Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 6
Melhor Amigo




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Começou a anoitecer. As primeiras estrelas surgiam, mas ainda havia restos de sol a oeste. A noite prometia ser bonita. Todos estavam reunidos no jardim, ninguém mais me importunou a respeito de Nahuel, apenas Edward nos encarava com os olhos alertas quando Nahuel segurava minha mão. Aliás, devo me lembrar de agradecer a Jasper pelos grandes favores que ele me prestou hoje. Depois de muita insistência, argumentos e mais argumentos, convencemos Jake a deixar Alice cortar o cabelo dele, e para falar a verdade ele estava mesmo precisando. Já havia passado quarenta minutos desde que Alice e Jacob entraram em casa. Por que eles não voltavam? Eu me segurava na cadeira para não ir ver o porquê de tanta demora.


− Eu já disse que você está linda? – Nahuel beijou minha mão.

Sorri sem vontade. Acho que agora nós estávamos namorando oficialmente e eu nem sei se era isso mesmo o que eu queria. Mesmo me sentindo no auge da carência, gostando de Nahuel e ele gostando de mim, parecia haver algo muito errado. Eu não estava feliz. Enfrentar meus pais foi um ato de pura teimosia, quem sabe eles estavam certos? Baixei a cabeça para não ver a expressão de Edward ao ouvir isso em meus pensamentos. Que ridículo lutar por uma causa em que nem eu mesma acreditava.

Uma cascata de luzes acendeu nas árvores a nossa volta e tudo se iluminou. Olhei para cima encantada, era lindo, como no natal. Jacob surgiu na porta da casa e não tive olhos para mais nada. Ele sorriu para mim e naturalmente sorri em resposta, dessa vez um sorriso sincero. Jake estava inacreditavelmente lindo com uma simples bata branca, calça jeans e tênis, o cabelo um pouco mais curto, agora espetado, com um visual moderno. Alice poderia ganhar dinheiro com isso. Em três segundos ele atravessou o gramado acabando com a distância entre nós.

− Dança comigo? – ele me estendeu a mão com o sorriso mais lindo que eu já vira em minha vida. Aceitei imediatamente.


− Você não vê que ela está acompanhada? – Nahuel se levantou segurando minha outra mão.

− Ah, tenha dó, garoto. – Jacob sorriu em uma espécie de deboche. − Você apareceu agora, não tem direito algum sobre ela.

Nahuel não gostou nenhum pouco do tom e das palavras de Jake, antes que ele respondesse alguma coisa dei um beijo em sua bochecha.

− É só uma dança. – cochichei.

− Nessie... – ele começou, mas não fiquei para ouvir.

Jacob envolveu minha cintura e me conduziu até o local mais distante e também mais decorado do ambiente.

− Gostei do cabelo. – elogiei.

− Gostei do vestido. – ele sorriu para mim.

Coloquei os braços ao redor dos ombros dele e ele manteve as mãos em minha cintura. No som tocava uma música romântica, nós nos movíamos em giros lentos.

− Senti sua falta. – sussurrei.

− Eu não sei o que deu na baixinha. – ele franziu o cenho. – Tenho certeza de que ela poderia ter sido mais prática.

− Não entendo.

− Tá brincando? Ela navalhou fio por fio.

− Vai que Alice aprecia sua companhia.

− Tudo bem, desde que ela não precise da minha companhia. – seus olhos no momento, eram de um castanho amadeirado e sondaram os meus procurando alguma pista do que estivesse acontecendo. Permaneci em silêncio.


– Você sabe, ela acha que eu sou como um analgésico.


Pelo visto Alice não contou nada a Jacob, é claro que ela não me faria esse favor depois de eu presenteá-la com uma tremenda dor de cabeça. Eu teria de ouvir mais um sermão, dessa vez do meu melhor amigo e ele me conhecia o suficiente para saber que eu não estava feliz.

− Foi isso mesmo. – resolvi falar. Eu poderia protelar, mas não evitar.

Jake ergueu uma sobrancelha me questionando.

− Nahuel está causando dores de cabeça a ela. – franzi a testa pensando em uma maneira de ser direta, por mais que eu me esforçasse, as frases sempre soavam como enigmas.

− Ah. Bem que eu imaginei que aquele meio sanguessuga seria fonte de problemas.

Mordi o lábio.

− A culpa é sua, aposto que ele está caidinho por você. – ele brincou sem saber que era mais ou menos isso que estava acontecendo, só então percebeu a tensão estampada em meu rosto. – O que houve? O que ele fez? – perguntou entredentes.

