Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 26
2x06 A Parte Mais Difícil


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, peço desculpas pela demora nos posts. Eu estava viajando. =)
Muito obrigada por todos os comentários, cheios de sugestões, opiniões, críticas, soluções e muito carinho!
Juro que vou conseguir tempo para responder todos, um a um, muito em breve =)
ps: Recomendo ouvir "Goodnight,Goodnight" - Maroon 5 ;D



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– Isso... Não faz sentido. – Renesmee balbuciou após longos minutos de silêncio.

– Sim. Faz. Eu te amo e você sabe disso. Sempre soube. Pense um pouco, Nessie. – implorei.

– Mas... Os últimos dias... Não pode estar falando sério, não pode ser verdade... – ela sussurrou olhando em volta, atordoada.

– Eu só agi daquela forma porque Edward pediu. Para tentar impedir que os Volturi te fizessem algum mal hoje.

Renesmee focalizou o olhar em Edward e o vampiro assentiu.

– Ele está falando a verdade. Jacob quis te procurar algumas vezes, mas eu não permiti. Não queria que vocês estivessem juntos quando os Volturi chegassem aqui. Uma vez que já estavam separados...

Ela rapidamente voltou a atenção para mim, o rosto franzido em confusão.

– A história com minha mãe. Você também inventou isso?

– Não. Até aí era verdade. – admiti com pesar.

Seria maravilhoso se não fosse, assim eu me livraria de todas as acusações de uma vez. Renesmee baixou a cabeça, mordendo o lábio inferior. Droga. Eu normalmente capturava seus pensamentos apenas com um olhar, mas hoje eu estava completamente perdido.

– Nessie, o que eu tive com a Bella ficou no passado. Nem se compara com o que eu sinto por você agora. E não conseguir o seu perdão é uma coisa que me dilacera.

Ela ergueu a cabeça jogando os cabelos para trás.

– Leah...

– Não tem nada acontecendo entre a gente.

– Eu vi vocês se beijando.

– Foi só um modo de te manter longe, Nessie. Eu estava tão desesperado que acabei metendo os pés pelas mãos, confesso. Mas eu juro você é a única mulher que eu amo.

Ela passou a língua entre os lábios, umedecendo-os. Deus, por que ela tinha de ser tão perfeita? Engoli em seco me controlando para não puxá-la para os meus braços agora mesmo. Nota mental: eu já tentei isso antes e não funcionou.

O silêncio se prolongou e eu já não sabia mais o que fazer com a minha ansiedade quando ela finalmente falou.

– O que você fez... Tudo isso pode ter sido fingimento, mas a dor que eu senti foi bem real. Não posso simplesmente apagar isso, Jake.

As palavras dela foram como um soco no estômago. Não havia raiva, nem sarcasmo. Era pior. Sua voz soava calma e cristalina em meus ouvidos.

– Eu juro que se eu pudesse levaria toda essa dor embora. Apagaria todo esse sofrimento pelo qual você tem passado. Mas eu não posso mudar o passado, Nessie. Mesmo assim eu te garanto, vou passar o resto da minha vida tentando compensar.

Larguei o braço dela para segurar sua mão. Senti a palma fina, macia e quente de encontro a minha, contudo seus dedos hesitavam em se entrelaçar aos meus.

Inclinei-me um pouco para aproximar meu rosto do dela.

– Olha para mim Nessie. Você me conhece como ninguém, lembra? É tarde demais para lembrar como nós éramos? Aqueles anos felizes e não os últimos dias de acusações, gritos, dor...

Ela vacilou por um instante. Dava para ver o conflito gritante em seus olhos. Apertei minha mão em volta da dela.

– Lembra? – sussurrei.

– Eu não quero falar sobre o que vivemos... Só me entristece ainda mais. Mesmo que me machuque, isso é passado agora. Não depende de mim ou de você.

– Por favor, meu amor. Não fala assim. – eu disse em um sussurro apressado. –Sinto muito te confundir dessa forma. Sei que parece absurdo, mas existe uma explicação para tudo isso.

– Não sei do que você está falando... – Renesmee gemeu dando um passo para trás.

– Imprinting.

Os olhos dela se estreitaram enquanto tentava processar o significado da palavra. Ouvi um suspiro irritado atrás de mim e presumi que fosse Edward. Dane-se.

