Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 20
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último capítulo da primeira temporada!
Peço paciência de vocês para o início da segunda (Narrada pelo ponto de vista do Jacob) =)



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– Renesmee Carlie Cullen, vou pedir pela última vez, abra essa porta. – Bella bradou do lado de fora do cômodo.

– Me deixa em paz! – gritei atirando uma almofada na direção da voz insistente.

Minha sorte, se é que posso dizer assim, foi Edward e Bella demorarem a voltar da caçada, me dando tempo de chegar à mansão Cullen e trancar-me no quarto antes de qualquer tentativa de comunicação. Eles poderiam invadir o quarto se quisessem, mas não o fizeram. Eu era grata por isso.

– Nessie, minha querida, por favor. – continuou ela, dessa vez com tom excessivamente afetuoso. – Precisamos conversar.

Levantei da cama ainda insegura sobre qual atitude tomar e girei a chave abrindo a porta. Bella ficou verdadeiramente surpresa em me ver, contudo foquei meu olhar em Edward, que permanecia parado atrás dela, as mãos de alabastro segurando os ombros de minha mãe firmemente, a testa vincada de preocupação.

– Quero falar com Edward. – anunciei num sussurro rouco, quase ininteligível.

Eles se entreolharam por um instante e eu voltei à minha cama esperando que apenas meu pai me acompanhasse. Ele murmurou alguma coisa para uma Bella absolutamente frustrada, depois me seguiu, fechando a porta atrás de si.

Seria bom conversar com Edward, embora eu estivesse mais interessada em ouvir do que em falar. Precisava ir fundo na dor, entender o que houve entre Jacob e Bella, evitar mais sustos. Eu estava cansada de ser pega desprevenida, então que toda dor viesse logo de uma vez.

– Rosalie nos contou o que houve em Port Townsend, ficamos muito preocupados...

– Não quero falar sobre isso. – interrompi.

Eu quero apenas a verdade, sem embromações.

– Eu sei.

Claro que sabe, pensei.

– Não está sendo justa com Bella. – Edward falou baixinho, sentando-se na beira da cama.

– E vocês foram justos comigo? – rebati ácida.

– Não – concordou ele num tom melancólico. – Nós apenas a amamos o suficiente para permitir que você seja feliz. Não há nada mais cortante do que te ver sofrendo assim, Nessie.

– Ainda assim eu preferia a verdade.

– Sabe que não. – discordou com uma voz reconfortante.

Não adiantava discutir com Edward, ele estava em minha mente e podia ver a verdade dos meus sentimentos, mesmo através dos meus pensamentos confusos. Ficamos em silêncio por algum tempo.

– Pode simplesmente me contar o que houve entre Bella e Jacob? – insisti.

Edward suspirou antes de começar toda a história.

Ele falou sobre o início do namoro com minha mãe e que certa vez a abandonou na esperança de dar a ela uma vida normal e de como Bella e Jacob estiveram próximos nesse período. Apesar de perceber que ele editava algumas partes, notei que Edward estava dando o melhor de si, contando sobre brigas, presentes, sacrifícios e tudo mais que envolveu a história deles antes de eu nascer. Ouvi tudo sem interromper, prestando atenção a cada mínimo detalhe que me era revelado.

Não dava para negar que houve algo forte entre eles.

– Então foi isso. – disse. – Depois que você nasceu, e mesmo contra vontade Jacob de certa forma ajudou para que isso fosse possível, ele e Bella são apenas amigos.

– Eu não vejo como as coisas possam ter mudado de uma hora para outra. – murmurei secamente.

– Eu não permitiria Jacob por perto se ele ainda nutrisse alguma paixão por Bella, acredite.

Os olhos dele adquiriram um brilho mortal por um milésimo de segundo. Não havia sombra de dúvidas, Edward estava falando sério.

Ainda assim eu não me sentia à vontade para reencontrar Jake e colocar tudo em pratos limpos. De um jeito ou de outro ele havia me magoado profundamente e essa ferida levaria bastante tempo para curar.

Acontece que tempo é algo do qual não dispomos. Não agora, quando eu estou prestes a deixar Forks.

Meu pai permaneceu em silêncio e meus pensamentos continuaram a fluir por caminhos obscuros e desconhecidos. Eu só queria que o resto do mundo parasse. Assim eu teria tempo de viver toda essa dor e passar por ela e quem sabe até entender o turbilhão de emoções que continuam entrando em erupção dentro de mim.

– Por que não diz você mesma? – Edward respondeu em voz baixa a um pensamento que não era meu, então olhou para mim. – Bella quer falar com você.

Como eu não disse nada, dentro de instantes Bella entrou no quarto, totalmente angustiada. Ela estaria chorando, se pudesse.

