Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 7
À Espera Do Fim Para Começar




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Jacob. Jacob. Jacob. Jacob estava ocupando todos os meus pensamentos e eu não fiz nenhum esforço para reverter isso. Eu estava completa e absolutamente apaixonada. Para quê negar? Ontem fui dormir muito tarde lembrando o quão perfeito o dia havia sido, revivendo cada momento que eu e ele passamos juntos. Como conseqüência disso, acordei bem tarde. Perguntei-me se foi apenas um sonho de tão perfeito que me parecia e foi nesse momento que meu olhar pousou sobre um lindo buquê de flores silvestres estrategicamente colocadas em cima da minha escrivaninha.


– Ai. Que. Romântico! – saltei da cama e abracei o buquê, cheirando as flores.

Belo começo, pensei. Procurei um cartão, mas não havia nenhum. Bobagem. Palavras eram dispensáveis nesse momento. Com cuidado, coloquei as flores exatamente onde estavam e subi na cama eufórica, literalmente dando pulos de alegria.

Duas batidas suaves na porta e Bella entrou no quarto.

– Posso saber o porquê de tanta alegria?

Pulei da cama e a abracei.

– Pode sim. – rodopiei até a escrivaninha e lhe mostrei as flores. – Olha só o que eu ganhei do Jacob.

Ela sorriu e sentou-se na beira da cama.

– O momento que eu tanto temia finalmente chegou. Mais do que nunca me sinto como uma vovó.

– Deixa de bobagem, mãe. – sentei ao seu lado e ela me abraçou.

– Mesmo assim fico feliz quando vejo você contente, como está agora. E estou bem mais tranqüila por você ter escolhido Jacob.

– Sério? Edward também?– sorri na expectativa.

Ela comprimiu o lábio. Mau sinal. Deitei em seu colo fazendo bico, ela afagou meu ombro.

– Seja paciente com Edward. Isso tudo também é novo para nós.


– Eu sei... Mas ele não devia ficar com essa marcação cerrada.

– Não é bem assim.

– É sim! – Alice entrou no quarto veloz como um foguete, meu pai vinha logo atrás tentando alcançá-la.

– É melhor ficar calada, Alice. – ele ameaçou e minha tia se atirou na cama escondendo-se atrás de Bella.

– Não vou! – Alice mostrou a língua para ele. – Bella tem que saber o que está perdendo.

– O que houve? – minha mãe indagou preocupada.

– Nada. – Edward tentou encerrar o assunto, mas a pequena fada estava decidida a ignorá-lo.


– Você não vai acreditar Bella. Ele ia levá-la para a ilha de Esme no seu aniversário.

Os olhos dourados de Bella brilharam ao ouvir ‘Ilha de Esme’. Até onde eu sei, foi o lugar onde meus pais passaram sua lua de mel.

– E não vai mais? – a decepção tingia a voz de minha mãe.

– Foi só uma idéia. – Edward admitiu fingindo não dar importância ao fato. Ele sabia o quanto Bella desejava voltar lá.

– Não foi só uma idéia. Você havia decidido, eu vi isso. Só ontem algo fez com que ele mudasse de idéia, então a viagem desapareceu.

– E o que foi? – perguntei sem pensar e logo me arrependi.

– Adivinha. – Alice soprou irônica.

– Edward, – Bella se levantou aflita, parecendo ter matado a charada. – você não pode fazer isso com eles.

– Eu não vou viajar justo agora, deixando o caminho livre para esses dois fazerem o que bem quiserem. – meu pai falou trincando os dentes.


– E me fazer feliz já não é uma coisa com que você se preocupe. – ironizou.

– Não diga isso nem por brincadeira, Bella. – a voz dele suavizou um instante e logo retornou ao tom inicial. – Entenda, eu não vou permitir que alguém se aproveite da nossa filha, nem mesmo Jacob.

– Por Deus, como você pode pensar isso de Jacob?

– O problema não está exatamente nos meus pensamentos. – Edward maneou a cabeça rindo sem humor.

Eu apenas observava a discussão deles, boquiaberta.

– Vamos sair daqui, Nessie. – Alice cochichou, já me puxando pela mão. – Não tem que ouvir isso.

Passei pelos dois fuzilando Edward.

– Isso é tão injusto. – lamentei.