− Calma. Não estou encontrando o jeito certo de contar isso. – Por que eu me sentia tão mal em ter de contar aquilo a Jacob? – Espere.

− É o que estou fazendo.


Me afastei dele interrompendo nossa dança. Arrumei o vestido, mexi no cabelo, respirei fundo. Ele me encarava esperando uma explicação. Por falta de palavras, sem pensar duas vezes, estendi a mão tocando o rosto de Jake. Mostrei a ele os dias que passei com Nahuel, nossa amizade crescente, a saudade que senti nas últimas semanas e todos os sentimentos confusos que acabavam de nascer. Ele permaneceu sério, percebi que suas mãos já estavam fechadas em punho. Mostrei a declaração que Nahuel fez naquela manhã e... O primeiro beijo. Antes que eu mostrasse o resto Jacob afastou minha mão quase violentamente e recuou dois passos, um tremor sacudiu seu corpo.

− Argh! − grunhiu ele, pressionando as têmporas com os punhos trêmulos e fechando os olhos bem apertados.

− Jake, o que foi? – não me ocorreu sentir medo, porém eu estava espantada com aquela reação, preocupada seria a palavra certa.

Ele por fim abriu os olhos e a expressão dele era colérica, frustrada, traída.

− Eu não acredito que você fez isso, Nessie! Por que deixou aquele... − a boca se retorceu num rosnado e ele começou a andar de um lado para o outro.

Sacudi a cabeça confusa.

− Você está parecendo o meu pai.

− Pai? Ah. Ótimo! – ele lançou as mãos para o alto. – Aliás, onde está o telepata que não faz nada a respeito? – perguntou ele sem interromper o andar irritado. – Para me monitorar ele é muito eficiente, mas deixa esse projeto de vampiro se aproveitar de você!


– Ninguém está se aproveitando de ninguém aqui. Eu estou namorando Nahuel e Edward já sabe.

Jacob parou de andar, os pés cravaram no chão, porém o tronco girou em minha direção, ele me encarou perplexo, as sobrancelhas se ergueram e os olhos ficaram arregalados.

– Você não pode estar falando sério. – a expressão dele era um misto de frustração e indignação.

– Qual é o seu problema, Jake?

– Não deveria continuar com isso. – respirou fundo lentamente, tentando relaxar os dentes que estavam trincados. – Você não o ama. – aquilo não fora uma especulação, ele acreditava completamente no que dizia.

– Isso não faz diferença agora. – dei de ombros.

Ele deu dois passos largos e se inclinou sobre mim angustiado. Seus olhos ainda continham fúria, mas havia algo mais.

– É claro que faz diferença. – sua voz era baixa e tensa. – Eu não vou te perder. Não desse jeito. Eu te amo Renesmee.


– Eu também te amo. – respondi o óbvio.

– Eu sei disso melhor do que você.

– Você é o meu melhor amigo, Jake. Deveria me apoiar. – falei cerrando os olhos.

Ele segurou meu rosto entre as mãos que ainda tremiam um pouco.

– Nessie, eu quero que abra os olhos, preciso que você olhe nos meus.

Hesitei por um instante até que abri os olhos devagar e o encarei.

– Eu. Te. Amo. – ele sussurrou.

Entendi sobre qual tipo de amor ele falava, era fácil perceber com seu olhar intenso e sincero vasculhando minha alma em busca de uma resposta. Quando absorvi aquelas palavras senti meu coração bater frenético e... feliz?

– Eu não quero passar nem mais um minuto sem você, ainda mais vendo outro ocupar o meu lugar. – ele completou. – Então é melhor que saiba que vou lutar para ter você.

– Jake... Desde quando? – as palavras não passavam de um suspiro.

– Não importa.

Jacob me puxou para perto e me abraçou forte. Enterrei o rosto em seu peito, ele encostou o rosto no alto da minha cabeça. Pude sentir que seu coração também batia mais acelerado que o de costume. A pele de Jake ardia através do cetim fino, mesmo sendo apenas um pouco mais quente do que a minha. Ele poderia estar tão nervoso quanto eu?


Ele me amava. Meu Jacob, meu melhor amigo. Aquele que me pegou no colo, que me viu crescer, que montava castelos de areia comigo na praia de La Push. Deveria me parecer estranho, mas pelo contrário, era muito natural e confortável saber que ele sentia isso por mim. A alegria emanava de cada célula do meu corpo, apertei meus braços em volta da cintura dele, eu o queria ainda mais perto.

