A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

"- É aqui Rose. Bem vinda a sua nova casa."



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No dia seguinte, Abe me acordou cedo. Tudo bem, iriamos ter de ir de carro até cidade misteriosa, e ele queria chegar antes do anoitecer, para evitar possíveis encontros com Strigois. Mas eu ainda não tinha me recuperado da noite anterior, e meu mau humor deixava isso bem evidente.

- Ninguém mandou chegar tarde. Eu te avisei, Kiz.

Bufei tomando um gole do chocolate quente que ele providenciou para mim. Um dos guardiões de Abe fazia o check out, enquanto esperávamos Pavel chegar com o carro. Admito: sonhei com o deus Russo chamado Dimitri. O cara tinha esse tipo de magnetismo difícil de ignorar. E o cheiro do pós-barba dele me seguiu até depois do sonho. Quando eu acordei, jurava que ele estava no quarto comigo, mas era apenas meus sentidos me pregando uma peça.

- Fica quieto velhote. – ele riu, mas vi seu descontento quanto ao apelido que lhe dera – Me diz, pra onde estamos indo? Já estamos aqui mesmo, não vejo problema em você me dizer o nome da cidade. Ou da família que vai me abrigar ou sei lá!

- Hum... Tudo bem. – Abe sorriu de canto e me olhou. – vamos para Baia, uma pequena cidade há algumas horas daqui. E você ficará com os Belikov. Yeva era uma ótima guardiã, e apesar de ter se afastado, ela continua letal.

- Ela se afastou? – exclamei surpresa – por que ela faria isso?

- Não é pra mim que tem que perguntar isso. É pra ela. Todas elas.

- Pera ai, o que você quer dizer com todas elas?

Ele suspirou pesado e um tanto impaciente. Nosso carro chegou e Abe abriu a porta para que eu entrasse primeiro.

- Rose, deixe para descobrir por você mesma. A vida deles é diferente, muito diferente.

- Elas não são... ai meu Deus! Não diga que elas são?

- Não, os filhos de Olena são todos do mesmo pai. Um idiota, reconheço. Mas não, Rose, você não esta indo para a casa de Meretrizes de Sangue. Elas trabalharam como guardiãs, e as filhas se formaram como tais. Mas... é complicado. Além do mais, você é a aventureira aqui. Não vou te falar mais nada.

Revirei os olhos e afundei no banco. Essa viagem seria longa.

- Rose? Chegamos.

Abe balançou meus ombros gentilmente para me acordar. Eu havia dormido quase a viagem toda, e me sentia bem melhor com o sono quase recuperado.

- Isso é Baia? Velhote, Baia está mais para uma aldeia que uma pequena cidade!

Tudo bem, eu estava exagerando. Não era, realmente, uma cidade grande, mas também não era do tipo ‘caipira’. E tinha até que bastante gente. Muitos humanos. Era fim de tarde, e o centro, assim imagino que seja, estava movimentado, as pessoas indo do trabalho pra casa. Havia bares, restaurantes, e pude ver a torre de uma igreja ao longe. Confortável. Mas não era algo com que eu estivesse acostumada.

- E será ótimo pra você, Rose. Um lugar menor, com menos distrações. As chances de você se meter em confusões são menores. Embora nunca nulas. Você parece ter um imã que te atrai para os pontos de encrenca.

- Hey! Eu não tenho culpa se estou sempre no lugar errado na hora errada!

- Claro que não.

O motorista dobrou algumas ruas e chegamos a uma área residencial. Ele estacionou em frente a uma casa de dois andares e de aparecia bem familiar. Havia alguns brinquedos na área da frente, indicando que ali havia uma criança – ou mais. Eu não lidava bem com crianças. Isso eventualmente poderia ser um problema.

- É aqui Rose. Bem vinda a sua nova casa.

***

Os Belikov tinham uma casa bonita e, como eu havia pensado, familiar. Fotos por todos os cantos, brinquedos na sala, e um cheiro de comida que me deixou com mais fome do que estava. Quem nos recebeu foi uma mulher que não devia ter mais de 30 anos. Ela pediu desculpa pela bagunça feita por seu filho, Paul, e nos guiou até a cozinha, onde uma mulher mais velha, terminava de lavar a louça. Tudo era bem organizado e limpo, e por um instante me peguei pensando se minha vida, um dia, poderia ser assim.

