Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 17
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por todos os comentários! Espero que continuem curtindo a EF ;D



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Tentei livrar minha mente do pânico. Eu precisava pensar com clareza. Precisava ganhar tempo até que Jacob chegasse e precisava tirar Emily daqui. Jacob. Meu coração apertou ao lembrá-lo, se Leah estivesse aqui como ele pediu venceríamos facilmente ou no mínimo Jake saberia o que estava acontecendo e correria para cá. Amaldiçoei a hora em que Leah foi embora.

– O que você quer? – minha voz soou mais audaciosa e segura do que eu achava ser capaz.

– O que eu quero? – Ryan soltou um riso baixo de zombaria e se aproximou lentamente me rodeando – Muitas coisas. E você pode me ajudar a conseguir a maior parte delas.

Dei um passo para trás arrastando Candy. Meu olhar passou rapidamente ao rosto dela que não prestava atenção ao que o vampiro dizia seus olhos famintos nem sequer desviavam do sangue da mulher grávida que se espalhava cada vez mais rápido pelo chão. Ryan não parecia preocupado com isso, sua íris cor de vinho indicava que ele estava muito bem alimentado. Mais pessoas haviam morrido. Suspirei.

Como eu não disse nada ele continuou a avançar, parando com o rosto próximo do meu e me encarando intensamente.

– Vingança já seria um bom motivo, afinal seus amigos mataram meus aliados. Mas há algo mais interessante nisso. – acrescentou ele com certa diversão – Incrível como esse pequeno lugar esconde espécies raras. Eu nunca pensei que uma simples refeição em Port Angeles pudesse me render uma divertida e complicada caça ao tesouro. – falou rápida e ansiosamente – Eu nunca encontrei um cheiro que se comparasse ao seu. Estive em sua casa a fim de entender o que você era e acabei descobrindo que você é uma daquelas lendárias mestiças... E essa sua amiga também! – completou com surpresa. – Infelizmente seu clã é bem maior do que eu imaginava. Como se não bastasse você quase sempre estava com aquele lobisomem. Isso complicou as coisas, tive de me manter afastado esperando uma oportunidade como a de hoje por que mesmo com esses pequenos obstáculos você era o alvo mais vulnerável entre os três.

Pisquei sentindo o estresse se apoderar de cada célula do meu corpo. Por todo esse tempo Emmett e Jacob estiveram mesmo correndo perigo. E eu detinha a atenção dele por simplesmente pertencer a uma espécie rara. Haveria algum tipo de glória em contar por aí que matou uma meio imortal? Droga, eu estava com sérios problemas.

– Não se preocupe querida, você não vai pagar por tudo sozinha. Aquele lobo arrogante também tem seu ponto fraco e está bem aqui na minha frente. – Ryan sorriu deslizando a ponta dos dedos frios pelo meu rosto e eu estremeci de pavor. – O jeito que ele se desesperou pra te defender naquela noite perdendo todo o foco da luta foi realmente de impressionar.

– Isso não faz o menor sentido. – blefei sentindo o ar entrar e sair superficialmente não realizando a oxigenação necessária.

Preferia mil vezes a morte a ser usada como isca para Ryan machucar Jacob.

– Não tente me enganar! – ele gritou de repente furioso com os olhos injetados, sua mão se fechou em uma garra ao redor do meu pescoço me puxando para perto dele, os lábios repuxados sobre os dentes afiados.

Estremeci em terror e fechei os olhos com força esperando a investida que não veio.

– Imagine a minha frustração caso meu plano não dê certo. – rosnou apertando meu pescoço com mais firmeza.

Aproveitando o momento Candy desviou de mim indo para cima de Emily, mas eu agarrei o pulso dela com toda a força que pude. Ela soltou um rosnado insatisfeito.

– Nessie, me larga!

– Deixe a garota fazer um pequeno lanche, eu não me importo. – Ryan disse cínico, naturalmente eu o ignorei.

Meus nervos estavam aos frangalhos. Se já era difícil lidar com um vampiro prestes a me matar, Candy desesperada pelo sangue de Emily só levava a situação a um nível de tensão física e psicológica impossíveis de suportar. Um nó se formou em minha garganta e meus pulmões começaram a protestar pela falta de ar. Empurrei Ryan com minha mão livre, mas foi um esforço inútil. Eu já me sentia um pouco tonta.

