A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

"- Vodca é vodca. O que teria de diferente nessa?
Ah, é. Era vodca Russa."



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- Rose, você está igual um elefante.

Ignorei seu comentário. Estávamos voando há mais de dez horas e não dirigi a palavra a Abe uma vez sequer. Para fugir da conversa, dormi a maior parte para recuperar a noite perdida. Em compensação, ele me dirigira provocações que ferviam meu sangue toda vez que me via acordada. Usei todo o autocontrole que eu não tinha para não esganá-lo ali mesmo. O fato de ele ser Moroi e possivelmente meu pai – eu ainda não acreditara completamente nisso – me faziam pensar duas vezes. Isso e a presença constante do guardião dele, Pavel. O cara era grudado com ele ou o que? Era um avião, pelo amor de Deus! E era dia, esperava que, o que? Algum Strigoi aparecesse?

- Que foi? – desafiei o guardião, quando percebi seu olhar fixo em mim. Talvez sua preocupação não seja os strigois... É o cara era esperto.

- Rose, você quer, por favor, conversar comigo? – mais uma vez, Abe tentava iniciar uma conversa. Mais uma vez eu ignorava. Agia como uma criança, yeah. Mas eles estavam me tratando como um também. – E se eu te disser que tenho um presente?

Ergui uma sobrancelha. O velho agora ia fazer subornos? Estava tão desesperado assim?

- Vamos Rose...

Com um suspiro, me virei na poltrona, ficando de frente a ele. Ele tinha uma mala ao seu lado, que eu não havia reparado antes. Era grande, preta e parecia pesada.

- Fala, velhote.

Ele torceu o nariz. Odiava que o chamasse assim. Odiava estar nesse avião, então estávamos quites.

- Bem... Para começo de conversa... Não vamos chegar a nosso destino hoje. Apenas amanhã.

- Credo, o quão longe é essa porcaria de lugar?

- Vamos chegar amanhã por que os seus hospedeiros não estavam preparados para uma visita tão subta. Vamos dar um tempo para eles se organizarem.

- Quem são eles, afinal? E para onde eu estou indo. Não me venha dizer Russia, que isso já estou cansada de saber!

- Não posso contar ainda. – ele empurrou a bolsa para meus pés – mas, enquanto isso, quero te apresentar Omsk.

- Apresentar... o que?

- A cidade onde vamos ficar hoje. – ele apontou a bolsa – não vai abrir?

Me inclinei para abrir o zíper da mala, e me surpreendi ao encontrar um monte de roupas. Estavam todas dobradas caprichosamente, eram de tecidos pesados e todas de ótima qualidade. Do tipo que Lissa gostaria de comprar sempre para mim, mas eu não deixava.

- Woha! Que isso?  Um armário novo?

Abe sorriu.

- Russia não é como a América. O frio lá é abaixo de zero, Kiz. Você não sobreviveria com suéteres e blusas finas. Precisa de algo mais grosso e quente.

- Nossa... Obrigada! Mesmo! Eu não parei muito para pensar nisso... Achei que o que eu estivesse levando seria necessário. Bem... que poderia colocar umas duas ou três blusas e estaria tudo bem.

- Não, não, Kiz. Isso seria o mesmo que sair pelada no meio da nevasca.

Eu ri junto com ele, quase me arrependendo de rir. É muito mais fácil odiar alguém quando este alguém é um babaca. Droga, Abe, bem que você poderia ser mais insuportável e menos legal!

- O que é isso que você vive me chamando? Kiss...

- Kiz? Ah... é filha. Em turno.

Eu fiquei calada por um momento, pensando no afeto que Abe parecia demonstrar por mim. Era duro de admitir, mas eu estava ficando meio que com pena dele por causa das minhas atitudes rebeldes de uma adolescente.

Mas, a uma certa extensão, eu estava certa. De fato, porque o fato de dizerem que ele era o meu pai surgiu no meio de uma confusão e agora, eu estava sendo mandada para a Rússia. E eu mal conhecia meu pai.

