Fronteiras da Alma escrita por By Mandora


Capítulo 8
Pesadelo Ou Realidade?




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– Miroku...

Kirara, em alerta, transformou-se em fera, pondo-se diante dos dois. O monge olhou para sua parceira, que estava atrás dele, com as costas coladas nas dele. “Eu sei, Sango...”

– Você acha que é o Kohaku, Sango?

– Quem mais poderia se aproximar assim de nós sem ser notado?

– Só que esse não é o nosso único problema... Veja.

Ao observar a direção apontada por Miroku, Sango pôde notar uma área negra no céu, não muito distante deles. Eles sequer perceberam como aquilo tinha se formado, mas parecia que agora estava se dissipando. O problema é que estava justamente sobre o local onde Inu-Yasha e Kagome deveriam estar.

– Mas que droga, Miroku! O que será aquilo?

O monge sequer escutou a pergunta. A proximidade dela ao seu corpo despertou-lhe vontades pervertidas. E enquanto ela se distraía com aquela negra nuvem sumindo do céu e revelando a noite estrelada, ele sorrateiramente escorregou a mão e apalpou-lhe a nádega com vontade. Ela cerrou o punho e trincou os dentes. “Como ele pode agir assim num momento delicado como este?” Ela deu um salto para trás, virando-se para encará-lo, e acertou-lhe o Hirai Kotsu bem na cabeça. Um galo enorme e redondo surgiu no local da pancada e as lágrimas desciam pela face do monge. Kirara destransformou-se e subiu no ombro de sua dona.

– Sango, você tem estado muito violenta ultimamente...

– E você muito assanhadinho! Vamos andando!

Ela saiu com passos pesados, após colocar o arco e flechas de Kagome nas costas, seguida por sua fiel companheira. Tudo o que ele pôde fazer foi rapidamente jogar terra sobre a fogueira e pegar a mochila de Kagome, seguindo a exterminadora logo depois. Sango interrompeu seus passos um pouco e olhou para trás. Sentia-se sendo observada, mas não conseguia identificar o espião nas sombras. “Se ele quisesse já poderia ter nos atacado... Kohaku... Prometo que vou salvá-lo.”

– O que foi, Sango? – Perguntou o monge, parando um pouco mais na frente dela.

– Não é nada, vamos embora.

Enquanto se afastavam do local, uma silhueta de um garoto os observava a uma distância segura, longe do alcance da visão dos dois que se afastavam. “Esse rosto...” Kohaku lembrou-se do rosto cheio de lágrimas de sua irmã, embora não se lembrasse de quem era ela. “Por que eu tenho essa visão quando a vejo?...”

-x-x-x-x-x-

Houjou acordou como que de um pesadelo terrível. “Kagome...” Respirava com dificuldade e só então notara que havia pegado no sono no sofá da sala. Em seu colo, permanecia sua espada, que seu pai havia lhe pedido para guardar. Mas uma sensação de angústia o impediu de fazê-lo. Algo estava errado. Não havia permitido antes que Kagome a pegasse, pois queria que Inu-Yasha o fizesse. “Mulheres não podem tocar esta espada porque ela é sagrada... Que desculpa esfarrapada eu dei. Mas pelo menos funcionou.” Ao lado do sofá, localizou uma mesinha e sobre ela estava o telefone. Pegou-o e com certa ansiedade, ligou para a casa de Kagome. O avô dela atendeu.

– Senhor Higurashi? É o Houjou. Desculpe incomodar a esta hora, mas eu preciso falar com a Kagome...

– Sinto muito, Houjou. Mas ela foi à casa de uma amiga e como é longe, vai dormir por lá hoje. É urgente? Eu posso anotar o recado e...

– Ah, não é nada urgente, não se preocupe. Obrigado e boa noite.

Ele desligou o telefone e o colocou de volta sobre a mesinha. Havia preocupação em sua face e gotas de suor desciam por ela. Ficou um pouco pensativo, com a mão sobre a espada em seu colo. A manteve consigo esperando que aquele pressentimento ruim passasse, mas isso não aconteceu. Não conseguia tirar Kagome de seus pensamentos; sabia onde ela estaria agora e não era na casa de uma amiga.

Resolveu seguir o conselho de seu pai, já que agora não poderia fazer nada. Foi até o alçapão e desceu lentamente por ele. Havia muita escuridão naquele lugar e o rapaz desceu a escada com cuidado. Os degraus soltavam rangidos a cada passo. Finalmente, no final da escada, ele pôde achar um interruptor e iluminar o ambiente. Não era um lugar muito grande, mas muitos objetos antigos estavam espalhados por prateleiras. Haviam vasos dos mais variados tamanhos e cores. Pergaminhos inestimáveis contendo escritos antigos. Tapetes das mais finas confecções, com séculos de idade. Verdadeiros tesouros estavam guardados naquele cômodo. Porém, o maior tesouro estava por trás de uma porta no fundo daquele lugar. Uma porta lacrada por magia budista. Houjou aproximou-se da porta e a tocou. Um brilho róseo envolveu a porta e ele se afastou. De um canto escuro do local, atrás de Houjou, surgiu um ser que permaneceu oculto pelas sombras. Mas sua silhueta revelava sua natureza. Tinha orelhas pontudas, calda e garras que reluziam. Era um youkai com certeza.