– É uma coisa de lobo. Só acontece uma vez e é para toda a vida. – continuei – É a razão para não conseguirmos ficar longe um do outro, para o seu rosto ser o primeiro a surgir em minha mente quando eu acordo e continuar grudado na minha cabeça até o fim do dia. Nós nos completamos. Nós pertencemos um ao outro. Eu estou predestinado a te amar até o fim dos meus dias.

A boca de Renesmee abriu e fechou várias vezes, mas as palavras não saiam. Se antes ela já estava confusa era difícil classificar como ela estava agora.

Esperei até o primeiro sinal de compreensão iluminar seu rosto.

– Está me dizendo que nós somos obrigados a ficar juntos por algum tipo de feitiço de lobo? – disse ela ultrajada.

– Não. Não é isso. Você não é obrigada a nada, Nessie. Eu só estou dizendo... – Merda! Eu continuava tropeçando nas minhas próprias palavras – Que eu te amo. Incondicionalmente. E que esse sentimento nunca vai mudar, nunca mudou, desde a primeira vez que eu te vi. Não existe outra mulher no mundo para mim. Tudo é você.

O coração de Renesmee estava acelerado, a respiração inconstante, enquanto seus grandes olhos cor de chocolate viam até minha alma.

Era isso. Todas as cartas estavam na mesa e a decisão agora cabia a ela. Meu estômago se revirava e eu não fazia a menor idéia se era de fome ou nervosismo. Talvez os dois.

Renesmee piscou algumas vezes e apertou a minha mão, respondendo.

Eu preciso ir, Jake. Eu estou exausta. Não aguento mais ficar nessa corda bamba. Meus sentimentos, minha mente, tudo está uma confusão. A separação, os Volturi, Joham... Eu preciso de tempo pra processar o que aconteceu e você não está fazendo nenhum bem me dizendo isso.

– Eu entendo. Desculpe, sei que você precisa de algum tempo para compreender tudo o que houve...

Essa é a parte difícil, Jake. Não há tempo para explicações, porque eu estou indo embora amanhã, no primeiro vôo e não há nada que você possa dizer ou fazer que me faça mudar de idéia.

Ela afagou meu rosto, enquanto uma lágrima silenciosa corria pela sua bochecha.

Eu sinto muito.

Nessie se afastou e eu estava chocado demais para fazer alguma coisa. Amanhã? Eu sabia que os Cullen tinham data marcada para ir embora, mas não assim. Logo anoiteceria e o que eu conseguiria ao meu favor até o amanhecer?

Bella me olhou perplexa, contudo não disse nada e seguiu Renesmee no caminho de volta para casa.

– Você tinha mesmo que contar sobre o imprinting não é? – Edward riu sem humor.

Amanhã? – rosnei com os punhos cerrados.

– Poderia simplesmente tê-la deixado ir, mas você preferiu garantir que Renesmee saberia que vocês estão amarrados um ao outro, assim ela não conseguiria seguir em frente. – assinalou categoricamente.

– Sabe que essa não era minha intenção.

– Não me interessa o que você pretendia. Isso foi o que você fez, apenas tornou a partida mais difícil para ela.

– Eu não ia ficar de braços cruzados, deixando a Nessie pensar que eu não me importo, quando eu sei que ela está sofrendo tanto quanto eu.

– Um pouco mais. – Edward corrigiu e eu me perguntei se ele havia ficado para me punir ou o quê. – Me faça um último favor, Jacob – ele fez uma longa pausa antes de concluir – respeite a decisão dela, não importa qual seja.

Não respondi e o vampiro foi embora. Porém suas palavras permaneceram para me assombrar.

“Um pouco mais.” Isso Edward poderia dizer por certo, estando em ambas as mentes. Se Renesmee estava ainda pior do que eu, não dava para imaginar o inferno pelo qual ela estava passando. Por minha culpa.

Eu vi como ela mal conseguia me olhar nos olhos sem começar a chorar. Saber que esse é o meu atual efeito sobre Renesmee é apavorante.

Como não ter medo disso? Como não ter medo de ver os mesmos olhos que antes brilhavam, só em me ver, se transformarem a ponto da minha presença só gerar lágrimas?

