A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

"-Eu tenho muitas ideias do que você pode fazer. respondi num sussurro Nenhuma hábil agora, infelizmente."



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Eu acordei cedo naquele dia. Mais cedo que o usual, quero dizer. Dimitri ainda dormia. Podia ouvir o ressonar da sua respiração, tranquila e compassada. Quente em meu pescoço. Seus braços me abraçavam sem força, mas de maneira protetora e casual.

Eu sorri.

- Bom dia.

Surpreendi-me ao ouvir o som de sua voz e, sem sair de seu abraço, me virei na cama de solteiro para ficar de frente a ele.

- Pensei que estivesse dormindo. – suspirei com um sorriso, tirando uma mecha castanha da frente de seu rosto com delicadeza – Bom dia.

- Eu sempre acordo antes de você, Rose. – Dimitri sorriu relaxado. Um daqueles sorrisos largos e raros que me tirava o folego – Mas fico na cama até mais tarde apenas para te ver dormindo.

Revirei os olhos, sentindo meu rosto esquentar em embaraço. Dimitri beijou o alto da minha cabeça e me puxou mais para perto e pra cima, nossos rostos ficando do mesmo nível.

- Não fique pensando que sou um bobo ou algo assim. Mas gosto de te ver dormir. Você fica tão tranquila, tão em paz.

Eu sorri para ele de volta, encostando nossas testas

- Não te acho bobo. Acho que sabe aproveitar o que tem.

Eu falei de forma divertida, mas não deixava de ser verdade. Ele me apreciava e eu o apreciava de volta. Aproveitamos nosso tempo juntos - que era bastante agora que Dimitri me treinava sozinho - de todas as formas possíveis.

– Sem contar que gosto de te sentir em meus braços. Assim, relaxada e quente.

Okay, Dimitri Belikov sabe como mexer com uma garota. Foi uma frase, sem malicia nenhuma, admito, que me fez pensar em outras formas de ficar relaxada e quente. E, como sempre, Dimitri pegou meu pensamento no ato, sorrindo divertido.

- Aah, Roza... – sempre me arrepiava quando ele me chamava assim. – o que eu faço com você?

Eu ri enquanto ele abaixava a cabeça em meu corpo, rocando o nariz em meu pescoço e parte do colo. Deus, me ajude a me controlar!

-Eu tenho muitas ideias do que você pode fazer.  – respondi num sussurro – Nenhuma hábil agora, infelizmente.

Ele riu em minha pele e fechei os olhos em contentamento.

Dimitri se moveu debaixo do edredom, me puxando para debaixo dele sem desgrudar seus lábios de minha pele. Os beijos subiram pelo pescoço e contornaram minha mandíbula.

- Sabe de uma coisa? Acho que você devia ir a uma reunião de Guardiões comigo.

- Uau, Dimitri, você sabe estragar um momento.

Ele sorriu maroto, e vi que tinha algo mais ali.

- Você não entendeu. Vai ter uma reunião de Guardiões e acho que você deveria ir comigo. Em Omsk. Só eu e você.

Então caiu minha ficha. Aproveitaríamos de um dever dele para uma escapada romântica nossa. Iriamos juntar o útil ao agradável. E minha ideia de agradável estava bem além do que ficar num quarto de hotel assistindo filme. Estava mais voltado para a cama e o que faríamos nela. Um tremor correu meu corpo em animação, e me senti quente. Em todos os sentidos possíveis da palavra.

Percebendo isso, Dimitri juntos nossos lábios em um beijos voraz e esfomeado, no qual respondi a altura, abraçando seu pescoço e o prendendo entre as pernas. Suas mãos percorreram meu corpo desejosas, subindo e descendo na parte de dentro da minha coxa, me causando pensamentos que nunca pensei que um dia teria. Sua mão, então, subiu para minha cintura, por baixo da blusa, acariciando minha pele.

Como eu havia pedido no dia anterior, Dimitri dormira sem blusa, apenas com a calça de moletom de sempre. Poupou-me trabalho em sentir seus músculos e pele conforme minha mão passeava por seu corpo, arranhando de leve suas costas. Gemi em seus lábios ao mesmo tempo que ouvia-se um leve rosnado vindo dele. Seus lábios voltaram a descer pelo meu pescoço, beijando toda a pele exposta de meu colo me fazendo suspirar.

