A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

"Devíamos proteger os Morois com nossas vidas. Mas agora nossas vidas eram os alvos."



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Com um sorriso torto, do tipo sedutor, e mãos no bolso da calça caqui de corte perfeito, Adrian me encarava com expressão divertida. Seus cabelos, como sempre, estavam cuidadosamente desarrumados, e sua pose elegante, junto com suas roupas que gritavam dinheiro, chamavam a atenção de muitos olhares femininos no restaurante.

- O que você está fazendo aqui?

Ele tirou as mãos dos bolsos e estendeu os braços.

- Não vou nem receber um abraço, pequena damphir?

A surpresa deu lugar para um sorriso, me levantando sem esperar por um segundo convite. Adrian me abraçou com força, e senti seu rosto afundar em meu cabelo, inalando seu perfume.

- Senti sua falta, Rose.

- Mas a gente se vê toda semana. Nos sonhos.

Ele riu baixinho, sem me soltar.

- Não é a mesma coisa. – retrucou afastando-se – Será que é tão difícil assim simplesmente dizer “Oh, Adrian, também senti sua falta!”?

Foi a minha vez de rir.

- Oh, Adrian, também senti sua falta! – respondi, mas com total sinceridade.

- Muito melhor. – revirei os olhos e seu sorriso diminuiu um pouco, levando seu olhar para trás de mim – Esse, imagino, deve ser o famoso Dimitri?

Por um momento, havia me esquecido de Dimitri. Bem, não esquecido de verdade, por que sua presença é forte o bastante para impedir isso, mas estava absorta no reencontro com Adrian que o havia deixado de lado.

Virei-me para ele e me deparei com um olhar duro e inexpressivo, de volta com sua pose e mascara de guardião. Suas mãos, sobre a mesa, estavam fechadas em punhos, e imaginei que a intromissão de Adrian o deixara irritado, pois interrompera nossos planos.

Abri a boca para responder, mas Dimitri fora mais rápido.

- E você é Adrian Ivashkov. O famoso Adrian.

Sua voz não era rude nem fria. Simplesmente não tinha sentimento algum nela. Lancei lhe um olhar reprovador, mas Dimitri não viu, pois sua atenção era total de Adrian, e vice e versa.

- Famoso, han? – zombou Adrian – Rose, eu te disse para não pensar em mim. Se não você enlouqueceria de saudades dos nossos momentos.

Adrian era um amor de pessoa e um ótimo amigo. Mas eram momentos como aquele que eu desejava socar aquele lindo rosto para ver se aprende uma lição.

- Okay. – disse rapidamente, querendo evitar que Dimitri o massacrasse ali mesmo – Você ainda não me disse, o que está fazendo aqui?

- Ah, como você só falou bem da Rússia, resolvi ver por contra própria. – lancei a ele um olhar totalmente descrente. – Okay, eu vim te ver, Rose. Estava com saudades, já te disse.

- Claro, por que é super simples vir para Rússia. Só pegar meu jatinho particular, a qualquer hora, espontaneamente, e vir. – ironizei sentando-me novamente. – Você está escondendo algo, Adrian. Eu sei.

Ele sorriu zombeteiro e orgulhoso, puxou a cadeira vazia da mesa e se sentou.

- Você não perde nada não é? Tudo bem. Eu tenho uma surpresa pra você. Mas gostaria que você comesse primeiro. Não quero que você passe mal de emoção.

Curiosidade formigou minhas mãos e ouvi Dimitri bufar. Prontamente o ignorei e continuei a falar com Adrian.

- Ah, não. Começou termine!

- É surpresa. Se contar, não será surpresa.

- Por que você veio aqui provocar então? – ele ergueu uma sobrancelha, da mesma maneira que Dimitri fazia – Ah, verdade. É por que você é Adrian Ivashkov.

Ele abriu um grande sorriso e se levantou.

- Boa reposta, Rose. – Adrian inclinou-se sobre mim e beijou minha testa com gentileza – Agora eu vou indo. Mais tarde nos encontramos e te dou meu presente.

- Hey, não era uma surpresa?

- Um presente surpresa, por que não?