– Eu mandei soltar a garota. – ele grunhiu puxando meu braço violentamente e eu acabei largando Cadence que disparou saltando o balcão de madeira na direção de Emily.

Claramente se divertindo com a situação, Ryan me atirou no chão e eu desabei ofegante. Baixei a cabeça deixando as lágrimas deslizarem livremente pelo meu rosto, eu jamais suportaria ver aquilo. Tudo por minha culpa... Eu viveria para implorar o perdão de Sam?

– Agora que estamos aqui, antes que eu te mate – o vampiro se agachou na minha frente e ergueu meu rosto para que eu o olhasse, minha visão ainda era turva pelas lágrimas que se acumulavam – pode me explicar como conseguiu atravessar meu escudo mental naquela noite? Nenhuma outra criatura algum dia conseguiu essa façanha.

O desespero do momento me fez lembrar com espantosa facilidade e familiaridade aquela noite terrível. Ryan estava prestes a me matar, como agora, e vi minha vida passar diante dos meus olhos quando ele se refreou. Provavelmente não controlei meus poderes e acabei mostrando para ele meus pensamentos também. Se eu conseguia atravessar até o escudo de Bella naturalmente o de Ryan não iria resistir. Confesso que meu dom nunca me pareceu de grande utilidade em batalha, constatei perplexa que graças a ele, eu ainda estava viva. Não sei por quanto tempo.

Ele ainda me encarava esperando uma resposta.

Não percebi como ou de onde veio, mas de repente Candy saltou sobre Ryan, rápida, silenciosa e certeira como uma flecha, ficando empoleirada em suas costas imobilizando-o com notável dificuldade. Ryan rosnou furioso se levantando e se debatendo tentando livrar-se da semi-vampira.

Levantei ainda atônita e avistei com surpresa Emily intacta, pelo menos no mesmo estado em que Ryan a havia deixado, e aquilo já era um grande alívio.

– Nessie! Droga! – Candy gemeu – Tira ela daqui, eu não vou aguentar muito tempo.

Empurrei para baixo o medo e a tentação que aquele sangue todo proporcionava, pulei o balcão pegando Emily no colo e corri o mais depressa que consegui.

Minha corrida não era tão fluida e simples como costumava ser, mas eu estava determinada a pelo menos tirá-la do campo de batalha, o surto de adrenalina ajudou nessa parte. Senti a umidade quente atravessar minha blusa já ensopada de sangue. Examinei Emily brevemente, ela estava tão imóvel e tão cheia de cortes que me assustou, era necessário algum esforço para notar que ela ainda respirava.

Continuei atravessando árvores e mais árvores sem encontrar vestígios de alguém por perto. A idéia de Jacob e os outros estarem longe demais para nos salvar me apavorou, apesar disso, eu não poderia deixar Candy enfrentar Ryan, sozinha.

Cuidadosamente, sentei Emily perto de um grande abeto e foi quando me ocorreu que talvez aquela não fosse uma boa idéia. Talvez eu nem devesse ter mexido nela após a queda. Xinguei baixo, agora não havia o que fazer.

Dei dois passos para trás ainda me compadecendo do estado dela e então me virei para correr ao encontro de Candy. Não houve tempo para nenhum passo sequer, Ryan surgiu na minha frente como um espectro completamente transtornado. Antes de qualquer reação minha, ele me acertou um golpe que me fez voar de encontro a uma árvore que se partiu com um ruidoso estalo.

A pancada doeu de imediato, depois a dor foi se espalhando até desaparecer. Tentei me levantar um pouco zonza, logo o vampiro veio em cima de mim outra vez. Vi sua garra disparar veloz em minha direção, girei para o lado caindo agachada no chão. Avistei Candy chegando por trás do inimigo outra vez e com um chute certeiro na coluna de Ryan o deixou estirado no chão. Antes que ele reagisse corri para cima agarrando sua mão esquerda e começando a desmembrá-lo. Candy, montada nas costas de Ryan, já havia lhe arrancado o braço direito de uma vez só, com um golpe feroz e certeiro. Ela parecia treinada para aquilo, executando a tarefa com bem mais destreza do que eu.

