PVD Hermione

Eu não sei, mas parece que ultimamente minha vida tem se  resumido a “aulas” e “ala hospitalar”.

Então eu me pergunto: Por que mesmo?

Por acaso eu sou alguma garota com problemas mentais que precisa constantemente de apoio psiquiátrico, ou com alguma deficiência física?

Não!

Eu sou é uma imbecil que precisa tomar vergonha nessa fuça e parar de ocupar o lugar de algum pobre infeliz que COM CERTEZA precisa mais dele do que eu.

Assim que acordei, levantei-me de imediato e calcei minhas sapatilhas. Olhei para o lado e só então notei o loiro que dormia tranquilamente envolto pelo cobertor tipicamente branco. Um pequeno sorriso apareceu em meu rosto – não me perguntem por que - sorriso este que mandei prontamente à merda.

Bom, ele também estava ocupando (desnecessariamente) uma cama, certo?

Aproximei-me do garoto, até minha boca estar próxima o suficiente de seu ouvido e...

“ACORDA DONINHA!” o acordei com o máximo de sutileza que pude reunir no momento.

O coitado rolou pela cama e se estatelou no chão, todo aberto, parecendo um pateta.

O que vocês acham? Eu não sou de ferro, minha gente... Gargalhei até meus pulmões implorarem por misericórdia.

O garoto já estava vermelho de fúria, fato este que não ajudou de maneira alguma a cessar meu ataque de felicidade. E minha ação só piorou ainda mais sua raiva. Em um ato de completa sensatez e maturidade, Malfoy acenou com a varinha em direção a um copo cheio de alguma poção escarlate. Como meu raciocínio está ficando cada vez mais lento, demorei a perceber que “dois mais dois são quatro”.

O cretino despejou todo o líquido estranho na minha cabeça, até a última mísera gota.

Nenhum de nós abriu a boca. Bom, isso durante uns cinco segundos, é claro.

“HAHAHAHAHAHAHA!” Malfoy abriu o berreiro, apontando seu dedo albino para mim. “Você tá ridícula, Granger... HAHAHAHAHA!”

Passei os dedos lentamente pelo rosto, rogando por muita calma e paz na minha vida. Hermione, não vale a pena. Se você revidar nesse exato momento, você será punida. PUNIDA. Fique na sua, ignore o jumento loiro e conjure um feitiço para limpar seu rosto. Simples.

Apanhei minha varinha que estava em cima de uma mesa, bem ao lado da cama. O garoto parou seu ataque de loucura subitamente. Hum, deve ter ficado com medo. Coitadinho...

UMA OVA! TEM QUE IMPLORAR POR PIEDADE, ISSO SIM!

Pronunciei o feitiço calmamente e percebi que tinha dado certo – nossa, que surpresa!

Guardei minha varinha no cós da minha saia e segui rumo ao Salão Comunal.

“Granger?...” Ouvi a voz de Malfoy ao longe. Nem me dei ao trabalho de olhá-lo. Ele que volte a gargalhar feito um porco. Ah, e que se afogue com a própria saliva, por favor.

Disse a maldita senha e fui arrumar meus materiais. Chequei o horário e descobri que faltavam trinta minutos para o café da manhã. Bom, acho que o banheiro está vazio a uma hora dessas.

Após tomar um rápido banho e me vestir adequadamente, fui ao Saguão Principal. Muitos alunos já se encontravam em seus respectivos lugares, entre eles Harry e Rony cretino. Oh, e a – não menos cretina – Lilá Brown.

O que está acontecendo por aqui meus senhores? Eu fui substituída? É sério?

Para minha glória, o assento ao lado esquerdo de Harry estava desocupado. Há-há, pelo que vejo a coisinha não deseja fazer parte do “Trio Maravilha”, ela quer simplesmente roubar meu namorado. Só isso, certo? Obrigada Brown! Grande consideração de sua parte! Fiquei mais aliviada com isso!

Hiena oxigenada.

“Bom dia!” Cumprimentei por onde passava. “Bom dia, Harry.” Sentei-me ao seu lado.

“Mione!” Ele pegou minha mão. “Você está bem?” Ele parecia preocupado.

“Estou...” Respondi confusa. Oh, céus, você estava na enfermaria Hermione... “Ah, eu realmente estou bem Harry. Foi só um mal-estar passageiro.” Tentei soar o mais natural possível. E não corar. Merda, eu corei.