– Renesmee... – ele começou.

– Sua conversa agora é comigo. – Bella interrompeu e depois se dirigiu a mim. – Deixe isso comigo, meu amor.

Esbocei um sorriso, confiando nos métodos de minha mãe, seja lá o que ela tivesse em mente.

– Não tenha tanta esperança. – ouvi Edward advertir enquanto eu atravessava a porta.


– Argh! Como ele consegue ser tão irritante?

– Muitos anos de prática. – Alice respondeu minha pergunta retórica. Ela me conduziu pelos ombros descendo a escada até a sala.

Edward era o pai que qualquer garota sonharia ter. Atencioso, dedicado, bonito, inteligente, paciente entre tantas outras virtudes. O dom de ler mentes era algo bastante útil, ele sabia exatamente o que eu queria, e não hesitava em me dar. Na minha infância não conheci outras crianças, mas, certamente, se me conhecessem elas teriam inveja do maravilhoso pai que eu tinha. Edward sempre fora o pai perfeito. Até agora. Eu não o trocaria por nenhum outro, mas privacidade é uma palavra que eu adoraria incluir no meu dicionário.

– Bom dia, Ness. – Emmett cumprimentou sem tirar os olhos da TV, mas com um sorriso malicioso no rosto.

– Bom dia. – respondi desconfiada e dei as costas a ele indo para a cozinha.

– Seu namoradinho está acampado na frente da casa há horas. – disse ele não contendo o riso.

Parei onde estava e lentamente girei nos calcanhares encarando-o.

– Quem? – confusa, passei o olhar pela janela tentando ver através das cortinas.


A estrondosa gargalhada de Emmett ocupou a sala. Rosalie saiu da cozinha e foi sentar ao lado dele.

– Nahuel, é claro. Quem mais poderia ser? – tive a impressão de que Rose esperava mesmo uma resposta, contudo ela prosseguiu. – Ele veio aqui bem cedo te procurando, dissemos que você estava dormindo e eu o convidei para entrar. Não sei por que, ele preferiu esperar lá fora. – completou com desdém.

– Ah. – soltei sem disfarçar a decepção por não se tratar de Jacob.

– Ninguém recusa um convite da minha gata. – Emmett colocou Rosalie no colo e os dois trocaram um beijo apaixonado.

Balancei a cabeça negativamente e suspirei pesado retomando meu caminho.

– Já preparei seu café. – Rose avisou.

– Obrigada. – murmurei.

Arrastei-me até a cozinha como se tivesse meia tonelada presa a cada um dos meus pés. Alice veio logo atrás. Joguei-me na cadeira e desabei sobre a mesa.

– Cadê o Jacob? – estiquei a pergunta.

– Credo! Você está parecendo uma morta-viva.

Levantei o rosto para olhá-la, sem humor algum.

– Onde? – insisti.


– Saiu cedo, em forma de lobo.

Apoiei o rosto em uma das mãos, o desânimo me dominando.

– Depois de me deixar as flores.

Alice fez uma careta sem entender sobre o quê eu falava.

– Que seja. Jake teve algum sonho do qual Edward não gostou nadinha. Os dois conversaram. – ela distorceu a palavra e entendi que se tratava de um eufemismo. – Daí, ele saiu dizendo que precisava pensar.

– Desse jeito ele vai acabar desistindo de mim. – falei desenhando círculos na mesa com o dedo.

– Não mesmo. – ela colocou a mão sobre a minha, dando fim à infinita produção de círculos.

– Tomara.

Tomei café e troquei de roupa sem nenhuma pressa, me preparando para o confronto final. Busquei as palavras certas para dizer e concluí que a única coisa que eu poderia falar era a verdade. Eu o machucaria, não havia como evitar. A covardia me dominava. Eu precisava de Jake, precisava vê-lo para me animar a seguir em frente. Porque ele não voltava logo? Fiquei rodando no quarto feito uma barata tonta, santa paciência que fazia Nahuel continuar lá fora. Peguei as flores e coloquei em um vaso. Somadas às lembranças da noite passada, as flores me fizeram atravessar a sala obstinada e abrir a porta.