Ouvi com satisfação e encantamento o som de um animal grande se aproximar em alta velocidade por dentro da floresta. Em uma fração de segundos um lobo de pêlo cinzento irrompeu dentre as árvores e sem o menor cuidado se lançou sobre Ryan – e sobre nós. Leah.

Candy e eu saltamos cada uma para um lado enquanto Leah terminava de fatiar o vampiro. Peguei meu celular, ele milagrosamente continuava funcionando, e joguei para a garota ao meu lado.

– Ligue para Carlisle. – murmurei sufocada.

Reunindo toda a coragem que ainda me restava, me coloquei de pé e corri até a pequena casa. Completamente angustiada procurei em meio à bagunça da cozinha algo para queimar os restos de Ryan, mas estava difícil manter o foco, meu coração continuava batendo descompassado. Por fim minhas mãos trêmulas alcançaram um isqueiro e eu me atirei de volta ao jardim.

Leah estava rosnando para Candy e a meia vampira já se agachava na defensiva.

– Parem com isso. – reclamei exausta e ateei fogo no amontoado de restos de vampiro.

A loba virou-se rosnando para mim com a mesma agressividade que até alguns instantes era destinada a Cadence. Cheguei a acreditar que Leah me atacaria, mas de repente ela bufou e, apesar de relutante, começou a recuar para as árvores. Ignorei isso me lembrando de um problema mais importante.

– E então? – o desespero era nítido em minha voz e na minha expressão.

– Carlisle está vindo. – Candy respondeu tensa, mas relativamente tranquila. – Não vai ter problema? Digo, por causa do tratado.

– Claro que não. É uma questão de vida ou morte.

Ouvi pessoas se aproximando. Sam foi o primeiro a aparecer e seu foco era um só – a esposa caída inconsciente ao lado do grande abeto. Passou por nós como se não estivéssemos lá e de certa forma fiquei grata por isso. A dor transbordava nele, eu nunca vira antes alguém tão torturado assim.

– Emy? Emy? Emily meu amor, fica comigo, por favor! Por favor, por favor! Não me deixa! – Sam implorava aos soluços abraçando a mulher completamente imóvel.

Pela visão periférica vi alguns dos garotos chegarem, eles também pararam mantendo certa distância, boquiabertos.

Era impossível não me comover com aquilo, não me sentir culpada pela dor de Sam. Observei impotente ele tentando reanimar Emily de todas as formas em absoluto desespero, rapidamente as lágrimas se acumularam em meus olhos e desceram pelo meu rosto. Eu jamais conseguiria me perdoar se ela ou o bebê morressem. Levei uma mão ao rosto tentando disfarçar minha aflição, mas eu já chorava aos soluços.

– A culpa disso tudo é sua! – Leah gritou apontando para mim, avançando em minha direção.

– Leah, não é hora para isso. – Paul cortou com a voz dura.

– É hora sim! Essa sanguessuga vem aqui, destrói a vida de todo mundo e fica por isso mesmo?

Eu queria responder, mas não encontrei minha voz, de todo modo eu não conseguiria me defender. Afinal, eu tinha algum direito de defesa? Pelo menos engoli o choro para não dar mais esse gosto a ela.

Antes que Leah chegasse mais perto, Embry a deteve.

– Me larga seu imbecil! Essa sanguessuga agora vai acertar as contas comigo. – ela parecia mais feroz e perigosa agora do que quando estava em forma de lobo.

Silenciosamente Sam pegou Emily no colo e a carregou para casa. Ele parecia indiferente a todo o resto.

– Carlisle está a caminho. – consegui sussurrar quando ele passou por mim.

Sam assentiu uma vez e continuou seu caminho. Paul e Jared o seguiram.

– Chamou o médico pra quê parasita? Pra assinar o atestado de óbito? Rá! Olhem só como ela é gentil... Me larga Embry! To avisando, vai sobrar pra você!

Seth apareceu dentre as árvores, afobado e na forma humana. Logo em seguida veio Jacob. Eles olharam para mim com uma expressão que eu nunca tinha visto no rosto deles antes, uma mistura de medo, pena, horror, desespero, culpa... Ao ver Jacob, não me contive, voltei a chorar num misto de vergonha e culpa. Os dois correram na minha direção.

– Isso, agora corre pra consolar a morceguinha. – Leah provocou ácida.