- Você nasceu na Turquia? – pergunta idiota a La Rose Hathaway, mas é que eu decidi ser um pouco mais gentil com ele. Para falar a verdade, eu queria saber um pouco mais sobre meu pai já que nunca me disseram sobre ele até agora.

Abe suspirou e se arrumou na poltrona, nenhum pouco surpreso com a minha mudança repentina de humor e de conversa. Era como se ele estivesse esperando exatamente isso.

- Nascido e criado na Turquia. Próxima pergunta.

- E como você e a minha mãe se conheceram?

Os olhos negros dele pareciam estar em outro mundo agora. Sua expressão se suavizou e se tornou sonhadora, como se tivesse se rejuvenescido com as lembranças.

- Janine estava lá em uma missão. Ela era a guardiã de Priscilla Voda na época ... – minha mãe nunca tinha me falado que já foi guardiã de um Moroi tão importante como Priscilla Voda .

- Okay, Okay ... espera um pouco aí. – pedi, e a expressão dele ao me ouvir fazer isso foi como se eu tivesse tirado um pedaço de chocolate de uma criança na época da páscoa, - calma aí velhote, não precisa fazer essa cara não, eu só não sabia que minha mãe tinha sido guardiã de Priscilla Voda.

Não pude deixar de sorrir um pouquinho com a expressão de alívio que surgiu em seu rosto, - Ah, sim ... mas ela foi, sua mãe é uma grande guardiã, Rose...

- É, é .. a incrível guardiã Hathaway, como se eu nunca tivesse ouvido falar disso... – quando ele ia retrucar eu emendei, - será que podemos continuar nos focando na história?

- Claro – ele concordou depois de soltar um suspiro cansando, - Eu estava em um pequeno mas aconchegante restaurante no centro da Turquia – ele deve ter visto meu rosto, porque rapidamente emendou – não era muito meu tipo mas, negócios são negócios. E foi lá que eu a vi pela primeira vez, e ela estava deslumbrante.

Nesse momento um olhar sonhador e distante tomou conta dela, e eu não pude evitar de pensar o quanto ele ainda gostava da minha mãe.

- Ela estava com um vestido simples preto, que ao mesmo tempo marcava e não marcava seu corpo, os cabelos estavam soltos e os saltos que ela usava só fazia deixá-la ainda mais irresistível. Mesmo estando em um jantar de negócios, e ela estando cercadas de guardiões, eu chamei o garçom e comecei a mandar drinks para ela...

- Sério, que essa foi a tática que você usou? – perguntei indignada – você realmente é um velhote!

- Você vai me deixar terminar? – perguntou e depois que eu fiz um gesto com as mãos para ele prosseguir, assim ele o fez – Infelizmente, você e sua mãe se parecem muito. Porque ela assim como você não gostou e nada do jeito que eu estava agindo ...

- Não gostou, Abe? A palavra odiou seria mais correto. -  Pavel o interrompeu, segurando o riso.

- Você também? – Abe perguntou, e Pavel apenas riu e se levantou, fazendo com que ele apenas se virasse e continuasse – Então, como eu estava dizendo ... ela não gostou do jeito que eu estava agindo e veio tirar satisfações comigo, mas eu sou bom o suficiente com a lábia e convencê-la de ficar comigo não foi fácil, mas eu consegui de lá nós fomos para ...

- Chega, chega, chega! Informações o suficiente, velhote, os detalhes sórdido podem ficar para você e apenas você.

- Acredite, Srta. Hathaway, não ficou apenas para ele – disse Pavel, retornando para perto de nós.

- Primeiro de tudo, para de me chamar de Srta. Hathaway, isso me dá nos nervos, e segundo: ewww...Você o deixou contar tudo que aconteceu.

- Não. Eu era o guardião dele, e bem... guardiões fazem vigília.

- Tenho pena de você, cara.

