Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 15
Candy




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Caminhávamos pela praia de mãos dadas, como um típico casal apaixonado. Eu não tinha a menor idéia de quanto tempo estávamos assim, a única coisa da qual eu estava convicta era do meu desejo de que aquela noite nunca acabasse. Já havia escurecido quando descemos para cá e agora eu observava as ondas brancas contrastando com todo o resto, o mar em sua infinita escuridão quase se confundia com o céu, de poucas estrelas. Reparei comigo mesma o modo como La Push ficava ainda mais mágica à noite, o cenário parecia uma pintura, a companhia então, parecia um sonho.


– Em que está pensando? – Jake murmurou.


– Como a praia fica perfeita à noite. Principalmente estando com você. – completei meio segundo depois abraçando a cintura dele. Ergui o rosto para olhá-lo. – E você? No que está pensando?


Jacob fez uma careta perfeita, seus olhos faiscaram nos meus e ele parou de andar.


– Eu estava planejando te sequestrar e não devolver nunca mais. – respondeu em um tom que me soou incrivelmente sensual.


Precisei de mais tempo que o normal para conseguir balbuciar alguma resposta.


– Bem, eu acho...


E Jacob me interrompeu com um beijo. Eu simplesmente adorava quando ele fazia isso. Tão urgente, tão apaixonado, tão meu quanto eu era dele. Minhas mãos flutuaram até o rosto dele, deslizando pelo seu pescoço. Ele me apertou firmemente junto ao seu corpo me fazendo perder o fôlego.


– Eu acho – suspirei ainda em transe – que isso seria mais como uma fuga, já que você conquistou a autorização da sequestrada.


– Quer fugir comigo? – ele sugeriu em meu ouvido descendo em beijos pelo meu pescoço.


Dito daquele jeito, com aquela persuasão toda parecia uma proposta impossível de recusar.


– Fugir? – eu ri um tanto nervosa. – Para onde? Pra quê?


Ele afastou as mechas de cabelo que o vento forte atirava contra meu rosto e afagou minha bochecha me beijando devagar.


– Qualquer lugar desde que seja só você e eu. – Jacob respondeu, então pegou minha mão entrelaçando nossos dedos – Toda vez que você vem aqui dá vontade de parar o tempo, esquecer matilha, responsabilidades, essa coisa toda de lobisomens e vampiros. Sermos apenas nós dois. Jake e Nessie. – os olhos dele vagaram tristemente para o relógio em meu pulso, indicando que ele não havia escolhido aquela mão à toa – Mas pelo visto o tempo não está ao meu favor.


Segui o olhar dele até o relógio. Eram dez horas.


– Poxa Jake! – gritei alarmada lembrando meu suposto castigo – Bella vai ficar furiosa comigo!


– Tá vendo?– Jacob falou erguendo as sobrancelhas sugestivamente como se tivesse previsto minha reação. – Você já quer ir embora.


– Não é porque eu quero. Eu preciso.


Eu ia ficando mais nervosa à medida que imaginava o tamanho do sermão que eu teria de ouvir. Para completar, chegar a essa hora não ajudaria em nada no momento de contar que Jacob iria para o Alasca conosco. Tive de aplicar bastante força para fazê-lo andar dois passos a contra gosto.


– Passei quase o dia todo aqui, Jake. – gemi – Não seja ganancioso.


– Fazer o quê? Quanto mais eu tenho, mais eu quero. – ele sorriu malicioso me abraçando outra vez.


Pressionei meus lábios nos dele e o puxei de volta para casa.


– Se eu não voltar agora, não restará Renesmee Cullen para contar a história. Vem, me leva pra casa!


– E quem você é pra ficar me dando ordens? – ele ergueu uma sobrancelha, inquisitivo.


Espalmei minhas mãos no peitoral dele e fiquei na ponta dos pés para sussurrar bem perto do seu rosto.


– Eu sou a garota que mais te ama nesse mundo. – falei devagar – É o suficiente?


Um imenso e ensolarado sorriso surgiu nos lábios de Jacob.


– Com toda certeza! – disse e então inesperadamente me pegou no colo e saiu correndo em direção à floresta.


Deixei escapar um gritinho de surpresa, mas logo eu estava rindo com ele. Mesmo eu não sendo tão leve quanto aparentava, Jacob me carregava sem dificuldade alguma. Eu estava completamente segura e amparada nos braços dele. Jake também era mais forte do que aparentava, e olha que ele incontestavelmente aparentava ser forte, então... Sorri comigo mesma, satisfeita. Vantagens de namorar um lobo.


