Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 37
3x10 - Adaptação


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Quanto tempo, não?
Peço mil perdões pela minha ausência. Sei que isso não se faz, então só posso agradecer pela paciência de vocês que estão lendo essa nota, o que significa que você aí não desistiu da EF e eu sou imensamente grata por isso!

Eu amo escrever essa história, então prometo que não vou jamais abandona-la, mesmo que os capítulos demorem a vir.

Há quase dois meses me mudei para Londres (estou estudando aqui) e passei por uma fase de adaptação que me impediu de dedicar algum tempo à Eternal Flame, entretanto agora tudo está relativamente mais tranquilo e eu me comprometo a manter uma certa regularidade nos posts (uma vez por mês, tá bom? ;D).

Obrigada por cada comentário e mensagem. Li todos com muito carinho e todas as observações, opiniões, críticas e sugestões estão sendo levadas em conta, mais do que isso, são combustível para me ajudar a escrever a Eternal Flame. =D

Enfim, espero que gostem do capítulo!
Abraço, até a próxima! .õ/



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Andar pelos corredores do colégio era totalmente diferente agora que eu sabia que em breve Jacob estaria andando comigo. Era como se uma carga extra de tensão corresse pelas minhas veias, deixando meus nervos à flor da pele, me deixando vulnerável a cada suspiro ao meu redor, atenta a cada pessoa que cruzasse meu caminho. Tudo agora tinha cores diferentes, um mundo de alternativas se revelava, uma vez que eu imaginava Jacob dentro desse impossível cenário.

Eu estava nervosa demais para rir comigo mesma, mas de alguma forma parecia divertido vê-lo resmungando a respeito da lição de casa. Jacob não foi feito para isso, para esse estilo de vida que minha família leva. O lugar dele é na floresta, em uma manhã chuvosa a beira da praia, encarando a imensidão... Ele foi feito para ser livre.

Logo isso me faz questionar, será que essa é a vida que eu escolheria para mim se tivesse a chance?

Perguntas sem respostas brotavam em minha cabeça a todo instante, então logo optei por silenciá-las. Eu tinha pelo menos mais um dia antes de Jasper providenciar os documentos necessários para matricular Jacob no Ketchikan High School.

Ao dobrar no corredor, meu estado de alerta instantaneamente me ajudou a detectar Gabriel em meio à multidão de alunos que transitavam por ali. Um garoto alto, de ombros curvados, magro e levemente desajeitado gesticulava animadamente enquanto Lefroy assentia educadamente, entretanto algo em sua expressão entregava que ele não estava muito confortável com a conversa.

Aproximei-me de forma silenciosa pronta para resgatá-lo e só quando o rapaz mexeu inquieto nas armações verdes de seus óculos de grau foi que o reconheci. Seu nome era Peter, ele fazia parte do clube de eventos do Keyhi e no momento parecia muito empenhado em convencer Gabriel de alguma coisa.

– Veja bem, nosso orçamento não é dos melhores, de qualquer forma acho que podemos negociar um cachê ou algo do gênero... – o rapaz falava rápido.

– Não é sobre o dinheiro, Peter. – Gabriel argumentou – Eu só não acho que seja uma boa ideia... – Lefroy passou uma mão pela nuca, parecendo nervoso – Faz muito tempo que eu não me apresento, você sabe.

– Sim, sei. Por isso que eu digo que é uma ótima hora para um retorno! Olha, você sabe que eu não pediria um favor desses se não estivesse realmente desesperado. Não tenho muitas outras opções.

– Sinto muito, Peter. Agradeço pela oferta, mas eu não posso fazer isso.

O garoto do grupo de eventos parecia profundamente desapontado quando se despediu de Gabriel e seguiu caminho pelo corredor abarrotado de alunos.

Lefroy soltou um suspiro aliviado encolhendo os ombros.

– Eu vi isso. – falei.

– Renesmee – ele sorriu ao me ver e logo em seguida cortou a distância entre nós me pegando em um abraço. – Como você está?