O que eu não faria para vê-la sorrindo novamente. Sinto tanta falta daquele lindo sorriso se abrindo, e daquela risada tão angelical soando depois de mais uma piada sem graça que eu contei. As piadas só existiam mesmo para poder vê-la sorrindo.

Tudo para agora vê-la indo embora com o coração partido e me deixando aos pedaços. Por que ela quer assim.

Quando me dei conta já estava no alto de um penhasco em La Push. Um dos meus lugares preferidos que, irremediavelmente, me lembrava dela.

Passei horas ali, pensando em mil possibilidades, lembrando até de momentos que não vivi. Coisas que eu sonhava em fazer com Renesmee, vividas e revividas apenas na minha imaginação.

Na verdade eu me sentia um pouco traído. Nessie havia desistido de nós. Uma vez que ela fosse embora, o que restava para mim? Ela é toda a minha vida.

A noite se estendia e o vento frio ficava cada vez mais feroz até que a chuva começou a cair. Não me movi e nem me incomodei em me transformar. Precisava mais do que nunca afastar as vozes da minha cabeça.

Talvez eu até tenha chorado, difícil dizer o quanto com toda essa chuva. Só sei que tudo em mim doía. E não só fisicamente.

Pelo menos não havia testemunhas.

A madrugada pareceu durar uma eternidade, provavelmente porque eu não hesitei em vasculhar cada recanto da minha alma em agonia. Não havia como fugir, eu finalmente teria de encarar o terror de viver o resto dos meus dias longe de Renesmee.

Por mais que eu pensasse nas burradas que fiz ao longo da minha vida, nada parecia o suficiente para que as coisas continuassem infinitamente dando errado para mim. Como uma conspiração viciosa ou uma piada muito cruel.

Justo quando eu estava mesmo acreditando que minha sorte havia mudado. Lembrei sentir algo parecido quando pensei que perderia Bella, com uma diferença – ela nunca havia sido minha de verdade. Olhando agora, aquilo parecia não passar de um ensaio para a grande dor: Ter Renesmee e perdê-la. Era infinitamente mais torturante.

Os primeiros raios de sol lutavam para brilhar entre as nuvens pesadas e agora eu sabia o que fazer.

Transformei-me e corri a toda velocidade para a minha casa.

Jake! Aonde você estava cara? Um preocupado Seth quis saber.

Não importa.

Charlie já foi se despedir dos Cullen.

Eles vão para o aeroporto de Port Angeles ou direto para Seattle?

Eles preferiram ir de carro até Seattle... Espera aí! O que você pretende fazer?

Eu vou ao aeroporto, vou convencê-la a me aceitar de volta nem que eu tenha de me ajoelhar aos pés dela. Não vou ficar parado aqui, não importa o que ela pense. Eu fiz uma promessa de que não deixaria nada nos separar e eu vou tentar mantê-la. Ainda que o obstáculo que insista em nos separar seja a própria Renesmee. Expliquei com uma euforia insana. Muito absurdo?

Absolutamente não! Se tiver alguém que pode fazer a Nessie mudar de idéia, esse alguém é você, Jake, ele concordou entusiasmado.

Eu quase sorri. Seth era tão otimista.

Cheguei em casa, tomei banho, me vesti, engoli dois sanduíches e saí na moto sem dar maiores explicações a um Billy apreensivo.

Eu estava convicto que já havia amanhecido, embora o céu permanecesse cinza. Seria uma viagem considerável até Seattle. Eu sabia que era demais pedir para não chover então apenas me limitei a torcer para que o céu não desabasse sobre mim.

Essa era a desvantagem de usar a moto, mas eu não poderia me dar ao luxo de optar pelo carro. Eu poderia nunca chegar a tempo.

O trânsito estava calmo na por causa do horário então mantive a moto a 130km/h, desviando de meia dúzia de carros que não economizaram na buzina. Costurei entre carros, avancei sinais, dirigi na contramão, fiz tudo ao meu alcance para chegar a Seattle em tempo recorde.

A rodovia de Seattle estava mais movimentada, entretanto. Tive de reduzir contra minha vontade. A garoa fina também não colaborava, atingindo meus olhos como dezenas de agulhas minúsculas quando eu acelerava. Mas para alguém obstinado como eu, esses detalhes passam a ser insignificantes.