Eu poderia muito bem andar com minhas próprias pernas e acompanhá-lo, mas preferi aproveitar a breve viagem desfrutando do cheiro embriagante dele, da proximidade inevitável dos nossos corpos. Suspirei grata por saber que ficaríamos juntos assim para toda a eternidade. Bem, isso se...


– Jake, você já pensou em algum dia parar de se transformar? – perguntei.


Notei que quando falei a floresta imediatamente ficou em silêncio. Jacob bufou sacudindo a cabeça.


– Eu já pensei muito nisso! – disse ele dando ênfase ao muito – O que eu mais queria era me livrar dessa coisa toda de lobo. Não me parecia nem um pouco interessante a idéia de arrastar minha existência ao longo dos séculos. Era uma idéia assustadora, pra dizer a verdade. – confessou ele parecendo bastante franco. Suspirou e depois olhou para mim, com os olhos repletos de devoção – Mas graças a você eu vejo isso de uma forma diferente agora.


– Mesmo? Por que será? – murmurei ainda absorvendo suas palavras.


Entristecia-me saber que ele rejeitava isso. Eu adorava a parte lobo de Jake, de certa forma ela nos aproximava, nos ligava. Ambos éramos resultados da interferência dos vampiros no mundo humano.


– Eu não tinha motivo pra viver todo esse tempo, Nessie. Só agora eu entendo o porquê de tudo isso – ele gesticulou para si próprio com a cabeça, os lábios retorcidos em um meio sorriso – que aconteceu comigo. E sou grato. Quer dizer, se eu não fosse um lobisomem...


– Transfigurador. – corrigi.


Ele revirou os olhos. Reparei que já cruzávamos o bem florestado quintal dos Black, passando em frente à garagem-oficina de Jake.


– Que seja. Se eu não fosse assim, talvez nunca tivesse te conhecido. Ou ainda que conhecesse, não poderia te acompanhar. – ele me ergueu um pouco mais mostrando as diversas formas de acompanhar as quais ele se referia, e depois me apertou contra seu peito. – Com você eu vejo a eternidade tão nitidamente, Nessie.


– Não tem idéia de como é bom ouvir isso Jake! – fiz um carinho em seu rosto e ele fechou os olhos suspirando pesado, diminuindo o ritmo constante da corrida para um caminhar lento, ao contrário do seu coração que acelerava, batendo forte e descompassado. – Eu te amo exatamente do jeito que você é.


Apoiei minha testa na de Jacob e instintivamente os lábios dele encontraram os meus. Jake soltou meus joelhos e agarrou minha cintura antes que meus pés tocassem o chão, me mantendo suspensa. Meus dedos agarraram seus curtos fios pretos o puxando para mais perto de mim enquanto ele entrava na garagem, derrubando tudo que estava em cima do balcão e me apoiando lá sem interromper nosso beijo. Eu já tinha perdido a noção de tempo e lugar quando apertei minhas pernas em volta da cintura de Jacob e arranquei a camisa dele atirando-a em qualquer canto.


Nos olhamos por alguns instantes. Bem, senti Jacob olhando para mim, mas eu não conseguia tirar os olhos do abdômen definido dele. Não pude resistir ao ímpeto que levou minhas mãos a deslizarem por lá até seus ombros, o puxando para mais perto.


– É incrível como você não consegue disfarçar que é louca por mim. – Jake riu em meu ouvido e terminou beijando o meu pescoço.


Estremeci com o toque dos lábios dele.


– Jacob? – a voz de Billy trovejou como se ele estivesse na garagem conosco, me fazendo paralisar de vergonha – É você, garoto? – gritou provavelmente na soleira da porta dos fundos da casa dos Black, a julgar pelo modo como sua voz soava clara em minha audição aguçada.


Jacob bufou e depois depositou um beijo em meus lábios se dirigindo muito à vontade para a porta da garagem. Eu deveria estar vermelha como um pimentão, assustada apenas com a possibilidade de Billy nos encontrar daquela maneira. Examinei meu estado, ajeitando o vestido que estava um pouco mais curto do que deveria.


– Oi? – Jake disse com a voz afobada, projetando apenas o tronco para fora da garagem.


– Nessie está aí com você. – Billy supôs tranquilo, na certa ele já sabia a resposta. Havia certa censura em sua voz.


– Sim, por quê?


– Os pais dela passaram a tarde ligando para cá. – Billy resmungou nada à vontade com a situação.


Jacob virou o rosto para me lançar um olhar de alerta. Praguejei mentalmente. Eu estava numa encrenca bem maior do que imaginara.


