Lágrimas Silenciosas escrita por V Giacobbo


Capítulo 1
Capítulo Único




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A primeira lágrima cai. Ela é a lágrima que nós mais lutamos para reprimir, pois se não podemos contê-la, não seremos capazes de fazê-lo com as próximas.

Eu acredito que cada lágrima é como uma nota musical e sempre que você chora, uma nova música nasce.

A segunda lágrima cai. E com ela vem todos os sentimentos contra os quais lutávamos. Ela é um grito do nosso coração, uma erupção da nossa alma.

Algumas músicas começam com uma introdução calma ou agitada outras, porém, iniciam logo no clímax. Quando choramos é igual. Podemos começar calmos - e assim permanecer - ou desesperados, acalmando-se com o tempo ou não.

A terceira lágrima cai. Será que é mesmo a terceira ou já perdi a conta? Não sei, na verdade não me importo, a única coisa que assimilo é a liberdade.

A vida seria triste se não houvesse a música? Eu também acreditava nisso, agora não. A vida também é triste mesmo com a música, sem ela a vida não seria vida, seria apenas um vazio. Quem não chora não é porque não está triste, afinal podemos chorar de felicidade. Quem não chora é nada, um buraco negro vazio e frio.

Outras lágrimas caem. Agora já estamos entregues à liberdade. O grito e a erupção nos libertam, tirando o peso das nossas costas, da nossa vida, da nossa alma.

Por que somos tão apaixonados por música? Pois somos parte dela. Ela expressa nossos sentimentos mais ocultos e, por várias vezes, negados. Um sorriso é capaz de nos cativar, mas ele pode ser falso e sem sentimentos. Contudo, uma única lágrima é o suficiente para nos apaixonarmos, a lágrima sincera, uma nota musical que se grava em nossa alma.

Lágrimas não mais silenciosas caem. A liberdade não é apenas um sentimento que se aproxima, é um alvo que queremos alcançar o mais depressa possível e nos desesperamos por isto.

O clímax de qualquer música nos contagia, embala nosso coração e envolve nossa alma. É a liberdade que nos toma em seus braços, a liberdade de agir e pensar como bem entendemos. Ao chorarmos reafirmamos isto, estamos chorando por que queremos sentir à tão desejada liberdade.

Lágrimas não mais sozinhas caem. Às vezes, a liberdade é tão boa que mata o desespero e uma fagulha de alegria nasce em meio ao oceano de tristezas. Um sorriso fraco e sutil.

A música pode ser um mix de estilos, de instrumentos. Metal e música clássica, guitarra e violoncelo. É uma mistura bonita, como o sol e a chuva que cria vida, como lágrimas e sorrisos que mostram nossa alma como ela realmente é.

Lágrimas raras caem. O alivio une-se à liberdade, calando o grito do coração, apaziguando a erupção da alma.

De fato, a música e nós somos um mix. O que seria de nós sem a música e o que seria dela sem nós? Nós somos a música, a música é a gente. Um reflete o outro. Lágrimas são um mix de nossos sentimentos, de quem nós realmente somos: alegrias, tristezas, alívios.

A penúltima lágrima cai. E percebemos uma coisa. A liberdade e o alívio foram bons, mas não seriam necessários se não houvesse a dor.

Nós só podemos nos enxergar vendo uma imagem em um espelho. A música é o espelho que reflete a verdade sobre nós mesmos, a verdade que não compreendemos até vê-la face a face. Apenas com lágrimas podemos ver – mesmo sem um espelho – o que de fato sentimos, elas jogam na nossa cara que ainda há amor escondido atrás do poderoso ódio.

A última lágrima cai. E uma promessa é feita. Todas as lágrimas – unidas – formaram uma música - cheia de tristeza, dor e aceitação - à qual nunca mais cantarei.

Eu vivo em um musical. Mesmo sem as lágrimas em meu rosto, as músicas ecoam em minha cabeça. Eu gostaria de cantá-las, de chorá-las. Entretanto, o show é individual, assim como as lágrimas. Minhas músicas apenas eu compreendo, apenas eu ouço minhas lágrimas musicais.


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