- Não tenha, um dia você vai passar pela mesma coisa que eu – disse ele antes de se por a olhar Abe – O piloto mandou avisar que já estamos pousando.

- Obrigada pelo aviso, Pavel – Abe lhe disse enquanto apertava seu cinto.

- É, valeu cara – eu disse, enquanto me endireitava na cadeira e fechava meu próprio cinto.

- A Rose, acho melhor você vestir um casaco mais grosso.

Pavel, aparecendo do nada, me ofereceu um casaco daqueles compridos e chiques, na cor cinza. Era macio e grosso, embora não reconhecesse o tipo de tecido. Era bem quente.

- Obrigada, velhote. – ele se murmurou algo em uma língua que não entendi, acho que turco, mas pela expressão, imagino não ser um elogio.

Seja lá o que o Abe fazia, seu nível de influencia era grande. Não pousamos no aeroporto, e sim em uma garagem particular. Ou seja, sem burocracia, alfandega e tudo o mais. Nem gostaria de imaginar o que Pavel diria aos policias quanto às estacas e armas.

- Vamos ficar onde?

Eu imaginei que viria uma limusine nos buscar, do jeito que Abe me pareceu todo... Enjoado. Mas me enganei, e acabamos dentro de uma Toyota Hilux SW4 preto. Honestamente, estava ate chocada com isso. Imaginava uma Ferrari, ou Lamborghini.

- Em um hotel. Minha casa está em reforma, então acho que seria mais confortável pra gente.

- Casa, hum?

- Mansão... Casa... Qual a diferença?

Eu soltei um bufar, sorrindo, e não respondi. Permanecemos em um silencio confortável até o hotel, que não era dos mais simples. Devia ser o melhor e mais caro, obviamente.

Não fizemos o check-in, Abe, eu e, claro, Pavel, fomos diretamente para os elevadores enquanto o outro guardião cuidava desses detalhes. Tentei não achar muito estranho o fato de Abe já ter a chave do quarto.

Não nos demoramos lá, Abe insistira nessa ideia de jantarmos fora, se forjar os laços de pai e filha e o diabo a quatro. Estava em desvantagem, de que adiantaria discordar? Além do mais, estava curiosa sobre Omsk. Nunca havia saído dos Estados Unidos, e ali era tudo muito diferente. As pessoas nas ruas, as roupas, carros. Havia algo nas expressões... Não sabia como explicar, mas havia algo que impunha respeito. Como se lá qualquer tipo de má-educação fosse algo de cadeia, ou eu sei lá. E havia aquele misto do passado com o futuro, que me tiravam o folego. Os detalhes eram tantos! Tudo era tão lindo!

- Rose, você vai trocar de roupa, ou ficar admirando o quarto?

Eu havia parado distraidamente observando o papel de parede no meio do quarto. Abe se divertia, mas havia pressa em sua voz. Parecia que queria chegar nesse lugar antes que lotasse e perdêssemos mesa. Imaginei que, se isso acontecesse, ele poderia muito bem estalar os dedos e uma mesa fosse posta especialmente para ele. Mas não contestei, e foi para o quarto ao lado me trocar.

Troquei o jeans azul e surrado por um que eu quase não usava, preto. Vesti uma blusa de manga comprida justa e com decote em V na cor vermelha. Como ficaríamos em um lugar fechado e cheio de gente, com aquecedor, não seria necessário mais que isso. E eu tinha o casaco que Abe me dera, aquele lindo e caro casaco comprido cinza, seria o suficiente. Também troquei os tênis por botas de cano alto e salto. Gostaria de ter tomado um banho, mas Abe já estava impaciente demais, achei melhor não irrita-lo. Soltei o cabelo e escovei-o algumas vezes, antes de me satisfazer ao vê-lo caindo levemente ondulado por sobre os ombros e costas, cobrindo minhas tatuagens.