– Agora que sabe toda a verdade, espero que um dia possa me perdoar. – ela se agachou ao pé da cama e levou a mão em direção à minha, mas eu me afastei antes que ela me tocasse. – Eu fui um monstro, eu sei, mas tenho a eternidade para trabalhar nisso. Para me redimir. – acrescentou ela tristemente.

Senti meu coração apertar. Apesar das descobertas, da raiva e de tudo mais, Bella sempre seria minha mãe, a primeira que me amou e estava disposta a literalmente sacrificar tudo por mim. Eu não sabia se a revolta que eu sentia agora poderia ser maior que tudo isso.

Fiquei calada, então ela continuou.

– Só não se esqueça que eu te amo mais que minha própria... – então a mão de Bella parou no meio do trajeto que fazia até o local onde meu colar deveria estar. – Onde está seu medalhão? – perguntou de repente.

Há muitos metros de profundidade em algum lugar em Port Townsend. Agora eu desejava ardentemente que eu tivesse conseguido recuperá-lo.

– Não quero mais usá-lo. – respondi fingindo indiferença.

– Oh. – os olhos dela vagaram pelo chão e ela já não os direcionou para mim outra vez. Eu nunca havia tirado aquele colar para nada e só o fato de eu já não querer mais usá-lo significava para Bella uma ruptura irreversível. Minha mãe levantou-se parecendo que o chão sob os pés dela não era tão estável quanto o de costume e recuou até a porta. – Vou deixar você e Edward... Conversarem. Eu... Eu... Sinto muito.

Ela saiu batendo a porta.

Edward olhou para mim com as sobrancelhas erguidas de espanto.

Eu sei. Eu sei. Apenas não conte a ela, está bem?

Então um grito desesperado vindo do jardim nos roubou a atenção. Meu coração palpitou e disparou em batidas frenéticas.

– Nessie! Nessie! – ele chamava a plenos pulmões logo embaixo da minha janela. – Eu preciso falar com você! Por favor, me perdoa!

– Jake – o sussurro involuntário escapou de meus lábios.

Edward disparou para a janela e eu o acompanhei, me escondendo atrás dele. Jacob estava lá, gritando juras de amor, implorando perdão e sendo escoltado por Emmett e Jasper que o impediam de se aproximar da casa.

– Não vou falar com ele. – murmurei a voz abafada pelo pânico. – Eu não vou conseguir...

– Quer que eu o mande embora? – meu pai ofereceu.

Pensei nisso por um instante. Mandá-lo embora de onde? Da minha vida? Não, eu ainda não consigo imaginá-la sem ele. Tampouco consigo cogitar a possibilidade de tudo voltar a ser como antes.

Recuei um passo apertando os olhos desejando de algum modo fazer tudo se dissipar e me surpreendi ao abri-los e já não encontrar mais Edward no quarto. Esgueirei-me até a janela de novo, espiando Jacob através da cortina. Tão lindo tão angustiado... Ele vir até aqui para dar a cara à tapa deveria valer alguma coisa. Afinal, por que ele se incomodaria em vir ao meu encontro se de fato não se importasse?

Mas deixá-lo ali, sem resposta, dissimulando o fato de eu estar sofrendo tanto ou mais do que ele me parecia uma boa maneira de castigá-lo. De empatar o placar. Não que isso, nem de longe, se compare ao estrago que ele fez me escondendo todo o jogo.

Edward apareceu no jardim pedindo para Jacob se retirar, mas ele não o fez.

– Eu não vou sair daqui até falar com ela! – grunhiu – Nessie, eu sei que você está aí. Sei que está me ouvindo, então, por favor, por favor, me dá uma chance de explicar tudo. Não faz isso comigo... Não faz isso com a gente. – insistiu ele, os olhos suplicantes fixos na cortina onde eu me escondia o que me fez questionar se ele podia mesmo me ver.

Atirei-me no chão imediatamente e engatinhei para longe da janela sem pensar no quão idiota aquela atitude era. Após atingir uma distância segura, me levantei e respirei fundo trabalhando na expressão mais firme que consegui. Só então marchei até a janela como se me aproximasse dela pela primeira vez.

O semblante de Jacob se iluminou de esperança ao me ver, mas tudo em que eu podia pensar era numa maneira de fazê-lo ir embora. Não era como se eu não o amasse mais, apenas... A presença dele, aqui e agora, causava uma avalanche de dores com as quais eu não sabia lidar.

– Nessie, eu preciso te contar...

– O que? – cortei secamente – Que você e minha mãe tiveram um caso? Ops! Sinto muito, seis anos atrasado.