Jake parou por um instante fuzilando-a com o olhar.

– Leah, já chega. Se tudo o que você pode fazer é piorar a situação então vá para casa.

– Isso é uma ordem, alfa? – ela ironizou.

– Pode ter certeza. – Jake respondeu rudemente.

Eu queria ficar por fora de todo aquele quadro doloroso, queria que o chão se abrisse sob meus pés e que ninguém nunca mais me visse para testemunhar minha aflição. Mesmo com a visão prejudicada pelas inúmeras lágrimas, vi Seth parado em minha frente completamente sem jeito, os olhos solidários e receosos mostravam que ele desejava me tranquilizar, mas não tinha a menor idéia de como fazer isso.

– Nossa, cara, não sei nem o que dizer... – começou.

Então Jake chegou passando Seth para trás.

– Me deixa falar com ela. – e a familiar voz rouca estava perto mais depressa do que eu podia imaginar.

Abri os braços e tombei para frente desabando no colo dele. Meu choro se intensificou, eu podia sentir todo o meu corpo tremer em seus braços.

– Nessie, por favor, não fica assim... O pior já passou.

– Jake. Foi horrível. – murmurei aos soluços.

Seus braços se estreitaram em minha volta, como se ele tentasse tirar tudo de ruim com seu abraço apertado e protetor, repleto de carinho, eu agarrei os ombros dele com força chorando sem parar.

– Por favor, Nessie... Não faz isso que eu fico desesperado. – murmurou ele perto do meu ouvido. – Me perdoa. Me perdoa. Eu não poderia ter deixado isso acontecer.

– A culpa não é sua Jake. Eu o trouxe até aqui. A Emily se machucou por minha causa. – enumerei aos soluços – Se algo acontecer, eu juro que eu...

– Shiii. Pára com isso. Não dê ouvidos à Leah. – interrompeu com a voz ansiosa, me puxando para mais perto dele, como se isso ainda fosse possível.

– Melhor parar de se torturar. – Candy murmurou um pouco distante. – Na verdade, se não fosse pela gente, Emily estaria morta agora.

Jacob segurou meus braços e olhou intensamente nos meus olhos.

– Isso nunca mais... Presta bem atenção! Isso nunca mais vai acontecer! Eu prometo que nunca mais vou deixar quem quer que seja te machucar. – dizendo isso ele me abraçou outra vez beijando minha testa.

Suas palavras fizeram com que eu me sentisse aquecida por dentro. Era tão mais fácil suportar estando nos braços dele, assim fui me acalmando aos poucos. Pensei por acaso que Jacob poderia e deveria dar apoio a Sam, cuja situação era bem pior do que a minha, mas não, antes disso ele preferiu gastar o tempo que fosse necessário me consolando. Suspirei grata.

– Carlisle chegou. – Jacob sussurrou e então puxou minha mão caminhando para o carro.

Fiquei alarmada ao notar a enorme mancha de sangue espalhada entre a barriga e o peitoral dele e só então minha mente trabalhou me fazendo reparar em meu próprio estado. Eu parecia uma personagem oriunda de um thriller de terror, completamente ensanguentada.

– Você se machucou Renesmee? – Carlisle indagou preocupado.

Fiz que não e estiquei a mão tocando o rosto dele. Mostrei o que aconteceu da forma mais breve que pude, estremecendo com a lembrança.

– Entendo. – Carlisle assentiu.

– Vá ver Emily. – disse Jacob, tornando o pedido quase uma ordem.

– Não se preocupem, farei tudo o que estiver ao meu alcance.

– Por favor, vovô. – balbuciei para as costas de Carlisle que era quase um espectro já entrando na casa.

– Seth, leve Renesmee e a amiga dela para casa. – ordenou Jacob elevando um pouco a voz.

– O quê? Não. – protestei.

– Nessie, vá para casa descansar, quando eu tiver notícias da Emily e do bebê, aviso.

Logo Seth já estava em nossa frente na expectativa de cumprir a tarefa que lhe fora designada.

– Jake...

Jacob franziu a testa para o meu início de argumento, então não prossegui, eu tinha de admitir minha exaustão, mais psicológica que física, é verdade, mas ainda assim me fazia querer desabar a qualquer instante. Era mais fácil enganar a mim mesma do que tentar enganar Jacob.