– Fica comigo, Nessie. – ele agora estava calmo, sereno como se minha resposta não importasse ou já soubesse qual seria.

– Eu quero. – respondi imediatamente.

Jacob ficou radiante. Ele sorriu, seus olhos brilharam ao me ouvir e não pude deixar de sorrir também. Algo se encaixou em silêncio, como as duas peças mais importantes de um quebra cabeça que só esperava por elas para ficar completo. Sem tirar os olhos dos meus, Jake começou a inclinar a cabeça em minha direção aos poucos. Acho que ele estava me dando um tempo para pensar, mudar de idéia, até fugir quem sabe. No entanto eu não faria nada disso. Tudo o que eu queria estava ali, diante de mim. Reparei que eu já estava na ponta dos pés, a fim de diminuir a distância entre nós.


Seus lábios quentes tocaram os meus gentilmente, fechei os olhos. Não houve tempo para que o toque sutil se tornasse um beijo, algo afastou Jacob de mim.

Nahuel o empurrou para o outro lado do jardim, Jake por sua vez não hesitou antes de voar em cima do adversário, sem dar-se ao trabalho de se transformar em lobo, e o acertou com um soco de esquerda. Nahuel revidou e, pelo estralo, deveria ter quebrado o nariz de Jacob. Tentei correr para separá-los, porém Edward me segurou. Pela visão periférica vi os outros se aproximarem.

– Faça alguma coisa! – gritei exasperada.

– Acho que eles merecem esse tempinho a sós. – Edward respondeu unindo as sobrancelhas, a expressão de quem tomava a decisão mais sábia do mundo. Ele reprimia um sorriso.

O fitei boquiaberta. Onde foi parar toda a postura de bom moço defensor da ética?

– Não sou tão dadivoso quanto Carlisle. Minha generosidade tem limites.

Pisquei duas vezes fitando-o perplexa. Meu pai não me olhava, prestava atenção à luta. Examinei seu rosto procurando algum sinal, com a esperança de que ele estivesse apenas blefando. Nada.

– Ui! Essa deve ter doído! – Emmett comentou entre risos.

Agora Nahuel segurava Jacob pelo pescoço, apertando-o contra uma árvore que já havia inclinado. Este se livrou dando uma joelhada no estômago do outro. Jake acertava a maioria dos golpes, entretanto Nahuel possuía maior resistência física. Enquanto era necessário muito esforço para encontrar algum hematoma no semivampiro, era quase impossível acreditar que Jacob ainda se manteria de pé.

– Hey, irmão, posso entrar na briga? – Emmett se preparava eufórico. – Não. – Edward respondeu sem olhá-lo.

– Ah! Qual é? Eu tenho o direito de defender a honra da minha sobrinha. – Emm reclamou insatisfeito.

Defender minha honra. Sei. Ele procurava qualquer desculpa para entrar em uma briga. Por que meu pai não fazia nada? Ele estava disposto a deixar os dois se matarem por causa de um ciúme paternal idiota?

– Essa não é uma má idéia. – Edward comentou sorrindo.

– Já chega, vou ajudá-los. – Bella saltou na direção dos dois, pousando entre eles.

Edward suspirou e me largou, seguindo-a. Zafrina, Huilen, Emmett e Jasper foram logo atrás. Edward e Emmett seguraram Jacob, enquanto Bella tentava dizer coisas para acalmá-lo. Jasper, Huilen e Zafrina detiveram Nahuel. Caminhei na direção deles em um ritmo humano, Alice e Rosalie me acompanhavam. Eu não tinha pressa, precisava raciocinar a respeito da situação.

– É bom que já saiba com quem você quer ficar. – Rosalie sussurrou em meu ouvido.

Cambaleei sem saber se continuava ou voltava correndo procurando um lugar para me esconder.

– Essa questão não precisa ser resolvida agora. Apenas seja imparcial até que tenha certeza. É bom lembrar que, mais cedo ou mais tarde, vai perder um dos dois. – Alice segurou minha mão e continuou com passos firmes.

E lá estavam eles. De um lado Nahuel com a trança desfeita e algumas suaves manchas roxas. Nada muito alarmante. Do outro, um ensangüentado Jacob praguejava. Não era preciso olhar duas vezes para ver que o estrago em Jake fora muito maior.

– Minha nossa, Jake! – apressei o passo na direção dele. – Você está horrível.