Na mesma hora meu celular tocou dentro do carro de Jacob. Saltei imediatamente do balcão e voei de encontro ao velho Rabbit. Joguei-me no banco de trás alcançando o aparelho.


Era Edward. Fiz uma careta ao atender.


– Alô? – falei insegura.


– Renesmee, eu não vou perguntar o que você está fazendo em La Push até uma hora dessas. Vou poupá-la disso, ao menos pelos próximos trinta minutos. – disse Edward num sussurro pausado e feroz do outro lado da linha. – Apenas venha para casa. Agora.


– Tudo bem. – foi tudo o que eu consegui responder.


Olhei a tela do celular acusando vinte e três chamadas não atendidas e dei uma tapa na minha testa, irritada comigo mesma.


– Problemas? – Jake franziu o rosto, se inclinando na porta do carro para me ver.


Fiz que sim, suspirando tristemente ao guardar o celular na bolsa.


– Vem. Te levo pra casa. – chamou ele me estendendo a mão.


Jacob me levou para casa de moto, na intenção de chegarmos o quanto antes e eu fui rezando por todo o caminho para que não acontecesse uma tragédia naquela casa esta noite.


– Jake, é melhor você não entrar. – pedi, descendo da moto. – Na verdade, é melhor você ir embora daqui o quanto antes!


– Deixa de besteira, Nessie. É preciso mais do que meia dúzia de Cullens pra me meter medo. – brincou ele descendo da moto também.


– Jake, é sério. Por favor, deixa que eu me entendo com eles. Se você entrar só vai gerar mais discussões e eu estou muito cansada pra isso. – fiz um biquinho.


– Se a senhorita faz tanta questão. De qualquer forma minha hora de patrulhar já começou. – ele deu de ombros e se aproximou para me beijar. – Tenho contas a acertar com um certo sanguessuga, que atacou uma pobre semi-vampira indefesa, se você não lembra. – ele deu um meio sorriso.


– As palavras vampira e indefesa não cabem na mesma frase. – lembrei.


Ele revirou os olhos.


– Boa noite. – murmurou me puxando para um abraço – Qualquer coisa deixa um recado com o Billy que eu venho assim que puder.


– Espero que não seja preciso. – sussurrei fazendo um grande esforço para me afastar dele.


Respirei fundo e caminhei obstinadamente até a mansão dos meus avós. Varrendo da minha mente qualquer lembrança da tarde com Jacob, subi as escadas de dois em dois degraus e quando abri a porta, por um segundo, pensei estar no lugar errado.


Uma moça alta, com longos cabelos e olhos negros, pele morena clara perfeita e com um enorme sorriso estampado no rosto correu para me receber.


– Renesmee! Finalmente você chegou! – disse ela com bastante entusiasmo, me pegando de surpresa em um abraço.


Meus olhos arregalaram-se de espanto, enquanto eu recebia o abraço da estranha. Minha família estava reunida na sala em um semicírculo impecável, a maioria deles com o semblante apreensivo.


Gastei alguns segundos para reparar no batimento cardíaco acelerado dela e na temperatura do seu corpo, tão elevada quanto a minha. Meu queixo caiu ainda mais.


– Nessie, esta é Cadence. Irmã de Nahuel. – finalmente explicou Edward com uma voz baixa.


– Apenas Candy, por favor. – Candy sorriu para mim com os olhos brilhando de entusiasmo. – Olha só para você! É mesmo tão encantadora quanto disseram. E olha que falaram tão bem de você que eu tive que vir até aqui conhecer a famosa Renesmee Cullen! Sua família é maravilhosa, eles me receberam super bem enquanto você estava fora... – ela falava cada vez mais rápido.


Pisquei algumas vezes ainda assimilando aquilo. O que a irmã de Nahuel estava fazendo aqui?


– Oh, me desculpe. Você deve estar achando que eu sou louca. – Candy parou de falar, fazendo uma careta divertida.


– Um pouco. – concordei, checando mais uma vez a fileira de estátuas de mármore atrás dela. – Mas não faz mal, só preciso de um minutinho para me acostumar com a... situação? – agora foi minha vez de fazer uma careta.


Candy riu, uma risada delicada e agradável.


– Você é engraçada, Nessie. Gosto de pessoas bem humoradas. – assinalou sorridente – Acho que vamos nos dar muito bem!


A animação dela começou a me contagiar. A idéia de ter alguém para conversar, alguém que não fosse invariavelmente me julgar ou dar sermões, me pareceu tentadora. Candy era exatamente o que eu estava precisando e eu nem sabia.


Atravessei a sala me sentando no sofá.