- Roza... – Dimitri, arfante, parou e subiu o rosto para o meu. – Você está me deixando louco, sabia?

- Você? – indaguei sem folego, pegando seu rosto nas mãos – Dimitri, você não tem mais ideia do meu estado de sanidade! Pelo amor de Deus, quando é está reunião?

Ele riu de leve, beijando, agora, todo o meu rosto.

- Daqui uma semana. – eu gemi descontente e ele sorriu – Adoraria dizer que falta menos, ou que posso adiantar a reunião, mas infelizmente está fora da minha alçada.

- Poderíamos ir antes. – Sugeri otimista. – Sei lá, um tipo treino pra mim. Treino em campo!

Ele pareceu gostar da ideia, realmente, mas hesitou.

- Hm.. não sei, não. Treino de campo? Em Omsk?

- Ouvi dizer que há um grupo de guardiões que caçam por lá.

- Não, não há. – discordou Dimitri parecendo um tanto irritado. – São adolescentes que largaram a Academia ou o posto de Guardiões para fazer justiça com as próprias mãos. A maioria acaba morrendo. É quase uma missão suicida.

- Eles largaram a Academia? – como isso era possível? Nunca havia visto um caso antes, de... não prometidos. – Eles são idiotas ou o que?

- São iludidos, Rose. Acham que podem fazer melhor o nosso trabalho. Acreditam que devemos matar os Strigois, ir atrás deles, e não ficar protegendo Morois.

- Eu também acho que deveria haver missões assim, mas nem por isso eu larguei a Academia ou meu posto para dar uma de Hobin Hood por ai. Que vida mais... triste a deles. Não suportaria deixar Lissa para fazer isso! Como confiaria se ela estaria segura ou não?

Dimitri sorriu, e beijo o alto da minha cabeça. Jogou o edredom para o lado e se levantou.

- Eles tiveram seus motivos. – disse-me ele enquanto vestia um moletom - Infelizmente, imagino que não tenham uma Lissa para eles cuidarem como você tem.

Eu sorri e me ajoelhei na cama. Dimitri veio até mim e me abraço com ternura, de um modo protetor e com tanta leveza  que me surpreendia como um homem do tamanho dele conseguia se mover assim, de uma maneira tão... elegante.

- E também não tem um Dimitri, como eu tenho, para botar um pouco de racionalidade na cabeça deles.

- Racionalidade? – ele riu erguendo uma das sobrancelhas perfeitas – e desde quando Rose Hathaway é conhecida por sua racionalidade? Pelo que eu saiba você é a que age sem pensar movida pelo impulso. Eu sou o racional que sai atrás limpando sua bagunça.

- Hey, eu penso antes de agir! Não tenho culpa se sou rápida demais pra você. – me defendi, fingindo ofendida antes de torcer um sorriso vitorioso – Você vai atrás de mim não por que precisa limpar minha bagunça mas...

Antes que pudesse concluir a frase, Dimitri me beijou e eu ri em seus lábios. Eu havia ganhado a discussão, mas Dimitri quem arrebatou o prêmio. Não que eu estivesse reclamando. Por mim, ele poderia me interromper o quanto quisesse, desde que fosse sempre assim.

- Você fala demais, Rosemarie Hathaway.

- Eu acho que já me falaram isso...

Dimitri sorriu pra mim e me beijou mais uma vez antes de se afastar.

- Agora, se troque. Vamos tomar café e treinar.

- Podemos treinar da mesma maneira que ontem? – indaguei me levantando da cama e sorrindo enviesada – Aquele seu exercício de relaxamento é muito bom.  Sabe, aquele que você disse pra sua mãe que estávamos fazendo quando ela ligou...

- Não me provoque, Rose...                                     

Dimitri usou um tom de alerta, mas havia um brilho divertido no olhar que ele queria, mas não conseguia, esconder.

- Se você quiser, pode ficar aqui enquanto me troco. Não tem algum exercício parecido com aquele pra alongamento? É tão bom acordar e alongar...

- Você é impossível... – ele se dirigiu até a porta com um sorriso de canto – te dou 15 minutos pra descer pronta.

- Você me deve um alongamento...

- 14 minutos! – ouvi sua voz do outro lado da porta e em seguida seus passos na escada – e contando!