Finalmente cheguei ao aeroporto e estacionei a moto em qualquer lugar, praticamente correndo para dentro. A verdade é que em Port Angeles seria bem mais fácil encontrá-los, aqui era maior e bem mais movimentado. Eu teria que contar com a sorte para descobrir onde Nessie estava. Bem, com a sorte e com os meus sentidos.

Eu acabava de alcançar o segundo piso quando avistei o último Cullen passar pelo portão de embarque.

– Droga. – murmurei esbarrando em quem fosse preciso para chegar até o outro lado do saguão, mas já era tarde e eu só percebi isso porque dois pares de mãos me interceptaram.

– Passagem, senhor? – um dos seguranças pediu.

– Eu não trouxe uma. – respondi rispidamente, perdendo os Cullen de vista.

– Por favor, senhor, queira se dirigir ao balcão no primeiro piso onde uma atendente pode fornecer preços e tabelas para os próximos vôos.

– Eu não quero pegar esse avião! Só preciso falar com a minha namorada. – eu disse me desvencilhando deles.

– Sinto muito senhor, vai contra as normas. Apenas passageiros com os tickets em mãos podem atravessar esse portão. – falou o de cavanhaque se colocando na minha frente.

Considerei por um instante nocautear os dois para entrar ali. Porém eu podia sentir os olhares das pessoas em nossa volta e não tardaria para mais seguranças aparecerem e ainda que eu conseguisse encontrar Renesmee, não teria o tempo necessário para uma conversa.

Bufei teatralmente.

– Com licença, – chamou uma voz feminina em um tom perfeitamente educado – ele está comigo.

Voltei-me para a portadora da voz, sinceramente confuso.

– Tem certeza, senhorita Bladeen? – indagou o segurança de cavanhaque.

– Sim. – a loira sorriu cordialmente em resposta e acenou com a cabeça para que eu a seguisse.

Ergui as sobrancelhas avaliando-a. Ela não deveria ter mais do que vinte anos, mas tinha uma perfeita postura de comando. Cabelos loiros presos em uma trança, olhos azuis e vestia roupas caras – essa parte eu só sabia porque as roupas eram muito parecidas com as que Alice, Renesmee ou Rosalie usavam.

– E você é...? – comecei quando eu estava mais perto dela.

– Ana Bladeen. – ela sorriu estendendo a mão para mim.

Não respondi ao cumprimento, estava apressado demais para isso.

– Olha, eu não sei o que você quer, mas eu tenho um problema para resolver.

– Percebi. Aliás, acho que a metade do aeroporto percebeu. Eu posso te ajudar, desde que você me dê um bom motivo.

Franzi a testa imaginando se a garota era louca.

– Eu ouvi você dizer que precisava falar com a sua namorada, que passou pelo portão, e posso te ajudar com isso.

– Como? – perguntei prestando agora o dobro de atenção na garota.

– Meu pai vai pilotar esse avião. Estou com duas passagens aqui, porque uma amiga ficou doente e não vai poder viajar comigo. Posso dar uma das passagens para você, imagino que você tenha mesmo uma boa razão para praticamente se jogar em cima da segurança. Você poderia ir preso sabia? – ela brincou.

– Está falando sério?

– Mais do que sério. Er... Qual o seu nome mesmo?

– Jacob. Jacob Black. – eu disse ansioso.

Não dava para acreditar que a essa altura da minha vida um milagre aconteceria. Essa garota só poderia ser um anjo, não havia outra explicação para isso.

– Então, vai querer a passagem?

– Claro! Espera. Por que você faria isso por um estranho?

– Vou perder a passagem de qualquer jeito. – ela deu de ombros. – Não custa nada ajudar um casal apaixonado. Isso é, se ela for tão apaixonada quanto você, eu tenho medo de vocês incendiarem esse aeroporto quando se encontrarem. – ela riu.

– Cara, não imagina o quão importante isso é para mim. Ela é a mulher da minha vida e eu não posso deixar que ela vá sem ouvir o que eu tenho para dizer.

– Uau! E eu que pensei que esse tipo de coisa só acontecesse em filmes. – comentou bem humorada enquanto tirava a passagem da bolsa. – Aqui está. Ainda tem meia hora até fecharem as portas do avião.

Peguei a passagem e a abracei por impulso, e só um instante depois percebi o quão inapropriado era.

– Muito obrigado, Ana! De verdade.

