Para Provar que se Tem Um Coração escrita por Tenteitudo


Capítulo 4
Rachel




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Para Provar que se tem um Coração parte 4 de ?

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Diário particular de Rachel Barbara Berry

Sei que já faz quase um ano que não escrevo aqui, mas pela primeira vez em minha vida eu tenho amigos com quem conversar, amigos humanos e de carne e osso. Você consegue entender o porque da minha ausência? Não é que eu não goste mais de te contar as coisas, é só que é mil vezes melhor contar para alguém que realmente vai te responder... Eu me sinto mal por ter te deixado de lado por tanto tempo, tantas coisas aconteceram durante esse um ano que você nem iria acreditar!

Bom, em um outro momento eu prometo fazer uma síntese de tudo o que aconteceu, mas agora, eu tenho outros assuntos para tratar, algo que vem me corroendo por dentro há alguns dias e o meu psicólogo disse que seria bom escrever o que estou sentindo. Ele disse que escrever pode me ajudar a entender. Foi isso que me trouxe para esse momento, não sei quanto tempo vou ter para lhe contar tudo antes de ser interrompida, então perdoe a minha caligrafia apressada.

Agora que eu estou pensando, percebo que não sei exatamente por onde começar, acho que começar pelo começo não é a melhor maneira de relatar o que eu está se passando –

Rachel bate com a caneta no caderno de capa amarela e morde o lábio. Isso era bem mais difícil do que ela lembrava. Provavelmente por que ela nunca havia sentindo algo tão confuso e estranho, mas toda a situação a deixava, de certa forma, sem palavras.

Ok, vou começar pelo sentimento em si e depois narrar os acontecimentos a partir dele. Está preparado para conhecer o meu maior segredo no momento? Eu sei que vai ser um pouco chocante para você, considerando-se que todas as minhas outras entradas a respeito dessa pessoa foram escritas sob lagrimas de dor e ódio, mas eu sei que você vai compreender, quero dizer, é seu trabalho me compreender e escutar tudo o que eu tenho para dizer, não é mesmo? Claro que o fato de você ser só um pedaço de papel não lhe dá muita opção, mas enfim...

A morena respira fundo, ela já havia admitido esses sentimentos para si mesma, mas nunca os havia vocalizado ou escrito sobre eles e isso a assustava. Era como se isso tornasse tudo ainda mais concreto. Ela muda de posição na cadeira e escreve a frase que a muito tempo estava entalada em seu peito.

Eu estou apaixonada por Quinn Fabray.

Ela solta o ar que não havia percebido que prendia e re-le suas palavras diversas vezes antes de continuar.

Aconteceu há duas semanas atrás. Nem eu sei exatamente como ou porque, mas com o passar dos anos eu aprendi que a gente não tem muito controle sobre esse tipo de coisa. Eu poderia montar um PowerPoint ilustrando os eventos que me fizeram chegar a essa conclusão, mas você é um diário e da ultima vez que eu conferi, objetos inanimados não conseguem prestar a devida atenção às minhas apresentações.

Rachel para de escrever novamente e olha para o seu celular, já fazem vinte minutos que Quinn literalmente fugiu de sua casa e ela tem quase certeza que a loira não vai voltar tão cedo. Uma parte dela, porém, acredita que Quinn mudou realmente e que ela vai aparecer em sua porta a qualquer minuto. Ela olha para a cama aonde a pasta com as musicas que elas estavam selecionado repousava intocada. A morena se levanta e leva o caderno até sua mesa de cabeceira, recolhe as folhas e senta na cama. Ela sabe que essa posição é terrível para a coluna, mas sua escrivaninha parece um lugar impessoal demais para escrever sobre sentimentos tão fortes quanto aqueles.

Acho que agora posso começar pelo começo. Você já sabe muito bem que eu e Quinn nunca fomos amigas. Nós saímos de uma terra escura chamada ódio mortal para a terra da indiferença há alguns meses, mas nada nunca me fez pensar nela como mais do que uma 'pessoa com quem eu divido o espaço quase todos os dias'. Nada até o dia em que ela se ofereceu para me ajudar a compor musicas originais.