Eu ri pra mim mesma, me achando uma idiota do como alegre eu andava, e me concentrei em afastar pensamentos ligados ao corpo de Dimitri e comecei a me arrumar.

***

- Depois de mais de um mês de treino era de se esperar que você estivesse melhor, Rose.

- Cala a boca Dimitri Belikov.

- Foco! – revirei os olhos e bufei, ação que não lhe passou despercebida – Continue agindo assim. Nunca que me vencerá numa corrida.

- Posso ganhar de você quando eu quiser... – murmurei pra mim mesma.

Eu parei no meio da estrada, apoiando as mãos nos joelhos para pegar folego. Dimitri parou alguns metros a frente e pôs as mãos na cintura, me olhando com reprovação. Odiava aquele olhar. Sentia-me como se o decepcionasse, e isso não era nem de longe o que eu queria.

- Arght! Você é um chato. Credo!

Dimitri ergueu uma sobrancelha e caminhou de volta para mim, enquanto eu cai sentada, tentando respirar.

- Estou cansada. Minhas pernas doem e está muito frio, mal consigo respirar! E você ainda fica correndo na minha frente e me criticando. Isso irrita, sabia?

- Wooha, de onde veio tanto bom humor assim? Se bem me lembro, hoje de manhã você estava muito bem, Rose.

- Agora sou obrigada a ficar de bom humor o dia inteiro? – me levantei irritada e bati a mão na calça para limpar a sujeira – Me desculpe, Belikov, mas não sou perfeitinha como você e Lissa. Não tenho esse seu maldito autocontrole nem a paciência de um anjo como Lissa. Aliás, eu não sou nem um pouco parecido com vocês.

Dei as costas pra ele, andando duro de volta para Baia que me encarava ao longe.

- Rose, onde você vai?

- Voltar pra casa. São quatro da tarde e estou morrendo de fome. Chega de treino por hoje.

- Rose, o que deu em você?

- Só estou cansada. – Dimitri, em três passos, me alcançou – O que foi?

- Eu quero saber o que aconteceu. Você não estava assim de manhã. Aliás, você não estava assim há muito tempo.

- E daí? Hoje eu estou assim. Arght, não me amola Dimitri!

- Rose, você quer parar pra gente poder conversar como dois adultos?

Ele se postou a minha frente, me segurando pelos ombros para me obrigar a ficar no lugar. Tentei afastar suas mãos de mim, mas Dimitri era mais forte que eu, e estava determinado a me parar.

- Que inferno! Será que você pode me deixar em paz, porra? Por que todo mundo sempre tem que se meter na minha vida e tentar me obrigar a ser quem não sou? Quer saber de uma coisa? Eu não sou educada, e adoro falar palavrão. Sim, sou impaciente, impulsiva e ajo sem pensar. E estou nem ai pra essa merda toda!

Eu estava gritando, e nem havia percebido. Minha voz ecoava pela imensidão inóspita a nossa volta. Dimitri me olhava surpreso. Nunca antes havíamos brigado dessa forma. Correção: nunca antes eu havia explodido dessa forma. E isso o assustou e preocupou. Honestamente? Eu mesma fiquei assustada comigo.

Estava agindo feito uma idiota irracional. Havia uma raiva e frustração dentro de mim que eu não sabia de onde vira, mas queria descontar em alguém, apenas para me sentir livre dela. Queria descarregar esse peso de dentro de mim que me sufocava e corroía por dentro. Era como se viesse guardando isso, remoendo por dias e não suportasse mais.

- Está acontecendo de novo... – Dimitri murmurou, me analisando de perto com a testa franzida – É Lissa, não é? Isso é o Espírito, Rose.

- Dimitri, eu-                                                                                                                                      

Interrompi-me. Ele tinha razão. Era Lissa. De novo.

Quando eu torci meu pé, havia prometido a ele que lhe contaria tudo sobre mim, Lissa, o Espírito e sobre ser uma Shadow Kiss. E cumpri minha promessa. Contei tudo, nos mínimos detalhes, nos três dias de descanso que tivemos. A principio, Dimitri permaneceu um pouco cético, mas a convivência com sua vó o deixo mente aberta, e no final, assimilou tudo e acreditou em cada palavra que lhe disse.