– Por nada Jacob. – ela piscou para mim e eu corri de volta para o portão de embarque praticamente jogando a passagem na cara dos seguranças. O de cavanhaque conferiu de má vontade e me devolveu o bilhete.

Passando pela sala, dobrei à direita e acabei em um saguão. Lá, vi Renesmee em um corredor largo a caminho de um túnel que dava acesso ao avião.

Ela olhou para trás antes mesmo que eu chamasse. Quando me viu, o rosto dela se iluminou por alguma razão, ainda que não fosse o suficiente para um sorriso, Renesmee não parecia nem um pouco chateada por me ver aqui.

Os Cullen pararam. Apesar da distância, pude ouvir Edward murmurar para os demais.

– Ainda restam uns bons minutos antes que o avião decole. Por que não vai falar com ele, Renesmee?

Nessie hesitou por meio segundo, olhou para Bella que assentiu. Em seguida, ela fez seu caminho em minha direção.

Cada passo que a trazia para perto de mim fazia minha respiração acelerar. Eu não sei que diabos essa mudança significava, mas estava me enchendo de esperança e talvez meu coração dilacerado só precisasse disso para prolongar a agonia. Eu quase fui em direção a ela, porém ficar do lado oposto de uma sala com meia dúzia de vampiros me daria uma falsa impressão de privacidade da qual eu precisava no momento.

– Eu sabia que você viria, ainda assim, morri de medo que não viesse. – Nessie começou meio sem graça. – Estranho, não?

– É.

Eu continuei olhando para seu rosto, para cada pequeno detalhe nela. As maçãs do rosto avermelhadas, os grandes olhos castanhos, tão cheios de vida que, pela primeira vez em muito tempo, pareciam fugir dos meus de uma forma travessa – não abatida. A pele lisa e pálida, até mais do que o de costume, estava impecável e livre de qualquer maquiagem. Os lábios cheios e rosados davam a impressão de mover em câmera lenta quando seus dentes perfeitos prenderam o lábio inferior em um sinal claro de ansiedade. O cabelo estava solto – do jeito que eu tanto amava – e a luz forte do ambiente fazia os fios acobreados brilharem com um encanto semelhante ao tinham quando eram expostos ao sol. Junte tudo isso ao cheiro que superava o mais maravilhoso dos perfumes e não seria difícil entender porque eu continuava paralisado, no êxtase de contemplá-la.

Nem um milhão de vidas poderiam me preparar para dizer adeus a ela.

– Como conseguiu entrar aqui? – Nessie tentou novamente, a voz leve e casual, como quem perguntava sobre o tempo.

Levantei a mão mostrando o passaporte e Renesmee ergueu levemente as sobrancelhas encarando o pedaço de papel por mais tempo do que o necessário.

Ao mesmo tempo, Ana passou rapidamente, fazendo seu caminho até o túnel que levava ao avião. Ao me ver com Renesmee, Ana acenou timidamente para mim e fez um sinal de positivo com a mão e deu um sorriso ao meu ver engraçado.

Nessie olhou de relance para a garota e depois voltou os olhos para a passagem. Eu conhecia aquela expressão. Ela estava especulando como eu consegui aquilo e pela seriedade quase cômica, típica de quando ela estava com ciúmes, pude ver que a imaginação de Renesmee estava indo muito além do que a realidade permitia.

– Não vá embora. – pedi, antes que ela desatasse a falar e continuasse fingindo que não estava prestes a me abandonar.

Uma sombra de melancolia logo cobriu suas feições.

– Eu preciso ir.

– Não, não precisa. Diga o que quiser, pense em mil maneiras de me punir ao longo da vida, eu não me importo. Mas, por favor, por favor, Nessie, diga que vai ficar, porque eu preciso de mais tempo pra consertar as últimas burradas que eu fiz. Não vou aguentar te ver indo embora com raiva de mim.

– Eu não estou com raiva de você, Jake. – ela se apressou em dizer. – Eu só não posso ficar perto de você... Sabendo o quanto você me ama.

Eu não fazia idéia da minha expressão naquele momento, mas se eu pudesse adivinhar, diria que estava com cara de idiota. O que diabos ela estava querendo dizer?