– Bem. O que aquele rapaz queria? – fui direto ao ponto.

– Nada demais... – ele começou.

Estreitei os olhos, cruzando os braços.

– Ok. A banda que ia tocar na festa de Halloween do colégio cancelou de última hora e agora eles precisam de alguém para se apresentar no próximo sábado. Por alguma razão Peter pensou em mim, mas eu disse a ele que não seria possível.

– Por quê? – algo agudo em minha voz me fez parecer ainda mais chateada do que o rapaz que acabara de ir embora. – Seria uma ótima oportunidade para você.

– Não, Renesmee. Eu não estou pronto para isso... A festa é daqui a duas semanas. – protestou.

– Tempo suficiente! Cat me disse que você não deixou de praticar.

Ele franziu a testa. Era a mesma careta que ele sempre fazia quando dizia que eu e Catherine estávamos conspirando contra ele. Ofereci meu sorriso mais angelical em resposta.

– Muito espertinha. – ele beijou meus lábios com um toque tão rápido e suave quanto o de um beija-flor. – Ainda assim não adianta, a festa é no mesmo dia do festival de balé da Cat.

– Ainda acho que você deveria considerar. – murmurei. – Com todo esse mistério eu estou curiosa para te ouvir cantar.

Lefroy riu de leve enquanto passava um braço sobre o meu ombro, beijou minha testa e me acompanhou até a minha sala. A cada passo meu estômago dava cambalhotas de ansiedade, sem saber como contar que Jacob estava aqui. Morando comigo. Muito em breve estudando nessa exata escola.

Gabriel tem sido mais do que um amigo, tem sido um confidente. Ele sabe como eu me sinto a respeito de Jacob e nossa separação. Ou pelo menos como eu me sentia.

Nem eu mesma posso afirmar como me sinto agora.

– Tem algo que você queira me contar? – Gabriel indagou.

– Sim, contudo não agora. No intervalo a gente conversa. – me esforcei para sorrir e lhe dei um beijo na bochecha, entrando na sala logo em seguida.

Eu sabia que seria difícil para Jacob me ver com outro cara, o que em parte fazia com que eu me sentisse culpada por ter seguido em frente – ainda que tenha levado quase uma década para isso. Ao mesmo tempo não seria justo com Gabriel abandoná-lo agora. Na certa ele pensaria que eu o deixei para ficar com Jacob, o que em hipótese alguma era o caso.

Eu e Jacob não podemos voltar a ficar juntos.

É perigoso demais.

Pensar em perigo me levava de volta a Joham. Aquele vampiro precisava sair de uma vez de perto dos Lefroy e da minha família. Suas ideias psicóticas de me unir a Nahuel a qualquer custo me preocupam a cada dia mais. Posso sentir que ele ainda está por perto, à espera de alguma coisa... Mas o quê? Talvez eu devesse pedir a ajuda de Candy e Nahuel para convencê-lo a ir embora de vez.

Não consegui prestar atenção em nada do que o professor dizia, perdida em meus próprios devaneios, me perguntando o que Jacob estaria fazendo agora, como Gabriel reagiria quando soubesse que Jake está aqui.

Quando o sinal tocou, caminhei lentamente até o refeitório, temerosa pela conversa que eu estava prestes a ter.

– Ei! Olá! Renesmee Cullen, certo? – Peter me alcançou ofegante.

– Sim, sou eu. E você é Peter...

– Peter Rivers, prazer. Sou do clube de eventos do colégio.

– Eu sei. Espere, não me diga que veio me chamar para me apresentar na festa de Halloween também.

Ele riu.

– Não. A não ser que você esteja interessada e apta, é claro.

– Definitivamente não.

– É o que todos dizem. – ele ajeitou a lente dos óculos. – Na verdade vim falar a respeito do Lefroy. Uma vez que vocês dois estão saindo juntos agora, pensei que você poderia me ajudar a convencê-lo a se apresentar na festa. O cara é bom, só precisa de um incentivo. E uma vez que todos aqui o idolatram, seria uma vantagem e tanto para acelerar a venda dos ingressos. Eu estou a dois passos de perder meu cargo, esse evento não pode ser outro fracasso.