- Rose... – Dimitri me chamou, mas eu não respondi. Estava assustada com a violência dos meus sentimentos... dos sentimentos de Lissa. – Rose, está tudo bem?

Maneei a cabeça negativamente, sentindo meus olhos encherem-se de lágrimas. Dimitri me puxou para seus braços, me abraçando apertado. De repente eu tinha muito frui, e ele me esquentou.

- Vai ficar tudo bem, Rose... ssshhh....

Dimitri murmurou algo em russo, e embora não entendesse, me acalmou de certa forma.

- Não, não vai. – retruquei com a voz embargada – Isso só vai piorar, Dimitri! Antes eu não estava absorvendo mais a escuridão, acho que era a distancia e... bem, você de alguma forma. Mas agora...

Ele me abraçou mais forte e senti que sua respiração pesava.

- Eu estou perdendo o controle. Eu estou... estou... Dimitri, acho que vou enlouquecer!

- Rose, não diga isso...

- Mas é verdade! Eu tenho uma outra pessoa dentro da minha cabeça e não consigo mais saber quem é quem! Onde eu termino e começa Lissa! Não posso deixar que perca o controle de mim mesma, não posso perder para o Espírito! Eu já estive a um passo da insanidade, e não quero voltar a ficar próxima de me perder!

- Eu não vou deixar que isso aconteça. – Dimitri se afastou, me olhando sério. – Rose, não vou te deixar. Não vou permitir que você se perca, que fique louca!

- Mas...

- Você é forte, Rose. – a voz dele suavizou. Suas mãos quentes e grandes acariciaram minha pele e ele tocou nossas testas – Muito forte. Você só não tem ciência dessa força. Eu te amo, e não vou deixar que nada lhe aconteça.

Eu sabia que eram palavras perigosas. Sabia que nosso relacionamento em si era perigoso. Mas não podia deixar de me envolver, não podia deixar de acreditar em suas palavras. Eu o amava de volta. Foda-se esse tabu de Guardiões, foda-se o que vão achar de nós dois juntos. Poderíamos dar um jeito de continuar esse namoro. E nada iria me impedir de tentar tudo o que fosse para ficar com ele.

- Eu também de amo, Dimitri. – eu sorri de lado, abraçando seu pescoço – Você não tem ideia o quanto. Chega a ser ridículo.

Ele riu e roçou nossos lábios no preludio de um beijo.

- Eu posso imaginar, Roza.

E então ele me beijou.

Como era difícil me sentir mal perto de Dimitri. Ele era minha força. Ele que me ajudava, mais do que qualquer um, apenas estando ao meu lado. Adrian havia dito que desde que eu chegara aqui minha aura estava mudando. Estava mais brilhante a absorvendo a escuridão, como se a anulasse. Era Dimitri. Ele era o responsável pela mudança em mim, a mudança de dentro pra fora que era o que todos esperavam que acontecesse com minha vinda para cá.

- Eu preciso checar Lissa. – Disse interrompendo nosso momento com pesar – eu vinha bloqueando-a bem, mas se chegou a este ponto tão rápido, é por que algo aconteceu.

- Devíamos ver Oskana. – sugeriu Dimitri enrolando uma mecha minha de cabelo distraidamente – Ela poderá te ajudar. Além do mais, você deve uma visita a ela. Disse que ia e acabou não indo.

- Vamos fazer assim... Voltamos pra casa como se nada tivesse acontecido eu tomo banho e checo Lissa. Depois, antes do jantar, vamos até a casa de Oskana. Tenho certeza que ficará contente com nossa visita.

- Combinado, então. De hoje não passa, Rose. – disse-me ele em tom de aviso.

Eu sorri de lado e o puxei para mim novamente.

- Ah, Dimitri... – murmurei encarando aqueles olhos escuros que viam minha alma – Você... droga, isso vai soar clichê e totalmente idiota, mas eu preciso de você. Você ter entrado em minha vida foi a melhor coisa que poderia me acontecer.

- Que bom que acha isso... – murmurou ele de volta, se aproximando mais - Porque não estou muito a fim de sair de sua vida.

Ele deslizou o nariz em meu rosto e aproximou a boca de meu ouvido, depositando um beijo leve que me fez arrepiar.