Ele riu para mim e endireitou a cadeira no lugar. Seu olhar ficou mais sério, embora sua boca sorrisse, quando olhou para Dimitri.

- Belikov. – Adrian acenou pra ele com a cabeça e se foi.

Assim que seu perfil sumiu atrás das portas, chutei Dimitri por baixo da mesa. Ele não reagiu como imaginava, gritando ou resmungando de dor. Apenas me olhos inexpressivo e parecendo confuso.

- O que foi?

- O que foi? – repeti incrédula – Você precisava ser grosso com ele?

- Eu não fui grosso com ele. – respondeu Dimitri desviando o olhar para o menu que o garçom havia deixado na mesa

- Só totalmente indiferente.

- É crime ser indiferente agora?

Revirei os olhos abaixando o cardápio para obriga-lo a olhar para mim.

- É falta de educação. Dimitri, pra quem vive me dando sermões sobre maturidade, você está sendo bem infantil.

Parecia estar falando com as paredes. Ele não me respondeu e me olhou com descrença, como se estivesse dizendo um absurdo.

- Aquele era Adrian Ivashkov.

- Sim. Eu já te falei dele.

- É, mas não sabia que eram tão... próximos.

Foi ai que minha ficha caiu. Estava tão óbvio. Adrian me disse uma vez que Dimitri tinha ciúmes de mim, mas, na época, imaginei que era por que estava meio que tomando seu lugar na vida de Vick. E no dia da festa que houve o ataque do strigoi, mais uma vez, senti o ciúme dele com o cara me assediando, embora negasse veemente. Mas com Adrian era pior. Por que Adrian era parte da minha vida, do meu passado, que eu não queria – e não iria apagar. Para Dimitri, era um concorrente. E isso o deixava inseguro.

Eu não o respondi. Não era hora nem lugar para conversarmos sobre nossa conturbada e complicada – não esquecendo ilegal – relação. Confrontar Dimitri não seria uma boa ideia, ainda mais ele sendo orgulhoso o suficiente sendo incapaz de admitir que estivesse com ciúme de mim. Então, me limitei a fazer meu pedido ao garçom e comemos no mais completo silencio.

Dimitri não se importava com o silencio. Mas eu sim. E, muito embora eu tentasse levantar algum tópico para discutirmos, ele se mostrou distante a maior parte do tempo, não respondendo muito mais que alguns ‘hhmm’s. Ele não estava bravo, percebi. Apenas pensativo. O que atiçou minha curiosidade e ao mesmo tempo me deixou preocupada. No que ele estava pensando tanto?

Descubro depois do almoço, quando voltamos para o quarto antes da próxima reunião, marcada paras as duas. Eu estava deitada na cama, analisando as pontas do meu cabelo distraidamente, segurando para não perguntar o que ainda o incomodava. Mas não preciso fazer esforço nenhum para saber, Dimitri começa a falar por conta própria.

- Adrian não é uma pessoa muito... – se interrompe. Estava de costas para mim na janela – Quero dizer, ele é irresponsável. E as pessoas dizem muito sobre ele. Não sei se estão muito erradas, mas... Bem, se elas dizem, tem que ter algum fundamento.

- Dimitri. – eu disse em tom de aviso – Quer parar de enrolar e ir direto ao ponto. Você não gosta do Adrian, simples assim. Eu sei. E não vou desmerecer suas suspeitas. Eu também não gostava dele, aliás, eu tinha muito certeza de que o odiava.

Um momento de silencio se passou antes que Dimitri vire sua cabeça um pouco em minha direção e volte a falar.

- E agora?

Suspiro. Pensei em mentir e mudar de assunto, mas Dimitri me conhece bem demais. Além do mais, eu mesma contei muitas coisas a ele quando estávamos em sua casa. Ele merecia a verdade, e isso iria doer nele, eu sei. Mas também doía em mim.

- Eu o amo. – disse encarando-o, embora ele recusasse a me olhar.

Dor. Seus olhos pressionaram e as sobrancelhas se juntaram em gesto de frustração. Eu vi através da máscara de guardião, muitos sentimentos. Tristeza, mágoa. E a dor... esse me fez partir o coração.

Sentei-me na cama, temendo que, se me aproximasse, pudesse ser pior.