Eu sempre achei que o momento de ganhar a marca da promessa e a as marcas molnija fosse algo incrível e orgulhoso. Mas nos últimos anos, principalmente os últimos meses, me provaram que a marca não era sinal de orgulho. Eu matara gente. Tudo bem, eram strigois, mas mesmo assim. Matar não era algo que eu devia me orgulhar.

- Vamos?

***

O lugar estava lotado de gente, levando em consideração a aparência inóspita do lugar. Tinha esse ar bruto e antigo, porém era organizado e limpo. Não parecia do tipo que as pessoas saiam socando as outras, ou fazendo coisas piores. Mais uma vez, como em todos os lugares que eu havia visto – que se limitavam o hotel e a garagem particular – o respeito estava impregnado em todos os cantos, desde os clientes aos funcionários. Talvez fosse uma daquelas coisas de russo, ou eu sei lá.

O que me surpreendeu foi perceber a presença de muitos Damphiros e Morois no meio dos humanos. Nunca havia visto tantos vampiros juntos assim, fora da Academia e da Corte, no ‘mundo real’. Era estranho.

- Wow. – exclamei virando-me para Abe. – É aqui que você vem quando não está mafiando por ai?

Ele riu. Suas roupas caras e as joias de ouro pareciam deslocados ali, mas Abe estava relaxado e à vontade. Colocou as mãos em meus ombros e me guiou entre as pessoas até a mesa. Como previ, o casaco que havia vestido era quente demais ali, então o tirei e pendurei na cadeira.

- Infelizmente meu tempo livre não é muito. A máfia é exigente, sabe? Ser o chefe cansa.

Eu ri a contragosto. Esse cara tinha senso de humor. Agora sabia de onde eu havia puxado o sarcasmo.

- Vou buscar umas bebidas.

Abe se levantou e sumiu entra a multidão. Eu olhei em volta, analisando melhor o bar.

A música tinha uma batida interessante, diferente. Era bem agradável e não incomodava. Algumas pessoas dançavam em um tipo de pista de dança. Alguns se amontoavam em grupos conversando ou jogando sinuca em varias mesas que haviam do outro lado do salão, em um espaço mais reservado. E tinha o bar, a alguns metros do espaço onde as mesas ficavam. Foi ali, no bar de ar aconchegante, que eu o vi pela primeira vez. Estava acompanho por um casal, um loiro e uma morena, que não podia ver direito seu rosto pelo ângulo que eles estavam, mas o casal, que reconheci serem Moroi, ria. O damphiro apenas sorria vez ou outra, raramente um sorriso aberto. Parecia não estar prestando muita atenção na conversa. Bem, na verdade ele parecia nem ao menos pertencer a este lugar.

Para um damphir, o cara era alto. Muito alto. Devia ter uns 2 metros ou quase! Os músculos por baixo da camisa preta eram delgados e fortes. O cabelo era comprido, preso na altura da nuca, com algumas mechas escapando e caindo no rosto. Eram de uma cor castanho-chocolate, e a pouca distancia, pareciam muito macios e sedosos.  E eu me vi com vontade de toca-los. O cara estava no mais alto grau de gostosura. Tinha um porte todo atlético e ao mesmo tempo antissocial. Eu tive certeza que era do tipo de guardião que se recusava a tirar folga até ser obrigado a isso.

E então ele olhou diretamente para mim.

Era como se alguém tivesse o chamado e ele tivesse virado automaticamente. Eu prendi o folego com a intensidade do olhar. Os olhos eram escuros, talvez pretos. E o rosto... Por Deus, que rosto era aquele? O nariz reto e anguloso, a mandíbula rígida e desenhada, a boca naturalmente avermelhada, o lábio inferior ligeiramente mais grosso que o superior. Caramba, que Deus era esse?

Ficamos nos encarando, olho no olho, sem piscar. Minha vontade era de levantar e ir até ele, mas não fiz isso. Foi a penas a cadeira de Abe se arrastando que me vez voltar para a realidade, desviando o olhar com dificuldade. Respirei fundo algumas vezes antes de me virar para Abe. Pavel não estava por perto, mas sabia que seus olhos atentos estavam em nós.