- Mamãe, o Sr. Mazur e sua filha estão aqui.

Ela se virou e me surpreendi pelo carinho que havia em seus olhos castanhos, que por algum motivo me pareceu familiar. Ela deveria ter uns 40 anos mais ou menos, tinha os cabelos cor de chocolate, como a filha, e possuía uma aparência extremamente agradável. Decidi que eu iria gostar dela. Era do tipo impossível de não se gostar.

- Ah, você deve ser Rosemaria Hathaway. – meu coração se apertou quando ela se precipitou para me abraçar com tom todo maternal – Eu sou Olena Belikova. Sua nova família por um ano!

Isso seria muito interessante.

- Olena, espero que não seja uma péssima ideia deixar Rose com vocês... Sabe, ela não esta aqui para ser paparicada.

- Abe! – retruquei, mas Olena riu. – Ignore ele, sra. Belikova. É um velhote reclamão.

- Sr. Mazur, pode ficar tranquilo. Rose terá seu treinamento, como deseja, mas será bem tratada. Ela ficará conosco por um bom tempo, nada mais normal que nos tornemos sua família.

Abe bufou, e não saberia dizer se ele estava contente ou não. Abe era um mistério para mim, e esperava que continuasse assim. Não sei se estava à vontade ou não com essa ideia de ter um pai presente.

- Então, Olena, espero que me ligue reclamando depois.

- Nossa, obrigada pelo voto de confiança, papai.

- Se confiássemos em você, você não estaria aqui, Rose. Então trate de fechar essa matraca.

- Ai! Essa doeu. E olha que estava começando a gostar de você!

- Tudo bem, tudo bem! – Olena interferiu batendo palmas para nos dispersar, e mantinha o sorriso no rosto  - Rose, onde estão as suas malas? Viktoria vai te mostrar onde você vai dormir.

- Estão no carro. – Abe respondeu antes que eu pudesse pensar – Pavel, pode ir busca-las?

- Sim, senhor.

- Rose, Karolina vai te mostrar onde você vai ficar, enquanto isso eu converso com Abe.

Eram palavras gentis, mas que não davam espaço para contestar. Karolina sorriu para mim no mesmo momento que um garoto de uns 10 anos corria para abraça-la pela cintura.

- Mama!

- Rosemarie, este é Paul, meu filho. – explicou ela com nítido orgulho.

Ele era bem parecido com Karolina, cabelos castanhos cor de chocolate e compridos, abaixo da orelha, quase chegando aos ombros. Os olhos eram bem escuros também, mas se fosse como o do resto da família, sabia serem castanhos. Tinha um sorriso muito bonito e cheio de dentes brancos, alguns sendo de leite ainda.

- Oi Paul!

Não sabia se deveria dar a mão para cumprimenta-lo, se deveria abraçar ou dar um beijo no rosto. Então, optei por simplesmente dar um tchauzinho tímido. Ele continuava abraçado a mãe, mas pelo olhar curioso que ele me deu, sabia que ele não era do tipo tímido.

- Você já matou Strigois?

- Paul, isso não é assunto para a sua idade. Nem para se fazer agora. – ela deu um beijo em sua cabeça e deu tapinhas na bunda dele – vai tomar banho, hoditʹ !*

- Até depois, Rosemarie!

- Rose. – disse antes que ele saísse – Por favor, me chamem de Rose.

- Depois me conte tudo sobre matar os vampiros de olhos vermelhos, Rose!

* ‘anda’ em russo.

Ele riu quando Karolina fingiu correr atrás dele e subiu as escadas correndo. Logo depois ouvir uma porta se fechar. Karolina riu e segui para a escada, comigo ao seu encalço.

- Paul é uma figura. Parece muito com o tio na aparência. E às vezes na forma de agir também. Só é um pouco mais animado que ele, Paul não para quieto!