Esse tipo de atividade sempre acaba conectando as pessoas de alguma forma. Nós tínhamos um objetivo em comum e estávamos prestes a nos unir para conquistá-lo. Os primeiros dias foram tranqüilos, ela realmente se mostrou útil, prestativa e interessada e por um momento eu cheguei a acreditar que iríamos deixar a cinzenta terra da indiferença pelos ensolarados campos da amizade. É obvio que eu estava errada.

Em questão de três dias ela revelou ser exatamente aquilo que eu esperava. Manipuladora e mentirosa. Nada de novo até agora. Toda a ideia de me ajudar, não passava de um plano para me manter longe do seu precioso Finn. (Eu sinceramente não sei o que todas nós vemos nele. Ele não passa de um menino bobo e que nunca vai ser ninguém na vida.)

Eu admito que estava cegamente 'apaixonada' pelo Finn naquela época e num primeiro momento, tudo o que ela disse no auditório me afetou da pior maneira possível. Nós tivemos um discussão relativamente dramática em volta do piano, da qual nós duas saímos consideravelmente machucadas. Pelo menos eu saí. Por sorte eu tinha horário com o meu terapeuta no dia seguinte, depois de ter escrito a musica eu ainda precisava descontar a minha frustração em algo.

Eu estava reclinada na poltrona, chorando desesperadamente enquanto revivia a cena quando o estalo aconteceu. De uma hora para a outra o mundo pareceu parar de girar. Minhas lagrimas cessaram e minha boca parecia ter se desligado do cérebro. Até o doutor Palmer se preocupou com o meu silencio. Eu ficava ouvindo a voz de Quinn em minha cabeça, repetindo a mesma frase milhões de vezes. Você não pertence a este lugar Rachel. E você não pode me odiar por te mandar na direção certa. O olhar dela ao falar isso estava gravado em mim e eu fui atingida pela percepção de que Quinn Fabray se importava comigo. Mesmo que ela nunca fosse admitir isso, o que ela disse e o modo como disse...

Eu não sei realmente como explicar, mas tudo pareceu mudar no momento em que entendi isso. Talvez nem mesmo ela soubesse o significado que havia por trás de suas palavras, mas isso estava implícito para qualquer um. Depois de alguns minutos, continuei desconstruindo a cena e outros momentos chamaram minha atenção, era como se ela estivesse desistindo do próprio futuro para que eu pudesse ter uma chance de realizar o meu sonho. Sei que parece um pouco dramático, mas não é. É a mais pura verdade. Ela é Quinn Fabray, é obvio que a ultima coisa que ela iria querer seria permanecer em Lima. Mas foi exatamente o que ela disse que iria acontecer para que eu pudesse sair daqui.

E então não tinha mais nada a ver com o Finn. Na hora era só nele que eu conseguia pensar, mas depois, isolando as palavras dela, ele parecia não existir. Claro que eu não me apaixonei por ela naquele instante, nós ganhamos as regionais, nós voltamos para casa. Foi aí que eu comecei a pensar na loira basicamente 24 horas por dia. E eu não conseguia parar, por mais que tentasse. Como pode um sentimento assim surgir de um evento totalmente aleatório? Isso é tão confuso, Diário, mas eu não posso negar que existe essa atração bizarra entre nós.

Semana passada eu comecei a pensar que talvez, ela sinta o mesmo por mim. Ok, você pode achar que eu estou delirando, mas essa hipótese não é totalmente impossível. Baseado no comportamento dela, eu posso ter quase certeza de que ela sente algo por mim. Tudo bem que ela ainda não percebeu, mas não tem como não sentir. Algo tão intenso não pode não ser recíproco. O que eu sinto por ela é aquele tipo de paixão que atinge os dois lados da mesma forma, tão inexplicável e acidental que não tem como não dar certo.