O rosto de Jake enrijeceu enquanto ele engolia em seco, mas deixou o sarcasmo passar.

– Há muito mais envolvido. Se você pudesse deixar esse orgulho de lado apenas por uns minutos e me escutasse, evitaria mais sofrimento. Para nós dois.

Soltei um riso incrédulo.

– Não dá pra acreditar. Agora você quer falar. Acontece que eu não estou mais disposta a ouvir. Se você veio até aqui para explicar o quanto amou Bella e como não esperava me acrescentar à equação, pode ir embora. Edward já me contou tudo.

– Duvido que ele tenha falado...

– Chega Jacob, você a ouviu. – Edward interrompeu. – Agora vá embora.

– Não, eu não vou! – Jake gritou para Edward, os braços tremendo de fúria. Então se virou para mim – Dá pra descer daí e vir falar comigo? Olho no olho? Ou está com tanto medo assim de me perdoar?

Senti-me ofendida por ele achar que a proximidade entre nós afetaria de algum modo minha decisão. Especialmente porque era verdade.

– Eu não vou te perdoar, Jacob. Eu só quero que você suma daqui de uma vez assim vou poder...

– Você me ama? – ele desafiou dando um passo à frente.

– O que? – minha voz subiu duas oitavas – Como tem coragem de fazer uma pergunta dessas depois de tudo o que houve?

– Você me ama. – afirmou ele com um brilho frenético no olhar, quase sorrindo. – E eu não vou desistir. Uma hora você vai entender e eu vou estar aqui, te esperando.

Odiei a confusão que Jacob estava fazendo nos meus pensamentos. Como se soubesse mais sobre eles do que eu mesma. Como se uma semana bastasse para me fazer digerir a traição dele. Como se ele tivesse poder absoluto sobre qualquer decisão que eu viesse a tomar.

– Acabou Jacob Black. Por favor, não me procure mais. Não me espere. Não pense que eu vou mudar de idéia, porque eu não vou. – me surpreendi ao notar o quão segura minha voz pareceu, quando na verdade, cada parte de mim gritava o contrário.

Jacob hesitou, transferindo o peso de uma perna para a outra, o maxilar rígido, os punhos cerrados firmemente. Edward o empurrou na direção da floresta, os olhos perplexos de Jacob ainda encaravam os meus, e então numa fração de segundos ele havia explodido num lobo gigante, desaparecendo dentre as árvores com um uivo que misturava dor e frustração.

Meus joelhos cederam e eu desabei no chão, me encolhendo no canto da parede experimentando uma nova rodada de dor. Seria sempre assim de agora em diante?

– A noite não foi bem como o planejado, não é? – Candy comentou pela porta entreaberta.

Suspirei com pesar. Eu realmente queria ficar sozinha. Será que era pedir demais?

– O que está fazendo aí que não vai atrás dele? Quer dizer, sua família vai embora de Forks em uma semana, gerar novas mágoas não vai ajudar você e o Jake a se acertarem.

– Não vou atrás dele.

– Por que não? Olha só pro seu estado – ela gesticulou na minha direção – Ele te ama Nessie. E no fundo você sabe disso. Não piora a situação, se ele realmente desistisse você sofreria muito mais.

– Isso não é da sua conta. Por que não pára de se meter na minha vida?

– Eu quero ajudar. – disse ela, na defensiva – Mas se o primeiro obstáculo te faz desistir de tudo você não deve mesmo amá-lo tanto quanto dizia.

Aquilo fez meu sangue ferver de raiva. Quem Cadence pensava que era para chegar aqui e julgar meus sentimentos por Jacob? Ela não era capaz de entender. Ninguém era.

– Você só veio falar essas coisas porque está com medo do caminho ficar livre para o Nahuel. – cuspi as palavras – Não é como se você se importasse comigo ou com Jacob, então economize meu tempo e vá embora. Eu não vou correr para os braços do Nahuel, se é o que quer saber.

Candy paralisou na minha frente, boquiaberta.

– De qualquer modo, não acho que isso vá fazê-lo ficar com você. – acrescentei.

– Só para você saber, Nahuel e eu temos uma conexão e eu não vou deixar o seu discurso de dor de cotovelo abalar isso. – anunciou ela erguendo o queixo. – Ok. Vá em frente e destrua a sua vida se é o que quer! E a propósito, é melhor mesmo não ir chorar no colo do Nahuel!

Então Candy jogou o cabelo para trás e desfilou graciosamente para fora do quarto. Pergunto-me se eu fui dura demais, ela não tinha culpa, apenas estava no lugar errado, na hora errada, dando conselhos errados. Talvez eu deva me retratar com ela quando a raiva passar.

