Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 16
O Conde




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CAPÍTULO XVI. O CONDE

- E você... quem diria, meus amigos vieram acompanhados de um vampiro!

Van Helsing abriu um discreto sorriso. Finalmente ele recebia a confirmação que tanto esperou. Um brilho assassino tomou conta dos seus olhos quando começou a pensar que em fim tinha carta branca para matar o Diretor.

De esguelha, espiou o semblante de Mina; ela estava preocupada... Realmente não gostaria de magoar a moça, mas, se esse era o preço que teria de pagar para ver Snape morto, pagaria.

E ninguém mais sentiria falta de um vampiro não registrado...

Drácula riu-se, percebendo a inquietude do seu antigo inimigo.

- Ora, ora, Gabriel... De repente o seu coração ficou acelerado... De uma forma que eu nunca senti... nem mesmo nas inúmeras vezes que você, sem sucesso, tentou me matar. Vai dizer que não sabia que o nosso amigo é um vampiro?

Os olhos de Van Helsing cravaram-se em Snape.

- De fato, Drácula, tentaram me esconder esse fato.

O sorriso sarcástico do Conde se alargou.

- Está ficando enferrujado, meu velho amigo... – Voltou-se para Mina. – A nossa bela amiga Mina Stoker não reagiu com surpresa alguma...

- Talvez esse fosse um segredo de amantes.

Mina corou, enquanto o Conde se aproximava de Snape.

- É difícil dizer as emoções de um homem quando o seu coração não bate. Acho que é por isso que você é a pessoa que eu mais gosto aqui... fora a Srta. Stoker, claro.

Snape nada disse ou fez, permanecendo duro e inexpressivo. Um silêncio tenso se instalou naquela sala fria. Mina mordeu o lábio e, nervosa, decidiu começar a falar sobre trabalho. Talvez assim os ânimos se acalmassem.

- Conde... Eu queria que fôssemos logo para o assunto que nos interessa, se for possível.

Ele virou-se lentamente, quase flutuando até ela.

- O que você desejar, minha querida. Ao trabalho.

E, do nada, um grande birô apareceu bem no meio daquela sala, para onde ele flutuou – dessa vez literalmente – e sentou-se. Apontou para as três cadeiras que se materializavam em frente à mesa.

Os três caminharam, Mina um pouco relutante, até a mesa. Apenas Van Helsing se recusou a sentar.

- O que traz vocês aqui?

Foi Mina quem se dispôs a explicar a situação.

- Bem, assassinatos estão ocorrendo no vilarejo de Hogsmeade. As amostras recolhidas entre os corpos mostram que o responsável é alguém do seu bando. Conde, nós estamos aqui para requerer a sua ajuda nesse caso.

O Conde Drácula crispou os seus lábios finos, olhando para Snape com puro desdém.

- E vocês não têm nenhuma pista de que possa ser o culpado? Porque eu tenho um palpite...

Snape rolou os olhos para a acusação do vampiro. Como se apontasse o óbvio, falou com uma voz aborrecida:

- Não fui eu.

Van Helsing bufou.

A linha fina dos lábios de Drácula curvou-se.

- Parece que nem todos concordam com isso, meu caro amigo. Mas – ele continuou com uma voz falsamente solicita – eu posso lhe ajudar a provar a sua inocência analisando as amostras... – virou-se galanteador para Mina – caso a Srta. as tenha trazido.

Mina deu um sorrisinho tímido e agradeceu aos céus por poder esconder a vermelhidão em seu rosto ao baixá-lo para olhar a bolsa e retirar dela as amostras. As entregou para o Conde e, enquanto ele as analisava, ela torcia os dedos em antecipação. Não demorou muito para que o Conde dissesse:

- Sinto não poder ajudar.

Por um momento, Mina apenas olhou-o, incrédula. Como ele não podia ajudar? Era responsabilidade e dever dele ajudar! No momento seguinte, num incomum ataque de raiva, ela levantou-se da sua cadeira e apoiou-se à mesa. Os olhos do Conde brilharam à visão privilegiada do decote outrora discreto.