Eu estava sonhando acordada o tempo inteiro e meu coração acelerava cada vez que eu via alguém loiro passar por mim no corredor, foi então que a realidade me atingiu com muita força. Eu percebi que estava apaixonada por Quinn Fabray. Sim, você deve estar pensando que eu estou me repetindo, mas não, até aquele momento, terça-feira dessa semana, eu ainda não havia percebido que era Quinn Fabray. Tá, claro que eu sabia que era Quinn, mas eu ainda não havia parado para pensar em quem ela realmente era. Filha de católicos radicais, capaz de maldades horríveis só para alcançar o topo (eu fui vitima dessas maldades por tempo suficiente para não poder apagá-las de minha memória) e a maior mentirosa que eu conheço. Ela sabe muito bem como ser dissimulada e manipuladora e isso é um grande problema.

Era obvio que ela iria me machucar e eu não posso deixar isso acontecer de novo. Eu não sei se agüentaria passar por mais uma decepção amorosa, não depois o que aconteceu com Finn e Jesse. Resolvi pegar todos os meus sentimentos e enterrá-los o mais fundo possível. Essa paixonite não poderia me trazer bem nenhum. Levantei minhas paredes e me recompus, tentando me focar no Finn novamente.

Rachel se endireita na cama e solta a caneta, flexionando os dedos e correndo os olhos pelas paginas que havia acabado de preencher. Ainda havia muito para contar. Ela olha para o relógio. Já faz uma hora e meia e Quinn ainda não deu noticias. A diva alcança seu celular e digita uma mensagem pedindo se está tudo bem, mas ela não aperta o botão de enviar. Ao invés disso, ela volta a escrever no caderno amarelo.

Justo quando eu achava que todas as minhas paredes estavam reerguidas e a prova de qualquer coisa, quinta-feira chegou, trazendo uma certa loira consigo. Ela aparece no auditório, interrompendo meu ensaio matinal. Coincidentemente, a musica que eu estava cantando se encaixava perfeitamente na nossa situação e eu admito que cantei a ultima parte para ela. Não que ela tenha percebido, é claro. Mas posso dizer que mexeu com ela sim, principalmente depois do modo como a tratei durante a nossa conversa.

Eu estava fechada. Fui fria e direta, pela primeira vez respondi a tudo o que ela falava no mesmo nível, até citei o Finn para ver qual seria a sua reação e quando ela ofereceu a proposta de amizade, eu aceitei. Não pude evitar achar adorável o modo como ela foi pega desprevenida pelo meu comportamento e decidi que iria continuar assim. Eu quero Quinn Fabray, mas eu quero que ela me queira da mesma forma.

Na noite daquele dia, eu estava pensando antes de dormir, como sempre faço. Minha cabeça parece funcionar melhor a noite, por algum motivo desconhecido. Enfim, estava pensando sobre todos esses acontecimentos quando reparei no quanto essa proposta de amizade foi aleatória. Tem que haver algo por trás disso. Não tem como ela simplesmente acordar um dia e decidir que quer ser minha amiga. Eu precisava me aproveitar desse desejo de criar um vinculo que ela parecia demonstrar, mas ao mesmo tempo, tinha que me manter protegida de suas garras.

Como fazer isso?

Ela mesma me deu a resposta há quase dois anos atrás, quando me juntei ao clube do celibato pela primeira vez. Provocar, mas nunca agradar. Eu nunca havia bancado a difícil antes, mas acho que estou me saído bem, é uma ótima pratica para minha futura carreira como atriz da Broadway.

Na sexta feira, ela me esperou depois do glee e nós tivemos a conversa mais estranha. Eu a questionei de uma forma que ela não estava esperando e isso a deixou totalmente frustrada. Praticamente a chamei de mentirosa e deixei claro que não confiava nela. Depois fiz a mesma pergunta que ela havia me feito quando discutimos no auditório. Quanto tempo ela iria levar para entender a própria verdade. Isso definitivamente a confundiu, mas a melhor parte foi quando eu a fiz prometer que não me machucaria e ela, de fato, concordou. Pelo menos eu sei que ela vai sentir remorso se me machucar de verdade no fim dessa historia, seja lá que fim ela levar.

Depois disso tudo, o meu golpe final, um beijo no rosto. Mais um movimento inesperado, tanto para mim quanto para ela. Eu não pretendia fazer isso, mas simplesmente não pude evitar.