Mas por hora, esse quarto vazio, minhas lágrimas intermináveis e esse embrulho no estômago eram minhas únicas companhias. Eu estava exausta de me torturar com boas lembranças manchadas pela amargura do momento, ainda assim, não podia evitá-las. Os flashes vinham à minha mente, um por um como golpes mortais, me fazendo estremecer e tornando o fluxo de lágrimas mais rápido e denso. Tantas promessas, tantas mentiras, e quão tola eu fui, confiando em Jacob cegamente. Cada vez que eu pensava nisso tinha vontade se socar algo.

Rose e Alice ainda tentaram me convencer a sair do quarto nos dias seguintes, mas o que me esperava lá fora? Não quero sair porque eu não sei como vai ser a minha vida de agora em diante, porque considerando o fato de Jacob ter sido uma presença constante na minha vida desde sempre, eu tinha certeza de que ele era insubstituível e essencial para fazer meu dia mais feliz. Mesmo que eu empurrasse todo o meu orgulho garganta abaixo e jurasse que nada iria mudar entre nós, ambos saberíamos que tudo ficaria diferente.

Eu tinha picos de humor que variavam entre rasgar todas as fotos que eu pudesse encontrar ou ficar irreversivelmente agarrada com MJ.

Esme levou algumas bandejas de comida que permaneceram intactas. Jacob ligou incontáveis vezes, nunca atendi, mas sempre estava atenta à agitação que acontecia no andar de baixo quando Edward se negava a passar a ligação para mim. Quando a coisa toda piorava, eu estava convicta sobre Jasper perto do corredor que dava acesso ao meu quarto, embora ele não tenha entrado para despejar milhões de conselhos, eu percebia quando uma sensação de tranqüilidade me envolvia. Era forte o bastante para interromper os soluços, mas não o suficiente para me fazer dormir ou parar de pensar em Jacob. As poucas horas de sono que eu tinha eram sempre assombrosas, repleta de pesadelos sobre Jacob me deixando ou o velho pesadelo dos Volturi vindo para nos matar. Em qualquer um deles eu sempre acabava devastadoramente sozinha.

Um par de vezes criei coragem de pegar o telefone e discar o número da casa dos Black, mas, constrangedoramente apenas o som da voz dele do outro lado da linha me fazia desabar em lágrimas e desligar logo em seguida.

O fato de Bella não ter mais me procurado, de certa forma piorou as coisas. Eu temia tê-la magoado além do perdoável, e me culpava com isso.

A passagem dos dias realmente não importava para mim, na verdade eu nem sequer prestava atenção, até o dia em que Alice entrou em meu quarto trazendo um vestido de festa para eu experimentar. O casamento de Charlie se aproximava, é claro. O mundo não parou. Apenas eu.

– Oh meu Deus! – Alice exclamou assim que me viu estirada na cama – Olha o seu estado, Nessie! Vamos ter que desperdiçar bastante tempo com maquiagem quando o grande dia chegar. O que é uma pena, você tem uma pele tão maravilhosa que chega a ser um crime soterrá-la com todos esses cosméticos.

Eu sabia que Alice estava tentando ser legal, procurando distrações. Não estava funcionando, ainda assim fiquei grata pelo esforço. Trabalhei em um sorriso, mas pela careta que minha tia fez logo em seguida o resultado não foi dos melhores.

– Eu preferia ficar trancada aqui até o dia de irmos embora. – eu disse, lembrando que o casamento também era de Sue e com certeza Leah estaria lá.

 O que me fez imaginar pela milésima vez o que Leah ganhava entregando Jacob. Quer dizer, eu entendo que ela não gostasse de mim por ser vampira e tudo, mas atacar com toda aquela paixão exigiria algum interesse extra. E eu não precisava me esforçar muito para descobrir qual era.

– Nessie, eu sei que tem sido difícil. – sussurrou Alice sentando na beira da cama – Mas pense em Charlie, vocês não terão muitas oportunidades de estarem juntos uma vez que nos mudarmos para o Alasca. Não vai querer assustá-lo com essa aparência de zumbi. – ela sorriu discretamente me entregando o vestido.

Embora eu não tenha conseguido demonstrar entusiasmo suficiente, o vestido era mesmo encantador. Em outra época eu estaria saltitando pelo quarto sonhando com a expressão de veneração no rosto de Jacob quando me visse.

Alice fez alguns ajustes, reclamando de como eu havia perdido peso e deveria caçar o quanto antes. Ela ainda tagarelava quando seus olhos ficaram opacos e seu corpo paralisou em minha frente. Esperei a visão terminar para Alice me contar o que viu, mas seus olhos dourados apenas ficavam mais arregalados e mais aterrorizados.

