Quatro vassouras cortavam o ar sobre a floresta. Cada um de seus pilotos mantinha a varinha em punho e voavam em formação cerrada, de forma que poderiam abranger a visão para uma maior área. Prevendo possíveis imprevistos. Os quatro estavam calados em concentração quando um deles, loiro, gritou.

- Revoada de... AQUILO SÃO AVES DE ESTINFÁLIA*?

- Onde é que aquele cara consegue esses bichos? - Questionou o moreno logo abaixo do loiro.

- Prefiro nem imaginar. - Retrucou a morena ao lado do loiro.

- Mas a pergunta importante é... Como lidamos com eles? - A ruiva acima da morena segurava a vassoura com mais força.

- Acho que é com... Esqueci! - Exclamou o moreno com desespero. - Vamos lá galera, tiro ao alvo. Bombarda! - Exclamou mirando para o meio da formação. Um dos pássaros parou por um momento parecendo brevemente atordoado, mas então voltou ao ataque.

- Impedimenta! - Exclamou Salazar com um floreio da varinha. Poucos pássaros exitaram, mas voltaram ao ataque.

- Estupefaça! - Berrou Helga. Um pássaro caiu, mas logo votou à formação.

- Como eu odeio o Lucian e sua criatividade. Expelliarmus! - Exclamou Godric, porém sem nenhum resultado. - Eles são armas voadoras! Esse feitiço deveria fun...

- Sonorus! - Rowena exclamou e em seguida, gritou a plenos pulmões.

- O que você está fazendo? - Perguntou Godric se sobrepondo ao grito de Rowena ouvindo Helga soltar um gritinho assustado ao ver um dos pássaro oscilar e cair pesadamente como uma massa de chumbo.

- Na história grega, Hércules os espantou com barulho. - Comentou Rowena. - Foi uma idéia arriscada eu sei, mas eu precisava tentar. Os pássaros estão se aproximando muito rápido.

- Saída inteligente. - Falou Salazar. - Vamos então!

- Sonorus! - Os quatro exclamaram e gritaram a plenos pulmões. Uma a uma, as aves foram desmontando no ar, até que a última ave parou.

- Não quero nem imaginar onde esse cara conseguiu aves de estinfália. - Comentou Salazar um pouco rouco.

- Vamos concordar que o Lucian é mais maluco que o tal de Alexander Abbott... - Disse Godric.

- Se não me engano, Lucian e Alexander são primos... - Falou Helga incerta.

- Isso explicaria muita coisa. - Concluiu Rowena e os quatro gargalharam, voltando em seguida a voar para o centro da Floresta do Dragão, batizada assim por conta dos antigos ninhos de ovos de dragões ainda existentes no meio de suas árvores.

- Da última vez que viemos aqui não parecia tão longe... - Começou Rowena forçando a vista para o horizonte.

- É verdade... Espera aí! Confringo! - Exclamou Salazar apontando a varinha para o céu. Godric, Helga e Rowena olharam para ele com uma expressão confusa. - Tive a impressão que fosse um feitiço de loop visual... - Falou dando de ombros.

- Engenhoso... Muito engenhoso. - Falou a voz de Lucian reverberando por toda a floresta. - Para a nossa prática de hoje, eu vou me divertir um pouco. E vocês... bem, vocês vão voar!

- Não quero saber o que ele quis dizer com isso. - Falou Helga seguando a varinha.

- Algo me diz que já vamos descobrir. Olhem lá! - Apontou Godric.

Ao longe, um vulto disforme se aproximava. Apesar de ainda estar longe, percebia-se uma postura majestosa por parte dele.

- Ele trouxe um dragão? – Exclamou Rowena abismada.

- Queira Merlin que isso seja um feitiço de conjuração dos bons. – Disse Salazar.

- Não usem o nome de Merlin em vão. Principalmente por que ele não vai PODER AJUDÁ-LOS agora.