Ele fez menção de sorrir.

– Estou tão mal assim?

– Nada que não possa ficar pior. – meu pai disparou.

– Não vem com essa. – Jacob cotovelou Edward de leve. – Aposto que você também estava louco para quebrar a cara dele.

– Se liga cachorro. A única cara quebrada aqui é a sua. – Rose riu, se divertindo com a própria piada. – Alguém – ela recuperou o fôlego – alguém trouxe a câmera?

Jacob olhou para ela ofendido e limpou o sangue da boca com a manga da camisa que já fora branca. Minhas mãos flutuaram no ar sem saber onde eu poderia tocá-lo sem que doesse.

– Não se preocupe Nessie. Eu estou bem.

– Não parece.

Ele se mexeu impaciente.

– Ok. Não estou, mas vou ficar.

– O lobo aqui agüenta o tranco. – Emmett deu duas batidas fortes no ombro de Jake, que gemeu. – É melhor ver como o outro está.

Era verdade. Jacob se curava rápido, Nahuel não. Ignorei os resmungos de Jacob e corri para o lado onde meu futuro ex-namorado estava.

–Nahuel? – Ele me olhou decepcionado, a expressão oscilava entre a desaprovação e a esperança. – Me desculpe. – murmurei.

– Não precisa se desculpar. Era o mínimo que eu poderia fazer para te defender.

– Ah, Nahuel. Não precisava. Eu me entendo com Jacob.

– Você ia mesmo deixar que ele te beijasse? – ele distorceu as palavras com nojo.

Fez-se silêncio quando eu não respondi.

– Como você está? – desviei o olhar e fugi do assunto.

– Não muito mal. Dói um pouco, mas valeu à pena. O estrago que causei nele foi bem maior. – ele sorriu orgulhoso e aquilo me irritou.


– Precisamos conversar. – falei antes que eu perdesse a coragem.

– Tem que ser agora? – perguntou com a voz suplicante.

– É melhor. Quero esclarecer algumas coisas.

– Renesmee, não estou com a mínima disposição para discussões de relacionamento. Dê-me um tempo, preciso de descanso e de um pouco de gelo, talvez.

– Tudo bem. – suspirei. Eu não insistiria com ele naquele estado.

– Boa noite, querida. – ele veio me beijar, virei o rosto e ele acabou beijando minha bochecha.

– Até amanhã.

Ele recuou um passo.

– Não faça nenhuma besteira, Nessie. Estou confiando em você. – advertiu antes de me dar as costas.

Nahuel saiu, andando meio desajeitado. Huilen e as amazonas foram com ele. Procurei os outros, em vão. O decorado jardim estava vazio, exceto por mim e Alice.

– Ai, Alice! O que eu faço agora? – me atirei nos braços miúdos dela. – Não quero magoá-lo.

– Deveria ter dado o fora nele de uma vez. Só adiou o inevitável.

– Alice! – censurei.

– O que foi? Só falei a verdade.

– Cadê todo mundo?

– Entraram em casa. – ela estava leve como uma pluma. – É melhor você ir falar com Jacob. Quero que se acertem logo. – falou animada.


– Mas de onde tirou essa idéia?

– Você pode não ter percebido ainda. Entretanto estou certa de que já fez sua escolha. E não é o Nahuel. – ela mostrou um largo sorriso de dentes brilhantes e rodopiou duas vezes como uma bailarina.

– Não consegue ver o meu futuro. Como pode ter tanta certeza? – perguntei incrédula.

– A dor de cabeça passou. – cantarolou e foi dançando na direção da casa.

Sentei em uma das cadeiras e me debrucei sobre a mesa. Então eu iria mesmo ficar com Jake. Meu coração disparou só de pensar na idéia. Não escondi o sorriso ao imaginar como seria, era maravilhoso acreditar nisso. Jacob era mais do que uma garota ousaria querer, era amigo, divertido, carinhoso, forte, protetor e bonito, muito bonito. Me admira constatar que ele nunca teve uma namorada, não que eu saiba. Fui tomada pelo pânico ao cogitar a possibilidade de alguma outra tê-lo beijado, abraçado e... Ai. Preferi parar por aqui, ele passava mais tempo comigo e com minha família do que na própria casa, não haveria como esconder um romance, haveria?