Nahuel estava sentado a uns trinta metros de distância, onde a grama batida dava lugar às grandes árvores. Gesticulei para que viesse até mim. Ele se levantou e caminhou calmamente. Calmamente não, havia tensão nele. Era uma calma estudada de quem aceitou a luta, com os danos que ela trouxesse. Deliberei sobre isso nos curtos segundos que demoraram até ele chegar.

– Oi. – me cumprimentou subindo os degraus, um sorriso de expectativa ameaçou se formar em seu rosto.

– Oi. – respondi com um sorriso breve, as mãos nos bolsos.

– Espero ter tornado sua manhã pelo menos um pouco mais agradável. – me lançou um olhar sugestivo e o canto dos lábios se retorceu enquanto ele reprimia um sorriso.

– Não entendi a piada interna.

Ele riu.

– Tudo bem, deixa como está. Não vai me convidar para entrar?

– Na verdade, acho que é melhor conversarmos aqui fora. – fechei a porta atrás de mim. – Se não se importa.

– Sem problemas.

Ele sentou nos degraus e me sentei ao seu lado. Jacob estava certo quanto aos hematomas, havia uma sutil marca ao redor do olho direito de Nahuel e um pequeno corte no canto da boca. Enquanto eu observava esses detalhes ele segurou minha mão.

– Nahuel... – respirei fundo – Olha, não dá mais. – tentei puxar minha mão, mas ele a manteve entre as suas. Seu olhar, fixo nas nossas mãos, estreitou-se apreensivo, mas não posso dizer que se assustou.


– Não imaginei que seria tão direta.

– Eu sinto muito. – fui sincera. – Mas não posso prolongar isso, não seria justo com você.

– É o lobo, não é? – a voz dele não continha amargura, a revolta para a qual eu havia me preparado não veio e isso me desconcertou.

– É – admiti.

Ele se limitou a assentir levemente e continuou brincando com minha mão.


– Jacob sempre foi meu amigo, eu não esperava que as coisas mudassem tão depressa como mudaram. E esse sentimento não é algo que eu possa ir contra, é... É mais forte do que eu.

– Não precisa se explicar. – me interrompeu, sua voz soou rouca, o que assustou a nós dois. Ele pigarreou e continuou com a voz mais clara. – No começo acreditei que eu pudesse passar por cima disso, entretanto, quando vi o modo que você olha para ele, soube que a batalha estava perdida. Parece que ele te deixa cega, sem poder ver nada além dele.


Fez-se silêncio. Eu não tinha palavras para amenizar a tensão.

– Por isso dei uns bons socos na cara dele, aproveitei a chance quando tive. – ele sorriu, mas os olhos permaneciam tristes.

– Sinto muito. – repeti apoiando a cabeça em seu ombro.

Ele passou o braço pelas minhas costas, me puxou para perto afagando meu ombro e beijou meus cabelos.

– Sabe? Por um momento acreditei mesmo que daria certo.

– Eu também. – apertei a mão dele engolindo o nó na garganta.

Ficamos sentados ali por um tempo. Nahuel tinha um espírito nobre, tornou as coisas bem mais fáceis para mim. Só espero que ele encontre alguém que o ame de verdade.

– Então, amigos? – ele me estendeu a mão, finalmente olhando em meus olhos.

– Amigos. – apertei a mão dele sorrindo.

Algo se movimentou na vegetação intensa, um vulto castanho avermelhado.

– Jacob. – arfei sobressaltada. Nahuel soltou um risinho de incredibilidade.

– Só tem algo que eu ainda acho muito bizarro.

– E o que é? – fechei a cara, prevendo sermões sobre lobisomens. Ele não sabia nada sobre Jake e os outros lobos, então era bom que ficasse na dele.

– Ele é velho demais para você. – ele uniu as sobrancelhas, sacudindo a cabeça, inconformado.

Eu ri alto, Nahuel me observou sem entender.

– Você percebe o que acabou de dizer?

– Não vejo a graça, se puder me mostrar.

– Claro, claro. Você tem mais de cento e cinqüenta anos e está falando dos quase vinte e cinco de Jacob.

Ele bufou e revirou os olhos.

– Não se trata apenas de idade. – rebateu com uma nota de ressentimento na voz. – Ele é tão... grande pra você. Chega a ser estranho. Você parece uma bonequinha de porcelana prestes a ser quebrada por aquela coisa enorme.

– Ah, não enche.

– Foi mal. Não fica chateada, vai. – ele me cutucou nas costelas.