- Eu amo você – repetiu em sussurro – E você ter entrado na minha vida também foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo.

Ele voltou a me encarar, um momento apenas, antes de me beijar. Dimitri aprofundou o beijo, mas não nos deixamos levar desta vez. Era um beijo tenro e suave, que inspirava todo o amor entre nós, que passava toda a preocupação e carinho que ele tinha comigo.

- Agora, vamos voltar pra casa antes que congele, Rose.

Eu ri e segurei sua mão com força antes de tomarmos o caminho de volta pra casa.

***

- Eu sabia que tinha algo errado! Sabia! Mas pensei que fosse paranoia minha.

Oskana me encarava com seriedade, os braços cruzados sobre a mesa, ao lado de Mark.

Dimitri e eu havíamos chegado a sua casa umas cinco horas. Fora Mark quem nos atendeu primeiro, e pareceu surpreso pela visita surpresa. Mas acho que nossas expressões estavam bem explicitas, pois ele nos mandou entrar imediatamente e chamou sua esposa antes mesmo que pudéssemos falar. Estávamos sentados na mesa da cozinha, Dimitri ao meu lado e, ambos, de frente para o outro casal mais rápido do que eu imaginaria.

Eu explicara tudo para Oskana e Mark, Dimitri interferindo um momento ou outro apenas, complementando o que ele vira e suas impressões.

- Seu elo com Lissa... é incrivelmente forte, sabe? Quero dizer, você está em outro continente e ainda sim ela consegue te afetar com intensidade.

- Piora quando ela está com alguma emoção forte. Eu a chequei antes de vir pra cá, e.... bem, Lissa está meio surtada.

Enquanto tomava banho, me deixei ser levada para a mente de Lissa. Nunca a vira daquela forma. Vasculhando sua mente, vi que ela havia gritado, ameaçado e até insultado diversas pessoas na Corte por minha causa. Primeiro ela tentara fazer com que me trouxessem de volta. Depois, queria que ela fosse levada para onde eu estivesse. Agora ela tentava apenas contato comigo, algo que não tínhamos a mais de um mês. Me sentia culpada com relação a isso. Eu prometera a Adrian que iria ligar pra ela, mas não havia feito isso.

- No começo, eu também era atingido pela mente de Oskana. – Mark falou, pela primeira vez desde que nos sentamos – Mas era porque não estava acostumado. Foi confuso no começo, mas aprendemos a lidar com isso, atingimos um equilíbrio. Você duas tem que achar um equilíbrio também, Rose. Ou vai acabar enlouquecendo.

Enlouquecer. Essa era a palavra do dia. Como uma simples e idiota palavra poderia me fazer temer? Algo que nem os Strigois podiam?

Dimitri segurou minha mão por cima da mesa, sem se importar com os olhares do casal, e a apertou com cuidado, me fazendo olhar pra ele. Havia uma força e determinação em seus olhos que fez meu coração tremular.

- Você não vai ficar louca, Rose.

- O que? Você tem uma bola de cristal e viu o futuro, camarada?

Minha tentativa de zombar da situação não deu muito certo, uma vez que não era hora nem motivo para brincar.

- Não começa, Rose...

Eu ia respondê-lo, mas mordi a língua e fiquei quieta. O que eu queria dizer, não queria nem admitir para mim mesma. Era algo que devia esperar até que nós dois estivéssemos sozinhos para poder confessar em voz alta. Não que eu não confiasse em Mark e Oskana, por que eu confiava. Mas era... diferente. Não parecia correto falar com eles sobre isso, ou pelo menos eu não conseguia me abrir.

A única explicação que eu tinha pra isso era que eles não eram Dimitri. Eu passara 18 anos da minha vida fazendo o que achava ser certo para Lissa. Pela primeira vez eu estava agindo achando o que era certo pra mim. E Dimitri estava lá para me apoiar, sempre. Era com ele, e apenas ele, que eu conseguia me abrir verdadeiramente e dizer o que sentia.

- Tá, que seja... O negócio é que Lissa está me atrapalhando, e queria saber se vocês sabem de alguma coisa que possa me ajudar.

- Bem, na verdade, temos algo que possa te ajudar. – Oskana olhou para Mark. Quase como se pedindo permissão para ele. – Mark, busque-o, está bem?