- O senhor é o antecessor desse vampiro! O pai do seu clã! É a sua responsabilidade, segundo o Decreto de Amizade entre Vampiros e Hom---

- Blá, blá, blá! – Ele se inclinou, aproximando o seu rosto do dela. A inconveniente proximidade fez Mina estremecer e corar. – E o que mais tem nesse maldito contrato? Nunca me deixaram ler! E, de qualquer forma, caso você não se lembre, Mina Stoker, durante a guerra passada vários vampiros se rebelaram! Tudo o que sei é que o pai desse vampiro em questão é Armand Rosentod, vampiro que matou dezenas durante a guerra! Ele costumava apenas matar, mas, ao que parece, vampirizou esse nosso amiguinho aqui. E, adivinhem: ele morreu! E isso é uma surpresa para mim também! – Ele suspirou, recostando-se nobremente à cadeira e voltando à sua expressão misteriosamente serena. – Se eu soubesse, teria catalogado-o e ajudaria vocês, afinal eu não sou mais o Conde Drácula: sou apenas uma marionete do Centro de Vampirologia.

Acuada, Mina retornou à cadeira. Voltou-se para Snape e Van Helsing, que olhavam com certo ódio para o Conde.

- Então não temos mais nada apara fazer aqui – suspirou. – Voltamos para a estaca-zero.

Mais um sorriso sádico do Conde Drácula deixou bem óbvio que ele não queria muito que este vampiro fosse capturado. Lentamente, ele se levantou – o que fez com que Mina e Snape o seguissem – e caminhou até os indesejados hóspedes.

- Uma pena – o Conde disse, sem muita convicção. – Ficaria feliz que oferecer-lhes um pouco mais da minha... hospitalidade. Adoraria que você passasse uma noite aqui, Gabriel, com as minhas antigas noivas...

Mina sentiu um arrepio cruzar a sua espinha só de pensar o que aquelas vampiras famintas que vira no pé da escada poderiam fazer com um desafeto do seu antigo amante.

- Muito obrigado, Drácula.

Os dois homens trocaram um olhar frio... Até que os olhos negros e profundos do Conde desviaram-se para Mina e, com um brilho lascivo, contemplou-a.

- Então podem ir... Podem ir assim que...

E, antes do Conde terminar a frase, Mina sentiu um forte puxão em seu braço e mãos firmes em sua cintura. Como um vendaval, o Conde arrastou-a para o fundo da sala. Antes que Snape e Van Helsing pudessem sequer pensar em reagir, uma grade de ferro despencou com um barulho estrondoso, separando pela metade a sala e deixando os dois homens perplexos, irados e – por que não dizer? – temerosos.

- FAÇA ALGUMA COISA! – Gritou Van Helsing para Snape.

- Eu não posso! O mordomo ficou com a minha varinha!

Mais apavorada que os dois estava Mina. A mulher não conseguia esboçar reação alguma, a não ser olhar o homem que, agora, baixara a luz da sala e criara um clima mais... romântico?!

Se foi de medo ou excitação ela jamais soube... Mas, enquanto o Conde Drácula – o mais temido e desejado dos vampiros – a rodeava, analisando o seu corpo e lhe enviando olhares que lhe despia, Mina sentia arrepios cruzarem o seu corpo.

Mordeu o lábio, sentindo-se, mais uma vez, corar violentamente.

- Conde... Er... O que exatamente o senhor tem em mente?

As mãos do Conde Drácula mais uma vez insinuaram-se pela sua cintura, trazendo-a mais para perto de si.

- Muita coisa, minha querida – ele lhe disse com um olhar lascivo cheio de segundas intenções. – Mas, por hora não farei nada. Por hora.

Ela engoliu, vendo os lábios do Conde se aproximar perigosamente dos dela – mas involuntariamente soltou um suspiro frustrado quando ele parou, deixando os lábios a meros centímetros de distância. Os corpos se colaram mais.

Drácula sorriu satisfeito ao perceber o suspiro frustrado dela contra os seus próprios lábios. Ele podia ouvir o coração de Mina bater... Tão acelerado... Isso o excitava. O sangue daquela mulher era tão fresco... tão imaculado... Já fazia algum tempo que ele não provava coisa assim.

Ele, com a sua experiência, sabia bem que, por baixo daquele rosto corado; por baixo daquela timidez, tinha uma verdadeira mulher. Ele sabia que, se fosse mordida, aquela meninota um tanto desengonçada que estava a sua frente deixaria de existir... E, se ela o deixasse adestrar a nova mulher que ela se tornaria...

- Por hora? Do que você está falando, senhor?