- Aulas de boas maneiras pra esse cara. É falta de educação ficar ouvindo a conversa dos outros. – Resmungou Godric audivelmente.

- Mexa essa vassoura, gryffindor! Foi petrificado? Não! Ravenclaw, Slytherin, Hufflepuff, por que estão parados também? Vão! Vão! VÃO!

- Vamos lá... – Disse Godric voando na direção do dragão.

- Drico, espera! Não é um dragão! – Gritou Rowena.

- O que é Row? – Perguntou Salazar.

- É o próprio Lucian. – Gemeu Helga eu olhava na mesma direção de Helga.

- Oh Merlin. – Disseram Salazar e Godric Juntos.

-x-

Quatro jovens estavam deitados no chão no centro da clareira e aparentemente eles não planejavam se mover tão cedo.

- Caramba... Ta aí um cara que sabe ser criativo empunhando uma varinha. – Disse o moreno sem abrir os olhos.

- Como você é gentil, Drico. Mas de onde eu venho um cara assim é classificado como sádico. – Retrucou o loiro apoiando-se sobre os cotovelos. A morena e a ruiva que também estavam deitadas riram com o comentário.

- Falando no diabo... – Murmurou o moreno sentando-se. Os outros prenderam com dificuldade o riso.

Pela esquerda da clareira um rapaz alto com vestes de feiticeiro e uma armadura semi-completa se aproximava. Em sua cintura uma bainha pendia, com uma espada cujo punho continha uma pedra de água-marinha.

- Para quê a roupa de cavaleiro, Lucian? Vai à feira de Camelot no mundo Trouxa? – Brincou Godric.

- Muito engraçado, Gryffindor. Mas lembre que se não fosse por Merlin, o reino de Arthur Pendragon teria caído e a mágica como vemos hoje não existiria.

- E talvez tivéssemos uma variedade maior de criaturas mágicas. – Resmungou Rowena.

- O que perdemos Jovem Ravenclaw? – Questionou Lucian com tranqüilidade. Rowena exitou por um instante antes falar.

- Os lendários Dragões-Serpentes Brancos, os Capricórnios, os Pavões-de-Hera, Falcões das Asas de Prata... Fora as plantas. Dionísicas, Raios de Zeus, Algas de Poseidon...

- Tem um acervo de Livros de Poções antigos em Casa, Rowena? – Interrompeu Lucian indiferente apesar de não demonstrar a surpresa que teve ao descobrir a extensão dos conhecimentos de Rowena.

- Papai trouxe um manuscrito da Germânia semana passada. Estava escrito em algo entre o Grego e o Latim. Não foi muito difícil traduzir. – Rowena deu de ombros com simplicidade e Lucian se surpreendeu mais ainda por conta da habilidade da garota. Aquilo que ela descrevia era uma língua antiga, esquecida até mesmo pelos Anciões do vilarejo. Com esforço deixou o espanto de lado e manteve o rosto livre de qualquer emoção. Ainda não era hora de os garotos saberem detalhes sobre suas habilidades. Fossem elas adormecidas ou desenvolvidas. Era hora de mudar de assunto. Os garotos ainda não estavam preparados para a carga de conhecimento que precisaria ser despejada e não seria bom se começassem a fazer perguntas.

- Muito bom você ter me lembrado de seu pai, Rowena. Sabem. Eu andei pesquisando a árvore genealógica da família de vocês... – Começou Lucian com sua típica postura indiferente notando os súbitos olhares de interesses surgiram nos rostos de Godric e Salazar.

- E? – Os quatro o olharam com expectativa e Lucian a custo conseguiu conter o riso.

- E nada... Foi apenas uma curiosidade momentânea que me deu. Foi apenas um comentário aleatório... – E deu de ombros dando o assunto por encerrado. Ele percebeu que Godric e Salazar estavam abrindo a boca e Lucian via a mente dos dois fervilhando com perguntas. Perguntas que poderiam ser inocentes, ou que poderiam precisar de uma resposta que não cabia a ele dar. De qualquer maneira, era hora de dar algo para aqueles quatro refletirem. - Mas Vamos falar de coisas importantes. Rowena...