- Eu o amo Dimitri. Adrian entrou em minha vida quando menos eu esperava e plantou raízes. Não vou mentir pra você.  Adrian é meu melhor amigo, meu confidente. Ele via coisas que ninguém mais via, assim como você. Os dois me conhecem muito mais do que eu mesma me conheço. E os dois me amam de uma maneira que, honestamente, não sei se mereço. Você sabe. Eu te contei, nós namoramos um tempo. Antes de eu vir para cá antes... de muitas coisas acontecerem.

Dimitri permaneceu em silencio, o que foi desesperador para mim. Dimitri sempre tinha algo a dizer, sempre tinha algum ensinamento zen ou alguma frase filosófica para dizer. Não agora.

- Eu o amo, mas não como ele me ama. – voltei a falar levantando-me e indo até seu posto na janela - Eu o quero em minha vida assim como eu quero você. São amores diferentes. Posso estar sendo injusta e egoísta com Adrian, por querer que ele seja meu amigo depois de tudo, mas eu quero. Ele sofre a cada vez que digo sou nome, a cada vez que cito algo que aconteceu aqui. Por que ele entendeu a diferença. Dimitri...

Antes que eu pudesse continuar. Antes que eu pudesse implorar a ele, qualquer coisa que seja para ele me olhar de novo e ver que a dor diminuiu. Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, ele se vira para mim e me beija.

Foi um movimento rápido e ágil. Daqueles movimentos que nos salvam em um combate com um Strigoi, merecendo seu título de ‘Deus’. Ele agarrou minha cintura e me puxou para si em um beijo esfomeado. Não deu tempo de ver seus olhos, mas eu sabia que eles queimavam assim como seus lábios queimavam nos meus.

Ainda segurando-me com firmeza, ele afastou o rosto tocando nossas testas. Seus olhos estavam fechados.

- Eu não quero te perder, Rose.

- Você não vai.

- Diante as circunstancias... o melhor pra você seria que ficasse com Adrian.

Segurei seu rosto com firmeza, obrigando-o a abrir os olhos e me olhar.

- O melhor pra mim é você. – sorri de leve, acariciando sua bochecha – Por Deus, Dimitri. Até Adrian já percebeu isso. Qual sua dificuldade em aceitar que você é o melhor pra mim? Que é você que me faz ser melhor? Você me mudou. Entrou mais fundo dentro de mim do que qualquer outra pessoa foi. Não tem como tirar isso. Eu te amo, Dimitri Belikov. Mais do que jamais amei ou amarei alguém. Quando você vai aceitar isso?

Suas feições se relaxaram e percebi que o perigo passou.

- Eu aceito isso, Roza. Mas não posso deixar de pensar que vamos encontrar muitos empecilhos. Quero o melhor pra você. Eu te amo o suficiente para abrir mão de você se for necessário.

- E eu sou egoísta o suficiente por nós dois para deixar que isso aconteça. – sorrio antes de selar nossos lábios mais uma vez.

Ficamos abraçados um tempão. Quase perdemos a hora de ir para a reunião dos Guardiões, mas Dimitri com sua parte responsável, que eu nunca teria, lembrou-se dos nos compromissos. Não podíamos nos dar o luxo de permanecermos em nossa bolha. Ainda, ele disse.

- Assim que tudo isso se acabar, vou dar um jeito, Roza. – me prometeu ele antes de me beijar de levem na porta do quarto. – Mas, por enquanto, vamos tentar nos manter profissionais.

Eu ri da sentença enquanto o esperava trancar a porta atrás de mim.

- Vamos ver até onde vai esse seu profissionalismo, Belikov. – provoquei.

Sabia da resposta. Ele se acaba assim que trancamos as portas do quarto.

***

A sala de reuniões estava um alvoroço. Com o ataque recente à Corte e o problema dos Strigois, os Guardiões não sabiam onde focar suas atenções. Uns argumentavam que deveriam esquecer os Strigois, por hora, e nos mover todos para a América para proteger a Rainha e seus seguidores. Outros diziam que isso era problema deles agora, que a região estava com problemas os suficientes para mantermo-nos ocupados. A Rainha estava bem e o perigo fora passageiro, deveríamos tomar conta do nosso país. Bem, do país deles.