Rachel sorri ao lembrar da cena e da cara com que Quinn a olhou depois disso, um misto de confusão e pânico, mas ao mesmo tempo, havia algo mais...

Ontem a noite ela veio aqui em casa. Eu liguei para ela e em dez minutos ela estava aqui. Tenho certeza que ela teve que desmarcar os planos com o Finn, e isso é mais um indicio de que tem algo por trás desse desejo de amizade.

A diva suspira antes de continuar.

Isso é muito masoquismo de minha parte. Eu acho que eu realmente devo gostar de sofrer. Eu estava esperando por ela, sentada no banco da minha janela. Vi seu carro chegar e meu coração acelerou involuntariamente, como sempre tem feito nesses últimos dias. Fiquei observando, esperando que ela saísse, mas nada aconteceu. O carro vermelho ficou parado por quase vinte minutos e eu resolvi ver o que havia acontecido. Talvez ela tivesse passado mal ou algo assim, nunca se sabe...

Sai de casa sem pegar um casaco e estava realmente muito frio do lado de fora, mas isso não me impediu de fazer o que queria. Bati em sua janela e quando ela se virou, comecei a falar, perguntando se estava tudo bem e por que ela estava parada a tanto tempo. Ela saiu do carro e mais uma vez a cumprimentei com um beijo no rosto, pegando a sua mão e a guiando até o meu quarto, aposento de onde eu escrevo agora.

E nós tivemos mais uma pequena discussão. Sério, as vezes ela parece um disco quebrado. Acho que na cabeça dela, o único jeito de formar uma amizade comigo é através do glee club, como se eu não fosse capaz de pensar sobre outra coisa. Isso é revoltante!

No final nós acabamos vendo um filme. UP!, um dos meus favoritos. Acho que nós criamos um certo vinculo sobre esse filme. Quero dizer, nós choramos juntas e na hora em que a casa do velhinho levanta vôo, ela colocou a mão sobre o meu colo. Eu olhei para aquela mão pelo que me pareceu uma eternidade e ela parecia tão concentrada na historia que eu não sabia o que fazer. Decidi me arriscar e, hesitantemente, coloquei a minha mão sobre a dela. Nossos dedos se entrelaçaram instantaneamente, como se tivessem vida própria.

Não pude deixar de sorrir quando seu polegar começou a acariciar minha pele...

É isso que me deixa tão confusa, Diário!

As vezes eu tenho tanta certeza que posso lê-la, mas de repente, eu não sei mais nada. Se houvesse algo por trás de suas intenções, ela não iria ser tão afetiva. Iria? E se ela realmente tem algum plano, que plano é esse? Ela não pode não ter um plano, não é mesmo?

Deus!

Rachel massageia as temporas e fecha os olhos com força, tentar entender Quinn lhe da muita dor de cabeça. Ela olha para o relógio mais uma vez. O tempo parece ter voado e já são quase 4 horas. Ela sente seu estomago se revirar e decide ir para a cozinha pegar algo para comer.

"Oi princesa. Como está a dor de cabeça?" Frank passa a mão pelos cabelos de sua filha, mas Rachel não responde, ela simplesmente puxa seu pai para um abraço e descansa a cabeça em seu peito. "Pronto, pronto..." O obstetra acaricia as costas da menina em seus braços e beija seus cabelos, procurando os olhos de seu marido sem saber exatamente o que fazer. Thomas sempre teve muito mais jeito do que ele para lidar com as crises de sua pequena diva.

"Quinn fez alguma coisa com você meu amor?" O homem mais alto se aproxima e segura o rosto de sua filha com uma mão, procurando sinais de lagrimas. Ele respira aliviado quando não encontra nada.

"Não. Quero dizer, sim..." Ela chacoalha a cabeça. "Eu não sei, eu acho que estou um pouco frustrada com tudo o que tem acontecido ultimamente, mas eu não posso culpar Quinn por causa disso." Ela morde o lábio e desvia os olhos de seus pais. Ela não gostava de esconder nada deles. "Ela me faz sentir coisas que eu não sei se quero sentir..."