- Tio? – chegamos ao segundo andar e ela virou-se para a esquerda.

- Sim, o Misha. Somos quatro irmãos. Além de mim e Misha temos a Sonya e Viktoria.

- Nossa, é uma família grande.

- É... – ela sorriu saudosa e abriu uma porta pra mim – Misha está fora, trabalhando, mas acho que chega este final de semana. Viktoria está na Academia ainda, mas está passando as férias conosco. Este será o seu quarto.

Era um quarto simples e confortável como toda a casa. Tinha duas camas, e me perguntei com que dividiria o quarto.

- Era o de Misha. Mas agora é da Viktoria. Quando ele vem passar um tempo aqui eles dividem o quarto. Vik é apaixonada pelo irmão. Ele viaja e conhece muitas pessoas e luta. Tudo o que ela queria ser.

- Quando ela se formar poderá ter tudo isso... – eu sorri me sentando numa cama, a mais próxima da janela.

- Não na verdade. Vovó é bem radical neste assunto. Pode parecer até um pensamento machista da parte dela, mas ela acha que os homens devem sair de casa, as mulheres ficam para espera-los e cuidar de tudo. Mas ela faz questão que completemos o treino. Que ganhemos a marca. Segundo ela, temos que saber nos defender, defender a família e a cidade onde moramos. Mas nunca a um outro Moroi em uma cidade estranha.

Era uma discussão válida. Recentemente havia muita discussão sobre os damphiros servirem os Morois. Discussões bem acaloradas, devo dizer. Eu não me importava em proteger Lissa. Era por ela que eu vinha treinando e por ela que eu me formei. Eu queria protege-la sempre, e estar longe dela me matava. Mais tarde, quando estivesse sozinha, eu abriria a mente e iria visita-la.

- Com licença – Pavel entrou no quarto carregando minhas malas (duas no total) e as deixou no pé da cama onde eu me sentara. – Srta. Mazur, seu pai está indo embora e quer se despedir.

- Okay, obrigada Pavel. – me levantei e o segui ate as escadas – e você quer parar de me chamar de ‘srta. Mazur’? Está começando a me irritar pra valer.

Ele riu e não me respondeu.

- Ah, sim, ai está ela. – Abe estava esperando, a porta da frente já aberta. – Rose, eu já estou indo. Vamos passar a noite no hotel e sair bem cedo amanhã. Já anoiteceu e não quero me arriscar na estrada há essa hora.

- Beleza, velhote.

Ele segurou meu ombro e me olhou fundo nos olhos, com seriedade.

- Rose, eu te peço, aproveite a estadia aqui. Não faça nenhuma besteira e não desperdice o que essa família tem a te ensinar. São ótimas pessoas e que tem muito a te oferecer.

- Tá, pode deixar.

- Eu estou falando serio, Rose.

- Eu também. Gostei deles, velhote. Mesmo. Não vou estragar tudo.

- Confio em você.

Eu não disse nada. Ele confiava em mim? Mesmo? Eu havia dando motivos pra ninguém cofiar em mim há muito tempo, e esse cara me conhece a dois, três dias e confia em mim? Ele é maluco mesmo.

Abe se foi, e com ele todas as minhas esperanças de voltar para a América. Os Belikov poderiam ser uns amores, mas eu ainda queria a minha vida de volta.

***

Viktoria, a irmã mais nova, chegou pouco tempo depois. Eu estava na cozinha, conversando com Olena. Ela havia feito um tipo de pão preto que era uma delicia.

- Misha adora esse pão. Tive que ensiná-lo a fazer, eu fazia uma receita e ele acabava com ela em menos de um dia! – rimos enquanto eu comia mais um pedaço. Era esse pão que deixou a casa toda cheirosa quando cheguei. E eu estava morrendo de fome. – E pelo visto ele ganhou uma concorrente. Você parece comer tanto quanto ele. E não se sinta envergonhada por isso! Você está magrinha, tem que comer mesmo e engordar!

Eu ri com vontade. Tudo bem, eu estava em forma, e tinha um corpo que inveja muitos Morois e até mesmo daphiros, mas ai me chamar de magra era sacanagem.