– Vai ficar tudo bem, meu amor. – Jake me pegou em um abraço, afagando meus cabelos. – Procure dormir um pouco.

Respirei fundo o cheiro de Jacob, ainda que misturado ao sangue de Emily, me ajudava um pouquinho a manter os sentimentos em ordem.

Passei as chaves do meu carro para Seth e ele nos levou de volta a mansão. A viagem foi silenciosa e repleta de apreensão, até Candy percebeu que não era hora para tagarelar. O cansaço me dominou, se eu pudesse dormiria ali mesmo. Encostei a testa no vidro fixando os olhos nas árvores que passavam cada vez mais rápidas por nós.

Pouco depois de cruzarmos a linha imaginária da fronteira, avistei um carro se aproximando em alta velocidade. Edward, eu pensei. O volvo prata freou em nossa frente cantando pneu e imediatamente meus pais saíram do carro.

Seth foi diminuindo a velocidade até parar no acostamento. Edward apareceu na janela como um espectro pálido na noite escura, o rosto rígido de tensão, abriu a porta e estendeu a mão para mim, aceitei e ele me puxou para fora me abraçando.

– Está tudo bem agora, meu amor. Nós vamos cuidar de você.

Depois foi a vez de Bella me abraçar, tão desesperada que se ela pudesse chorar, tenho certeza que o faria.

– Vocês não iam caçar? – perguntei e minha voz soou esquisita, ainda embargada pelo choro de poucos minutos atrás.

Deixei escapar um gemido insatisfeito ao constatar que eles interromperam a caça por minha causa.

– Podemos caçar outro dia, querida. – Edward murmurou interrompendo minha nova rodada de culpa.

– Voltamos assim que Alice ligou avisando. – Bella me embalou em seus braços frios. – Só de pensar naquele monstro chegando perto de você...

– Ele já está morto mãe. Quero ir para casa. – sussurrei exausta.

Entrei no carro com meus pais e Seth seguiu com Candy. Bella me aninhava no banco de trás enquanto eu mostrava tudo o que aconteceu, Edward podia ler em meus pensamentos.

– Pobre Emily. – mamãe gemeu quando eu terminei de mostrar tudo.

– Pobre Sam. – Edward acrescentou.

Mais torturantes minutos de silêncio se seguiram, senti que eu dormiria a qualquer instante, tudo para livrar minha mente daquele tormento pelo menor tempo que fosse. Antes que eu apagasse, um pensamento me puxou de volta à consciência.

– Peraí, vocês iam cruzar a fronteira? – indaguei num surto de lucidez.

Bella fez que sim, se endireitando no banco.

– A exceção ao tratado era apenas para Carlisle. – eu a olhei, aturdida.

– Sabemos disso. – disse Edward. – Mas somos seus pais, iremos aonde for preciso para protegê-la, Nessie.

Pensei sobre isso considerando minha imensa sorte. Além de Jacob, eu tinha uma família maravilhosa que era capaz de tudo por mim, nada seria tão difícil, uma vez que eu pudesse contar com eles. Isso de algum modo compensava os pequenos e grandes desastres que eu causava. Carlisle largou seus afazeres para correr até a reserva e atender Emily e o bebê. Meus pais estavam aqui, cancelando todos os seus planos para me apoiar e pior, prestes a quebrar o tratado com os Quileutes. Fora isso eu tinha uma vaga noção do clima na casa dos Cullen agora: todos tensos aguardando notícias.

E Jacob... Afundei o rosto no colo de Bella, me encolhendo. Deus sabe o que Jacob estaria suportando por mim agora. Todas as acusações, todas consequências que eu deveria arcar, Jacob preferiu enfrentar tudo em meu lugar. E eu deixei.

Na verdade não sei o que seria de mim sem todos eles ao meu lado.

– Obrigada – murmurei antes de vagar para a inconsciência.

Pisquei algumas vezes, desorientada. Avaliei o ambiente ao meu redor constatando que eu estava na mansão dos meus avós. Virei para o outro lado sem a menor vontade de levantar, aos poucos fui recordando flashes de um pesadelo bizarro. Levantei abruptamente da cama e senti minhas costas latejando, um tanto doloridas.