– Pretende ficar na cidade por muito tempo, Candy? – Bella perguntou.


– Não sei ainda. – respondeu girando graciosamente e afundando na poltrona mais próxima. – Não quero incomodar vocês.


– Imagina, não é incômodo algum. – assegurou Esme gentilmente. – Temos muitos quartos disponíveis, fique conosco o tempo que quiser.


– Além do mais, sua presença me ajudará a aperfeiçoar meus estudos sobre os híbridos. – os olhos de Carlisle se iluminaram diante da possibilidade de entender melhor minha espécie. – Se você permitir é claro, não quero ser inconveniente.


– Tudo bem. Já estou acostumada a servir de cobaia. – Candy deu de ombros, e piscou para meu avô.


Os olhos de Edward estreitaram-se, curiosos, em relação aos pensamentos dela.


– Falando nisso, Johan sabe que você está aqui? – indagou com sua voz aveludada, um meio sorriso presunçoso enfeitando seu rosto.


– Não. Foi uma decisão de última hora. – ela respondeu indiferente mexendo nos cabelos.


– Eu que o diga! – Alice trinou lançando um olhar acusador para nossa mais nova visitante.


Sorri com uma satisfação um tanto perversa ao constatar que eu tinha saído do foco das discussões.


– Não pense que escapou Nessie. Ainda teremos aquela conversa. – meu pai avisou.


– E você ainda está de castigo. – emendou Bella. – Não sabe o quanto ficamos preocupados com sua segurança, filha. Se não fosse Billy eu teria sido capaz de quebrar o tratado e cruzar a fronteira atrás de você! – falou parecendo uma adolescente inconsequente.


Notei que Cadence estava intrigada com nossa conversa.


– Preocupados com o quê? Jacob estava comigo.


– Essa era minha maior preocupação. – Edward murmurou baixinho indo para a biblioteca. – Mais tarde pense sobre isso, estou muito curioso para entender o que houve.


Revirei os olhos e me levantei chamando Candy para subir comigo, ela manteria minha mente ocupada, assim eu evitaria pensar besteiras. Candy me seguiu prontamente.


– Então, por que você está de castigo? – sussurrou como se fosse coisa de outro mundo um casal de vampiros deixarem a filha de castigo. Bem, talvez fosse.


– É uma história complicada. – franzi os lábios decidindo não contar a ela sobre os lobos, pelo menos por enquanto.


Ela não insistiu no assunto, ao contrário, não hesitou em partir para outra pergunta.


– Esse Jacob é o seu namorado?


Parei na porta do quarto e virei para ela, suspirando com o encantamento que sempre me dominava quando eu ouvia o nome dele.


– Jake é tudo pra mim. – confessei abrindo a porta do quarto.


– Nossa! Seu quarto é incrível. – comentou admirando cada pequeno detalhe do cômodo.


Estranhei a facilidade dela em mudar de assunto.


– E esse aqui é o Jacob. – adivinhou pegando o porta-retrato com uma foto de nós dois.


Fiz que sim.


– Uau! Que gato, hein Nessie! Mas não parece um vampiro. – a última frase foi apenas um murmúrio decepcionado para ela mesma.


– Jacob não é um vampiro. – eu disse claramente, depois entrei no closet escolhendo rapidamente dois pijamas.


– Vocês pretendem transformá-lo? – quando voltei, Candy perguntou recolocando a foto no lugar como se estivesse me questionando sobre a compra de um par de sapatos.


Olhei para ela chocada.


– Bem, pensei que ele fosse tudo para você. – a expressão dela era encorajadora, na certa Candy imaginou estar dando um conselho genial. Mal sabia ela que, primeiro, Jacob já tinha a vida eterna, segundo, o veneno de um vampiro não poderia infectar o sangue dele em hipótese alguma. – Pensei que estivesse nos planos trazê-lo para o esplendor da vida eterna.


Seria bem mais difícil do que eu imaginei guardar segredos dela. Candy não era uma humana que acabou de descobrir a existência dos vampiros, pelo contrário, ela era muito prática nessas questões, conhecia os vampiros e meio vampiros talvez até mais do que eu.


– É. Jacob vai me acompanhar na vida eterna. – me esquivei da pergunta dela e tentei sair do assunto, por mais que eu adorasse falar de Jacob, continuar nessa conversa era serpentear perigosamente em volta do segredo dele – E você, Candy, tem alguém de quem você goste em especial?


– Claro! Se eu chegasse aos vinte e sete anos sem gostar de ninguém eu seria um monstro sem coração! – ela riu e sentou-se na cama.


