Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 36
3x09 - Guerra Fria




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Meu cérebro tratou de lidar com a presença de Jacob por conta própria, uma vez que eu não conseguia me mover, minha imaginação fez todo o serviço por mim. Nela minhas mãos rebeldes não paravam de atirar todos e quaisquer objetos da casa na direção dele. Eu gritava e gritava em uma última tentativa de autodefesa, para que ele não se aproximasse de mim.

Não havia uma sensata razão na Terra que fizesse Jacob ser bem vindo de volta à minha vida agora. Por que ele fez isso? Por que ele estava fazendo isso comigo? Ele iria me destruir.

– Não vai me cumprimentar, Renesmee? – ouvir sua familiar voz rouca era como me aproximar de uma lareira após enfrentar uma nevasca intensa. Ouvir meu nome escapando por entre seus lábios era como escutar uma sinfonia perfeita, eu poderia ouvi-lo repetir essa única palavra pelo resto da minha vida.

Não, não. Nada disso. Eu queria soca-lo. Eu queria gritar com ele até não ter mais fôlego. Eu queria de algum modo puni-lo pelo seu silêncio ressoante dos últimos nove anos. Por cada lágrima, cada noite em claro, e acima de tudo, por reaparecer em minha porta depois de tudo isso.

Todo o meu corpo estava em batalha, dividido entre o desejo de pular nos braços dele e o ímpeto de correr para o sentido oposto o mais rápido possível. Tive de lembrar a mim mesma como respirar e logo me arrependi, pois o perfume dele estava em todo lugar e estava me intoxicando.

Antes que eu pudesse me dar conta, minhas pernas já haviam me traído e, de repente, eu estava parada a menos de meio metro de Jacob, podendo tocá-lo se estendesse o braço.

Abri a boca, mas não emiti som algum, talvez porque eu não tinha a mínima ideia do que dizer. Tantas perguntas, acusações e confissões giravam em minha mente que era impossível escolher apenas uma, impossível decidir por onde começar. Eu poderia apenas encará-lo até o fim do dia.

– Deus, como eu senti sua falta. – Jacob murmurou me puxando contra ele num solavanco.

Eu não reagi. Não o afastei, não me afastei, tampouco ergui meus braços para enlaça-lo de volta.

Isso não é real, alertei a mim mesma uma última vez.

Jacob apertou seus braços em minha volta um pouco mais forte, fazendo o calor de seu corpo lentamente me envolver, esperando alguma reação.

– Renesmee, sou eu, Jacob. – disse cautelosa e afetuosamente.

Eu quis derreter em seus braços.

Pisquei várias vezes seguidas para dissipar a nuvem de lágrimas que estava turvando minha visão, ameaçando desabar numa tempestade a qualquer momento. Quando tive certeza de que estava sobre controle, recuei. Jacob hesitou por um instante antes de permitir que eu me afastasse.

– O que está fazendo aqui? – as palavras tropeçaram por entre meus lábios mais rápido do que eu pretendia. Meus olhos fixos no colarinho gasto de sua camisa cinza. Eu não conseguia erguer o olhar para encará-lo, não quando estávamos tão próximos. Temia o que eu poderia encontrar no rosto dele, ou pior, o que ele poderia ver no meu.

– Renesmee, isso são modos? – Esme interviu, rindo de leve. – Por que não entra Jacob? Assim vocês podem conversar melhor.

– Claro. – ele concordou prontamente – Seria ótimo.

Jacob deu um passo para frente e eu me afastei de imediato para que ele passasse sem encostar em mim. Meus olhos colados em sua figura enquanto ele cumprimentava Esme e Rosalie com um aceno de cabeça, entrando na casa.

Imaginei o que meus pais e os outros achariam disso quando voltassem. Se Jacob ainda estaria aqui quando voltassem.

– Então, a que devemos a visita? – Esme perguntou de modo tão casual que era como se ainda estivéssemos em Forks, como se Jacob apenas tivesse passado por aqui em seu caminho de volta para La Push. Como se ele não tivesse ignorado todos nós por quase uma década, como se não importasse o que o trouxe até aqui depois de tanto tempo. O que ele queria?

– Não é visita. – Jacob respondeu tranquilamente sentando no sofá como se fosse dono do lugar. – Eu pretendo ficar por aqui.

Eu quis rir de histeria com a impossibilidade da cena diante de mim.