– Tudo bem, desde que você não venha mais com essas conjecturas ridículas.

– Ok. Mas que é estranho é.

Dei um soco nas costas dele. Nahuel riu e se levantou fugindo da minha tentativa de agressão.

– Estou indo caçar, quer vir comigo?

– Não. – respondi rápido demais. – Tenho que arrumar minhas coisas. Vamos embora amanhã.


– Mas já? – ele ergueu as sobrancelhas surpreso. – Não precisa fugir de mim.

– Não estou fugindo.

Ele ergueu uma sobrancelha discordando.

– Vai ser mais fácil assim. – me levantei ficando bem na sua frente.

A súbita aproximação o afetou de alguma maneira e ele pareceu considerar o que eu disse.

– Tem razão. Vai ser mais fácil assim. – concluiu.

Sorri e o abracei.

– Vou sentir sua falta.

– Não tanto quanto vou sentir a sua. – ele me apertou em seus braços.

Eu não podia argumentar contra, sabia que com Jacob ao meu lado eu não precisava de mais nada. Ainda assim Nahuel seria um bom amigo de quem eu me lembraria com carinho. Ao terminar o abraço ele continuou segurando meus ombros displicentemente, porém a maneira que seus olhos estavam presos a mim me fez temer sua próxima ação.

– Então... É isso. – outra vez escondi as mãos nos bolsos dando um passo para trás.

– Parece que sim. – ele olhou para algum ponto na mata, pensativo. – Você acha que algum dia vamos nos ver de novo?

– Claro! Temos a eternidade não é? Pode nos visitar quando quiser. Leve a Huilen também, vocês serão muito bem vindos.

Ele assentiu devagar e beijou minha testa.

– Mande lembranças aos seus pais. E à Alice e Jasper.

– Pode deixar.

– Adeus Renesmee. Nahuel afastou-se lentamente caminhando de costas, me observando.


Tensa, não movi nenhum músculo até que ele me desse as costas e disparasse em uma corrida, desaparecendo floresta adentro. Suspirei aliviada. Agora eu poderia seguir o destino que escolhi. Sentei nos degraus, decidida a esperar Jake voltar. Ouvi o barulho da porta abrindo e em um segundo Emmett saltou por cima de mim, pousando em minha frente com um estrondo.

– E aí, Ness! – cumprimentou animado.

Alice, Jasper e Rosalie saíram fazendo bem menos alarde.

– Hey! Onde está o Nahuel? – Alice perguntou procurando em volta.

– Já foi.

Alice me sorriu e ninguém mais percebeu o lampejo maligno em seus olhos quando ela leu nas entrelinhas da minha afirmação.

– Vamos caçar. Vem com a gente? – convidou Rose.

– É a saidera – Emmett salientou.

– Podem ir. Vou esperar Jake aparecer por aqui.

– Ok, baby. Você quem sabe. – Emm deu de ombros.

Rosalie fez um muxoxo de desaprovação, mas não insistiu.

– Tudo bem. Vamos indo. – Alice puxou Jasper e deu uma piscadela. – Até mais, Nessie.


Eles partiram velozes, algum tempo depois Jacob – na forma humana – apareceu. Como ele conseguia ser tão perfeito? Estava lindo com o novo corte de cabelo, as maçãs do rosto avermelhadas pelo sol, os encantadores olhos castanhos presos aos meus. Sem falar no corpo escultural. Ai, ai. Parei de babar e me levantei indo em sua direção. Eu estava um pouco tensa, não sabia qual era exatamente o patamar em que meu relacionamento com Jacob estava. Depois do que houve ontem, eu não conseguiria tê-lo apenas como amigo. Se bem que ele sempre foi bem mais do que isso. Agora eu queria Jake de todas as formas, e com uma intensidade que eu nunca imaginei desejar alguém. Ele caminhava contra o vento, quase sorrindo, porém com uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Assenti, agora praticamente correndo em sua direção. O sorriso largo e ensolarado se espalhou no rosto de Jake. Joguei-me em seus braços e ele me suspendeu pela cintura, me girando no alto, tal como fazia quando eu era criança. Apoiei os braços em seus ombros enquanto eu escorregava pelo seu corpo até alcançar o chão.

– Acabou, Jake. – assinalei sorridente.