– Alice? O que foi? – inquiri contagiada pela agonia no rosto dela.

No instante seguinte todos estavam à nossa volta esperando por um pronunciamento de Alice. Procurei por Edward, seu maxilar estava rígido, a testa vincada e os olhos presos num ponto fixo enquanto ele acompanhava a visão de Alice em primeira mão. Bella desviou o olhar quando meus olhos encontraram os dela, logo senti um nó se formando na minha garganta. Aquela situação estava ficando insuportável.

– Nos conte o que está vendo Alice! – Jasper exigiu segurando a pequena fada pelos ombros.

– Está acontecendo de novo. – ela murmurou ainda presa no futuro. – Eles estão vindo para cá.

Houve silêncio absoluto, o único som era o da minha respiração e das batidas aceleradas do meu coração enquanto eu entendia de quem Alice falava. Os Volturi. Eles estão voltando para terminar o que não conseguiram quando eu era apenas um bebê.

– Os Volturi? – Jasper perguntou, porém soou mais como uma afirmação.

Alice assentiu.

– Eu não entendo. Por que agora? – Rose replicou incrédula.

– Está indistinto, tem algumas falhas, não posso ver completamente o que vai acontecer – Alice franziu a testa se esforçando para ver além – Tem um vampiro desconhecido – acrescentou ela de repente.

– Johan – Edward grunhiu furioso – Eu o reconheço dos pensamentos de Nahuel e Candy.

Todos se entreolharam chocados. O pai de Candy estava trazendo os Volturi até nós? Mas por quê?

– Vamos falar com Candy, talvez ela possa convencê-lo... – falei ansiosa, consciente do tremor em minhas mãos.

Rose apertou os lábios com uma expressão estranha no rosto.

– O que foi? – perguntei.

– Candy foi embora, Nessie. – Rosalie explicou. – Já faz três dias.

Meu queixo caiu. Candy foi embora sem nem ao menos se despedir? Bem, ela tinha motivos, é verdade, mesmo assim eu não esperava por isso. De repente eu me vi mais desesperada do que nunca.

– Quando acontecerá? Precisamos reunir aliados como da última vez. – disse Emmett.

– Não há tempo. – cortou Alice. – Eles não estão na Itália. Aro tomou precauções dessa vez, eles já estavam a caminho antes de tomar a decisão.

– Como isso é possível? – Bella gemeu.

– Colocaram a decisão nas mãos de outra pessoa. Johan. – Edward murmurou, a voz fria como gelo.

– Vamos nos dividir. Três de nós podem ir atrás de ajuda enquanto os outros montam guarda. – sugeriu Emmett.

– Seria pior. Uma busca como essa levaria semanas. Só diminuiria nosso número quando o inimigo chegasse. – discordou Jasper.

– O que podemos fazer? – pedi.

– Não há nada que possamos fazer Nessie. Se assim quiserem, eles podem nos matar. – Alice explicou consternada.

– Deve haver um jeito! – Bella protestou. – Precisamos descobrir do que eles estão atrás.

– Nosso clã sempre foi uma ameaça. Seja o que for eles só querem uma desculpa para nos tirar do caminho. – disse Edward.

– Então que venham! – comemorou Emmett socando a própria mão.

Alice e Edward se entreolharam e depois chamaram os outros para sair, discutir aquilo num lugar mais apropriado, de preferência na minha ausência, como o de costume. Ou talvez fosse uma tática para me fazer sair da toca. Quem sabe?

Eu estava me afogando em pensamentos, mas ainda assim pude ouvir o sussurro de Bella no final do corredor.

– Acha que eles sabem sobre Renesmee e Jake?

– Espero que não. Uma infração como essa seria imperdoável, a grande oportunidade que eles estiveram esperando. Talvez só queiram checar como Renesmee está agora. – Jasper respondeu baixinho.

Parei de prestar atenção. Eu era uma desgraça! Um imenso buraco negro que atraía a destruição para todos a minha volta. Mais uma vez os Volturi estavam atrás de nós e se eu não sou o problema que os trará até Forks, serei um bem maior quando eles chegarem e descobrirem sobre meu romance com Jake. Levei a mão ao peito procurando o colar que Bella me deu, ainda não havia me acostumado sem ele.

De repente me senti assombrosamente frágil, desprotegida. Eu havia afastado todos aqueles que já puseram suas próprias vidas em risco por mim.

E Jacob? Eu deveria contar a ele o que estava prestes a acontecer? Se chegarmos a medidas extremas ele será uma das partes prejudicadas e por mais que o odiasse nesse momento, eu ainda o amava loucamente e preferia morrer ao vê-lo machucado.