– Não foi um pesadelo. – bufei desabando na cama outra vez.

Chovia forte lá fora e com o tempo fechado ficava difícil saber se era cedo ou tarde. Duas batidas suaves na porta e meu pai entrou com uma bandeja cheia de coisas consideravelmente apetitosas, se tratando de comida humana.

– Três horas da tarde, dorminhoca. – sorriu.

Cobri o rosto com o travesseiro.

– Faço besteira e vocês ficam me mimando. Deveriam me deixar de castigo! – abaixei o travesseiro refletindo um pouco – Bem, tecnicamente eu já estou de castigo, então deveria ser um castigo duplo?

Edward riu baixinho e colocou a bandeja na cama, sentando ao meu lado.

– Castigo? Pelo contrário, estamos muito orgulhosos de você. – ele afagou meu rosto, a sinceridade transbordava de seus olhos agora escuros – Foi muito corajosa e forte, Nessie. E devo admitir, também fiquei surpreso com Candy, nunca imaginei que ela resistiria a uma tentação como aquela, até para um de nós requer muita concentração.

– É mesmo. Onde ela está?

– Lá em baixo. Agora coma. – ele empurrou a bandeja para perto de mim.

Examinei sem muito interesse e peguei um morango.

– Carlisle voltou? – perguntei subitamente ansiosa.

– Ele ainda não voltou. Também não temos novidades. – sussurrou ajeitando a posição da xícara em relação ao copo.

Não foi convincente.

– Se tivesse notícias me diria?

Edward deu de ombros.

– Se fosse bom para você saber.

Respirei fundo tentando manter a calma.

– Quero falar com minha mãe. – Bella me diria a verdade de qualquer forma, ela não sabia mentir.

– Bella não está. – contou perfeitamente calmo – Foi visitar Charlie, contar a ele a versão humana do acidente de Emily.

Ou ficar longe de mim para não entregar a verdade.

– Bem, isso é com você. – ele ergueu as mãos fazendo cara de inocente.

Estreitei os olhos avaliando-o. Se eu não conhecesse tão bem o talento de Edward para a interpretação confiaria nele cegamente, mas esse não era bem o caso.

– Ótimo! Eu precisava mesmo rever Charlie. – levantei disparando para o closet.

– Renesmee Cullen, esqueceu que ainda está de castigo?

– Argh! – grunhi batendo os pés no chão como uma criança mimada. – Jacob vai me contar a verdade.

– Espere por ele então. – recomendou cordialmente e deu um beijo em minha testa antes de sair do quarto.

Ah! Como eu odiava quando escondiam as coisas de mim. Dei um soco na parede, deixando um pequeno buraco na pintura.

– Droga! Espero que Esme não veja isso... – murmurei lamentando minha reação exagerada.

– Quer ajuda? – Candy apareceu com um sorriso travesso nos lábios. – Quatro punhos podem fazer o serviço bem mais rápido.

Girei me escorando na parede e tombando a cabeça para trás de braços cruzados.

– Não suporto essa ansiedade. – confessei.

– Desencana. Já fizemos o que podíamos o resto não é da nossa conta.

Arregalei os olhos olhando para ela sem acreditar no que eu ouvi.

Resto? – repeti incrédula. – São vidas que estão em risco, Candy.

– Pessoas morrem todo dia, Nessie. Agora, se resolveu bancar a mártir me avisa, pelo menos assim eu não desperdiço meu tempo.

Observei boquiaberta Candy atravessar o quarto numa velocidade humana. Agora essa, pensei. Tudo bem, ela me ajudou apenas naquele momento, esperar que Candy se importasse com os humanos já era demais.

– Não é que seja ruim, também não acho isso bom, – disse ela, parando em frente à porta – mas os Cullen te protegem demais e isso explica essa mania... De perfeição. Só que esse conto de fadas em que você vive não é o mundo real, Nessie... Talvez esteja na hora de aprender a lidar com as perdas. Hora de crescer. – completou com tom de sermão e saiu.

Pisquei algumas vezes digerindo aquilo e jurei para mim mesma que jogaria um vaso na cabeça da próxima pessoa que entrasse nesse quarto. Peguei meus fones de ouvido e me joguei na cama ouvindo qualquer música agitada num volume alto o suficiente para que eu não precisasse ouvir as conversas paralelas e comentários no andar de baixo.