– Pensei que as festas daqui sempre fossem um sucesso.

– Costumavam ser, não devem ser mais, uma vez que você e seus irmãos nunca vieram para nenhuma. – ele balbuciou e pareceu imediatamente arrependido do que disse.

Franzi as sobrancelhas.

– Anda nos vigiando por acaso?

Ele pigarreou, agitado.

– Sua família não é exatamente do tipo que passa despercebido. – desconversou – E então, vai me ajudar ou não?

Pensei por um instante e fiz que sim.

– Vou ver o que posso fazer.

– Muito obrigado! Vou contar com isso. – ele deu um meio sorriso e acenou saindo apressado.

– Não seja estúpida, se o Gabe nunca cantou para mim, não será por você que ele vai voltar a cantar. – reconheci a voz irritante de Jennifer atrás de mim.

Respirei fundo e me virei.

– Por que não cuida da sua própria vida?

– É exatamente o que estou fazendo. Por isso mesmo é melhor se cuidar, piranha. – falou venenosa, passando por mim sacudindo as longas mechas loiras para trás dos ombros.

Fiquei boquiaberta, contudo decidi que não perderia mais tempo com as insolências da Collins. Ela era a menor das minhas preocupações nesse momento.

Ao chegar no refeitório, avistei minha família sentada na mesa de sempre e fui me juntar a eles, uma vez que Gabriel estava com Nick e seus outros amigos.

– Sinceramente, não sei por que o Lefroy anda com esse cara. – Emmett comentou ao notar meu olhar fixo nos dois. Era exatamente a mesma pergunta que pairava em minha mente.

– Ele esteve por perto quando o pai do Lefroy morreu. – meu pai explicou, parecendo entediado enquanto esfarelava um pedaço de pão. – De alguma forma o Lefroy prefere enxerga-lo como aquele garoto do que como o canalha que ele se tornou.

Uma irritação repentina lampejou nos olhos de Edward e eu sabia que meu pai estava recordando do episódio na casa de Jennifer, o qual inutilmente tentei esconder em meus pensamentos, entretanto ficava difícil pois cada vez que eu via Nicholas Hayne pelos corredores sentia vontade de eu mesma estapeá-lo por causa daquele dia. Eu queria poder contar ao Gabriel o que aquele idiota era capaz de fazer.

– Já contou para ele sobre Jacob? – Bella quis saber.

– Não. – minha voz não passava de um sussurro.

Eu estava adiando esse momento e consegui fazê-lo até o final do último período, no qual eu e Lefroy tínhamos uma aula juntos.

– E então, você tinha algo para me dizer. – ele começou após o professor nos liberar.

Seus olhos faiscaram em um azul tão puro em minha direção, cintilando de curiosidade. Eu não queria decepcionar aqueles olhos por nada nesse mundo.

– Aham... Aquele rapaz dos eventos, Peter, veio falar comigo. – soltei, incapaz de falar sobre Jacob.

– Ah. – a expressão de Gabriel era vaga, eu não sabia dizer se ele estava decepcionado ou aliviado pelo rumo que a conversa tomou.

– Acho que você deveria dar essa chance para você mesmo, pelo seu pai. – falei delicadamente. – Já está na hora.

Ergui o braço para tocar no peito dele, mas minha mão pairou hesitante no ar. Os dedos dele encontraram os meus e ele segurou minha mão firmemente e a beijou.

– Prometo que vou pensar no assunto.

Meu coração palpitou alegre, com uma fresta de esperança por ele se esforçar para superar esse trauma.

Ele continuou segurando minha mão e saímos a caminho do estacionamento.

– Tem mais alguma coisa que você quer me contar, dá pra ver.

Instantaneamente tive vontade de abraça-lo. Esse garoto tem sido meu único refúgio da dor durante os últimos meses, eu não queria ameaçar o santuário que levei tanto tempo para construir. Eu não queria perde-lo. Não logo agora que tudo parecia estar indo tão bem.