– Mas que diabos! – Emmett exclamou com um sorriso de orelha a orelha, batendo com as costas da mão no braço de Rosalie – Está vendo isso, Rose? É como ganhar um bicho de estimação de volta.

Rosalie revirou os olhos.

– Você deve estar brincando. – retrucou.

– Vocês não precisam me abrigar. – Jacob ergueu as mãos em defensiva, os olhos fixos em mim – Posso arranjar um lugar na cidade para ficar sem problemas. Ou na floresta...

– Imagine, Jacob, não será preciso. Jamais deixaríamos que tal coisa acontecesse. Você fica conosco o tempo que desejar. – Esme ofereceu sem hesitação.

– Esme! – Rosalie gemeu em protesto.

Jacob sorriu com o canto dos lábios e se esparramou no sofá como se previsse a oferta. Aquilo foi como um click em minha mente, me libertando do estado de choque no qual eu me encontrava.

– Não. – minha voz não passava de um sopro sem emoção – Você não tem o direito de apenas... Aparecer aqui. Não desse jeito.

Jacob não moveu um dedo, porém seus músculos ficaram tensos e o breve sorriso em seu rosto desapareceu. Ele me olhou preocupado, contudo não parecia surpreso com minha reação.

– Renesmee... – minha avó me repreendeu.

– Não. – repeti mais firme dessa vez. – Ele não pode fazer isso, vovó. – lancei um olhar de súplica para Esme, consciente de que eu estava perdendo o controle de minhas emoções e então me voltei para Jacob. – Você não mandou notícias por nove anos. NOVE ANOS! Não respondeu a uma carta, não atendeu uma ligação sequer... Me deixou completamente no escuro por quase uma década e agora se acha no direito de entrar na minha casa e simplesmente dizer que vai ficar? Tem ideia do que você está fazendo comigo? O quão confuso, perturbador... O quão doloroso é te encontrar assim, sem mais nem menos, na minha porta? Você não pode imaginar o que eu passei durante todos esses anos, indo dormir todas as noites sabendo que eu tinha de aprender a viver sem ter...

VOCÊ ME DEIXOU! – ele gritou. A amargura transbordando em cada palavra.

Jacob agora estava de pé, o rosto rígido e os olhos fervendo de emoção enquanto ele me encarava. O mundo silenciou. Meu coração falhou em uma batida para logo em seguida martelar como louco.

Eu quero correr para bem longe e me esconder em algum lugar onde eu possa chorar até me livrar desse arame farpado de sentimentos que agora me sufoca. A cada respiração sinto os espinhos me cortarem, cada memória, cada sentimento de culpa, rasgando meu coração.

Eu o deixei, é verdade. Eu causei esse sofrimento a mim mesma.

Eu o fiz sofrer.

Engoli em seco lembrando a mim mesma que fiz o que precisava ser feito para salvar a vida de Jacob e da minha família. Eu não poderia me dar ao luxo de ser fraca agora, de deixar a reaparição de Jacob me fazer duvidar das certezas que demorei tanto para construir.

– E você quis empatar o placar. – minha voz ecoou tão frágil quanto um cristal trincado. – O que eu fiz foi para te proteger, Jake. – expliquei no tom mais gentil que pude. – O que você fez... Foi apenas para me magoar.

Seus ombros se encolheram e ele não respondeu.

Os segundos correram implacáveis enquanto nenhum de nós se movia. Ambos batalhando contra suas próprias mágoas.

– Não houve um único dia – Jacob começou com a voz mais rouca do que o normal – em que eu não tenha me amaldiçoado pela dor que estava fazendo você passar. Sei que foi errado, que fui um idiota infantil, mas estou aqui para me redimir, curar as feridas que causei.

Fechei os olhos respirando fundo, entrecortado.

– Nove anos, Jacob. – abri os olhos lançando a ele um sorriso triste. – Você não veio para curá-las. Você está aqui para reabri-las.

Jacob congelou como se eu o tivesse estapeado.

Endireitei-me e atravessei a sala com passos suaves, contudo rápidos. Eu precisava sair da frente dele antes de me transformar em um borrão de lágrimas.

– Se precisarem de mim estou no meu quarto. – anunciei antes de subir as escadas pulando os degraus apressadamente.

Consegui distinguir a voz de Esme pedindo que Jacob me desse um tempo para processar as coisas, enquanto eu desaparecia no corredor.

Entrei em meu quarto e fechei a porta, ofegante. Encostei-me à parede e escorreguei até o chão, meus dedos se arrastando pela minha cabeça como se eu pudesse arrancar meus cabelos pela raiz.