Ele continuou a me encarar. Então, disse por fim:

“É o Malfoy, não é Mi?” Ele estava com o rosto sério.

“Hein?” Eu o fitei confusa.

“Ele está sugando sua vitalidade, dia após dia... Lentamente...” Seu olhar se tornou vago. Eu fiquei com medo. “Ela se vangloria na desgraça dos outros... ela transforma sua tristeza na alegria dela... ela ri da sua queda e, muito prestativa, ainda te ajuda a cair novamente, só para tornar esse momento mais inesquecível... Ela ...”

“Harry, querido?” Ele volta seu olhar para mim. “Eu sinto muito por tudo que você tem passado, meu amigo.” Pus a mão em seu ombro, num gesto de solidariedade. “Saiba que estou aqui e compartilho de sua dor, certo?” Sorri.

Ele acenou afirmativamente e voltou a comer, ainda um pouco perdido nas tristes lembranças.

Peguei uma das minhas amadas tortinhas e levei à boca.

“Oh, Rony!” Paro o doce a centímetros de seu destino, ao escutar a risada nojenta daquela... garota.

Viro-me e vejo Rony (garoto sem noção do perigo que o ronda) tentando comer seu café da manhã, enquanto Lilá se pendura em seu braço e exibe toda aquela arcada dentária (que está com os dias contados se o rumo dessa história seguir assim).

O coitado até parecia angustiado, cheguei a sentir um pouco de pena dele.

MENTIRA! Que ele morra de abstinência! Que os tímpanos dele estourem!

Ele me lançou um olhar penoso, o qual prontamente ignorei. O problema é dele! Homem mais sem atitude!

É claro que por dentro eu estava me remoendo de raiva – e de tristeza, admito – porém, cansei de chorar pelos cantos. Estou farta de sofrer por um garoto que nem tem capacidade de expor suas opiniões e deixar claro de uma vez por todas quem é namorada dele.

Voltei a me concentrar em minha comida e procurei esquecer os problemas mal resolvidos.

Ao final da aula de Feitiços, tive uma conversinha em particular com o professor Flitwick. Minha detenção seria à noite, eu teria que organizar alguns livros da Biblioteca. Isso não foi nem de longe o que eu chamaria de “detenção”; acho que ele, sendo a alma bondosa que é, se compadeceu pelas minhas sinceras desculpas pronunciadas. Logo depois, segui rumo à aula de Runas.

Caminhando pelos corredores de Hogwarts, avistei uma cabeleira loira em meio à multidão de alunos. De súbito lembrei-me de nossa “trégua” na Ala Hospitalar. O que consequentemente fez-me recordar do por que eu estava naquele lugar e, sendo assim, lembrei-me...

Não, não, não! Não me lembrei de nada. Fim.

Continuei andando, mas a atitude supostamente... “amigável” de Malfoy continuava me perseguindo. Quer dizer, foi amigável, certo? Será que eu não devo dar uma chance a nós dois? Por favor, no sentido “amizade” da coisa. Bem, não que isso seja algo fácil e natural, mas... Enfim! Pelo menos acredito que não seja impossível.

Ok, risque amizade. Vamos tentar um simples “trabalho em equipe”.

Saí da sala de Astronomia com uma dor de cabeça cretina. Preciso dizer de quem é a culpa? Acho que não... É daquela maluca que chamam ingenuamente de professora!

Volte logo, professora Sinistra... Volte logo...

Ai! Triste hora em que escolhi Astronomia para estudar... Por que eu fiz isso Merlin? Por quê?

Graças a um surto de bondade no coração de Merlin, a hora do almoço não demorou a chegar. Não que eu estivesse cansada de estudar, é óbvio, mas... Bem, eu tinha uma maldita missão para cumprir.

Caminhei em passos rápidos, aproximando-me de uma das árvores que faziam parte do vasto terreno de Hogwarts.

O garoto estava encostado despreocupadamente nela, com os olhos fechados.

Respirei fundo e pus uma expressão serena no rosto. Ele, percebendo minha presença, abriu lentamente os olhos.

“Que seja.” Ele arqueou uma sobrancelha. “Vamos fazer do seu modo. Eu...” Dei um suspiro resignado. “Aceito as aulas.”

Malfoy lentamente abriu um sorriso sarcástico.

Oh céus... O arrependimento chegou cedo de mais.