- Sim Lucian? – A garota deu um pequeno pulo ao ser chamada.

- Nem só de feitiços vive um feiticeiro, mas de todo o conhecimento que puder adquirir, certo?

- É como eu penso...

- Então... Você pensa que a natureza pode transmitir conhecimento? – Ele a olhou fixamente.

- Eu...

- Pense nisso... Talvez até... Pesquise sobre isso. Sei que pode encontrar algo. – Cortou Lucian. – Helga...

- Sim?

- Grandes poderes geram grandes responsabilidades. Conhecimento gera poder. Poder gera poder. O que me diz?

- Bom...

- Medite. Não é tão óbvio quanto parece. Salazar...

- Prewett?

- O que faz um bruxo? Sua perícia com a magia ou a forma como ele usa essa perícia?

- Devo refletir sobre isso. – Lucian sorriu com a resposta de Salazar.

- Apesar de parecerem perguntas simples, e são, a forma como vocês as respondem podem dizer muito sobre vocês. Godric...

- Diga...

- Um bom combatente vence em casa ou vence o inimigo em território inimigo seguindo as regras do inimigo?

- Meditarei sobre isso. – Lucian apenas assentiu. Um breve lampejo de orgulho brilhou em seus olhos, sendo logo disfarçado pelo olhar frio e analítico.

- Vocês evoluíram bastante desde que começamos. Se bem que... Se não tivessem evoluído nada em cinco anos eu seria obrigado a ir até os Anciões e pedir para que arrumassem um instrutor melhor para vocês. De qualquer maneira... Esqueçam. Isso é conversa para outra hora. No treino de hoje, eu notei que por mais que vocês confiassem uns nos outros eu percebi que ainda falta entrosamento em vocês para um combate em equipes. E vamos nos focar isso por hora. Eu sei que já terminamos por hoje, mas...

- Combate em equipes? – Interrompeu Godric confuso.

- Pois é... Me chegou aos ouvidos que vocês queriam chegar ao nível de Feiticeiros... Bem, não vou dizer que é um caminho fácil. Meu antigo instrutor de Magia tentou percorrer esse caminho. Sei que fui o último que ele ensinou. Depois que passei no teste final dos Anciões, ele simplesmente sumiu. De qualquer maneira... Sim. Combate em equipes. Vocês vão precisar treinar sua liderança e seu entrosamento. Cada um deve conhecer os movimentos do outro e saber o que o outro vai pensar. Acho que talvez Godric não gostaria de estar na frente de Salazar se este decidisse explodir o que quer que estivessem enfrentando. Entendem o que eu digo?

- Para não atrapalharmos uns aos outros. – Murmurou Rowena recebendo um aceno positivo de cabeça da parte de Lucian.

- Que bom que entenderam. Por isso, para a próxima tática de exploração eu quero que pratiquem o feitiço de desilusão. Vamos brincar de E.E.E. na próxima vez que nos encontrarmos.

- E.E.E.?

- Esconde-Encontra-Estupora. Treinamento de campo. Eu serei um mago corrompido e vou tentar encontrar vocês. É claro que eu farei esse jogo com as minhas regras. Se preparem para provar o que sabem. E isso ainda fica melhor... Geminiare! – Falou com um floreio da varinha à direita seguido de um para a esquerda e para a surpresa dos garotos, um segundo Lucian apareceu. Ambos possuíam sorrisos de antecipação nos lábios. – Vão ser divididos em duplas.

- Wow! - Exclamaram Salazar e Godric ao mesmo tempo. - Alguma possibilidade de aprendermos esse feitiço?

- Um dia... - Começou o Lucian da esquerda.

- Talvez... - Riu o da direita. - Solo finare! - Exclamou com outro aceno fazendo sua cópia desaparecer.