E me afundei em lágrimas.

Chorei como há muito tempo não chorava. Chorei sem saber ao certo a razão, pois eram tantas... Chorei de saudades, saudades imensas dele, pois esses minutos de acusações trocadas não valeram de nada, se não para reabrir feridas. Não pude desfrutar de seu cheiro, seu calor ou seu sorriso ensolarado que agora me voltava à memória com tanta clareza. Chorei de saudades de mim mesma, da Renesmee que um dia fui, da Renesmee que agora estaria aconchegada no calor protetor dos braços dele. Chorei porque tudo em mim doía, pois eu estava me reerguendo e Jacob acabara de me arremessar de volta ao chão, me fazendo em mil pedaços.

Eu estava inundada de medo e culpa e raiva. Porque eu era capaz de perdoar o silêncio de Jacob, eu poderia até mesmo aceitar sua tão inesperada visita se ele ao menos tivesse esclarecido suas intenções.

Nenhum bem pode vir disso, eu sei. Eu me esforçava para tentar entender, contudo a única pessoa capaz de me explicar a razão de tudo isso era o próprio Jacob, mas agora eu estava muito furiosa e muito devastada para conversar a respeito.

Escutei passos se aproximarem da porta e imediatamente levei minhas mãos até a boca para abafar meus soluços.

Ele hesitou do lado de fora por longos segundos e depois de um profundo suspiro frustrado, saiu.

Levantei-me aos tropeços me certificando de que a porta estava trancada, então recuei e me atirei em minha cama onde eu convulsionei em um pranto silencioso até me esquecer de como se produziam lágrimas, até perder a noção do tempo ou de onde eu estava. Chorei até perder os sentidos.


– Renesmee, querida, sou eu, Bella.

Acordei com minha mãe dando batidas suaves na porta do meu quarto. Ergui o rosto esfregando os olhos, confusa. Passei a vista pelo relógio – quatro da tarde – um horário realmente estranho para acordar.

Abri a porta para Bella e minha mãe me estudou por um minuto.

– Você está bem? – perguntou.

– Sim. Eu acho que sim. – respondi indo até o banheiro para lavar meu rosto. – Não sei como dormi até essa hora.

Tive um sonho muito, muito estranho, pensei comigo mesma.

– Seu pai e eu conversamos com Jacob – disse.

Congelei onde estava. Não foi um sonho.

Saí depressa do banheiro para encontrar Bella sentada em minha cama com uma expressão indecifrável.

– Ele nos contou da briga de vocês. Na verdade Edward leu na mente dele, – esclareceu depressa – mas isso não faz diferença. Acho que vocês dois deveriam conversar com calma dessa vez.

– Jacob ainda está aqui. – minha pergunta soou mais como um suspiro aliviado.

Bella assentiu uma vez.

– Ele ficará conosco por algum tempo e isso não é algo aberto para discussão. – minha mãe anunciou – Imagino que isso não será fácil para você, meu amor, mas eu gostaria que entendesse o lado dele. Jacob passou por uma situação muito difícil recentemente, não podemos abandoná-lo.

Balancei a cabeça sem entender.

– O que houve com Jacob?

– Talvez você devesse perguntar diretamente a ele. – Bella se levantou e afagou meu ombro ao passar por mim – Jake está te esperando lá em baixo, deixaremos vocês a sós para que possam conversar.

Após Bella sair, respirei fundo, contei até dez e desci disposta a ter uma conversa racional com Jacob, ouvir suas razões.

O encontrei andando de um lado para o outro na sala de estar, ele parou ao me ver.

– Oi. – eu disse.

– Hey – ele quase sorriu.

Sentei no sofá e Jacob continuou em pé, me encarando, seus olhos percorrendo meu rosto e meu corpo demoradamente. Me movi incomodada trocando de posição e abraçando meus joelhos. Eu estava intimidada pela intensidade do olhar dele, porém não desviei de suas profundas íris castanhas, pelo contrário, o encarei de volta.

Finalmente eu havia parado para observar Jake. Ignorando a barba por fazer, fisicamente ele era praticamente o mesmo de uma década atrás – alto, pele com o mais belo tom de castanho avermelhado, o corpo musculoso se fazendo evidente mesmo por debaixo da camisa de malha. Entretanto, algo em seu olhar me passava a impressão de que ele estava um século mais velho.

Me perguntei se ele era capaz de ver a mesma mudança em mim.

