Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 10
Certas Qualidade de um Vampiro em Abstinência




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CAPÍTULO X. CERTAS QUALIDADES DE UM VAMPIRO EM ABSTINÊNCIA

Após quarenta longos e maçantes minutos, Mina via o seu segundo dia como palestrante na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts se aproximar do fim. Os alunos do sexto ano não se mostraram tão interessados em vampiros quanto os seus veteranos: os rostos sonolentos e aborrecidos eram compartilhados por quase todos no salão, exceto por um pequeno grupo de alunos que se sentava perto de onde Mina estava e absorvia cada palavra que ela dizia.

O último tópico daquela noite era a alimentação dos vampiros. Mina já falara que eles se alimentavam exclusivamente de sangue e sobre a atrofia nos seus aparelhos digestivos. E, após apontar a título de curiosidade que alguns vampiros costumam misturar bebidas alcoólicas ao sangue para modificar o seu gosto, viu uma garota loira da Lufa-lufa erguer uma mão e perguntar:

- E como eles conseguem esse sangue, se não atacam mais?

- Nós, bruxos, fornecemos às colônias de vampiros através de nossas poções sangue de ótima qualidade e na quantidade que eles quiserem. Hoje em dia, ataques, como esses que ocorreram em Hogsmeade, são infelizes exceções; geralmente são feitos por novos vampiros, que não têm muita noção de como conviver com a nova situação. Um vampiro registrado ataca uma pessoa qualquer numa noite de bebedeira, e logo a praga se espalha. É a função do Centro de Vampirologia localizar, registrar e educar esses vampiros novos... E, naturalmente, punir os culpados com asilo em monastérios.

Um sonserino:

- Vampiros podem viver sem sangue?

- Por alguns dias, sim. Mas aos poucos eles começam a ficar fracos, irritadiços e mais sensíveis; tanto à luz quanto à presença de sangue. Eu nunca soube se é verdade ou não, mas reza a lenda que eles podem chegar a enlouquecer se passarem muito tempo sem se alimentar.

E, ao terminar essa frase, Mina viu Snape se levantar. Com um suspiro, ela sorriu e encerrou a sua palestra.

XxXxXxX

O quarto escuro nas masmorras era o seu refúgio.

Ali, nenhum feixe de luz viria incomodar os seus olhos cansados. Apenas ali ele poderia se isolar do mundo... Ali só estavam ele, a fraqueza e aquela dor imensurável que fazia as suas entranhas se encolher em desespero.

Um dia, ele pensou ter conhecido o Inferno... Mas aquilo era muito pior.

Severo Snape se acomodou melhor em sua poltrona, tentando apenas dormir... Talvez, se ele conseguisse, pudesse esquecer aquele suplício por algumas horas.

Mas tímidas batidas ecoaram na porta, livrando-o do seu sossego.

Seu cérebro parecia querer explodir.

Levantou-se.

Acendeu a lareira – sentiu seus olhos queimarem.

Abriu a porta.

- Bom dia, professor Snape.

Parada e com um sorriso nervoso em seus lábios, lá estava Marilia Andrews. Snape nunca gostou da garota sonserina, mas, naquele ano, estava sendo obrigado a passar mais tempo na companhia dela do que gostaria: ela estava na comissão de formatura.

- O que é?

A menina respirou fundo.

- Bem, eu vim tratar da formatura. Da dança, para ser mais específica. Seria de bom tom que o diretor dançasse com algumas alunas... pelo menos as da comissão. Eu posso contar com o senhor?

Mas Snape sequer escutara a pergunta. Em algum ponto da conversa, Marilia Andrews amarrou os seus longos cabelos num desajeitado coque. A veia pulsante em seu pescoço logo foi evidenciada... E Snape não mais conseguiu tirar os olhos dela, sentindo a sua boca secar e...

- Professor?

Um breve toque em seu braço foi suficiente para trazê-lo de volta à realidade. Imediatamente, fechou os seus olhos – que já deviam estar esbranquiçados e suspirou, tentando se controlar.

Abaixando a cabeça para que a menina não percebesse os seus dentes já tão obviamente proeminentes, ralhou:

- Jamais, nem em um milhão de anos, eu dançaria com uma corja de patetas ridículas metidas a populares como vocês.

E fechou a porta, sem se importar com o semblante surpreso e quase magoado da menina.

XxXxXxX

- Você tem que começar a andar com algum tipo de proteção, Stoker.

Um sorriso brincou nos lábios de Mina, enquanto, de braços dados, ela perambulava pelas margens do lago junto com Van Helsing. Naquela manhã, ela tinha deixado o seu blazer surrado no quarto, mas nada parecia melhorar muito o visual daquela mulher desengonçada e mal-vestida. Disse:

- Mas eu tenho proteção! Sempre ando com uma cruz de prata em meu blazer. Eu tenho a minha fé, Senhor Van Helsing. E, por isso, realmente acho que eles não ousariam se aproximar de mim. Logo, bem que eu poderia ser liberada daquelas aulas de defesa pessoal, não?