– Já era difícil o bastante não correr pros teus braços quando eu achava que você não dava a mínima pra mim... – ela deu um sorriso fraco – Vai ser impossível continuarmos perto tendo certeza de que o que você sente por mim é tão forte quanto o que eu sinto por você.

Espera aí. Renesmee estava mesmo dizendo que me perdoava? Que ainda me amava e acreditava no meu amor por ela? Meu coração deu piruetas dentro do peito, embora minha consciência alertasse que algo ainda estava perigosamente errado.

Nessie olhou fixamente nos meus olhos e continuou.

– Você é o único para mim Jacob. Saber sobre esse imprinting não muda as coisas porque eu já sabia o que eu sentia por você, não importa o nome que escolheu dar para isso, eu chamo de amor. Esse sentimento é tão forte que chega a doer por desperdiçar algo assim. Mas isso não é permitido. Você não é permitido.

– Não dá pra acreditar que vai dar ouvidos àqueles Volturi. – gemi entredentes. – Eles não têm o direito de impor essas ordens e nós não somos obrigados a seguir!

Eu sabia que eu estava perdendo o controle, minhas mãos tremiam de fúria e revolta e minha primeira vontade era estraçalhar aqueles malditos italianos um a um. Ao invés disso respirei fundo e me concentrei em Renesmee.

– Não é assim que as coisas funcionam Jake. – ela sussurrou com pesar.

– Claro que sim!

– É fácil para você dizer. – Nessie rebateu, com um tom ofendido. – Não foi você quem, há menos de vinte e quatro horas, teve de assistir o amor da sua vida se contorcendo no chão de dor e não pode fazer nada para impedir.

Foi como levar uma bofetada na cara e por alguns segundos, fiquei sem resposta.

– O meu maior pesadelo por muito pouco não se tornou real ontem. – disse ela com a voz embargada, piscando algumas vezes, impedindo as lágrimas de se acumularem – E eu prefiro viver me perguntando se conseguiríamos ficar juntos algum dia, a ter a certeza de que nunca mais vou poder te ter do meu lado.

A voz de Renesmee era trêmula, e os olhos dela ameaçavam transbordar em lágrimas a qualquer momento. A postura otimista que ela provavelmente ensaiou o suficiente para manter se desfez e eu não podia mais aguentar aquilo, me quebrava vê-la tão frágil.

Dei um passo a frente e ela recuou erguendo uma mão e respirando fundo.

– Eu não vou deixar você chegar perto o bastante para me abraçar. Porque com certeza eu vou começar a chorar e não quero que essa seja a última lembrança minha que você vai ter para os próximos anos.

Por mais que eu tivesse lutado contra isso, estava começando a me ocorrer que aquela seria, inevitavelmente, a nossa despedida. De repente eu mesmo me senti como se pudesse a qualquer momento fazer algo estúpido como chorar.

Cobri a curta distância entre nós e puxei Nessie contra o meu peito. A resistência foi tão pouca que era difícil acreditar que ela não quisesse aquilo tanto quanto eu. Em uma fração de segundos os braços dela já estavam ao redor da minha cintura, apertando tão forte como se ela nunca mais fosse soltar e eu queria ardorosamente que assim fosse.

Seu corpo miúdo tremia em meus braços num choro compulsivo, como ela mesma previu e ficou praticamente impossível desfazer o nó na minha garganta. Apertei meus braços em volta dela, afaguei seu cabelo, beijei repetidas vezes seu cabelo e testa em todas as tentativas desesperadas de acalentá-la, mas parecia impossível, a menos que nossos corpos permanecessem naquele abraço para sempre.

E pelos longos minutos que se seguiram, eu pensei que assim seria.

Renesmee afrouxou o aperto, em seguida desfez o abraço, mas não se afastou de mim. Afaguei o rosto dela, enxugando o caminho de lágrimas e quando meus dedos deslizaram a milímetros de sua boca, ficou difícil me controlar. Eu sabia que, dessa vez, se eu tomasse a iniciativa ela não reagiria violentamente como nos últimos dias, contudo, eu também sabia que não era disso que ela precisava.

– O que eu preciso... – me assustei com o quão horrível minha voz soou, como se eu estivesse chorando ou coisa do tipo. – Isso é uma droga, sabia? – pigarreei antes de recomeçar – O que eu preciso fazer pra te convencer a ficar? Já tentei de tudo quanto é jeito e, francamente, não tenho mais idéias.