Um grupo de cinco Guardiões, que aparentavam serem os mais velhos dali e que, visivelmente, eram do tipo ‘alto escalão’ pelo olhar de admiração dos outros, colocou ordem na bagunça que se instalara, concordando com a maioria em permanecer na Rússia e resolvermos o problema dos ataques.

- A própria Rainha está tomando suas precauções. Ela não precisa de todos nós por lá e, segundo me foi passado, a Rainha tem seus próprios planos. Agora se aquietem, por favor. Não podemos nos esquecer dos Strigois. São nossa maior ameaça agora.

Apesar da maneira enérgica e autoritária com que ele falou, a bagunça não diminuiu, e foi preciso uns bons quinze minutos para que as discussões cessassem de vez. E eu achando que um bando de adolescentes trancados numa sala de aula por cinquenta minutos eram trabalho o bastante. Guardiões insatisfeitos conseguem ser piores.

Por fim, em um telão, nos foi apresentado um mapa da região com vários círculos vermelhos que foi onde houve os ataques, e me surpreendi. Havia vários. Mas a região de Baia era onde se concentrava a maioria.

Senti Dimitri ficar tenso e me contive para não segurar sua mão e afaga-la. Trocamos olhares preocupados e nos voltamos às informações.

A maioria dos ataques levou à morte dos Morois e ao sumiço de seus Guardiões, o que era alarmante, uma vez que não era segredo que os Strigois preferiam o sangue Moroi ao Damphir. Eles estarem preferindo matar os Morois e levar os Damphir era algo que nunca havia acontecido antes e deixávamos todos nós preocupados. Devíamos proteger os Morois com nossas vidas. Mas agora nossas vidas eram os alvos.

Por fim, depois de uma longa e cansativa discussão que durou quase duas horas, um plano foi traçado: iriamos apreender um strigoi. Dimitri não pareceu tão surpreso quanto eu, quando foi anunciada a missão que se seguiria. Aparentemente, não era algo totalmente novo. Mas era perigoso, até eu sabia disso.

- Então, só temos que pegar um Strigoi, tortura-lo até que diga o que está acontecendo e resolvemos os problemas?

Dimitri sorriu, mas não chegava aos seus olhos.

- Falando assim parece simples. Matar um Strigoi é perigoso e ruim o suficiente. Pegar um é outra história. Aumenta os riscos. E eles podem acabar não revelando o plano, seja lá qual for. Estamos jogando às escuras em um jogo sem regras.

A tensão em sua voz era palpável, e me peguei perguntando quem estaria neste grupo de ataque aos Strigois, ou se seriam vários grupos. De repente, eu queria saber de tudo. Quanto mais cedo o plano estivesse pronto, mais cedo agiríamos e mais cedo tudo se resolveria. Era algo inédito pra mim e eu iria fazer questão de participar ao máximo de tudo aquilo.

- Pode tirar esse pensamento da cabeça. – disse Dimitri, me fazendo olha-lo confusa – Eu conheço esse seu brilho no olhar e essa sua cara decidida, Rose. Você não vai participar desta ação.

Parei imediatamente.

- Quem disse que não?

- Eu disse. – respondeu inalterado – Você pode comparecer às reuniões, pode opinar e estar presente na elaboração do plano, mas você estará muito longe das ruas, Rose.

- Isso não é justo! – exclamei, seguindo-o para fora da sala de reuniões – Se eu quiser me voluntariar...

- Você não seria escolhida – interrompeu, virando para mim. – Rose, você é uma Guardiã recém-formada e inexperiente. – Fiz menção de interrompê-lo, mas ele continuou aumentando o volume da voz – Ninguém está negando que, sim, você é mais experiente que muitos da sua idade, mas ainda sim... Você não tem ideia de como é o mundo. Ainda está aprendendo, é por isso que sua seus pais, junto a Hans te mandaram pra cá, Rose. Pra aprender. Você pode ser ótima, pode ter uma boa técnica, mas você tem problemas claros com autoridades e seguir ordens. Honestamente, você acha que está pronta pra algo grande assim?