Oskana esperou que o marido saísse da cozinha para voltar a falar. Ela sorria e sua voz era baixa, mas cheia de amor. Era linda a relação dos dois, mesmo.

- Mark se preocupa demais comigo... Ele sabe que isso é importante. Mais do que qualquer outra pessoa, ele te entende Rose.

- Ahn... Oskana, espere... o que você vai fazer? Quero dizer, não quero te trazer problemas ou algo do tipo.

Sua resposta veio ao mesmo tempo em que Mark entrava na cozinha. Não trazia nada com ele, o que achei estranho.

- Não se preocupe Rose. – Oskana estendeu a mão, pegando a de Mark – É simples. Bem... admito que depois ficarei um pouco cansada, aliás, como qualquer usuário do Espírito fica quando usamos nossos poderes. Mas não é nada que já não tenha feito.

Mark tirou um anel prateado do dedo, que nem havia reparado que usava, e o depositou no meio da mesa. Eu encarei o anel e ergui os olhos para eles.

- Tá... Era para ele fazer alguma coisa? Sei lá, soltar um raiozinho magico ou algo assim?

Foi Mark quem me respondeu com um sorriso fácil nos lábios. Dimitri, reparei, ainda segurava minha mão.

- Não, não, Rose. Okay, rápida revisão da teoria das suas aulas de Guardiã. – ele riu quanto torci o nariz. Digamos que não era muito boa em aulas práticas. – Nada difícil, não se preocupe. Vai saber me responder certinho.

- Okay, manda bala.

- Estacas. Do que elas são feitas?

- De prata. – respondi prontamente. – Até Paul poderia responder essa, sem ofensa.

Mark apenas riu e continuou.

- Como devemos matar um Strigoi?

- Acertando a estaca diretamente no coração. Se acertarmos qualquer outra parte do corpo, ele sentirá muita dor, mas não o matará.

Paciência tem limites, e a minha era minúscula. Aonde Mark queria chegar, afinal? Eram perguntas básicas, de ensino fundamental. Qualquer um, até mesmo algum Moroi mais atento, poderia respondê-las.

- E por quê?

- Por que o que?

- Por que devemos atingir o coração? Deve ter um motivo.

- Por que... por que....não sei. Você me pegou. Por que devemos atingir o coração.

- Primeiro me responda outra pergunta: o que tem nas estacas que as fazem tão especiais? Por que matam Strigois?

Suspirei e me recostei na cadeira, cansada de dar voltas e voltas. Qual era o problema de me dar uma resposta direta?

- Por que são forjadas com magia. É necessário um usuário de cada um dos quatro elementos, terra, agua, ar e fogo, para poder energiza-la. Tipo assim, as estacas estão cheias de poder branco, de poder bom e os Strigois são o contrário, energia ‘das trevas’ digamos. São pessoas que morreram e foram revividas por magia negra. Por isso a nossa magia os mata.

- Resumindo de uma maneira bem chula, sim é exatamente por isso.

- E o que isso tem a ver com o anel? Quem tem a ver com o Espirito me influenciando?

- Vamos usar o mesmo principio. – Mark pegou o anel e o pôs na palma da mão, dando a volta na mesa e sentando sobre ela ao meu lado – Este ano Oskana fez para mim. Ele é de prata, assim como as estacas, mas não vamos entrar no ‘por que tem que ser de prata’. Digamos que o Espirito é um... misto dos elementos. Um usuário do Espirito tem o controle básico de todos, mas suas forças não provem deles. Vem de si mesmo. De seu Espirito. Por isso Lissa fica cansada quando usa seus poderes, por isso seu psicológico fica sensível. Ela se desgasta demais. E para bater a escuridão do Espirito, vamos usar o Espirito.

- Então... Você vai me dar esse anel para que ele absorva a escuridão de Lissa e eu fique livre dela? Então é só usar o anel o tempo todo?

- Sim e não. Sim, por que o anel vai te ajudar com a escuridão. Não por que não será esse anel e você não precisa usa-lo o tempo todo. Apenas quando achar necessário. Isso é energia, e como as Wards, precisa ser ‘recarregada’, digamos assim. Se você usar o tempo tudo, se gasta mais rápido. Rose, você me disse que ficou pior nas ultimas semanas, em especial hoje. Pode me explicar o por quê?