– Então pare de tentar. – disse ela sorrindo um pouco. O sorriso era doloroso de ver. – Olhe para nós Jacob. Somos potencialmente capazes de ferir os sentimentos um do outro. Isso não é seguro.

– Nós podemos dar um jeito nisso, Ness. Dar um jeito nos sanguessugas italianos. – falei num sussurro angustiado – Eu sei que podemos, mesmo que pareça impossível agora.

Ela deu um suspiro entrecortado encarando a gola da minha camisa e pareceu ignorar minha última declaração.

– Vamos apenas guardar o que foi bom, Jake. – disse resignada.

– Não faz isso comigo, Nessie. Quando você for embora, como eu posso ao menos tentar seguir em frente?

– Não fala assim Jacob. Você vai conseguir.

– Dois meses atrás você ficaria e lutaria. – eu quis limpar a acusação da minha voz, contudo não obtive muito êxito. – Por que desistir de tudo agora?

Ela me olhou com o semblante magoado por alguns instantes, tomou fôlego e respondeu como se estivesse exausta. Talvez ela estivesse.

– Porque os Volturi estão contando com a minha fraqueza para separar minha família, e eu não posso permitir. Porque, talvez, eu seja uma pessoa diferente agora... Porque eu continuo a me culpar mesmo não tendo culpa. – as lágrimas corriam livremente pelo rosto dela, e eu mesmo quis pedir para ela parar, mas Renesmee continuou – Por todos esses motivos e muitos outros ainda desconhecidos eu devo olhar ao redor mais do que nunca. Devo ir embora. – eu ia abrindo a boca para protestar, mas Nessie percebeu e se explicou com uma voz de súplica. – Eu sei, pode ser um caminho burro, pode ser um caminho excessivamente racional, mas foi o caminho que eu escolhi e é nele que eu te vejo sendo parte da minha vida por toda a eternidade. Quero dizer, como um amigo. – acrescentou de repente, meio sem esperança.

Instintivamente meu rosto se fechou em uma carranca.

– Amigo? À distância? Desculpe, mas isso não é o bastante para mim. – praticamente rosnei.

Ela comprimiu os lábios, entristecida.

– Desculpe. – murmurei logo em seguida, arrependido. – Eu não queria piorar tudo para você, juro que não. É só que, isso tá sendo absurdamente difícil pra mim.

Ela assentiu lentamente e depois afagou meu rosto. Nesse minuto eu pensei que ela fosse recomeçar a chorar, mas ela respirou profundamente e se controlou.

– Quando a gente se separou... – disse ela baixinho – Todo o meu mundo desabou. Não restou uma parede erguida, tudo perdeu o sentido. Minha vida perdeu o sentido. Eu não posso deixar isso acontecer de novo. Por mais que eu te ame, eu preciso de um tempo pra mim. Pra me redescobrir. Entender quem é Renesmee Cullen sem Jacob Black. Eu não sei o que vou fazer ainda. Me dedicar à música, ao balé, escrever... Sei lá. – continuou ela em um tom sonhador – Vou tirar todo o tempo do qual eu precisar pra descobrir. Meus pais concordaram em passar alguns anos viajando pelos países que eu escolher. Conhecer a cultura, as pessoas. Isso soa bom o suficiente para mim. E saber que não importa o quão longe esteja, você me ama... Bem, espero que isso me dê a força que eu preciso pra seguir em frente.

Eu ainda estava boquiaberto, tentando ajustar aquelas sentenças.

Todas aquelas coisas eu queria para ela, uma parte de mim torcia para que Nessie as conseguisse, contudo, por outro lado, ela ser feliz longe de mim era tudo o que eu temia. Renesmee conhecendo novas pessoas, outros caras. Não queria pensar naquilo. Não queria pensar em quem estaria lá para tomar o meu lugar. Subitamente eu me senti meio irritado.

– E o que eu devo fazer enquanto isso? Aguardo os cartões postais? – retruquei ironicamente.

– Eu sei que é terrível, mas é algo que estou passando. Estou tentando tirar algo bom de toda essa tragédia e você também deveria fazer o mesmo. Não estou pedindo para ficar feliz com isso. Não estou pedindo para entender. Eu só... Preciso do seu apoio.