Cruzei os braços na altura do peito, encarando-o. Isso não era nem um pouco justo. Eu estava ali para aprender, ele mesmo havia dito isso. Ficar parada, esperando que todos fizessem as coisas, não iria me ajudar em nada.

- Rose, o aprendizado não vem apenas na prática e um Guardião não é apenas músculos. Inteligência e paciência também são importantes. Tanto quanto saber ficar atrás de computadores liderando uma missão. Você não precisa cravar uma estaca no peito de um vampiro para ser uma Guardiã, Rose.

- Não tem graça ficar atrás de um computador quando toda a ação está rolando longe dele. – retruquei, voltando a andar – Dimitri, eu quero ajudar!

- Eu sei que você quer, Rose, e admiro isso em você. Admiro sua determinação a fazer as coisas darem certo. Por isso... Rose, olhe para mim. – Ele segurou meu braço e procurei ignorar a onda de calor que me percorreu com a ação – Me prometa que não vai fazer nada sem pensar. Aqui há Guardiões treinados para isso. O que eles vão fazer é perigoso demais, não quero te ver metida nisso. Não... Rose, eu não posso  correr o risco de te perder!

A paixão com que ele me disse isso e a dor em seus olhos com a possibilidade de me perder foi tão arrebatadores que me fez perder o ar. Eu não duvidava em nada que se eu morresse, ou –pior – virasse um strigoi, Dimitri ficaria devastado. Sabia, pois apenas em considerar a hipótese de algo acontecer a ele eu ficava perturbada.

Suspirei derrotada. Não podia negar a Dimitri este pedido. E não seria capaz de engana-lo, dizendo que não faria nada e acabasse fazendo algo. Não era traíra, muito menos irresponsável a este nível.

- Tudo bem, Dimitri. Prometo que não farei nada. – ele soltou meu braço aliviado e continuamos a andar. – Não vou fazer nada, mas não significa que esteja contente com isso. Que fique bem claro.

- Nunca vi alguém tão ansiosa por uma ação. – Dimitri disse com um sorriso na voz. – A melhor parte de um dia de um Guardião, para mim, é quando não somos necessários.

Revirei os olhos, chegando ao hall de entrada. Era um pouco depois do meio da tarde, e esperava que Adrian ainda não estivesse alterado o bastante a ponto de não me receber. Ele me disse que tinha um presente, mas a maneira na qual ele disse isso deixou à margem de interpretações. Que tipo de presente?

- Ei, eu fico feliz quando meu dia é tedioso. Mas quando acontece algo assim não dá pra querer ficar de fora, dá?

Ele não me respondeu, o que significava que eu tinha razão.

Aproximei do balcão, onde uma moça de cabelos claros e maquiagem leve, sorria de maneira ensaiada para mim. Ignorei o rápido olhar que ela deu à Dimitri. Caramba, o cara tinha que chamar a atenção de todo rabo de saia que existia?

- Por favor, em que quarto Adrian Ivashkov está hospedado?

Dimitri bufou, mas não dei atenção. Ela continuou a sorrir e suas sobrancelhas perfeitamente delineadas se franziram levemente.

- Adrian Ivashkov. – repeti erguendo a voz – Quarto de Adrian Ivashkov.

- Rose, ela não é surda. Só não está entendendo.

- Então pergunte por mim. Eu não falo russo, você fala.

- Rose... – eu o encarei pressionando os olhos – Não pense no que você está pensando.

- O que eu estou pensando?

- O que eu estou pensando?

Ele abaixou-se e falou baixo, apenas para que nós dois escutássemos.

- Que eu estou com ciúmes. Não é isso. - Não foi sexy nem sedutor, mas a voz rouca e o hálito fresco me arrepiaram a nuca e espalhou uma sensação boa e quente pelo meu corpo. – Ela não pode lhe dizer essas coisas, Rose.

- Odeio burocracia. – resmunguei, fingindo não ver o olhar confuso da pobre moça. – Eu quero ver Adrian. Como vou encontra-lo agora?

- Não o encontre. – respondeu rispidamente. – Ele parece encontrar você, não importa onde estiver.

