Percy’s POV

Aquele tinha sido um dia e tanto, pensei que não ia conseguir dormir tão cedo, não só pelo que havíamos passado, mas também pelo que aconteceria amanhã.

Já estava quase tudo organizado. Amanhã de manhã eu iria levar Annabeth para o alto mar numa lancha que meu pai me emprestou (não havia sido fácil convencê-lo daquilo, mas ter ajudado a salvar o Olimpo no mês passado havia me dado algum crédito), iria comemorar nosso aniversário de um mês. É, sei que é muito grandioso o que eu farei amanhã, ainda mais para se comemorar um aniversário de um mês de namoro, no entanto aquilo era especial. Um mês que havíamos vencido Cronos, um mês que tínhamos salvado o Olimpo, um mês que perdemos diversos amigos, um mês que finalmente havia me declarado a Annabeth.

Ao contrário do que eu tinha pensado, assim que coloquei a cabeça na cama adormeci. Esperava que viessem sonhos, afinal amanhã seria um dia especial. Mas como sempre... Eu estava enganado.

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O pesadelo começou comigo em algum lugar de Washington, sabia disso porque podia ver a Casa Branca no horizonte, porém, algo me dizia que eu devia ter medo por estar ali.

— Olá, Jackson! É bom vê-lo novamente. – disse uma voz atrás de mim

No mesmo instante me virei com Anaklusmos em punho. Ao me virar, vi uma pessoa, ou melhor, um deus menor que eu conhecera há um ano e não ficara nada contente em revê-lo.

— Pena que não posso dizer o mesmo, Phobos.

O deus usava jeans escuros, camisa preta, tênis preto, enfim tudo o que ele usava era preto, como um verdadeiro deus do medo.

Somente seus olhos se diferenciavam, já que assumiram um tom de fogo.

— Sua impertinência ainda irá matá-lo, heroizinho. Acho que já se esqueceu que sou um deus.

Phobos parecia me avaliar como se procurasse algo em mim.

— Não, mas talvez VOCÊ tenha se esquecido de que é um deus MENOR. E que eu já te derrotei.

Phobos estreitou os olhos, que agora pareciam possuir uma verdadeira chama de raiva dentro deles, assim como os olhos de seu pai, Ares.

— Você deve estar se referindo aquela vez em que eu e Deimos roubamos a quadriga do meu pai quando Clarisse estava conduzindo. Bem, daquela vez não pude usar todos os meus poderes, Jackson.

Sua voz reproduziu meu nome com desprezo.

— Conversa Phobos, você perdeu por que eu sou melhor do que você. Nem seus poderes adiantaram.

Tremi involuntariamente. Era mentira que os poderes dele não haviam me traumatizado, eu ainda tinha pesadelos com aquela visão assustadora de ter que tomar uma decisão que acabaria ou salvaria o Olimpo, e que meus amigos corriam perigo e que o acampamento pegava fogo

— Cuidado com o que diz, Perseu, só por que salvou o Olimpo não quer dizer que eu tenha me esquecido de me vingar pelo que me fez naquele dia.

O olhar dele estava perigosamente assustador, mas eu não ia deixar ele me assustar, aquilo era apenas um sonho.

— O que você quer, Phobos? Por que entrou nos meus sonhos?

Ele me avaliou e pude sentir que, novamente, procurava algo em mim.

— Vim dizer que em breve, muito em breve, eu voltarei a te procurar para que possamos acertar as nossas contas.

— Não temos contas a acertar.

Ele assentiu.

— Temos sim.

— Isso tudo só por que eu te venci? Ou por que eu venci seu pai também? – segurei a espada firmemente, desconfiava e muito daquela conversinha de Phobos.

O deus menos bufou de pura raiva.

— Você está acabando com minha paciência, Jackson! E só para você saber, eu te venceria se lutássemos de novo.

— Venceria? Então por que não lutamos agora? Assim você poderá me provar.

Sabia que era idiotice querer lutar com Phobos em sonho, mas já tinha o vencido ao vivo e a cores, então imaginava que no sonho também seria assim.

— Não, filho de Poseidon. Não vou lutar com você em um sonho, prefiro pessoalmente. Mas enquanto isso... Seria bom você ver o seu maior medo se tornando realidade para que sua arrogância diminua um pouco. 

O ambiente deu uma volta de 360 graus e, de repente, tudo mudou.

Eu estava em outro lugar, não sabia onde era e nem me importava, porque  quando minha visão se ajustou, percebi que a pessoa que mais amava estava caída no chão, com uma enorme ferida no peito.

Corri em direção a ela, no entanto, meus passos pareciam devagar demais, era como se Cronos tivesse se reerguido e me feito desacelerar enquanto tudo acontecia rápido demais.

Após o que me pareceu uma eternidade, finalmente cheguei a ela.

— Annabeth! Pode me ouvir? Diga que pode. - falei entrando em desespero

Ela estava perdendo a cor do rosto, a ferida exposta era terrível.

— Percy! – sua voz estava abafada e ela tinha dificuldade em respirar.

— Calma, Annie! Vou pegar o néctar e a ambrosia, você vai ficar bem.

Ela balançou minimamente a cabeça, seus olhos cinzas tentando encontrar o foco.