Thomas e Frank trocam um olhar preocupado. "Coisas..."

"É, tipo sintomas estranhos, como se eu estivesse doente. Taquicardia, suor frio, arrepios, contrações abdominais involuntárias..." Explica a morena, ela sente cada uma dessas coisas conforme vai falando.

Os dois homens trocam mais um olhar, Frank tem os olhos arregalados.

"Eu já sei o que isso significa." Continua ela. "E não querer sentir isso só piora tudo."

"E por que você não quer sentir essas coisas pela Quinn?" Pergunta Thomas com cautela. "É por que ela..." ele limpa a garganta. "... é uma menina?"

Rachel pisca algumas vezes. Ela não se sentia nem um pouco incomodada por esse fato, ela já havia sentido paixonites por meninas antes e já fazia algum tempo que ela havia se definido como bissexual, mesmo sem nunca ter realmente experimentado qualquer coisa com alguém do mesmo sexo. "Não..." Ela volta a olhar para seus pais. "Eu só... Eu ainda não sei se posso confiar nela. O meu sexto sentido me diz que ela vai me machucar e..."

"O que vocês conversaram no banheiro filha?" Frank intervem.

"Não foi nada de mais pai. Eu acho que ela está tão confusa quanto eu." Ela faz uma pausa. "Mais confusa na realidade. A família dela não é tão aberta em relação a sexualidade e, se seus sentimentos forem recíprocos... Eu entendo por que ela foi embora."

Os dois homens fazem que sim com a cabeça e é a vez de Thomas falar. "Tem algo que a gente possa fazer, princesinha?"

Rachel pensa por um momento. "Acho que não..."

"Você quer conversar sobre isso?" Pergunta Frank.

"Não." Ela responde sem hesitar. "Eu só vim pegar uma maçã." Ela pega a fruta. "Agora eu vou voltar para o meu quarto... Com licença." E com isso ela sai da cozinha, deixando dois pais realmente preocupados para trás.

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A diva se acomoda novamente em sua cama e morde a maçã, olhando para um ponto fixo na parede. Seu diário permanece aberto ao seu lado e ela decide continuar a escrever. O doutor Palmer tinha razão, escrever realmente ajuda a esclarecer certas coisas, mesmo que agora ela se sentisse mais confusa do que nunca, ela sabia que não podia mais voltar atrás com relação aos seus sentimentos.

Eu não sei o que ela está planejando e muito menos se ela realmente está planejando algo, mas eu não me importo mais. Eu vou aproveitar cada momento que puder passar ao seu lado e tentar conquistá-la. Talvez tudo de certo no final...

Por mais que a minha natureza me diga para formular o meu próprio plano, algo ainda mais profundo em mim parece dizer exatamente o contrario. O que você acha que eu devo fazer? Seguir meu coração e deixar as coisas acontecerem, ou seguir a razão e formular um plano. Ou ainda, não seria bem mais seguro simplesmente voltar a enterrar esses sentimentos?

Por que eu preciso me sentir dessa for-

Ela para de escrever abruptamente quando ouve o som da campainha. Ela literalmente pula da cama e corre até a janela. O carro de Quinn está estacionado no mesmo lugar que estava antes. Ela realmente voltou! A diva respira com dificuldade e olha para o caderno em suas mãos. Ela o fecha sem cuidado nenhum e o enfia entre o colchão e o estrado da cama antes de se apressar para o andar de baixo.

Thomas estava abrindo a porta e ela parou atrás de seu pai, apoiando uma mão em seu braço.

"Quinn..." Suspira a diva, olhando para sua 'amiga' de cima a baixo. Os cabelos loiros estão desordenados e seus olhos estão um pouco inchados, mas não há marcas de lagrimas em seu rosto. Ela está sem casaco, o que é meio obvio considerando-se que quando saiu, ela não pegou nada exceto as chaves do carro.

"Desculpa Rachel, eu não..." A expressão de Quinn muda em um milésimo de segundos ao perceber que a morena estava ali. Seu pedido de desculpas realmente parece genuíno e Rachel estende uma mão para ela.