– Então você é a mais nova da sua família. – conjecturei.


– Aham. Johan é complicado de lidar, super protetor, como o seu pai Edward. Até alguns anos atrás nós tínhamos que ficar longe de qualquer vampiro, para não descobrirem nossa existência... – ela mexeu no cabelo, pensativa – Sendo assim, tínhamos que nos divertir com os humanos mesmo, se é que você me entende.


Corei ao entender o tipo de diversão ao qual ela se referia.


– Nessie, por que você corou? Não me diga que você ainda é virgem... – minha expressão mal disfarçada me entregou na mesma hora. – Ai! Que fofinho!


– Tudo bem, tudo bem. – sacudi as mãos nervosamente para que ela parasse com aquilo, era constrangedor demais discutir minha vida íntima, não importava com quem fosse – Continue a sua história.


Candy sorriu angelicalmente e atendeu ao meu apelo.


– Acontece que os caras que eu e minhas irmãs escolhemos para passar o tempo não passam da primeira noite e...


– Peraí! Vocês... Os matam?


Ela me encarou como se aquilo fosse óbvio.


– Infelizmente ainda não tenho o autocontrole do meu pai. – murmurou sarcástica. – De qualquer modo, são só humanos. – ela deu de ombros.


– Olha, Candy, eu sei que você está acostumada a se alimentar de sangue humano, até entendo, mas não acha que você poderia experimentar algo diferente, tipo comida normal ou sangue de animais.


– Eca! – ela franziu o rosto. – Nessie, você tem pena dos alces na hora que está caçando?


– Claro que não. – respondi rápido sem entender aonde ela queria chegar.


– Então. – ela ergueu as sobrancelhas sugestivamente – É só uma questão de ponto de vista.


Lógico. Cadence foi criada para achar essa prática natural, não seria o meu discurso que a faria mudar de idéia. Mas isso não significa que eu não poderia tentar.


– E você nunca pensou em rever esse seu modo de vida? – contornei a cama me sentando na outra ponta. – Sei lá, sobreviver sem roubar vidas inocentes.


Os seus olhos escuros se estreitaram e de repente foram tomados por um brilho apaixonado que eu não consegui identificar a origem.


– Eu já ouvi isso. – os lábios dela se curvaram sugerindo um sorriso, mas logo ela parecia melancólica – Agora eu entendo porque o Nahuel gostou tanto de você.


Concluí que Candy ainda estava ressentida pelo sofrimento, causado por mim em Nahuel. Antes que eu dissesse algo para me justificar ela se endireitou na cama e sorriu exibindo seus dentes perigosamente afiados.


– Então façamos um acordo! – Candy exclamou animada – Enquanto eu estiver morando com vocês vou seguir exatamente a mesma dieta que a sua. Assim não podem dizer depois que eu não tentei ou estava fazendo pouco caso da vida humana que vocês tanto prezam.


A expectativa impressa no rosto dela me fez temer a existência de uma condição.


– É uma ótima idéia. Porém...?


Candy sorriu satisfeita por eu ter me antecipado na negociação.


– Porém, você tem que me prometer uma coisa.


O seu tom era mais de exigência do que de acordo, confesso que isso me assustou. Prendi a respiração, vendo pela primeira vez Candy como uma possível ameaça. Franzi os lábios, incapaz de imaginar alguma promessa que fosse de proveito para ela, afinal, nós mal nos conhecíamos.


Examinando minha falta de reação Candy recomeçou.


– Em troca eu quero que você me prometa nunca mais se envolver com Nahuel. – falou extremamente séria.


– Isso? – suspirei teatralmente não disfarçando o alívio que se apoderou de mim.


– Exatamente. – suas sobrancelhas escuras se uniram repreendendo meu descaso. – Prometa que não vai ficar com Nahuel, mesmo que ele te procure, ainda que ele implore de joelhos – ela ergueu a mão me impedindo de falar – Até mesmo se algo der errado entre você e Jacob.


– Não vai dar nada errado entre mim e Jacob! – protestei.


– Claro que não. Só estou checando todas as possibilidades, para garantir. – Candy piscou.


– Não se preocupe com isso. Garanto que eu não vou namorar Nahuel de novo, nem mesmo se ele for o último da minha espécie!


– Na verdade ele já é o único da nossa espécie. – Candy corrigiu, se segurando para não rir.


– Ih! É mesmo!


Nós duas rimos juntas por um bom tempo, até que Cadence recuperou o fôlego e me estendeu a mão.


– Temos um acordo?


Aceitei a mão dela, ainda sorrindo.


– Feito.



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