Engoli em seco e minha garganta ardeu, meu estômago vazio protestou contra os dias sem nenhum tipo de alimentação e naquele momento reconheci que eu precisava estar preparada para o pior. Eu lutaria por todos eles até o último instante.

Mas isso seria o suficiente? Isso os pouparia da fúria dos Volturi? Acho que não.

Tirei o vestido de festa e fui tomar banho deixando toda a dor escoar pelos meus olhos. Aquilo não parecia ter fim e eu já estava meio que cansada de sofrer sozinha. Era um pensamento egoísta eu sei, mas agora eu precisava de Jacob ao meu lado mais do que nunca. Tentei colocar as idéias e sentimentos em ordem, mas todo esse drama era simplesmente mais do que eu podia carregar. Torci para que os Volturi viessem logo e apenas acabassem comigo de uma vez.

E Johan? Por que estava com eles? Que espécie de acordo eles tinham ou o que o pai de Nahuel ganharia com isso?

Saí do banho com todas essas dúvidas borbulhando em minha mente. Peguei MJ e cai na cama me abraçando ao pequeno lobo. Quase não dava mais para sentir o cheiro de Jacob, na verdade nesse exato momento, MJ possuía uma salgada fragrância de lágrimas. Minhas lágrimas. Apertei MJ em meus braços e puxei os pedaços de uma fotografia rasgada de baixo do meu travesseiro. Acariciei a fotografia como se pudesse tocá-lo de verdade. Por Deus, como eu sentia falta dele! Duvidava que eu pudesse ir muito longe sem o apoio de Jacob... Mas no que eu estava pensando? Quanto tempo nos restava? Uma semana? Duas? Não muito além, eu aposto, uma vez que Alice assegurou que não haveria tempo de buscar ajuda.

Me encolhi fechando os olhos, esperando que a inconsciência fosse mais gentil comigo do que a realidade vinha sendo.

Acordei desorientada, sem a menor noção de por quanto tempo estive dormindo. Apesar dos pesadelos, fiquei satisfeita por ter conseguido algumas horas de sono. Chequei o relógio, quatro horas da madrugada. Pareceu um pouco insano, mas eu realmente passei o resto da noite acampada na janela esperando Jacob aparecer. Se ele viesse desta vez eu não o deixaria plantado lá embaixo. Mesmo depois de dias sem nos falarmos eu ainda me sentia conectada a ele, eu sentia que ele ainda pensava em mim e sentia minha falta tanto quanto eu sentia a dele. Eu acreditava que de alguma forma ele ouviria meu chamado e viria ao meu encontro. Ou pelo menos eu me iludia achando isso.

Amanheceu, ainda que fosse difícil notar pela pouca luz que atravessava as nuvens espessas. Ele não veio. Tampouco ligou. Ele teria desistido de mim?

Respirei fundo não me permitindo chorar outra vez e procurei algo para vestir. Hoje eu iria caçar. Quando encarei o espelho, vi que Alice estava certa sobre minha aparência, meu estado era deplorável, parecia ter saído de algum filme apocalíptico.

– Posso entrar? – meu pai perguntou parado na porta entreaberta.

– Claro.

– Não quero que se preocupe com o Jacob. Eu vou garantir que ele esteja a salvo. Que vocês dois estejam. – Edward anunciou com uma convicção estranha na voz, os olhos dele ainda pareciam receosos.

– Como?

Edward atravessou o quarto parando na minha frente, e deu um sorriso torto. Os olhos dourados ainda com um flash de preocupação turbulenta.

– Renesmee, eu sou seu pai, é meu dever te proteger, não importa o que isso custe. Não se culpe pelo que pode acontecer. Ainda que eu tenha sido contra o seu namoro com Jacob no início, permiti que vocês ficassem juntos e eu sabia das consequências que isso implicaria. Estou pronto pra arcá-las, desde que você coloque um sorriso nesse lindo rosto e se disponha a encarar isso da melhor forma que puder. – ele pegou minha mão e sorriu colocando alguma coisa nela. – Não esqueça que nós te amamos mais do que a nossa própria vida.

Franzi a testa confusa com as palavras dele, mas tudo perdeu a importância quando eu abri minha mão e vi o que estava nela. Ali estava ele, o colar que Bella me dera há quase seis anos e que estupidamente eu havia atirado nas escuras águas de Port Townsend. Fiquei tão deslumbrada que era como se eu estivesse vendo o colar pela primeira vez.

– Como você...? – perguntei emocionada demais para completar a frase.

Ele deu de ombros.

– Peguei as coordenadas nos seus pensamentos. Digamos que eu levo mais vantagem do que você embaixo d’água. – esclareceu com sua voz de veludo.