"Está tudo bem? Eu fiquei preocupada..." A loira aceita a mão e nesse momento, Thomas resolve lhes dar um pouco de privacidade.

"Eu precisava pensar."

Rachel tinha milhões de perguntas na cabeça, mas acabou engolindo todas elas. Aquele não era o momento. Alem do mais, se ela realmente quisesse conquistar Quinn Fabray, teria que aprender a morder a língua. "E você pensou?"

Quinn franze a testa, surpresa pela falta de um questionário. A morena a observa com os grandes olhos castanhos enquanto chacoalha suas mãos unidas de um lado para o outro. Um leve sorriso se manifesta nos lábios da loira. "Acho que sim..."

Rachel faz que sim com a cabeça e olha para o chão. "Você quer falar? Sobre..."

"Não." Quinn a interrompe. "Eu precisava esclarecer algumas coisas comigo mesma e agora esta tudo bem. Nós não precisamos trazer esse assunto a tona, nunca mais."

"Ok..." A diva solta sua mão e corre os dedos pelos próprios cabelos. "Você voltou para pegar as suas coisas ou nós vamos continuar com a tarefa?"

"Podemos continuar?" Quinn parece tímida de repente e a mudança não passa desapercebida. É exatamente esse tipo de comportamento que parece dar um nó na cabeça da morena. "Eu queria pelo menos definir a musica..."

"Vamos para o meu quarto então?" Agora é a vez de Rachel interromper, indicando a escada com a cabeça.

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Depois de muita discussão, elas acabaram encontrando uma musica que se adequasse a voz da loira e também aos seus sentimentos. Fazia duas horas que Quinn havia voltado e elas realmente estavam se divertindo tentando imaginar as musicas que seus colegas escolheriam enquanto Rachel trabalhava no arranjo para Quinn.

"Oh meu Deus Rachel! Agora eu não vou mais conseguir apagar essa imagem da minha cabeça!" Exclama a loira, tapando os olhos com a mão e se escorando na cama em uma tentativa de esquecer o que havia acabado de ouvir.

"Por quê? Eu não acho que seja tão horrível, a fixação do Puck nas partes traseiras femininas já resultou em performances bem... interessantes..." Sorri a morena, observando a ex líder de torcia com divertimento.

"E sabe qual é a pior parte?" Continua Quinn, espiando por entre uma fresta de seus dedos. "Eu não duvido que ele realmente cante isso." Ela começa a rir quando lembranças de Fat Bottomed Girls invadem sua mente. "Eu ainda não acredito que ele compôs uma musica para a Lauren chamada Big Ass Heart..."

"Eu não acredito que a gente perdeu essa musica..." Comenta Rachel, parando de escrever e chacoalhando a cabeça. "I Like Big Butts é a única escolha lógica para ele..."

Elas continuam rindo por um tempo. A interação entre elas é tão fácil e Quinn se pega pensando em por que nunca havia tentado se aproximar de Rachel antes. A garota não era nem metade tão ruim quanto ela imaginava. Mais cedo, em seu carro, ela havia decidido por continuar com seu plano, na esperança que elas pudessem realmente ser amigas depois que isso tudo acabasse.

Provavelmente não iria demorar muito para que a diva se apaixonasse... A etapa da amizade havia funcionado perfeitamente (depois das crises iniciais...).

"E você Berry?" Pergunta a loira.

"E eu o que?" Rachel finaliza o que estava fazendo e entrega a partitura modificada para Quinn.

"Já escolheu uma musica?"

A diva pensa por um momento. Sua ideia inicial era cantar algo da Broadway sobre amor ou amizade, mas os eventos recentes a fizeram mudar de ideia.

"Sim."

Quinn espera que ela responda, mas a morena não continua e ela lhe lança um olhar desconfiado. "O que você está tramando Berry?"

"Por que eu tenho que estar tramando alguma coisa?" Ela sorri inocentemente. "Como você, eu também tenho pensado muito ultimamente e decidi que está na hora de esclarecer algumas coisas para com o glee club. Minha musica passa uma mensagem bem clara que eu pretendo direcionar para um ou mais membros que parecem totalmente alheios ao que eu venho tentando dizer há algumas semanas."