– Não – ele esticou a palavra e depois passou a mão no meu cabelo, com um sorriso travesso cravado no rosto – Está apenas começando.


Ele se curvou sobre mim, me beijando. Passei uma mão pelas costas dele e a outra subiu para a nuca, o puxando para perto. Jacob retribuía com a mesma intensidade e só então percebi que estava tudo exatamente como eu esperava que estivesse. Eu tinha Jacob comigo. Terminamos o beijo, mas nos mantivemos próximos, testas coladas. Nossos sorrisos se encontraram em um instante eterno e perfeito.

– Tenho certeza de que a vida não pode ficar melhor. – afaguei os cabelos de Jacob e o beijei no canto dos lábios.

– Se depender de mim vai ser a cada dia melhor.

Voltamos a nos beijar. A pele quente de Jake sobre a minha conseguia ser mais quente que o sol. Esqueci de todo o resto, tudo o que eu via, sentia e queria era Jacob. Não conseguia encontrar em mim aquele pensamento sensato que dizia a hora de parar. Um arrepio de prazer percorreu meu corpo. Eu sentia como se correntes elétricas entrassem em curto circuito em minhas veias. Meu coração já batia freneticamente, forte e rápido, tão forte que parecia perigoso, me perguntei se eu poderia ter uma parada cardíaca; meu coração parecia querer sair de mim.

– Edward não dá folga. – Jake reclamou, com os lábios ainda nos meus.


Olhei para trás e vi meu pai parado na porta como uma estátua de mármore. Para minha surpresa ele não nos fuzilava, apenas nos observava sério. Jacob apertou minha mão.

– Eu estou aqui. – sussurrou.

– Alice disse que vocês discutiram. – lembrei.

– Não exatamente. – Jacob fez uma careta – Ele só estava cumprindo seu papel de sogro conservador. Ele pensa que ainda estamos no século XIX. Mas a verdade é que Edward sempre foi muito chato, um tremendo corta onda! – agora Jake parecia falar consigo mesmo.

Pela primeira vez imaginei há quanto tempo meu pai e Jacob se conheciam. O modo como ele falou deu a entender que Edward costumava interferir nos seus relacionamentos em um passado distante. Não gostei nenhum pouco da idéia.

– Que foi? Não esquenta não, nós já nos acertamos.

– Não é por isso. – interrompi – Há quanto tempo você e meu pai se conhecem?

Jacob ergueu uma sobrancelha estranhando o rumo que a conversa havia tomado.

– Sei lá. Sete ou oito anos. – ele passou a mão pelos cabelos – O que isso importa?

– Eu estava imaginando... Quantas namoradas suas meu pai conheceu?


Jacob arregalou os olhos em uma expressão de espanto, como quem se lembra de algo terrível que jurou esquecer. Durou apenas um segundo e logo ele se recompôs.

– Nenhuma – alegou com desinteresse.


No entanto não deixei passar despercebido o rápido olhar que Jacob lançou a Edward.

– Sei. – murmurei cruzando os braços e caminhando dois passos na direção da floresta.

– Nessie, – Jacob me abraçou por trás e beijou meu pescoço. Tive de me concentrar em manter minha respiração no ritmo normal. – Se houve alguma outra, eu nem me lembro mais. – sussurrou em meu ouvido – Você é tudo o que eu quero agora. A única que não sai dos meus pensamentos nem por um instante.

– Mentira sua. – gemi.

– Você sabe que não é. – apertou os braços em minha volta.

Suspirei.

– Por algum motivo acredito nisso.

Ele apoiou a cabeça em meu ombro.

– Porque é a verdade.

Afaguei o rosto de Jacob. Eu sabia que ele era sincero, bastava olhar em seus olhos. Passei isso para ele.

– E antes que eu me esqueça, obrigada.

– Por?

– Pelas flores, são lindas. Não imagina o quanto fiquei feliz, Jake.

– Ah. Você gostou delas. – ele respondeu vagamente.

– Foi um gesto muito cavalheiro.


– Então, vamos ver o que o senhor telepatia quer? – Jacob me puxou pela mão caminhando energicamente na direção de Edward.