Logo me senti uma completa estranha, incapaz de prever as motivações que trouxeram Jacob até aqui. Eu estava absolutamente desnorteada, sem saber o que esperar do próximo movimento dele ou como quebrar o silêncio constrangedor entre nós.

– Me desculpe pelo que eu disse mais cedo. – eu disse.

– Não precisa. Você estava certa em tudo o que falou. – ele respondeu com a voz neutra.

Comprimi os lábios, finalmente desviando do olhar dele.

– Eu sei, ainda assim não precisava ter te tratado daquele jeito. Sinto muito.

Encostei o queixo em meu joelho e apertei os braços ao redor de mim mesma.

Jacob atravessou a sala e sentou ao meu lado.

Senti todos os meus músculos enrijecerem com a inesperada proximidade e endireitei a coluna, me apoiando no sofá.

– Me responde uma coisa, Nessie – um leve arrepio subiu pela minha nuca ao ouvi-lo chamar o apelido que ele mesmo me deu, por Deus, senti tanta falta disso – Você ainda me ama, certo?

Virei-me na direção dele apenas para me arrepender logo em seguida, pois Jacob estava perto demais, seus olhos castanhos invadindo os meus, varrendo minha alma em busca de uma resposta. Eu sabia que não poderia mentir para ele.

– Sim, Jake. É claro que eu ainda te amo.

Ele expirou com força, como um ser torturado que encontrou alguns minutos de paz, como quem vinha prendendo a respiração por um longo período.

– Bom. – bufou. – Por um instante realmente acreditei que você preferia continuar longe de mim.

– Como pode pensar uma coisa dessas? Sabe que eu nunca quis que passássemos tanto tempo longe um do outro.

– Foi uma escolha sua. – apontou.

– Não. Inúmeras vezes eu pedi para você vir me ver.

Ele acenou concordando.

– Como um amigo. – falou como se a ideia o incomodasse de alguma forma.

Eu apertei os lábios em uma linha reta, estudando-o por alguns segundos.

– Isso não mudou, Jake. Por que, de uma hora para outra, ser meu amigo se tornou suficiente para você?

– Não é suficiente. – ele admitiu sem hesitar – Mas é um bom começo.

E lá estava Jacob com aquele olhar de quem estava prestes a dar um passo perigoso. Meu coração disparou. Jacob sabia que não poderia ser assim. Não foi justamente para evitar momentos como esse que fui embora de Forks tanto tempo atrás?

Limpei a garganta me afastando dele, inclinando-me para o lado.

– Só porque acabei de admitir que ainda tenho sentimentos por você, não significa que voltaremos a ficar juntos. – esclareci.

– Eu sei. Não a princípio. – ele sorriu sem sombra de constrangimento.

– Jacob, estou falando sério. Concordei que você ficasse conosco, mas não pense que estou abrindo o caminho para você ou que estou sujeita a cair...

– Eu quero recomeçar tudo, Ness. Do zero. – ele me cortou, o rosto otimista.

Ouvi o que Jacob tinha a dizer contando cada respiração dele.

– Sem mentiras, sem segredos. Só você e eu, como almas gêmeas que sem dúvidas estão predestinados um ao outro, mas acabaram de se conhecer, então não me incomodo de ir com calma.

– Jake, isso é absurdo... Você não ouviu nada do que eu disse? – protestei boquiaberta.

Ele ergueu uma mão para que eu o deixasse concluir.

– Por isso, antes de qualquer coisa, quero deixar bem claro que eu estive com outras mulheres enquanto estávamos separados. Ninguém que você conheça. – disse calmamente.

Outras mulheres?

Quantas? Engoli a pergunta que estava perigosamente prestes a escapar da minha garganta. Eu não queria saber e isso não faria diferença. O fato era que Jacob esteve por aí se divertindo com completas estranhas enquanto eu escrevia cartas idiotas. Uma súbita revolta fervia dentro de mim, embora eu estivesse com mais raiva de mim mesma do que dele.

Jacob estudou minha reação com um prazer seco. Ele reparou como essa informação me abalou, apesar dos meus maiores esforços para manter uma expressão neutra. Pelo visto, Jake continua me conhecendo melhor do que ninguém.

Mas eu não ficaria por baixo.

– Bom. Fico feliz que tenha feito algo com esses nove anos. Não posso culpa-lo por isso, afinal, também estive com alguém. – falei.

– Só está dizendo isso porque eu te deixei com ciúmes. – ele disse com um sorriso presunçoso prestes a surgir em seus lábios.