Quinn arqueia uma sobrancelha. "E o que isso significa?"

"Você vai descobrir quando eu apresentar." Seu sorriso triplica de tamanho e ela sustenta o olhar dourado com seus olhos de chocolate.

"Isso é totalmente injusto, sabia?"

Nesse momento, Frank bate na porta, colocando a cabeça dentro do quarto de sua filha. "Olá meninas, estão se divertindo?" Elas trocam um olhar e fazem que sim com a cabeça. "Ótimo! Eu só queria ver se você vai ficar para o jantar, Quinn. Já são quase sete horas e normalmente nós jantamos as sete e meia. Devo por mais um prato na mesa?"

"Não Sr Berry, muito obrigada, mas minha tia está na cidade e eu vou jantar com ela." Ela sorri para o homem e alcança por seu telefone. Sua tia estava passando o dia com sua mãe, tentando mantê-la sóbria por pelo menos um final de semana.

A porta do quarto se fecha e Rachel apóia uma mão no ombro da loira. "Está tudo bem Quinn?" Ela pergunta, preocupada de verdade. "Você ficou tão séria de repente..."

"Não é nada..." Quinn fecha o aparelho. "Acho melhor eu ir agora... Muito obrigada por tudo Rachel. E desculpa por ter surtado antes." Ela sorri para a morena e começa a recolher suas coisas.

"Eu te acompanho até a porta." A cantora lhe alcança uma caneta que havia ficado sobre as cobertas.

Elas descem as escadas em silencio e Quinn abana para os Berry antes de se encaminhar para fora da casa. "Muito obrigada por ter vindo Quinn." Elas estavam paradas do lado de fora e a morena encostou a porta para se despedir.

"Sabe Berry, ser sua amiga é muito mais fácil do que eu esperava..." Ela diz a verdade.

Rachel sorri e se inclina para lhe dar um beijo no rosto, só que Quinn parece ter tido a mesma ideia ao mesmo tempo e seus lábios acabam se encostando sem querer. A morena da um passo para trás e cobre a boca com a mão, como se tivesse levado um choque. A loira permanece imóvel, analisando Rachel com algo diferente no olhar.

"Oh meu Deus Quinn, me desculpa, eu não... Não foi minha..." Ela se apressa em dizer, dando mais um passo para trás. "Desculpa, desculpa, não vai mais acontecer..."

Quinn avança em direção a morena que continua recuando até que ela esteja presa entre seu corpo e a parede. Ela se inclina para baixo e une seus lábios novamente, dessa vez ela realmente sente um choque, junto com uma onda de prazer que leva calafrios por toda a parte. Ela pressiona Rachel ainda mais conta a casa e leva uma mão para o pescoço da diva, deixando sua língua deslizar para fora, acariciando o lábio superior de sua nova 'amiga', pedindo permissão para aprofundar o beijo.

A cabeça de Rachel está totalmente nublada e ela parte os lábios, emitindo um som suave quando a língua de Quinn finalmente entra em contato com a sua. Ela envolve a loira em um abraço e se deixa beijar sem objeção. Aquele era o melhor beijo de toda a sua vida. Quinn sabia exatamente o que estava fazendo, sua língua se movia lenta e sedutoramente, explorando cada milímetro da boca da diva, seus lábios eram gentis e delicados, não havia força de mais nem de menos, era absolutamente perfeito.

Se eu realmente vou fazer ela se apaixonar por mim, então é melhor fazer direito. Pensa Quinn, antes de se afastar um pouco. "Não conte para ninguém."

"Não vou contar." Responde Rachel rapidamente, antes de ser cortada por mais um beijo de tirar o fôlego, ainda mais lento do que o primeiro. Dessa vez é ela quem está no controle e seus lábios se movem em perfeita sincronia, como se eles tivessem sido criados para essa finalidade.

"Até amanhã Rachel." Murmura a loira, quebrando o beijo.

Rachel respira com dificuldade quando sente o corpo de Quinn libertar o seu. A loira lhe beija rapidamente uma ultima vez antes de sorrir, virar as costas e ir embora.


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