Fiquei pensando nessas bobagens, imaginando coisas, delirando, e nem percebi quando minhas ilusões se transformaram em sonho. Claro que eu não poderia sonhar com outra coisa que não fosse Jacob. Dessa vez ele apenas me esperava, sentado em uma pedra na praia de La Push, com a mão estendida, aguardando uma confirmação. Fui ao encontro dele, mas algo me segurava, me arrastava para trás. Jacob ficou sério e a mão se fechou trêmula de raiva, enquanto eu lutava para correr até ele, e não saía do lugar.


– Eu estou com você. – ele disse com a voz muito doce, não combinava com a expressão de fúria que ardia em seus olhos. A voz também era muito próxima para a distância entre nós que só aumentava.

Estranhando isso me distanciei do sonho e, voltando à realidade, abri os olhos. Jake me observava curioso, sentado na cadeira à minha frente.

– Ah, não... – gemi me endireitando na cadeira, tentando me recompor.

– Ah sim. – ele sorriu.

– Que bonito dormir no meio do jardim. – disse sarcástica. – Meu Deus! Devo estar horrível... Por que você não me acordou?

– Não gosto de interromper seus sonhos, ainda mais quando você está sonhando comigo. E a propósito, você ainda está linda. – o sorriso de Jacob se espalhou.

Senti que eu estava corando.

– Era melhor que tivesse me acordado. Não era um sonho, era um pesadelo.

A surpresa e a confusão atravessaram seu rosto.

– Você estava lá, mas foi um pesadelo porque eu não conseguia te alcançar. – esclareci constrangida.

Ele estendeu o braço sobre a mesa com a palma da mão voltada para cima, tal como estava no sonho. Lembrando disso, agarrei a mão dele com uma urgência desnecessária.

– Eu estou com você. – repetiu. – E sempre estarei. Se você não conseguir me alcançar, não se preocupe, porque não vou ficar de braços cruzados.


– Promete? Não vai deixar nada nos afastar?

– Prometo.

– Você sabe como me sinto bem quando está por perto. – Eu sorri e observei que não havia mais nenhuma marca ou corte no rosto de Jake. – Nossa! Você está bem melhor. Para falar a verdade, parece completamente curado.

– E estou. Eu disse que não precisava se preocupar. Fico feliz que não possa dizer a mesma coisa do meio sanguessuga.

Eu o encarei.

– Eu não pretendia ofender. – disse ele depressa.

– Me faz um favor? Não vamos falar mais sobre Nahuel ou pancadarias no jardim.

A idéia pareceu agradá-lo.

– Não está mais aqui quem falou. – ele simulou passar uma chave na boca e jogá-la fora.

Olhei Jacob ali, na minha frente, o olhar vivo e animado, com seu meio sorriso encantador. Não havia nada que eu quisesse mais do que ele, nunca desejei algo com tanto desespero em toda a minha vida. Sabendo que ficaríamos juntos, mais cedo ou mais tarde minha mente procurava listar os menores motivos que me convencessem a não atirar para longe a mesa que nos separava e me jogar nos braços dele agora mesmo. Um: eu ainda não havia terminado com Nahuel. Dois: Edward me mataria. Mas isso não pesava o suficiente. Não ao ponto de me conter.


– O que foi? – ele indagou com curiosidade, não preocupação.

– Só estou pensando... – me interrompi quando uma fina camada de chuva começou a cair.

– É melhor entrarmos. – Jake concluiu analisando as nuvens densas que se aproximavam.

A chuva ficou mais forte. Nos levantamos depressa e meu vestido enganchou na cadeira, derrubando-a, começamos a rir disso feito bobos. Com um movimento rápido soltei a ponta do vestido e nós dois corremos para casa ainda de mãos dadas.

Encontramos a sala vazia, a única luz acesa era a da luminária na mesa de canto, claridade mais que suficiente para qualquer um dos que habitavam a casa. Ainda sorrindo Jacob segurou meu rosto entre suas mãos quentes e passou os polegares na minha bochecha retirando algumas gotas de água. Controlei o riso para evitar chamar a atenção dos outros. Mas eu não poderia controlar minha respiração mais acelerada que o normal, nem meus pensamentos que nesse momento eram todos para Jacob.

– Quero você, Jake. – murmurei passando os braços pelo pescoço dele. – Era sobre isso que eu estava pensando, no quanto eu te quero.

Ele colocou uma das mãos em minha cintura me puxando para mais perto, inclinei o rosto para o lado onde a sua outra mão ainda me segurava e beijei sua palma. Jake se aproximou encostando os lábios em meu pescoço. Esse simples gesto pareceu causar um terremoto. Ele subiu aos poucos com beijos suaves e terminou mordiscando o lóbulo da minha orelha.