- Bem, Lissa e eu estamos juntas desde o jardim de infância. Ela ficou abalada com minha partida. Nunca antes ficamos separadas assim. E seu primo, Adrian, eu já disse sobre eles a vocês. Ele também é um usuário do Espirito. Ambos veem treinando desde o ano passado mais ou menos. Acho que o uso frequente dos poderes a afetou.

- É uma teoria que não podemos ignorar... – concordou Oskana. – Então, Rose, farei para você um anel desses. Você irá usa-lo nos próximos dias e verá que se sente muito mais leve.

- Tudo bem, obrigada.

- Por agora, vocês dois ficarão aqui. Está tarde para irem para casa, e sabem como as coisas andam perigosas por aqui. Dimitri, você e Mark poderiam ir lá fora pegar mais lenha para a lareira. Está anoitecendo e esfriando.

Mark me deixou com o anel e saiu pela porta dos fundos. Dimiti foi logo atrás, não sem antes beijar o alto da minha cabeça com um daqueles olhares de ‘tudo vai dar certo’.

- O que você quer falar comigo que os dois não podem ouvir?

Perguntei direta, com um sorriso. Oskana não se sentiu intimidada. Sorri de volta, e pareceu orgulhosa por minha percepção.

- Não é que os dois não possam ouvir... mas é conversa de mulher entende. – eu sorri e ela continuou – Rose, é impressão minha, ou entre você e Dimitri tem algo além de amizade?

Admito, não era o que eu esperava. Não era nadinha o que eu esperava. Procurei palavras, mas não sabia o que responder. Mentia ou falava a verdade? Ou então um meio termo: meias verdades? Como se lesse minha confusão mental, Oskana sorriu e pegou minhas mãos entre as suas em gesto de conforto.

- Calma, Rose. Não estou criticando. Só quero saber se o que eu vi acontecer entre vocês dois agora é válido.

- O que você viu acontecer entre nós dois? – eu franzi a testa confusa – o que você quer dizer?

- Suas auras. Elas são... como poderia explicar... Rose, você acredita em almas gêmeas?

Eu quase ri na cara dela. Mas a seriedade da pergunta me manteve firme.

- Honestamente? Não. Você está dizendo que Dimitri e eu somos almas gêmeas?

- Não exatamente... As auras de vocês se refletem. É como uma... conexão entre vocês. É complicado de explicar, se você visse... – ela sorriu para mim com os grandes olhos brilhando. – Mesmo assim, não precisaria ter visto a aura de vocês para saber que tem algo. Mesmo se não estivessem juntos, eu apostariam que ficariam. É claro como agua o que cada um sente pelo outro.

Claro como agua? Se Oskana, que nos viu por uma tarde, sacou logo, então... Toda a família dele deveria ter sacado algo pelo menos! Tudo bem, ela tinha esse negócio em ver auras, mas mesmo assim... Aposto que Mark e Dimitri estão tendo a mesma conversa lá fora.

- Eu agradeceria se você não contasse a ninguém... – eu precisaria especificar que falava da família dele? – é que... nós mesmos ainda estamos lidando com essa situação... quero dizer... você entende, não é?

Oskana sorriu e se levantou. Segurou meu rosto entre suas mãos e me deu um beijo na testa.

- Claro, Rose. – ela então se dirigiu a sala enquanto falava – não quero te deixar preocupada, mas não creio que falte alguém para deixar de contar sobre vocês dois.

Engoli em seco. Mas... bem, se todos já sabiam e ninguém disse nada... Não havia problemas em dividirmos o quarto. Na verdade a cama, mas esses eram apenas detalhes.

- Ah, Rose... – eu me levantei e fui até a sala com ela. Puxava o tapete para longe, evitando suja-lo quando os homens chegassem com a lenha – Tenho uma teoria. Eu acho que a escuridão só não te afetou antes e não te deixo completamente descontrolada agora por causa de Dimitri. Ele tem sido... sua fonte de força.

Ela sorriu e voltou a ajeitar a sala, deixando-me a sós com meus pensamentos.