– Oh, muito obrigada! – falei me atirando nos braços dele. – Não sabe como isso significa para mim.

– Sei sim. – ele murmurou afagando meus cabelos. – Eu realmente sei.

O abracei ainda mais forte por alguns segundos e então enxuguei meu rosto e coloquei o colar de volta no meu pescoço, lugar de onde nunca deveria ter saído.

– Quer que eu te acompanhe na caçada?

Reparei nos olhos dourados dele e recusei a oferta. Preciso fazer isso por conta própria.

– Tudo bem.

Dei outro abraço em Edward e caminhei para fora do quarto, quando eu já estava no corredor ele me chamou.

– Renesmee, não está pensando em procurar Jacob, está?

Balancei a cabeça em negativa e segui para a sala. Bella estava lá, conversando com Alice. As duas paralisaram a me ver. Respirei fundo, dei dois passos na direção de Bella e a abracei. Eu não queria morrer brigada com minha mãe.

– Sinto muito por tudo o que houve. – sussurrei.

Ela me envolveu em seus braços frios, porém macios, me segurando como se eu fosse a última coisa que ela tivesse. Demorou até me soltar, e quando o fez, depositei um beijo em sua bochecha.

Silenciosamente saí para caçar. Uma fina neblina caía, mesmo assim fui adiante. Dei um passo em direção ao ar gelado e caminhei para a floresta sozinha. Eu estava aliviada pela tensão entre eu e meus pais ter diminuído ainda assim eu me sentia deprimida. Normalmente, saía para caçar com Jacob e se não ia com ele, saia para encontrá-lo. Mas hoje não seria assim, ou da próxima vez ou da próxima. Nada mais de um aconchegante lobo gigante como companhia.

À medida que eu avançava me sentia menos disposta à caçada, ainda que estivesse faminta, não tinha energia para isso. Eu só pensava mais e mais em Jake. Se estivermos prestes a morrer, eu preferia ir até as últimas consequências com Jacob ao meu lado. Juntos, poderíamos tornar a situação se não favorável, pelo menos suportável. Eu não queria que tudo acabasse e ele não soubesse o quanto eu o amava apesar de tudo o que houve. Eu de fato tentei, com todas as minhas forças, eu simplesmente não conseguia mais ficar longe de Jacob.

Quando dei por mim, já estava correndo a toda velocidade na direção de La Push.

Ele estaria chateado comigo? Pela forma como eu o tratei depois de descobrir a verdade? Para ser sincera eu ainda estava magoada, caindo aos pedaços para ser mais precisa. A diferença é que agora eu daria a Jacob à chance de implorar por perdão e reconquistar minha confiança. Não seria difícil para ele, eu sabia que uma única oportunidade era tudo o que ele precisava. Afinal, quantas vezes na vida Jacob havia me decepcionado?

Eu continuava com medo cair aos prantos quando o visse, mas faria o meu melhor para evitar essa parte. A neblina se transformou num temporal e até assim continuei. Continuei correndo porque eu sabia que ele me esperava, que ele me chamava, sabia que Jake estava sofrendo tanto quanto eu. E quando eu chegasse à casa dos Black não precisaria me preocupar com as palavras, pois ele saberia o que dizer e me abraçaria apertado aquecendo cada parte de mim, do jeito que apenas ele sabe.

Eu não queria que ele achasse que eu andava insone, entretanto minhas olheiras me entregariam de cara. Também não queria que ele pensasse que andei sendo displicente quanto minha alimentação, coisa que, abatida como eu estava, seria difícil. De maneira alguma queria que ele soubesse o quanto estive chorando, mas a essa altura não havia como disfarçar o inchaço e a vermelhidão dos meus olhos. Acima de tudo eu não queria que Jacob pensasse que eu estava desesperada para revê-lo, chegando assim, sem carro, naquela chuva. Mas eu estava. Completa e irreversivelmente desesperada.

O vento gelado batendo contra o meu corpo ensopado começou a incomodar. Nem era o frio, era mais a umidade atravessando as camadas de roupa e entrando pelos sapatos. Foquei-me na corrida, sabendo que quando eu chegasse lá, Jacob pegaria minha mão entre as dele, sempre tão quentes, e todo o gelo iria embora de mim. Ele me emprestaria alguma roupa de Rachel e me aqueceria com o corpo dele ainda que não fosse preciso. O pensamento dos lábios dele aquecendo os meus me fez acelerar o passo, já estava bem perto.

Estando assim, a poucos metros dele um calafrio percorreu minha espinha. Talvez não fosse a coisa certa a fazer. Talvez ele nem estivesse em casa. Eu deveria esperar tomando um chá com Billy se fosse o caso? Uma vez que eu já havia chegado até aqui...