– Não, não estou. – fui firme.

Jacob me fitou confuso e eu tirei alguns segundos para saborear a expressão de incredulidade no rosto dele antes de completar.

– Conheci um cara legal no colégio, acabamos nos aproximando mais do que o esperado, uma coisa foi levando à outra e enfim aconteceu. Ainda estou saindo com ele, por sinal.

Agora Jacob estava completamente chocado. Reparei que seus punhos se fecharam. Ele piscou algumas vezes, então se virou tossindo. Quando seus olhos voltaram aos meus, sua postura era bem mais amena.

– E “legal” foi a melhor palavra que pode encontrar para descrevê-lo? – zombou.

– Você não iria querer ouvir os detalhes, acredite. – desconversei com um sorriso malicioso.

Jake respirou fundo e soltou o ar com irritação por eu ter conseguido neutralizar a insolência dele.

– Então, você ainda não me disse por que decidiu vir aqui.

– Billy disse que eu viesse. – a voz dele soou grave.

– Oh. Como ele está, a propósito? – voltei-me para Jacob, lembrando que Charlie havia dito que Billy tinha estado doente recentemente. Torci para que o pai de Jacob estivesse bem.

– Ele está morto. – foi tudo o que Jacob disse.

Arfei mortificada. Eu deveria ter previsto isso.

– Oh, Jake, eu sinto muito. – me precipitei na direção dele com a intenção de confortá-lo, mas não havia como abraça-lo quando ambos estávamos sentados em posições desconfortáveis. Estendi minha mão para segurar a dele. – Eu realmente sinto muito.

Ele apertou minha mão em sua palma grande e quente e foi como se faíscas percorressem todo o meu corpo. Há nove anos eu não o tocava, não sentia o calor e a familiaridade do contato com sua pele. Fechei os olhos regulando minha respiração e assim nós dois permanecemos por algum tempo, sentados em uma distância segura um do outro, de mãos dadas e em silêncio.

Logo entendi o que minha mãe quis dizer quando alegou que não poderíamos abandonar Jacob nesse momento. Meu coração se apertou por ele.

– Obrigado. – ele disse finalmente, entrelaçando os dedos nos meus.

O telefone tocou uma vez e Edward já estava lá para atendê-lo.

– Renesmee, para você. – anunciou, seus olhos alternando entre mim e Jacob calculadamente – É o Lefroy.

– Quem é esse Lefroy? – Jacob perguntou com desdém, sem me soltar.

Vacilei incerta se agora era a hora de contar sobre Gabriel. Tirei minha mão de perto da dele da forma mais delicada que pude e me levantei.

– Lefroy é o rapaz do qual Renesmee acabou de lhe falar. – Edward disse.

Privacidade para que? Franzi o rosto para meu pai.

– Ele realmente existe!? – Jacob exclamou surpreso e eu me senti ligeiramente ofendida pelo fato de ele acreditar que eu inventaria um falso amante apenas para deixá-lo com ciúmes.

– Claro que ele existe. – falei.

– Onde o conheceu? – ele ainda parecia incrédulo.

– No colégio. Eu te disse! – respondi baixinho.

– Que bom que está livre Jacob. – Carlisle entrou na sala e eu fiquei grata por alguém distraí-lo enquanto eu atendia a ligação. – Se você vai ficar conosco existem algumas condições que precisamos estabelecer.

Peguei o telefone.

– Hey.

– Renesmee? – Gabriel respirou aliviado do outro lado da linha – O que houve? Estou ligando para você desde cedo, pensei que você pudesse ter piorado ou algo do tipo.

– Não foi nada. Meu celular provavelmente descarregou, mas eu já estou praticamente curada. Semana que vem já estarei de volta ao Kayhi.

– Tem certeza?

– O que? Que eu voltarei ao colégio segunda?

– Não, que você está bem. Sua voz parece meio tensa.

Mordi o lábio lançando um olhar para Jacob que ouvia o que Carlisle e Edward tinham a dizer, mas permanecia me observando descaradamente.

– Na verdade tem algumas coisas acontecendo. – suspirei. – Mas não adianta falarmos sobre isso agora, é melhor eu explicar pessoalmente.

– Uhum. – ele balbuciou relutante.

– Como está Cat?

– Está bem. Com saudades suas, assim como eu.

– Ah, diga a ela que mandei um beijo.

– E eu não ganho um?

Senti minhas bochechas corarem de imediato.