- Como é pra você – indaguei pegando a lata de coca já aberta que ele havia trazido pra mim.

- Como é o que?

Abe bebia de um copo gordo e pequeno. O cheiro do álcool era forte até mesmo de onde estava sentada, e me perguntava como ele tomava aquilo.

- Você sabe... Andar para pegar alguma coisa. Geralmente você apenas estala o dedo e pronto. Tudo está em suas mãos.

- Ah... – ele riu e terminou de tomar, seja lá o que seja aquilo. – Kiz, seu senso de humor é afiado. Eu gosto disso.

Uns minutos depois, um prato de batatas fritas foi trazido, e agradeci silenciosamente, estava morrendo de fome!  Junto com elas três copos pequenos. Abe tomou um deles com um só gole e fez uma careta engraçada.

- O que é isso?

- Vodca. – estendi a mão para o segundo copinho, mas ele me interceptou – Rose, acho que não é uma boa ideia...

- Hey, velhote! – exclamei, e ele torceu o nariz. Odiava que eu o chamasse assim – Você ouviu e provavelmente leu meu histórico. Acha que um copinho de vodca vai me fazer mal?

- Kiz... Vodca americana não é o mesmo que Vodca Russa.... – eu o olhei cansada e ele cedeu – Tudo bem. Mas por sua conta e risco.

- Vodca é vodca. O que teria de diferente nessa?

Ah, é. Era vodca Russa.

Senti como se minha garganta rasgasse em carne viva e queimasse por onde aquela maldita bebida passava. Meus olhos se encheram de lagrimas e senti meu corpo inteiro esquentar como em um dia de verão na América. Quem precisava de roupa de frio com aquilo?

- Ai meu Deus! – eu murmurei, encontrando minha voz minutos agonizantes depois – Puta merda! Velhote, como você bebe isso? Hey, quer parar de rir, não tem graça!

- Tem graça sim, sabe porque? Porque Eu.Te.A-vi-sei.

Abe era do tipo que adorava se mostrar certo. E se a pessoa – no caso eu – acabasse numa situação constrangedora ou ruim, sua satisfação era maior. Boa, pai! Provavelmente ele passará o resto da vida me lembrando desse dia.

- Admita, você está adorando isso. Está adorando ver meu sofrimento.

Meu tom acusatório estava afiado. Não estava me referindo apenas à vodca. Não, esse era o menor dos meus problemas. Era a situação toda que me tirava do serio. Minha carreira como guardiã estava ameaçada, estava sendo obrigada a ficar longe de Lissa, em um país que nunca fui, com pessoas que não conheço na companhia de um pai que eu nem sabia existir. E Abe não parecia nem um pouco incomodado, parecia estar é gostando demais.

Aparentemente, meu tom de voz foi bem revelador, e ele pegou no ar as palavras não ditas. Ele parou de sorrir e me olhou serio.

- Não, Rose! – ele estendeu sua mão para tocar a minha, mas eu cruzei os braços – Eu não estou gostando de te ver sofrer. Eu estou é adorando passar este tempo, este curto tempo, com você. Você acha que não estranho ter uma filha assim, de uma hora para a outra? Acho. Muito estranho. Mas, você é tão parecida com Janine que chego até a arrepiar. Não me arrependo em nada das minhas decisões passadas, e sinto muito orgulho e feliz de ser seu pai.

A sinceridade e seriedade de Abe me pegaram de guarda baixa. Eu havia esquecido, convenientemente esquecido, que Abe foi metido nesta roubada tão abruptamente quando eu. E, tudo bem, foi egoísmo da minha parte me focar apenas no que eu sentia.

- Ahn... – Eu odiava ficar desconfortável e odiava assuntos delicados. Por isso sempre fugia deles. – Abe eu vou... Eu vou ao banheiro.