Van Helsing parou, observando o casal de alunos que vinha na direção deles.

- Quem parece partilhar da sua opinião é o Snape.

Mina sentiu o coração falhar.

- É... Mas eu acho que ele já sabe se defen---

- Quieta!

Mina se calou, enquanto Van Helsing apurava os ouvidos para o que o casal de alunos estava falando...

E acabou ouvindo que um certo diretor ainda não tinha saído dos seus aposentos nas masmorras completamente escuras, e que o seu humor estava mais terrível que o normal.

- O que foi?

- Snape está com uma atitude suspeita. –Mina deu de ombros e tentou sorrir. – Stoker, por um acaso você esta me escondendo alguma coisa?

Sorriso nervoso.

Desviou o olhar.

- Oras! Claro que não! O que há para esconder?

- Algo sobre Snape? Sempre trancado nas masmorras, nunca está fora na luz do dia e, agora, inexplicavelmente irritadiço?

- O Senhor Snape sempre foi irritadiço! – Mentiu. Tinha que fugir. – Eu vou falar com ele!

Ela já estava distante quando ouviu a voz de Van Helsing.

- É muito estúpido, Mina – Ela se virou. –, entrar no covil de um ser perigoso. Mais estúpido ainda é deixar que um vampiro entre em sua mente... ou coração. Mas combinar essas duas burrices é extremamente perigoso. Então cuidado... – Ele ergueu uma sobrancelha ao semblante preocupado e confuso de Mina. – ...caso algum dia você queira fazer isso.

XxXxXxX

Mina bateu na porta e a abriu lentamente.

- Não precisa acender nada, Senhor Snape.

E Snape não acendeu uma vela sequer, deixando o aposento continuar com a sua aparência de mausoléu abandonado.

Sentindo o coração acelerar – talvez ainda pelo impacto do aviso de Van Helsing – Mina se aproximou cautelosamente da cadeira em que ele estava.

- Posso saber o motivo da sua irritação?

Ele não respondeu.

Um tenso minuto de silêncio se passou. Então, ela pôde ouvir um longo suspiro vir da cadeira à sua frente e viu olhos vampirizados a mirarem com ódio.

Nesse momento, dezenas de tochas se acenderam ao mesmo tempo.

Mina deixou escapar um gritinho agudo e instintivamente deu um passo para trás. Talvez ela tivesse fugido daquele quarto... mas, ao ver que a mulher se afastava, Snape rapidamente se levantou, a segurou pelos braços e a puxou para perto.

- Você! Você que sempre está por perto, sempre me espreitando.

A respiração dela ficou mais pesada, enquanto a proximidade dos rostos tornava-se atraentemente desconfortante.

- Você acha que eu não consigo ouvir? As batidas do seu coração, sempre acelerado quando eu estou perto...? Você não consegue ver que isso é uma tortura?

Ela viu os olhos de Snape pairarem sob seu pescoço desprotegido e as mãos descerem dos braços para apertar seus pulsos.

Mais perto.

A boca de Mina ficou seca.

- Você causou isso, Stoker! Eu avisei que não era bem-vinda, mas, ainda assim, você veio. Você e aquele seu namoradinho!

- Ele não é me---

- Eu sinto que vou enlouquecer! E você sequer presta atenção nisso! Você tomou tudo o que precisava!... – Snape lentamente abaixou o seu rosto. Por um momento, Mina pensou que ele a beijaria. Mas os seus lábios tomaram como rumo o pescoço dela. A primeira lágrima escapou pelos seus olhos. – Eu estaria no meu direito de te roubar só um pouco.

Os lábios dele roçaram gentilmente no pescoço de Mina – ela podia sentir a ponta dos dentes prestes a perfurá-lo. Agarrando-se ao seu último fio de esperança, ela tentou procurar o seu crucifixo...

Mas ele estava no blazer que apenas naquele dia ela não vestia.

Finalmente, o desespero inundou o seu corpo. Ela sabia que gritar não adiantaria, que ninguém lhe ouviria. Mesmo assim, tentou.

Mas as sua voz parecia estar congelada pelo medo. Ao invés do grito desesperado, apenas um sussurro quase inaudível lhe escapou pelos lábios:

- Severo...

E, num momento de sanidade, ele a soltou.

Mina tentou correr em passos trôpegos, e acabou por cair. Seus óculos partiram-se no chão, mas ela não se importou. O medo apenas a mandava sair daquela alcova o mais rápido possível. Arrastando-se em desespero, ela chegou à porta.

Severo, agora de costas para ela respirando pesadamente, gritou:

- Vá.

E ela se levantou e, com o coração martelando, deixou o quarto.

Já no laboratório, ela se permitiu encostar-se à porta e chorar abertamente. Trêmula, ela se viu finalmente encontrar a resposta que vinha procurando.

Foi ele! Foi ele, meu Deus!’

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