Eu podia jurar que vi um sorriso se formar no rosto do meu pai antes dele nos dar as costas e entrar em casa, porém ele estava bastante sério sentado em uma poltrona quando eu e Jacob entramos na sala e nos acomodamos no sofá. Fiquei apreensiva esperando que Edward começasse, ele por sua vez ainda nos olhava imóvel, a expressão indecifrável. Jacob aparentava tranqüilidade, fazia desenhos nas costas de minha mão. O silêncio começava a ser desagradável.

– Com certeza você não nos chamou para jogar baralho ou para contemplar minha infinita beleza. – Jacob quebrou o silêncio enfim. – Desembucha.

Edward pareceu lutar contra as palavras até finalmente falar.

– Eu e Bella vamos à Ilha de Esme.

Deixei escapar um gritinho de alegria.

– Uau. – Jacob comentou admirado – Se divirtam lá. Onde está Bella? Ela deve ter adorado a novidade.

– Aqui. – minha mãe desceu as escadas, sorridente. Sua felicidade era quase palpável. – Aproveitei a ausência da Alice para fazer minhas malas, se eu não fizesse isso logo ela era capaz de me produzir para uma viagem a Paris.

Ela sentou no braço da poltrona onde Edward estava.

– Novidades de La Push e Forks? – Bella quis saber.

– Não, não. Tudo na mesma. Só a Leah infernizando. – Jacob franziu a testa. – E eu que pensei que já tivéssemos superado essa fase.


– O que ela fez? – perguntei.

– Nada demais. Digo, se tratando dela. – Jake fez uma pausa e suspirou, o assunto parecia cansá-lo. – Leah cismou que não vai mais se transformar. Está óbvio que ela não vai conseguir. É impossível parar assim, de uma hora para a outra.

– Daí, na ausência do ‘alfa’ e da ‘beta’ sobra para o pobre Seth tomar conta da matilha, sozinho. – Bella adivinhou pesarosa.

– Bingo.

– Mais um motivo para voltarmos o quanto antes. – acariciei o braço de Jacob com a ponta dos dedos, contornando os músculos muito bem definidos. Como eu adorava aqueles braços...

– Renesmee. – Edward censurou.

– Ah! Não é pra tanto pai.

– Jacob, você sabe o que eu penso a respeito disso. – Edward me ignorou mudando
de alvo.

– E você, literalmente, sabe o que eu penso. – Jake rebateu e deu de ombros. – Eu amo a Nessie, só quero o melhor para ela.

– O melhor para mim é ter você comigo. – me apressei em deixar minha opinião bem clara.

Jacob me olhou compreensivo reprimindo um sorriso. Beijou minha testa antes de continuar.

– Bella, Edward, confiem em mim. Reprimir isso só vai piorar as coisas. Ela quer. – a voz dele se tornou incisiva na última frase.


– As proibições de Charlie não nos impediram de ficar juntos. Pelo contrário, só intensificaram as coisas. – Bella constatou.

– Era diferente. – Edward interrompeu.

– Não tanto. Mas confesso que ainda acho toda essa história precoce demais. – ela uniu as sobrancelhas agora se dirigindo a mim. – Que tal esperar mais uns cinco ou dez anos?

– Absolutamente não. – apertei a mão de Jacob.

– Ela puxou sua teimosia. – Edward acusou. Bella comprimiu os lábios aceitando sua parcela de culpa. – Se existir um meio de adiar isso, é melhor tentarmos. Um romance entre um lobisomem e uma meio imortal com certeza vai atrair a atenção dos Volturi.

– Aqueles sanguessugas malditos não tem nada que se meter nesse caso. – alegou Jacob, sua voz subitamente ríspida. Senti um leve tremor agitar minha mão.

– Eles não precisam saber. – argumentei rápido, a agitação de Jake me preocupando.


Eu detestava ser fonte de problemas para ele e minha família.

– Você não tem culpa de nada Renesmee. – Edward respondeu a meus pensamentos. – Por enquanto. Mas se continuar insistindo nisso, eu não preciso das visões de Alice para saber que todos nós teremos problemas mais tarde. Não posso permitir que algum de vocês se machuque. Tudo o que os Volturi querem é uma desculpa para atacar nossa família. Está me pedindo para dar isso a eles?


Bella se encolheu no canto da poltrona, eu fiz o mesmo em uma reação espelhada.