– Eu quero fazer isso Nessie. De verdade. Mas eu não posso.

– Por que não?

– Você está me assustando muito. É por isso. E se essa nova Renesmee conhecesse tantos lugares, tantas pessoas, que certo dia percebesse que eu não me encaixo mais na vida dela? – minha voz se elevou e soou rouca e irregular aos meus próprios ouvidos – Pode me prometer que isso não vai acontecer?

– Jake... – ela murmurou com a voz chorosa, mas eu não ia recuar.

– Você não pode. Você não pode prometer isso e é melhor ir embora de uma vez. Não vou esperar uma eternidade apenas para ter meu coração arrancado por você.

– Jacob, eu te amo. – ela se colocou na ponta dos pés, os braços apoiados nos meus ombros e então enxugou algo no meu rosto. – Ninguém nunca vai poder ocupar o lugar que você ocupa no meu coração. Nunca.

Ela afundou o rosto no meu ombro e eu aproveitei para inalar ao máximo o perfume hipnotizante dela. Ela enxugou as próprias lágrimas na minha camisa e se afastou.

– Eu não vou aguentar ficar sem te ver, ficar sem saber de você. – murmurei derrotado.

– E não vai Jake. Vou sempre escrever para você.

– Não é a mesma coisa.

– Pelo menos é algo. – ela sussurrou timidamente.

– Eu não vou escrever de volta.

– Não importa. Vou fazer minha parte.

Levantei a vista e reparei que os Cullen já estavam impacientes do outro lado do saguão.

– É melhor você ir. – falei empurrando toda a dor para baixo.

Ela se colocou de novo na ponta dos pés e dessa vez contou com a minha ajuda quando me inclinei um pouco deixando que ela encostasse os lábios na minha bochecha. O toque quente me acendeu inúmeras lembranças que eu preferia não trazer a tona agora.

– Sabe que nós ficaremos juntos um dia. É uma vida longa. Nós não acabamos. – ela sussurrou em uma voz que soou extremamente sexy, fazendo meus pêlos se arrepiarem.

Segurei a nuca dela antes que ela se afastasse, e colei meus lábios em seu ouvido apenas para dizer algo que com toda certeza, Renesmee já sabia.

– Eu também te amo.

Nessie cambaleou para trás, nitidamente abalada pela proximidade. Ela abriu a boca e eu já sabia que seria o adeus.

– Não diga. Apenas vá.

Renesmee assentiu e seguiu seu caminho na direção da família dela. Bella acenou para mim com os olhos tristes e eu assenti em resposta, logo voltando minha atenção para Nessie que se afastava em passos lentos.

Mil imagens voaram pela minha cabeça me paralisando, me prendendo ao passado no qual eu sei que estou condenado a viver por muito, muito tempo.

Enquanto ela caminhava, sai do transe a tempo de dizer a frase que estava entalada em minha garganta.

– Basta uma palavra sua e eu jogo tudo pro alto, Nessie. Sabe disso não é? Basta dizer que me quer de volta e eu estarei lá para você.

Renesmee parou por alguns instantes. Não se virou ou disse coisa alguma, ainda assim gelei até os ossos entendendo aquilo como um sinal de que ela não mudaria de idéia. Ela nunca me pediria para voltar.

Nessie retomou seus passos impecavelmente compostos e torturantemente lentos em direção à saída.

Ela estava indo embora com aquele silêncio... E depois de todo esse tempo, não tinha mais nada que eu pudesse fazer.

Era como assistir a um filme antigo, daqueles em preto e branco até. Eu via Renesmee se afastar, mas não parecia real. Não poderia estar acabando assim.

De repente o mundo perdeu uma generosa parcela de suas cores e tudo escureceu a minha volta.

Quando os pés dela subiram os degraus do corredor que levava ao avião, juro que senti meu coração abandonar meu corpo, deixando só Deus sabe o que, bombeando sangue em seu lugar.

Ela parou e se virou, olhando para mim com um olhar profundo e sem quebrar o silêncio, os lábios quase formando um sorriso por, quem sabe, uma boa lembrança disse:

– Vou sentir sua falta.

E assim foi embora.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse é o penúltimo capítulo do Livro do Jacob.
Apesar das fortes emoções, espero que tenham gostado! =D
Beijos! Até o próximo! .õ/