– Claro que sim, seu bobo. – eu ri.

O ouvi rir de leve do outro lado.

– Sabe que independente do que esteja acontecendo você pode contar comigo, não é? – comentou um segundo depois.

– Sim, eu sei. – engoli em seco – Bem, eu preciso desligar agora. Meus pais estão meio que em uma reunião de família.

– Ah... Ok. Te vejo na segunda então.

– Sim. Até segunda. Beijo!

– Prevejo dias turbulentos pela frente. – Alice sussurrou atrás de mim.

Dei um salto para frente.

– Que coisa, Alice! – fiz uma careta. – Você nem sequer vê Jacob em suas previsões.

– Não precisa ser vidente para saber. – ela deu com os ombros miúdos.

Sacudi a cabeça para afugentar os milhões de pensamentos que zuniam em minha mente.

– Isso vai ser um caos absoluto. – murmurei.

Alice fez que sim, concordando.

– Eu esperava que você me confortasse.

– Não posso mentir. – ela respondeu, sua voz de sinos subindo uma oitava. – E você não pode fugir.

Minha tia pegou minha mão e me puxou para onde os demais agora estavam reunidos.

– Eu não vou fazer o colegial de novo. – ouvi Jacob protestar.

– É importante para nosso disfarce. – Carlisle pontuou pacientemente.

– Se não estiver disposto a fazer concessões isso não vai funcionar, Jake. – Bella uniu as sobrancelhas, cruzando os braços.

Jacob examinou cada um dos rostos em sua volta e viu quando me aproximei.

– Tudo bem. Eu faço parte do teatro de vocês, mas com uma condição. Quero ficar na mesma turma que a Nessie.

Edward suspirou parecendo cansado.

– Está tudo bem por você, Renesmee? – meu pai indagou.

Eu sabia que permitindo Jacob ficar ao meu lado só dificultaria as coisas para ambos. Ainda assim, eu não poderia negá-lo isso. Não depois de saber com o que ele está tendo de lidar. Não seria justo com Jacob deixá-lo sozinho no momento em que ele mais precisa de alguém, então concordei.

Nas horas seguintes cada um de nós explicou a sua maneira as obrigações e cuidados que Jacob deveria tomar agora que seria, extraoficialmente, parte da família Cullen. Enquanto meus tios elaboravam uma história para encaixar Jacob na “versão humana” da nossa família eu continuava repetindo para mim mesma o quão surreal aquilo era.

Diversas sensações ruins me ocorriam enquanto eu pensava nas mil maneiras que isso poderia acabar mal, porém seria mentir dizer que não me agradava ter Jacob por perto. Isso era tudo o que eu vim desejando nos últimos anos: ter Jake de volta em minha vida.

Era do meu conhecimento que daria trabalho convencê-lo que a partir de agora seríamos apenas amigos, mas eu não conseguia deixar de recordar quão bom amigo ele era antes das coisas se bagunçarem.

Eu sentia falta disso e estava disposta a resgatar essa parte da nossa relação.

Após o jantar, feito apenas para mim e Jacob, onde os demais Cullen se sentaram a mesa e mantiveram uma conversa amena sobre assuntos em geral para meu alívio, fui dormir.

Jacob me acompanhou até o segundo andar.

Meus avós deram a ele um quarto em frente ao meu. Em frente ao meu. Continuo me perguntando como Edward permitiu isso.

– Bem, então é isso. – parei em frente a minha porta. – Boa noite.

Jacob sorriu para mim e me pegou em um abraço, pela segunda vez desde que chegou. Entretanto agora lancei meus braços sobre o ombro dele e Jacob me ergueu como costumava fazer, me apertando junto a ele. Retribuí o abraço, apertando meus braços ao seu redor, respirando fundo, sentindo todas as notas do perfume que emanava de sua pele.

– Estou mesmo feliz por estar aqui, Nessie. – ele falou, me colocando no chão. – Pelo menos isso é o mais perto da felicidade que estive em anos.

– Jake...

– Não precisa falar mais nada Ness. Teremos tempo o suficiente pra conversar de agora em diante. – disse com uma vibração oculta em sua voz. – Boa noite.

Dizendo isso ele se inclinou para beijar meu rosto. Parei de respirar quando seus lábios sutilmente tocaram minha bochecha, a barba rala me fazendo cócegas.

– Até amanhã Jake. – respondi logo entrando em meu quarto.

E aquelas quatro paredes foram as únicas testemunhas do meu sorriso.


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