– Que se danem! – resmungou Jacob. – Não vou me afastar dela. Não tenho medo de lutar. – completou com a voz feroz.

– Jacob, você é como um irmão para mim, ou até mesmo um filho. – falou Edward com tom afetuoso. – Eu também me sentiria terrível se algo acontecesse a você e sua matilha. Querendo ou não você já faz parte da nossa família. Sem contar com o sofrimento que sua morte traria à Nessie e Bella. Acha que eu posso conviver com isso?

Estremeci com a escolha da palavra morte. Jacob pareceu refletir por um momento.


– As coisas não estão nesse extremo. Sabe o que eu quero dizer. Se tomarmos cuidado, a gangue do terror nunca vai ficar sabendo.

– Você sempre dizia que existem meios de enganá-los, amor. – minha mãe colaborou. – Vamos dar uma chance para os dois, você sabe como é ficar longe de quem se ama.

Agarrei o braço quente e forte ao meu lado.

– Nada pode me separar de Jacob. Eu preciso dele, não posso ser feliz sem ele.

– Muito coerente vindo de alguém que até ontem defendia um namoro com Nahuel.

Edward deu um meio sorriso triunfante. Golpe baixo.

– Sabe que é diferente. Eu não havia percebido ainda – olhei para Jacob ansiosa – me desculpe, eu realmente...

– Shhh. – ele me beijou rápido, me impedindo de continuar. – Está tudo bem.

Assenti grata e abracei Jacob, enterrando o rosto em seu peito.

– Vai precisar de bem mais do que isso. – Jacob provocou com a voz dura. Não precisei olhar para saber do olhar desafiador que ele agora lançava a Edward.

Meu pai rosnou baixo.


– Já chega! – Bella explodiu. – Olha que cena ridícula vocês estão fazendo aqui. Os dois amam tanto Renesmee e estão fazendo minha filha passar por uma situação dessas. Edward dê algum crédito a eles. Os Volturi não têm porque vir atrás de nós outra vez.

Virei o rosto para ver a expressão torturada de meu pai. Eu entendia quão perturbadores eram os sentimentos dele agora. Ciúme paterno e preocupação com o rumo que a aceitação de meu romance com Jacob levaria a todos nós. Eu não podia culpá-lo, mas também não abriria mão da minha felicidade.

– As coisas não estão tão bem assim? – Edward sussurrou com os olhos fixos no chão e um sorriso triste surgiu em seu rosto.

Por favor. – Está bem. – ele se rendeu.

– Ah, obrigada, pai! – minha voz subiu alguns tons quando eu me joguei em cima de Edward o abraçando e beijando.

Toquei seu pescoço ‘Obrigada de verdade’. Ele sorriu com seus dentes brilhantes perfeitos, mas não com os olhos.

– Espero que não me façam mudar de idéia, ainda falta muito pouco para isso. – Edward falou para Jacob que estava esparramado no sofá com os braços estendidos sobre o encosto, com um sorriso imenso e deslumbrante.

– Relaxa sogrão!

– Jake – meu pai rosnou entredentes.

Jacob riu alto, depois piscou para mim. Voei para o seu lado quase gravitacionalmente. Quando percebi já estava aninhada em seu peito.

– Alice vem aí. – meu pai alertou.

– Ela está chateada? – Bella mordeu o lábio, receosa.

– Inconsolável. – corrigiu Edward.

Todos nós rimos menos Bella, afinal ela que teria de enfrentar o furacão que estava por vir. Segundos depois Alice atravessou a sala feito um gracioso projétil, parando na frente de minha mãe.

– Por quê? – ela meio que gemeu, meio que cantou com a voz de sino elevada.


– Me desculpe Alice. Eu só queria umas roupas mais Bella e menos... Rosalie? – o receio na voz de Bella fez a frase parecer uma pergunta.

– Qual o seu problema com as minhas roupas? – Rosalie fingiu irritação enquanto passava pela porta. Emmett e Jasper logo atrás.

– São roupas de loura burra, ora. Vai que a Bells perde os neurônios também. – Jacob brincou.

– Não enche vira-lata.

– Você é uma irmã muito egoísta. – Alice cruzou os braços miúdos fazendo beicinho. – Eu resgato sua viagem e você me agradece desse jeito! Não é justo. Às vezes acho que você não gosta de mim como diz.