Me levantei e quase tropecei com a rapidez que sai da mesa. Não sabia o que responder. O que poderia? Passei 18 anos me convencendo que não precisava saber quem era meu pai, de repente ele aparece assim, de uma hora para a outra. É desconcertante, se quer saber.

O banheiro, por incrível que pareça, não estava cheio. Na verdade havia apenas um grupo de três jovens, todas humanas, além dos cinco cubículos sendo usados, que saíram logo quando entrei. Joguei agua no rosto, e ergui a cabeça para me olhar no espelho e ver se tomava vergonha na cara.

- Problemas com o Zmey?

- O que?

Virei a cabeça para trás e quase pulei um susto com a proximidade da desconhecida. Tinha cabelos compridos e negros, olhos azuis gelos profundos – que eu poderia jurar ter visto antes – e um sorriso amigável no rosto. Bem, na metade dele, por que uma fina e rosada cicatriz marcava o outro lado. Mesmo assim, ele era muito bonita, e a cicatriz parecia ressaltar isso.

Como se pegasse meu pensamento no ar, ela tocou de leve a bochecha marcada e sorriu.

- Ataque de strigois.

Respondeu à minha pergunta não feita.

- Desculpe. – pedi me sentindo sem jeito por ter olhado tanto pra ela. Mas por que diabos uma Moroi teria uma cicatriz dessa? – Desculpe, acho que fui meio sem educação.

- Imagina. Não será a primeira nem a ultima a me olhar assim.

- Ah... bem... – eu abri a boca pra falar, mas desisti no ato. Ela sorrio mais.

- Okay... Pode perguntar. Eu sei que você quer perguntar.

- Eu não quero parecer intrometida mas... Ah, foda-se. O que aconteceu com seu rosto?

- De uma forma resumida, eu salvei meu sobrinho dos seus próprios pais. Eles se transformaram por vontade própria e vieram atrás dele. Eu não deixei. Bem... Eu os atrasei pra dar tempo dos guardiões chegaram, não os matei.

Era uma estória que eu conhecia... Ah! Os olhos, o cabelo!

- Você é a Tasha, tia do Christian! - Ela me pareceu surpresa – Ele me contou sobre você um tempo atrás, logo quando ele e Lissa começaram a sair!

- Lissa? Você não seria a Rose Hathaway, seria?

Ah droga.

- Christian me contou sobre você – ela explicou procurando algo na bolsa – A famosa Rose Hathaway.

- Seja lá o que e tenha dito, é mentira!

Ela riu divertida, e eu decidi que gostei do tom da risada. Tirou da bolsa um batom e o retocou antes de se virar novamente pra mim.

- Eu adoraria ficar e conversar, mas estão me esperando. Quando puder, e se puder, vai lá com a gente! Está convidada, sim? Foi um prazer te conhecer, Rose.

- Tasha – a chamei antes que saísse do banheiro – O que você quis dizer aquela hora com Sismei....simei ? Sei lá.

- Zmey. – corrigiu ela. – é russo. Significa serpente. O cara que está com você, Abe Mazur. É como ele é conhecido. Serpente é astuta e perigosa, Abe também é.

- Ele é meu pai. – saiu antes que eu pudesse morder a língua – estamos..ahn, meio que passando um tempo juntos. Sabe como é, forjar laços de família. – era mentira, mas não queria que mais alguém soubesse por que estava aqui, embora, se fosse considerar Christian, logo ela saberia – Mas, por favor, não conte a ninguém. Nem sobre mim e Abe nem sobre Rose Hathaway estar aqui. Rose Hathaway não existe, é apenas Rose.

Ela riu e consentiu com a cabeça antes de sair.


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Notas finais do capítulo

Eu errei, sorry, o capitulo Romitri é o próximo, sim! Inteirinho deles*-*

O Spoiller do próximo foi errado, no cap anterior, então vou repetir ;)

"Entreguei o copo pro deus russo – que diabos de nome era Dimka? – que pegou de bom grado e deixou no balcão longe das mãos de Tasha.(...)."