Tímida... E um tanto ingênua! Uma mistura diferente da que ele estava acostumado, com certeza... Não conseguiu evitar que o seu sorriso se alargasse.

- Eu vou dispensar uma das minhas noivas. Já estou com Gabrielle há muitas décadas e, se ela ficar mais um pouco, fará o aniversário de um século comigo. Um século é muito tempo. É hora de deixá-la ir. Dessa forma, apenas duas me restarão. Eu sou um homem muito carente, Mina. Não sei ficar com tão poucas companheiras. Três o número ideal!

“Eu, então, começarei logo a... fase de testes para encontrar uma terceira noiva. E, assim que eu inicio a minha procura, você me aparece: Um diamante bruto pronto para ser lapidado por mim!”

Uma das mãos do Conde insinuou-se por debaixo do vestido de Mina, acariciando a macia coxa. Ela enrubesceu mais ainda. Sabendo que era o certo a ser feito, ela delicadamente tirou a mão do Conde dali – embora o seu corpo pedisse que ela se deixasse levar. Aparentemente, Drácula não se insultou com a pequena rejeição, colocando a sua mão de volta na cintura de Mina e a trazendo ainda mais para perto.

Ele se inclinou sobre ela e em seu ouvido sussurrou.

- Fique aqui. Deixe-me descobrir se você realmente é a noiva perfeita.

Sem perceber, ao receber essa proposta Mina olhou para Snape. Sentiu borboletas revoarem em seu estômago quando os seus olhares se cruzaram. Seu coração acelerou ainda mais... O que, naturalmente, não passou despercebido pelo Conde, que apertou mais a sua cintura.

Ela voltou a encará-lo, tentando afastar seus corpos.

- Conde, olhe, você está enganado! Quer dizer, eu estou bonitinha, eu sei... Mas a produção foi tanta que, acredite, não há mais nada aqui a ser lapidado – tentou sorrir. – Eu sou tímida, desengonçada, insegura... Se você me visse como eu me visto normalmente, jamais teria pensado em me propor isso.

O conde apenas revirou os olhos, bufou e a largou – Mina quase perdeu o equilíbrio. Imediatamente, as grades que separava a sala em duas se ergueu – os dois homens apressaram-se para protegê-la.

- Bem, acho que a missão de vocês acabou. Mas devo fazer um pedido: da próxima vez que vierem, tragam como isca uma mulher que não esteja apaixonada por outro vampiro.

Se Snape tivesse um coração, ele certamente teria acelerado naquele momento.

XxXxXxX

O caminho de volta para o castelo foi, no mínimo, silencioso.

A chave de portal no centro de Vampirologia, a aparatação para Hogwarts... O caminho permanecia tranqüilo pela Floresta Proibida, até que, sem aviso, Van Helsing atacou Snape com um murro certeiro.

Ele cambaleou para trás. Com o golpe, ficou impossível evitar que os seus olhos tornassem-se brancos e os seus caninos crescessem.

Van Helsing deu um breve sorriso maldoso, enquanto tirava do seu sobretudo negro uma estaca de prata.

- Eu sabia! Diga-me, qual a razão de termos passado tanto tempo procurando um culpado, quando ele estava bem na nossa frente?

Mina mordeu o lábio, nervosa.

- Senhor Van Helsing, não foi ele!

- Não foi? Só vejo um vampiro nas proximidades!

- Eu não fiz nada, Van Helsing!

- Claro que não! Você só estava se alimentando! – ele se voltou para Mina. – E você sabia, Stoker! Sabia e escondeu! Você tem idéia do que quase causou? Você se deixou morder, não deixou?

Snape deu um passo para trás, tentando achar a sua varinha nas vestes. Tentou ponderar.

- Testes podem ser feitos, Van Helsing! Eu sequer sou do clã de Drácula!

- É um vampiro não registrado que não faria falta nenhuma no mundo!

E isso deu a discussão por encerrada. Van Helsing avançou com a estaca para Snape... na mesma hora em que ele alcançou a varinha. Snape, com a rapidez adquirida em seus longos anos de Comensal da Morte, sacou-a.

É impossível saber o que ocorreria primeiro: um violento feitiço ou uma estaca cravada no coração. É impossível, pois antes que qualquer coisa acontecesse, palavras desesperadas escaparam pela garganta de Mina:

- Pai, não faça isso! Eu o amo!

XxXxXxX


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