– Não diga isso Alice. Você sabe que eu te adoro. – Bella abraçou minha pequena tia, que não descruzou os braços. – Pronto. Agora estou me sentindo culpada.

– Ah, Bella, o que é que custa? – quando Alice lançou aqueles grandes olhos dourados e suplicantes à minha mãe, vi que a batalha estava perdida.

Uma parte de mim prestava atenção à discussão das duas, outra não conseguia tirar o foco de Jacob, que enquanto se divertia com a cena, distraidamente, fazia desenhos em meu braço, me causando arrepios a cada toque.

Bella fez uma careta prestes a se render e Alice continuou. – Eu vi as roupas que você escolheu, e meu Deus! Aquele jeans não combina com aquele moletom!

– Está bem. Está bem Alice. O que eu não faço para ver você feliz.

Alice deu pulinhos de alegria e puxou Bella para subir as escadas.

– Vamos. Vou te ensinar como se faz uma mala pela milésima vez. Vê se nessa aprende.

Edward revirou os olhos. Enquanto isso Emmett se remexia impaciente no canto do sofá com um sorriso frenético no rosto. Ele olhava para Jacob, depois Bella, Jacob de novo, depois para mim. Desde que chegou ele estava nesse circuito de olhares. Eu começava a corar.

– Guarde essa piada para você, Emmett. – meu pai aconselhou. A sutileza em seu tom não desfazia a ordem.

A expressão de Emmett não mudou, apenas tornou-se mais ansiosa.

– Isso foi trapaça, Jasper. – Bella falou já no quarto sabendo que todos podiam ouvir.

Ouvi a risada de sino de Alice. As coisas sempre funcionavam daquele jeito na família Cullen e eu adorava isso.

– Então, vocês vão mesmo à Ilha de Esme. – Rose comentou passando os dedos no cabelo.

– Que outra opção eu teria depois que essa baixinha coloca a língua de trapo em ação? – Edward respondeu, contudo não havia irritação em seu tom. Na verdade pude até perceber uma nota de gratidão.

– Sabe que eu estou ouvindo não é? – a cabeça de Alice apareceu no alto da escada, ela mostrou a língua para Edward, depois sumiu. Meu pai riu baixinho.

– Emm, desista dessa. – ele murmurou.

Emmett sacudiu a cabeça e deu de ombros em um só gesto.

– É verdade o que a nanica disse?

Edward assentiu e Emmett explodiu em uma gargalhada um tanto insana. Eu detestava não saber do que eles falavam.

– Do que está falando, tio?

O sorriso de Emmett se esticou no rosto e ele me encarou.

– Então. – ele mesmo se interrompeu com uma risada depois sacudiu a cabeça e se concentrou em continuar. – Meu irmãozinho Edward me deu plenos poderes para vigiar os dois pombinhos enquanto ele estiver fora. E, cara, eu não vou dar folga! – contou sem esconder a satisfação que a tarefa lhe proporcionava.

Meu queixo caiu. Jacob lançou a cabeça para trás e riu com desdém.

– Só pode estar brincando!


– Pode apostar que não. – o brilho intenso e maligno nos olhos de Emmett não deixava vestígios de blefe.

– Ah não. – gemi enterrando o rosto nas mãos. – Logo o Emmett!

– Eu bem que poderia pedir a Jasper também... – Edward refletiu.

– Não me envolva nessa. – Jasper ergueu as palmas das mãos na defensiva.

Jake afagou minhas costas e tirou minhas mãos do rosto.

– Não leve a sério. Sabe como o grandão é, muito barulho, pouca ação.

– Paga pra ver, garanhão. – Emm desafiou ainda se divertindo com sua nova responsabilidade.

– De qualquer modo poderia ser pior. – Rose comentou após um segundo de silêncio.

– Essa é a hora que eu devo jogar minhas mãos para o alto e agradecer minha maravilhosa sorte? – Jacob ironizou.

– Isso mesmo. – disse Edward sorrindo satisfeito com nossa reação.


Eu deveria desconfiar que ele não fosse deixar barato, e escolheu exatamente a pessoa certa para infernizar minha vida: Emmett!


– Não é para tanto. Edward se levantou e saiu se fingindo de inocente, porém não antes de terminar.


– E a propósito, Nessie, quem deixou as flores foi o Nahuel.


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