Eu havia jurado de morte a próxima alma viva que invadisse meu espaço, então fiquei sem reação quando um ensopado e totalmente angustiado Jacob abriu a porta. A expressão torturada impressa no rosto dele logo me fez imaginar o pior.

– Ness – começou com a voz trêmula.

O queixo de Jacob se contraiu e ele não continuou. Seus braços tremiam.

Meu coração transbordou por ele, o que quer que tenha acontecido deixou Jake em pedaços e vê-lo, pela primeira vez, tão fragilizado me deixava desnorteada e acima de tudo me magoava profundamente.

Levantei depressa indo até ele e, sem mais cerimônias, Jacob entrou no quarto me abraçando apertado. Edward, Alice e Candy foram os primeiros a aparecer, se espremendo ao pé da porta. Excetuando Edward, os rostos eram confusos e especuladores. Meu pai assentiu para mim uma vez antes de fechar a porta nos dando privacidade.

Puxei Jacob até a cama, sentei e ele se aconchegou em meu colo como uma criança. Afaguei os cabelos molhados dele.

– Jake, o que aconteceu? – murmurei suavemente.

De certa forma eu sabia a resposta, embora preferisse ficar a parte disso. Era como tentar recuar e não conseguir mais, me deparando com um imenso muro de concreto - a verdade iria me acertar de qualquer jeito.

Cadence tinha razão, eu precisava aprender a enfrentar as situações difíceis por conta própria. Respirei fundo esperando a confirmação da tragédia.

Jacob ergueu o rosto para me olhar e suspirou pesado. Ele parecia exausto, como se pudesse desabar a qualquer momento, tive a certeza de que Jacob passara a noite em claro. Seus olhos se estreitaram e ele encarou o chão.

– Emily perdeu o bebê.

Perdeu o bebê. Isso significava que pelo menos ela ainda estava viva. Afaguei o rosto dele, tentando confortá-lo de alguma forma. Suas mãos ainda tremiam.

– E como ela está?

– Muito mal. Carlisle fez o que pode, agora só resta esperar e ver como ela vai reagir. – Jacob continuou murmurando de cabeça baixa, as costas encurvadas, como se ele tivesse envelhecido. – Mas essa não é a pior parte. – seus olhos lampejaram em minha direção, me encarando com intensidade – Sam está realmente péssimo. E compartilhar seus pensamentos... Passar pelo que ele está passando é excruciante, principalmente entre os garotos que sofreram imprin... – ele hesitou por um instante – Não posso deixar todos eles passarem por isso, Nessie.

Senti um nó se formar em minha garganta, meu coração vacilou uma batida, martelando descompassado em seguida. Dava para ver nos olhos de Jacob que aquilo não terminaria bem. Não consegui me livrar da obstrução em minha garganta. Deslizei a palma da mão pelo rosto de Jacob.

O que isso quer dizer?

– Vou assumir o lugar do Sam como líder da matilha, apenas por enquanto. – acrescentou rápido – De qualquer forma tenho que ficar com o bando até que Emily esteja bem e Sam possa retomar o comando. – Jacob respirou fundo, seu rosto entristecido estava com os traços endurecidos pela cólera. – Não vou poder ir com você para o Alasca, Nessie.

Senti meu mundo girar se direcionando para um lugar errado. Eu quis gritar, chorar, implorar a Jacob que ele não fizesse isso, contudo mantive meus dentes trincados para não fazer nenhuma besteira. Jake estava sofrendo tanto quanto eu por tomar essa decisão, não seria eu quem pioraria as coisas. Havia chegado o momento do qual, ironicamente, Candy a pouco falara. Hora de amadurecer.

Puxei Jacob para mais perto de mim abraçando-o apertado, ele aceitou o carinho afundando o rosto em meu pescoço. Respirei fundo lutando contra mim mesma, reunindo coragem. Eu queria e iria livrá-lo de toda aquela dor, nem que para isso acabasse deixando a minha de lado.

– Conta comigo, meu amor.  – encostei os lábios no ombro dele, procurando inutilmente dissimular a emoção, pisquei algumas vezes impedindo as lágrimas de se acumularem em meus olhos. – Juntos, vamos encontrar uma saída.


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