educação e beleza, contemplados por meus olhos apenas nos rápidos intervalos de aula e nos ligeiros intervalos.

Sim, eu não a conhecia muito bem, mas a idolatrava, e para minha grande felicidade, ela era uma aluna aplicada, raramente faltava às aulas, portanto minha dose de felicidade diária foi por muito tempo garantida. Até aquele mês.

Cândida começou a faltar muito. Minha desculpa para meus amigos era a de que estava preocupado com as faltas da garota, que ela poderia repetir o ano, mas no fundo do meu âmago minha alma gritava e clamava por ela.

Eu estava com raiva. Será ela estava faltando por encontrar o namorado? E estava indo mal nas provas por dedicar todo o seu tempo a ele? Estava me traindo. Eu sentia! Sentia como um comichão na parte mais profunda da alma, uma coisa enfadonha, uma amofinação quase perpétua. Mas e se não estivesse? Ora, não importava. Eu estava obcecado. Obcecado por sua brilhante existência.

Gastei basicamente tardes e tardes pensando sobre isso. Triturei todos meus neurônios sobre esse assunto em período integral. Eu a desejava a todo instante, sonhava com ela quase todas as noites e estava quase a delirar sua presença em lugares onde ela não estava.

Pobre de mim, quase enlouqueci em minha desventurada paixão. Minha única sorte: saber o paradeiro do objeto de meus desejos. Visitei sua casa e soube através da empregada relutante - após uma longa e insistente explicação dos motivos para perguntar sobre a menina – que ela sofria de uma doença hereditária e que esse mês havia piorado e o quadro era grave, com pouca probabilidade de sobreviver; explicou-me o caminho até o hospital e segui até lá, chocado.

Ao chegar ao hospital, visitei a moribunda. Estava um caco. Dilacerada pela doença. Virara quase uma folha de papel. Vi todos os meus sonhos, meus desejos e meus delírios passarem diante meus olhos e tentarem se encaixar naquela visão triste e cansada, amante da morte. Conversei com os pais da garota, fingindo que era um colega de classe dela e queria fazer uma visita; conseguiram nos deixar a sós.

- Cândida, eu... - parei. Ela estava quieta, fitando a janela. Tentei recomeçar, mas ela pediu-me para calar.

- Ouça o vento.

            Ouvi. Era uma tarde fria de inverno. Ventava bastante.

            Cândida sorriu e disse:

- Gostoso, não? – E voltou a se calar. Continuei quieto também.

– Sabe, não me importa se você veio aqui me dar cartões com frases de ‘melhore logo’, cheios de compaixão, ou algo do gênero. Eu morrerei em breve, portanto, vá embora. Quero ficar só. Não quero pensar nisso, quero apenas viver enquanto me resta tempo, sem me preocupar muito.

- Te amo. – Foi a única coisa que me veio a cabeça. – E não me importa se você irá morrer hoje ou amanhã, amo-te. Apenas isso.

            Cândida então voltou o rosto para mim e me olhou por longo momento, algumas vezes do pé a cabeça. Deu um sorriso triste.

- Como me ama se não me conhece?

            Aí está o ponto. Era mesmo apenas desejo, uma obsessão. Eu a queria ver perto de mim, exibi-la, tomá-la e possuí-la de corpo e alma para mim. Mas com que motivo? Na verdade, apenas carnal. Era apenas um desejo. Eu realmente não a conhecia.

- Vá para casa. – E deu um sorriso, daqueles que só pessoas velhas e sábias sabem dar. – Deixe este leito de morte para as pessoas que realmente têm confissões para dar aos amados.

            Sinceramente, não sei o que me deu naquele dia. Aliás, desde o começo. Eu, me apaixonar por uma garota daquelas? Começar a persegui-la e afirmar que a amava? E em seu leito de morte, declarar meu amor (o amor que imaginava sentir) por ela? Eu realmente estava fora de mim! Desperdiçar meu tempo com coisas fúteis...quem diria! Por isso mesmo, queimo agora este papel, como uma borracha apaga o erro da escritura a lápis, para esquecer-me deste episódio doentio de minha vida.


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