Contudo eu não tinha escolha.

– Tem sim. – resolvi falar de uma vez – Jacob está aqui.

Foi como se eu o tivesse estapeado. Gabriel recuou, atônito por um instante interminável. Pude ver seus olhos translúcidos serem cobertos de nuvens enquanto ele se esforçava para calcular o que essa nova informação significava. A mão dele lentamente soltando da minha.

– Desde quando? – perguntou e eu vi aonde ele queria chegar.

Gabriel estava imaginando que Jacob foi a razão para eu não ter vindo para a aula semana passada, quando na verdade meus pais me proibiram de sair por causa de Joham. Eu não tinha como dizer isso para ele, e nem como provar que “estive doente”, quando de fato não estive.

– Ele chegou ontem, do nada. Ele teve alguns problemas em nossa antiga cidade e achou que aqui seria um bom lugar para recomeçar. – expliquei.

– Ele veio para ficar com você. – Gabriel apontou.

– Não é nada disso...

– Você sabe que sim. – os olhos dele se estreitaram em minha direção como punhais de gelo.

Eu não podia negar. As intenções de Jacob permaneciam nebulosas para mim, entretanto eu sei que ele não é do tipo que fica por perto sem se fazer notar. No fundo eu sei que ele fará o que for preciso para que eu desista do Lefroy.

– Não interessa. Não é como se fôssemos voltar a ficar juntos... Eu nem sequer sei mais como me comportar na frente dele! Você sabe o quanto sofri todo esse tempo. Não estou prestes a cair no mesmo erro. Ainda assim Jacob é meu amigo e está precisando de um lugar para ficar, eu não poderia simplesmente dar as costas para ele nesse momento.

– Espera aí. Ele está na sua casa?

No quarto em frente ao meu!

– Sim. Por enquanto. – eu disse – E ele vai começar a estudar aqui também.

Gabriel expirou e caminhou alguns passos passando por mim, os lábios curvados em um sorriso incrédulo enquanto ele balançava a cabeça.

Virei-me para acompanha-lo.

– Por favor, Gabriel, não faz isso. Nada vai mudar entre a gente. – eu quase conseguia sentir o gosto amargo da mentira em minha boca. – Não quero que você se sinta ameaçado pela presença dele aqui, mas eu tenho que avisar que Jake costuma falar as coisas sem pensar duas vezes e muito provavelmente será o mais hostil possível com você. – adverti lembrando o modo rude como Jacob tratou Nahuel quando descobriu que nós estávamos juntos no Brasil. – Mas é só isso. Nada vai mudar.

– Está me dizendo que quer continuar? – ele parou.

– Você não quer? – questionei.

A incerteza preencheu meu ser enquanto eu encarava suas costas largas. Um estranho silêncio se projetou, uma vez que Gabriel demorou um pouco mais do que devia para responder.

– Claro que quero. – ele se virou para mim. – Você é simplesmente o ser mais lindo que eu já vi. – senti minhas bochechas corarem e as pontas dos dedos dele suavemente acariciaram meu rosto – Sério, chega a ser impossível acreditar que você é real. Eu tenho tanto medo de acordar um dia e descobrir que isso tudo não passa de um sonho. Você parece um anjo que, por algum terrível desastre celestial, veio parar aqui na Terra. Deus, eu tenho certeza que o céu inteiro chora todas as noites sentindo falta desse sorriso.

Não pude evitar sorrir.

– Para com isso, Gabe. Não seja bobo. – murmurei, envergonhada.

Se eu era algum tipo de anjo, certamente era o anjo da morte, sempre trazendo perigo e desgraça para a vida daqueles que mais amo. Começou com minha própria mãe, quando Bella esteve muito perto de morrer com o corpo completamente dilacerado apenas por querer me trazer ao mundo. E então vieram os Volturi, se aproveitando da minha existência para atacar minha família. Emily e Sam, que perderam seu primeiro filho, pois eu estava no lugar errado, na hora errada... Jacob, que esteve tão perto de perder sua vida por mim, só Deus sabe por quantas vezes.