- Vamos dar um jeito nisso com você aqui!

Eu ia responder quando a porta da frente bateu.

- Mama?

- Na cozinha, Vik! – Olena gritou e logo em seguida uma garota pouco mais nova entrou na cozinha. – Vik, está é a Rose. Ela quem vai dividir o quarto com você. Rose, esta é minha filha mais nova, Vik.

Viktoria deveria ser uns dois anos mais nova que eu, no máximo. Os cabelos compridos eram no mesmo tom que todos ali, mas havia fios dourados, que eu tinha certeza que não eram naturais. Os olhos castanhos brilhavam, e quando ela me levantei ela me abraçou.

- Nossa, estava louca pra te conhecer!

- Ual... Bem... obrigada.                                                                      

- É serio! Você é a filha da Guardiã Hathaway, não é? Ela foi à academia uns meses atrás, estava a trabalho por aqui e a diretora a chamou junto com o parceiro para uma palestra – Ah que ótimo, sou conhecida por que sou a filha dela. – E eu estava louca para conhecer a filha dela. Me disseram que você era tão incrível quanto ela! É verdade que você ganhou uma tatuagem antes mesmo de se formar!?

- Okay, Viktoria! – interrompeu Olena com um olhar severo. Eu me segurava para não ri – cadê sua avó e sua irmã?

- Estão chegando. Sonya quis parar no mercado e comprar sorvete. O humor dela está péssimo. Como sempre.

- Deixe-a, Vik! Logo o bebê nasce e sua irmã volta ao normal.

- Esse logo tá demorando demais.

Assim que Vik concluiu a frase, mais uma vez a porta da frente se abriu. E uma conversa em russo se seguiu até a cozinha onde estávamos. Uma moça, com uma grande barriga de gravida, e uma senhora pareciam discutir. Olena entrou na conversa, com um tom afável que imagino estar defendendo a filha. Vik riu e revirou os olhos.

- Vem, vamos para o quarto. Essa discussão vai durar ainda... – Vik me pegou pela mão e subimos para o quarto que agora seria nosso. – Meu irmão terá que se contentar em dormir em outro lugar. Por que agora quem vai passar a noite toda acordada contando dos seus feitos será você, Rose.

Me sentei na cama, e sorri revirando os olhos. Viktoria era uma pessoa alegre por natureza. E me parecia uma boa garota. Já sabia que iria gostar dela.

- Meu irmão chega no sábado, provavelmente. Ele tem tantas histórias legais pra contar! Muito modesto, sempre. Mas ele é incrível, Rose! Vai adorar conhece-lo! Se quiser, eu te empresto ele um pouquinho. Pra você eu deixo...

Eu ri, com sua insinuação, e me odiei por lembrar-me de Dimitri e todo a sua gostosura no bar.

- Ah, Vik, eu estou aqui pra ser colocada na linha, como minha mãe mesma disse, e meu pai adorou me lembrar. Não para arranjar namorado.

- Ser colocada na linha? – ela riu e sentou na cama dela, ficando de frente pra mim – Rose, me desculpa, mas você está ferrada. Vovó Yeva não vai te dar trégua. E com Misha vindo... meu Deus. Você vai voltar mais foda que antes. E agindo feito um anjo! Esses dois juntos...

Eu arregalei os olhos. Estava ferrada. Ferrada não, morta!

- Não se preocupe. Apesar de tudo, você vai [i]adorar[/i] eles. Eu acho que mais meu irmão que vovó, mas logo você começa a gostar dela também.

Eu sorri, ainda um pouco nervosa. Esperava que Vik estivesse certa. Eu realmente esperava. Não ia gostar de, de repente, estar em um tipo de treinamento militar. Não mesmo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da Rose com os Belikov?Han?? COMENTEM!!


Enquanto isso, spoiller - correto! - do 7:

"- Velha louca! – reclamei pra mim mesma quando podia ver a casa a alguns metros adiante. – Pirada da cabeça. Me fazendo de idiota esse tempo todo!"