– Mas eu já sou seu, Nessie. – sussurrou em meu ouvido. Um arrepio percorreu meu corpo e eu não sabia mais como respirar. Sorri feliz com o que escutei.

– Por quanto tempo? – agora eu precisava recuperar o fôlego que acabara de desperdiçar com uma pergunta mal colocada e fora de hora.

Jacob me encarou procurando a lógica de minha pergunta.

– Não pense que vai se livrar de mim, mocinha.

– É disso que tenho medo, Jake. Não quero que isso acabe.

– Então estamos empatados. – dizendo isso ele avançou sobre mim colocando os lábios macios e quentes nos meus com um beijo apaixonado. Fechei os olhos sentindo o calor me dominar, meus dedos agarraram seu cabelo com força, ele me suspendeu pela cintura e avançou alguns passos me encostando contra a parede, sua língua buscou a minha quase com desespero e nossos corpos tentavam a cada momento estar mais próximo um do outro. Sua boca encaixava perfeitamente sobre a minha, nossos lábios se moviam com tanta harmonia que o momento parecia coreografado. Meus pés tocaram o chão enquanto eu ainda me agarrava a Jacob querendo mais. Relutante, permiti que ele afastasse o rosto do meu. Quando abri os olhos encontrei, nos dele, a confirmação de tudo o que eu procurava, vi naqueles lindos e intensos olhos negros o futuro que eu queria para mim.


– Isso está acontecendo de verdade? – ri comigo mesma.


Jake estava radiante, ostentando seu sorriso mais característico. Eu também sorria. Ele afagou meu cabelo com carinho e retirou algumas mechas que caíam em meu rosto.

– Sinto um clima favorável ao amor. – Jasper despontou no alto da escada brincando com uma maçã que ele obviamente não iria comer.

A súbita aparição de meu tio, para alguns, poderia ter sido aterrorizante se combinada à chuva intensa que caía contra a janela e sacudia as árvores do lado de fora. Contudo, me assustei por outros motivos. Jacob não se moveu um centímetro de onde estava, manteve nossos corpos colados e apenas virou a cabeça na direção do vampiro com uma expressão que não deve ter sido das melhores.

– Não vim para atrapalhar. – Jasper ergueu as mãos tentando mostrar-se inofensivo. – Alice me pediu para avisar que vocês têm um minuto e meio até Edward aparecer por aqui. – ele parou no meio da escada, bem humorado.

– Obrigada, Jazz. – falei grata por mais uma ajuda que meu tio loiro me prestava no interminável dia de hoje.

Ele assentiu para mim sorrindo e depois atirou a maçã para Jacob que a pegou no ar sem dificuldade alguma.

– Cuidado aí, garoto. – advertiu Jasper e depois desapareceu escada acima.


– É melhor que eu vá dormir. – empurrei Jake sem usar força alguma, preferia mesmo ficar ali, na prisão de seus braços.

– Não precisa. Posso muito bem lidar com Edward.

Mordi o lábio inferior, tentada a ceder.

– Hoje não. – resolvi.

Jacob suspirou, desanimado.

– Além do mais, devo falar com Nahuel primeiro... O que não será tão fácil. – conclui.

Ele bufou ao ouvir o nome de Nahuel. Tive de sorrir com aquela reação ciumenta. Acariciei o rosto dele “Sabia que você fica irresistível quando está com ciúmes?”. Jake revirou os olhos desacreditando no que eu acabava de mostrar. Equilibrando-me na ponta dos pés beijei seus lábios. Ele apertou um dos braços na minha cintura, me segurando firme e aprofundou nosso beijo.

– Tenho que ir. – arfei antes que eu perdesse o controle de vez.

– O quê? Ainda temos vinte segundos. – cheio de segundas intenções fez uma cara de menor abandonado.

Soquei seu peito de leve.

– Está abusando da sorte.

– Só estou tentando desfrutar dela.

– É melhor se manter vivo para isso.

Ele sorriu desafiadoramente.

– Espere até amanhã. – gemi – Só algumas horas e nós poderemos ficar juntos quando bem quisermos. Já dei trabalho demais por hoje, não quero irritar Edward novamente.

– Ok, ok. Você venceu. – Jake finalmente se rendeu afastando-se de mim.

– Boa noite. – sibilei sorridente e subi as escadas, correndo para o meu quarto feliz da vida.


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