Eu deveria ser trancada em algum lugar e ser deixada sozinha para sempre, assim ninguém me usaria como pretexto para atacar aqueles que amo.

– E como se não fosse suficiente – Gabriel continuou, ignorando meu pedido – seu coração é tão puro e bondoso que chega a ser quase tão estonteante quanto seu corpo. – ele fez uma pausa aproximando o rosto do meu com uma expressão brincalhona e maliciosa. – Eu poderia facilmente dizer que você é ainda mais linda por dentro do que por fora, mas, caramba, bailarina, seria impossível competir com isso tudo. – sussurrou me olhando de cima a baixo.

– Gabriel! – gritei baixinho batendo no ombro dele e logo em seguida enterrei meu rosto ali, morrendo de vergonha.

Ele riu e me abraçou carinhosamente.

– Eu só falei a verdade. – disse por fim, acariciando meus cabelos. – Eu admiro e desejo cada parte sua... Inclusive esse seu lado violento e cabeça dura. Da primeira vez que te vi, você parecia tão frágil e amargurada... Algo dentro de mim dizia que aquilo não era você, que no fundo você era apenas uma garota de coração partido, que, por medo ou culpa, se recusava a ser feliz de novo. – ergui meu rosto para olhá-lo e encontrei seus olhos azuis aguardando os meus – Desde que te conheci tenho acordado dia após dia disposto a te conquistar e te fazer feliz, bailarina. Sou sortudo o suficiente de você sequer ter olhado para mim, ainda mais, de alguma forma louca, você ter vindo parar nos meus braços. E nesse momento, meu único desejo é que cada pedaço desse seu coraçãozinho teimoso me pertença, me ame. Por que eu já sou todo seu, Renesmee.

Pisquei duas vezes para limpar meus olhos das lágrimas de emoção que ameaçaram se formar. Cada palavra dele soava tão verdadeira e convidativa aos meus ouvidos que pelo mais breve instante, tudo o que eu queria era ser capaz de entregar meu coração, corpo e alma eternamente aos cuidados dele.

– Portanto, sim, eu tenho certeza que seu ex vai fazer o que for preciso pra te ter de volta e não o culpo. Eu faria exatamente a mesma coisa no lugar dele. Mas eu confio em você e se está me dizendo que eu não tenho razão para me preocupar, prometo fazer meu melhor para não surtar. Mesmo sabendo que outro cara está tendo a chance de dormir toda noite sob o mesmo teto que você. – ele pensou por um minuto e franziu o rosto olhando para nenhum ponto em particular – Cara, isso vai ser difícil.

Eu ri e guiei os lábios dele de encontro aos meus.

Gabriel apertou seus braços ao redor do meu corpo e retribuiu o beijo com urgência, suas mãos lentamente mapeando meu corpo por cima das camadas de roupa e me veio a súbita realização de que haviam camadas demais entre nós. Espaço demais entre o calor do meu corpo e a pele dele para satisfazer o desejo que agora ardia em mim.

Alguém pigarreou atrás de nós.

– Lefroy, Cullen, espero que os dois estejam cientes de que apesar de isso ser um estacionamento ao ar livre, vocês ainda estão nos domínios do colégio. – professor Campbell advertiu tentando ser o mais delicado possível.

– Sim, desculpe por isso, senhor Campbell. – Gabriel se apressou em responder. – Prometo que não vai acontecer de novo.

O homem assentiu e acenou com a mão entrando em seu carro. Notei que ele até sorriu consigo mesmo murmurando algo sobre seus tempos de juventude.

Depois dessa fiquei vermelha como um pimentão e me despedi de Gabriel, voltando para casa. Minha conversa com Gabriel havia me dado esperança de manter uma vida remotamente normal, mesmo com Jacob presente nela. Eu sabia que na realidade não seria tão simples quanto em meus pensamentos, mas ter Jake de volta em minha vida como o melhor amigo que ele sempre fora sem deixar que isso interfira no meu relacionamento com Lefroy soava melhor do que eu esperava.