— Nem o néctar pode me curar, Percy. – nesse momento percebi o quanto suas palavras eram verdadeiras, o ferimento parecia sem solução – Só prometa que nunca me esquecerá.

Seus olhos perdiam o brilho a cada segundo e aquilo estava me matando.

— Prometo.

Ela sorriu um pouco.

— Eu te amo, Cabeça de Alga!

Logo depois ela fechou os olhos e uma lágrima percorreu seu rosto sem vida.

Aquilo era como se eu estivesse me banhando no Estige novamente, só que dessa vez eu estava dissolvendo e nem a imagem de Annabeth estava ali para me salvar. Meu coração estava descompassado e as lágrimas não paravam de cair dos meus olhos.

A voz de Phobos ressoou na minha cabeça.

“Esse é o seu maior medo, Jackson, perder a garota que ama. Seria uma vingança e tanto da minha parte, não acha?”

— Não! NÃO!

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Acordei suado e gritando.

Eram três da manhã. Era um risco que eu corria, mas resolvi sair da cama, comprovar que tinha tido apenas um pesadelo e que tudo estava bem com Annabeth. Coloquei um casaco e fui em direção ao Chalé de Atena.

Segui rapidamente em direção ao chalé 6, as palavras de Phobos ainda na minha mente e aquela cena terrível também.

Quando cheguei à janela tive uma surpresa. Annabeth não estava deitada em sua cama.

Onde ela estava? Eu tinha tido só um pesadelo, não tinha?

Meu coração estava martelando no peito. Onde Annabeth havia se metido?

Estava andando, tentando achá-la e pensando seriamento em ir a Casa Grande acordar Quíron, quando avistei Annabeth sentada na areia da praia.

Suspirei de alívio.

Fui sorrateiramente em sua direção.

— O que está fazendo na praia a essa hora, Sabidinha?

Ela deu um pulo no lugar antes de se virar para mim.

— Percy, pelos deuses, quer me matar de susto?

— Não respondeu a minha pergunta. – sentei-me ao seu lado.

Ela suspirou.

— Pensando. E você?

Analisei-a.

— Te procurando.

Olhávamos um para o outro agora e eu estava começando a me perder nos seus belos olhos cinza. Olhos que no pesadelo se encontravam fechados.

— Me procurando?- ela arqueou a sobrancelha.

Eu ia começar a explicar quando alguém surgiu ao nosso lado.

— Atrapalho? – perguntou uma voz familiar.

Para nossa surpresa, era Hermes que estava ali. O deus usava uma roupa de carteiro, o que era bastante cômico, já que seu short era bem mais curto do que os carteiros convencionais, mas achei melhor não fazer piada.

Eu e Annabeth nos colocamos de pé.

— Não. – disse Annabeth- Não está atrapalhando nada, senhor Hermes.

Ele olhou de mim para Annabeth.

— Ok, então... Olá, que bom rever vocês dois meus jovens.

“É ótimo rever esses semideuses. Olá, Percy! Olá, Annabeth!”- disse Martha, uma das cobras que andava enrolada na antena do celular de Hermes.

— Olá! – dissemos eu e Annie ao mesmo tempo.

“Eu não acho tudo isso, afinal nenhum dos dois têm ratos para mim. Ou têm?”— disse George

Eu e Annabeth nos entreolhamos.

— Não. - disse por fim.

“Sabia”— disse ele.

— Chega disso vocês dois!- falou Hermes – Bem, tenho uma entrega para a Srta. Chase.

— Para mim? – perguntou surpresa.

— Sim, deixe-me ver... Ah! Aqui está.

Ele retirou um pacote muito bem embrulhado de sua bolsa.

— Poderia assinar aqui, por favor?- disse Hermes passando uma caneta e uma folha (que haviam aparecido subitamente) para Annabeth, que a assinou.

— Obrigado!- disse o deus.

Annabeth analisou a caixa.

— Quem enviou?

— Sua mãe, quem mais? E mandou você prestar mais atenção ao invés de ficar deixando suas coisas por ai.

Não entendi o que Hermes quis dizer com aquilo, até Annie tirar seu boné dos Yankees de dentro da caixa.

— Obrigada! – disse corando.

— De nada! Mais uma coisa: ela mandou vocês irem para seus chalés porque daqui a pouco as Harpias vão vir...

“Na verdade, Hermes, ela disse para Annabeth ir para seu chalé e alguma coisa sobre Percy ser devorado por Harpias...”— disse George.

Eu engoli em seco. Não era exatamente uma novidade que a mãe de Annabeth não gostava de mim, mas...

“Quieto, George!”— disse Martha

— Calados os dois. – disse Hermes - Bem, e mandou boa noite para vocês.

“Também não me lembro de ela dizer boa noite ao Percy...”- George falou.

“Quieto, George!” - disse Martha

— Agora chega, vocês dois! – disse o deus falando com as cobras. – E vocês dois, – disse apontando para nós – para seus chalés.

— Sim, senhor!

Antes de irmos, demos um rápido selinho. Mas acabamos nos esquecendo de que tínhamos platéia.

“Adoro cenas de beijos, são tão românticas” — disse Martha, fazendo com que eu e Annie nos virássemos para eles.

“Eu ainda prefiro ratos.”— disse George

E assim, eu e Annie seguimos de mãos dadas e sorrindo, bem, isso até termos que nos separar e ir para nossos respectivos chalés.