Eu ri. Dimitri com ciúmes era algo incrível. Por mais que sua expressão fosse tranquila, podia ver suas emoção borbulhando por baixo da mascará de guardião. Vê-lo assim, quase perdendo o controle, era uma novidade.

- Você provavelmente tem razão...

Eu estava quase ganhando um sorriso dele quando seu nariz franziu desgostoso.

- É. Eu tenho razão quase sempre e pela primeira vez não estou gostando disso.

Juntei as sobrancelhas, confusa com a rápida mudança de ciumento, para quase alegre e agora irritado. Era pior que mulher em TPM.

- Dimitri, o que...?

Minha pergunta não feita foi respondida quando uma voz alegre gritou meu nome, ecoando no salão. Adrian acabava de entrar, trajando jeans escuro e blusa de mangas azuis. Estava lindo e elegante. Seu sorriso era perceptível mesmo de longe.

- Seu presente chegou! – ele me disse a alguns passos de mim.

- Adrian!

Fui até ele e o abracei. Senti sua respiração entre meus cabelos, inspirando meu cheiro. Adrian adorava cheiros. Ele dizia que, junto com nossas auras, falavam muito sobre nós. Particularmente adorava meu cheiro único.

- Tente não ficar tão radiantemente alegre comigo, pequena damphir. – riu ele sem me soltar – O grandão ali não gosta disso. O ciúme dele é praticamente palpável.

Dei nos ombros.

- Ele que aprenda a lidar com ele. E comigo.

Adrian me soltou e me encarou, analisando meu rosto e meu corpo, absorvendo os traços como um artista. Não havia nenhuma tensão sexual da parte dele, o que me alegrava.

- É sempre um grande prazer te ver, Rose. – disse por fim, com um tom genuinamente alegre – Agora, vamos ao seu presente!

- E o que é?

Ele me pegou pelos ombros e me virou para a entrada. Onde não havia nenhuma caixa ou algo do tipo.

- Adrian!

- Calma, pequena damphir. Em breve seu presente estará passando por aquela porta!

Segundos se passaram, mas pareceram horas intermináveis quando vi alguém conhecido. Tinha cabelos pretos bagunçados e olhos azuis como gelo. Seu sorriso era zombeteiro e seu andar particular. Christian Ozera estava vindo a nosso encontro.

- Chris! – exclamei sorrindo pouco antes de a obviedade cair como um baque em minha cabeça – Oh!

Se Christian estava ali, com Adrian, só poderia significar uma coisa. Ela também estava ali!

Olhei para todos os cantos, a sua procura, antes de finalmente entrar no hotel, guardando o celular na bolsa. Seus cabelos lisos e loiros caindo perfeitamente até a cintura, enfeitados por uma faixa azul. Os olhos verdes esmeraldas característicos brilhando ao porem-se em mim. O sorriso branco e perfeito abrindo-se contente, esquecendo-se em esconder as presas.

Lissa Dragomir, minha melhor amiga, minha irmã em espirito estava ali, bem a minha frente, alegre e receptiva. Talvez um pouco pálida, mas ainda sim, perfeita.

Meus olhos encheram de lágrimas e meu coração se apertou quando corri de encontro a ela, segurando-a em um abraço saudoso e apertado.

- Senti sua falta, Rose! – disse-me com a voz emocionada.

- Oh, Lis! Eu também senti sua falta!

- Temos muito que conversar!

- Sim, temos. Tenho tanto pra te contar.

- Eu também.

Eu havia percebido que sua resposta tinha um tom estranho, e também senti que ela estava me bloqueando, assim como deve ter feito o dia inteiro para não sentir sua presença. Mas deixaríamos isso para mais tarde, quando estivéssemos sozinhas. Agora estava na hora de matar as saudades.


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Notas finais do capítulo

Que bomba enorme no mundo vampiro! E agora?
Mais uma vez, me desculpem a demora. Eu me dei até dia 4 para escrever bastaaaante e não atrasar a história, por que vou começar o cursinho e um curso (10 dias) de teatro, então as coisas ficarão meio puxadas... Enfm, não parem de ler! Deixem reviews, favoritem e indiquem a leitura! Obrigada a todas por acompanharem, se não fossem vocês não continuaria, de verdade! beijos grande!