Era a mesma coisa que Adrian havia me dito tantos dias antes. Que Dimitri estava me ajudando, me mudando. Literalmente de dentro para fora. Começava a acreditar nisso. Dimitri... Caramba, seu nome, sua presença... ele tornara-se tão presente em minha vida que não conseguiria me imaginar sem ele. O que era um problema. O que faríamos quando acabasse esse um ano? Quero dizer, temos nossa responsabilidade de guardiões. E ele tem a família dele. Eu tenho Lissa. Uma parte egoísta de mim queria ir para os Estados Unidos e leva-lo comigo. Outra, a mais racional, dizia que um dos meus lados, ou Lissa ou ele, sairiam prejudicados. E eu não estava pronta para escolher.

Dimitri ligou para casa logo depois que a lareira foi acesa, avisando que ficaríamos por ali até a manhã seguinte. A conversa foi rápida e não pareceu ter resistência de ninguém. Após um delicioso jantar, Oskana e Mark nos ofereceram o quarto de hospedes e deixaram conosco algumas roupas para trocarmos para dormirmos. Mais uma prova de que Mark também sabia.

Enquanto arrumávamos a cama, Dimitri e eu ficamos em silencio. Estava um clima embaraçado, e na hora de trocarmos de roupa eu parei.

- Mark falou com você, não falou?

Dimitri pareceu aliviado por eu ter perguntado isso.

- Sim... – ele sorriu de leve e veio para meu lado, apoiando as mãos em minha cintura – Não sei se fico feliz ou apreensivo. É um bom ou mal sinal ninguém ter vindo falar com a gente?

- Prefiro pensar que é um bom sinal. Karolina sabe, sua vó também e acho que Victoria tem esperanças que fiquemos  juntos.

- O que? – Dimitri franziu a testa confuso – como assim, vovó e Vic?

- Bem, Vic ficava dando umas indiretas para mim e sua vó também. E depois... bem, Yeva sempre parece saber demais, e ela age como se soubesse de tudo.

- Sabe, não duvido disso. Minha vó é bem observadora mesmo. Mas Vic? – ele sorriu de leve – Bem, Vic sempre foi uma irmã dedicada e gosta muito de você.

- É... – suspirei e abracei seu pescoço, nos trazendo mais pra perto  -Dimitri... já Oskana e Mark já sabem e não tem nada contra nossa relação, e já que eles nos deu um quarto com uma cama bem grande—

- Não, Rose. – interrompeu-me – Nem pensar! Está louca?

- Hey, calma ai camarada. – eu ri brincando com seus botões – Não quis dizer para fazer aquilo que você tá pensando. Ia dizer que não precisamos nos preocupar em nos vestir. Quero dizer – acrescentei rapidamente – Você pode dormir a vontade... sem camisa.... e eu poderia usar, sei lá, algo bem a vontade também...

Dimitri, com sempre, me entendeu na hora. Antes que eu terminasse de falar, ele me puxou e me beijo. Mas, claro, não era um beijo qualquer. Dimitri me agarrou, literalmente. Cheguei a rir em seus lábios pelo susto. Ele estava sempre tão comportado e controlado.

Suas mãos me sustentaram e ele me levou até a cama, deitando-se por cima de mim, sem tirar os lábios de mim. Seus lábios percorreram meu pescoço e subiram novamente ao mesmo tempo em que ele tirava minha blusa, deixando-me apenas de sutiã preto de renda.

Vi seus olhos lampejarem de desejo e ele começou a desabotoar a blusa preta que usava. Ajoelhei-me em sua frente e o ajudei a tirar mais rapidamente.

- Que fique claro que vamos ficar só nisso. – afirmou ele, sério assim que sua peça foi para o chão com a minha – É a casa de Mark e Oskana. Eles estão do outro lado do corredor.

- Não to pedindo nada mais que isso, Dimitri. – eu sorri voltando a beijá-lo – Mesmo querendo muito mais que isso. Mas eu posso aguentar uma semana. Se estou viva há 18 anos sem...

Ele riu e voltou a se deitar sobre mim na cama.


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Notas finais do capítulo

Desculpe a demora, mas prometi que depois do dia 28 eu postava, aqui estou!!! Gostaria ter mais escrito para ter spoiller.... Vou começar a postar quando o proximo cap estiver algo mais que anotações...kkk ai poderei ter algo.
Mas, para nao dizer que não dou nada, o cap 15 e 16 será todo em Omks. .... preciso dizer mais?