Meus pais já estavam em casa quando cheguei, porém Jacob não. Esme contou que ele havia saído no fim da tarde, provavelmente para conhecer a região e caçar.

Uma parte de mim temeu que ele tivesse ido embora.

Fiz a tarefa de casa, passei um tempo com Esme, tentei ler um livro, separei algumas roupas que eu não queria mais no meu closet. Enchi-me de pequenas atividades para matar o tempo, entretanto já era tarde da noite e eu não conseguia dormir, preocupada, pois Jacob não voltava.

Coloquei o pijama e deitei em uma tentativa frustrada de descansar.

Fiquei revirando na cama, atenta para ouvir quando ele chegasse. Jasper disse que tudo estava certo com os novos documentos e que amanhã mesmo Jacob faria a matrícula e possivelmente já começaria a frequentar o Keyhi.

Levantei-me horas mais tarde e ao passar pela janela, avistei Jacob lá em baixo. Meu coração sobressaltou ao nota-lo parado na escuridão, de braços cruzados, encostado em uma das árvores que cercavam a mansão.

Suspirei aliviada. Ele estava de volta e em frente a minha janela.

Por quanto tempo ele esteve ali?

Empurrei a vidraça e saltei em direção ao jardim, pousando com um impacto surdo.

Os cantos dos lábios de Jacob se ergueram ao me ver.

– Hey. – ele falou, se aproximando de mim.

– Oi. Porque você está aqui fora uma hora dessas? Não conseguiu dormir? – apertei o robe em volta do meu corpo e cruzei os braços sentindo a umidade fria da grama sob meus pés descalços.

– Já faz duas noites que eu não consigo apagar. – disse. – Como eu poderia dormir sabendo que estou tão perto de você?

– Não começa, Jake.

– Eu não fiz nada. – ele levantou as mãos.

Suspirei.

– Onde você esteve? – perguntei.

– Sentiu minha falta? – ele ergueu uma sobrancelha dando mais um passo em minha direção.

– Talvez. – admiti relutante.

Ele sorriu satisfeito.

– Jasper disse que amanhã você já pode começar a frequentar as aulas e eu queria conversar sobre isso.

– Por que ao invés de perder tempo com besteiras não falamos sobre o verdadeiro problema aqui? – Jacob cortou. – Como vocês podem continuar vivendo nessa farsa com aquele sanguessuga psicótico rondando esse lugar?

– Joham?

– Quem mais? – ele bufou impaciente. – Deveria ter me livrado dele quando tive a chance... Da primeira vez que o vi, eu sabia que ele traria problemas.

– Joham provavelmente já foi embora. – disse, tentando convencer a mim mesma.

– Não. Eu encontrei um rastro recente dele não muito longe daqui. Se os garotos estivessem por perto eu deixaria alguém sempre cobrindo o perímetro e não frequentando aulas idiotas.

– Ok. Não tenho tempo pra isso. – murmurei me sentindo subitamente cansada pela aspereza dele. – Tenho aula amanhã cedo.

Jacob revirou os olhos, mas pareceu preocupado quando me viu indo embora.

– Espera.

Voltei-me para ele.

– O que foi?

– Eu fiz tudo o que você pediu, Nessie. E de que adiantou todo esse tempo que a gente ficou sem se ver? – perguntou sério.

– Não começa, Jacob, por favor.

Com passos largos ele cobriu a distancia entre nós em dois segundos.

– Me responde uma coisa, você conseguiu ser feliz durante esses últimos anos? Seja sincera. – ele comprimiu os lábios, esperando uma resposta.

Olhei no fundo dos olhos amadeirados dele, estudando-o e conclui que ele merecia uma resposta franca.

Uma fina garoa começou a cair e eu cruzei os braços abraçando a mim mesma.

– Não Jacob, eu não fui feliz nos anos que nós passamos longe um do outro.