Sacudi a cabeça afastando qualquer distração, eu já estava bem perto, então iria até o fim. Candy tinha razão, eu deveria ter deixado o orgulho de lado desde o começo. Avistei a pequena casa vermelha e meu coração disparou. Eu tremia, não sei se de medo ou de frio, contudo não me importava. Eu sabia que quando Jacob me visse, resolveria tudo isso.

A porta dos fundos estava entreaberta, eu estava tão ansiosa que não me incomodei em bater. Empurrei a porta de madeira, caminhei até a sala dos Black e me arrependi de cada maldito passo que eu havia dado até aqui. Eu queria correr de volta, mais rápido do que fui para chegar até aqui, mas todo o meu corpo estava paralisado ali.

Jacob estava no chão, em frente ao sofá, em cima de Leah, beijando-a! Pisquei repetidas vezes para me assegurar de que não se tratava de uma alucinação, mas não adiantou. Aquilo era cruelmente real. Meu estômago se contraiu, ficou difícil controlar as lágrimas, mas eu controlei.

– Jake! – arfei.

Jacob olhou para mim assustado e rapidamente saiu de cima de Leah, ficando de pé. Ela sentou no sofá consideravelmente assustada. Esperei que ele se justificasse, inventasse alguma desculpa, implorasse perdão, mas nada veio. Tudo o que Jacob fez foi me olhar com seus negros olhos culpados e atormentados.

– O que veio fazer aqui? – perguntou cabisbaixo.

Eu não acredito que ele disse isso! Entre tantas coisas que ele poderia falar ele me veio com essa pergunta estúpida.

– O que eu vim fazer aqui? Que diabos foi aquilo que estava acontecendo há um minuto?

Jacob coçou a cabeça, envergonhado. Seus olhos me percorreram de cima a baixo, tomando consciência do meu estado atual e por meio segundo a expressão dele se franziu torturada e logo voltou ao normal restando apenas a compaixão em seu olhar. Reparei que os olhos dele também estavam com sombras escuras, o que infelizmente não era nada se comparado à garota ensopada, descabelada e trêmula que estava parada em frente a ele.

– Foi um beijo. – disse simplesmente. – Escuta Nessie, porque está aqui? Não foi você mesma quem pediu um tempo?

– Foi, mas eu não pedi pra você sair se agarrando com a primeira cachorra que encontrasse por aí!

– Olha aqui sua pirralha... – Leah se levantou avançando sobre mim, mas Jacob a deteve.

– Deixa isso comigo. – disse ele de forma controlada.

Os braços em volta dela enquanto ele nem sequer havia estendido uma mão na minha direção. Isso não pode ser real. Isso não pode ser real. Eu repetia para mim mesma.

– Olha Nessie, agora não posso mesmo conversar com você. Podemos nos ver depois?

Arregalei os olhos em choque.

– Jacob Black, se eu sair por essa porta agora, eu nunca mais olharei para você. – anunciei usando toda a dignidade que me restava.

– Sinto muito Nessie, eu realmente não posso falar com você agora. – ele disse com a mais doce e sincera tristeza que eu já havia visto em seu rosto.

Ok. Agora ele sentia pena de mim? Lutei contra o orgulho que vinha nos afastando, eu não desistiria de Jacob assim.

– Por que está fazendo isso Jake? – gemi, perdendo o controle – Está se vingando porque eu não quis falar com você todas as vezes que me procurou? É isso? Se for eu sinto muito, eu não estava pronta para entender seu relacionamento com a minha mãe, mas agora isso não importa. Precisamos mais do que nunca ficar juntos porque... – respirei fundo procurado ar – Eu sinto sua falta Jake. Eu não consigo continuar sem você. Então, por favor, não faz isso comigo por que eu não vou conseguir te perdoar depois.

Ele deu um passo na minha direção e ergueu a mão para afagar meu rosto, mas não o fez. Ele contraiu o queixo e recolheu a mão.

– É melhor ir embora, Nessie. – murmurou ele com a voz enrouquecida.

A rejeição me atingiu em cheio. Alguma coisa dentro de mim se rompeu em mil pedaços, estilhaçados por toda parte, como uma explosão interna, que doía, muito.

Meu coração ensaiou o que seria sua última batida, viva e sincera.

– Adeus Jacob.

Era tarde demais para esconder as lágrimas quando eu corri de volta para a tempestade. A partir daí a separação ficou mais difícil. E mais real.

http://www.youtube.com/watch?v=hthEqV-5qII


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Notas finais do capítulo

Vejam o vídeo! ;D
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