A expressão dele se suavizou com um misto de alívio e remorso. Antes que Jacob falasse ergui a mão indicando que eu não havia terminado.

– Mas pra ser completamente honesta, acho que eu estava prestes a conseguir.

Seu maxilar enrijeceu e Jacob pareceu surpreso com minha resposta, pois engoliu o que quer que ele planejava falar antes.

– Agora eu não sei mais. – soprei. – Eu não sei o que você pretende vindo até aqui.

– Você está me expulsando? Se for esse o caso eu vou agora mesmo. Só quero que saiba que eu vou para nunca mais voltar.

– Não Jake, não é nada disso. – surpreendi-me com o tom calmo em minha voz – Eu só acho que perdemos tempo demais. Não sei. Talvez se você tivesse aparecido aqui cinco anos atrás eu me sentisse diferente, mas agora me sinto apenas... Confusa. – confessei.

Jacob respirou fundo, se recompondo.

– Sinto muito, Nessie. Eu realmente mereço qualquer punição que você queira aplicar...

– Não estou te punindo, Jake. Só estou tentando passar por isso da melhor forma possível. E estou me esforçando de uma maneira impossível para te entender. Para descobrir por que levou tanto tempo até que você decidisse me ver, por que até dois meses atrás era impossível para você sequer atender a uma ligação minha.

Ele deu de ombros encarando o chão.

– Eu estava tentando fazer o que você pediu. Ficar longe.

– Nunca te pedi para ficar longe. Eu disse que não poderíamos ficar mais juntos.

– Exato. E esse foi o meu jeito de tornar mais fácil para você seguir em frente.

– Funcionou. – pensei alto.

– Eu nunca deixei de te amar, Nessie. Eu acreditava que a qualquer momento você ia aparecer por aquela porta e dizer que mudou de ideia, mas isso nunca aconteceu.

Mordi o lábio, encarando a grama escura pensando comigo mesma que foi um erro descer até aqui. Essas conversas sempre me machucavam demais.

Jacob limpou a garganta, endireitando os ombros.

– Desculpe. Não vim aqui fazer o papel do coitadinho.

Por Deus, apenas me diga por que você veio! Gritei mentalmente.

– Uma vez você me disse que estar comigo te fazia a garota mais feliz do mundo, lembra?

Inclinei o rosto olhando para ele, esperando que continuasse.

– Vim aqui para fazer você ser essa garota novamente. Juro que não vou descansar até ouvir sua voz me dizendo essas palavras de novo.

Por fim, era isso. Jacob veio me fazer feliz. Um sorriso triste escapou de meus lábios enquanto flashes incompletos, embaçados e distorcidos de memória lampejavam em minha mente. Eu era mesmo plenamente feliz.

Entretanto, naquela época eu era muito inocente, não sabia metade do que sei hoje. Eu olhava para Jacob e poderia ver claramente o homem por quem me apaixonei – meu melhor amigo com o sorriso que encandeava o sol, o amante com os beijos mais ardentes, o lobo alfa da matilha, destemido e faminto por perigo.

Perigo.

Isso. Jacob jamais recuaria da ideia de ficarmos juntos novamente, uma vez que ele não se importava com os riscos, nunca se importou. Ele entendia que nossa união o sentenciaria a morte e era até capaz de se animar com isso. O perigo era um fator estimulante. Como Emmett, se empolgando ao encontrar um grande urso da montanha durante uma caçada.

Entretanto, agora eu sou uma garota crescida e preciso responder pelos meus atos e escolhas ao invés de apenas sucumbir aos meus desejos.

Eu fiz uma escolha: proteger a minha família das investidas ardilosas de Aro, o mesmo que certa vez deixou bem claro que estava apenas esperando um deslize meu para despedaçar minha família.

E eu não iria falhar.

Tendo isso em mente, ao invés de pular nos braços de Jacob para recordar o calor de sua pele ardente e mergulhar em um mundo de fantasias, eu apenas lhe lancei um olhar terno e toquei seu rosto lhe desejando uma boa noite e dizendo que já havia passado da hora de dormir.


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