– Já começou, não é mesmo, meu senhor? – Perguntou a criatura.

Sem olhar para trás, Houjou respirou fundo, arrancou os lacres da porta e a abriu. Aquela mesma luz rósea emanava intensa pelo cômodo. Lá dentro, a fonte de toda aquela luz, a Jóia Shikon, permanecia sobre uma almofada em um pequeno altar, com dois pequenos vasilhames onde se encontravam restos de incensos queimados. Abaixo dela, um altar menor com o que pareciam serem três espadas cobertas por seda branca. Houjou entrou no local e colocou sua espada ao lado das outras, cobrindo-a em seguida com o tecido. De uma das prateleiras retirou uma caixa de madeira e a abriu. Havia incensos dentro dela. Colocou um incenso em cada um dos vasilhames e os acendeu. Diante do altar, uniu suas mãos na altura do rosto e fez uma prece silenciosa. Bateu três palmas e ficou fitando aquela bola reluzente, motivo de tantas mortes no passado e que agora estava temporariamente sob sua proteção. Ainda sem encarar o ser que o vigiava disse:

– Meu caro amigo, a cada dia que passa, a Jóia Shikon perde mais de sua pureza. Não tenho escolha, terei que trazê-la aqui.

– Mas isso era inevitável, meu senhor... Ela é uma sacerdotisa, mais cedo ou mais tarde, teria que haver este encontro.

– Eu não queria que fosse assim tão cedo...

– Como pode o senhor saber? O senhor e Inu-Yasha...

Houjou voltou-se aborrecido para seu amigo e o interrompeu.

– Não me compare com aquele covarde, Shippou! Ele fugiu e a abandonou! Eu jamais faria isso...

Shippou, que até então se manteve oculto nas sombras, saiu para a claridade e se mostrou um youkai adulto e forte. Seu cabelo cor-de-fogo, grande até a cintura, estava preso em um rabo de cavalo. Seu físico desenvolvido intimidaria qualquer um. E em sua cintura estava enrolada a pele de seu pai, morto pelos irmãos Relâmpago, muitos séculos atrás. Ele encarou Houjou com uma certa tristeza.

– Meu senhor, tenho estado ao seu lado desde que era um bebê. Sempre permaneci ao lado de sua família, amando-a e protegendo-a como se fosse minha, desde que Inu-Yasha partiu. Vi aquele hanyou cometer muitos atos insanos e também muitos atos de bravura, a ponto de arriscar sua própria vida para proteger a vida das pessoas que ele amava. Devo minha vida inúmeras vezes a ele... Não queira me dizer que ele é um covarde, porque isso não é verdade.

– Como você quer que eu acredite nisso, se ele desapareceu sem deixar nenhum traço? Até sua espada deixou para trás. Até Kagome deixou para trás... – Uma certa tristeza tomava conta da voz de Houjou.

– Infelizmente, não tenho todas as respostas. O passado não pode ser mudado. Mas o futuro pode... – Houjou levantou os olhos e o encarou. – Não sei o que está reservado para o senhor ou para os outros, Miroku deixou pouca coisa escrita. Acho que ele não queria perturbar a linha de tempo. Mas acredite em mim quando eu digo que apenas queria elogiá-lo ao compará-lo a Inu-Yasha...

– Shippou, a única coisa que eu tenho em comum com aquele hanyou é o espírito, nada mais.

Houjou tratou de fechar a porta do cômodo onde estava a Jóia e lacrá-lo novamente. Depois, foi silenciosamente até as escadas e apagou a luz.

– Me diga, Shippou, o que realmente aconteceu com Inu-Yasha?

– Essa é uma das repostas que eu não tenho, meu senhor...

Houjou deu-lhe as costas e subiu as escadas, sob os atentos olhos de Shippou, até que ele saísse do local. O alçapão ficou aberto, deixando uma tênue luminosidade entrar. O youkai ficou observando aquela passagem. “Essa é uma resposta que não posso lhe dar, terá que descobrir sozinho...” Depois voltou seu olhar para a porta do cômodo onde se encontrava a Jóia. Ela estava lacrada, mas ainda assim podia sentir a energia da Jóia emanando daquele lugar.

– Se continuar a se corromper, youkais começarão a serem atraídos para cá. Jóia Shikon... Será que essa maldição nunca vai acabar?

Respirou profundamente e olhou para o teto, para aquela lâmpada que pendia dele apenas por um fio. “A partir de agora, as coisas começarão a ficar cada vez mais difíceis, tanto para Inu-Yasha quanto para Houjou. Eu não pude estar com Inu-Yasha e ajudá-lo quando ele mais precisou, mas posso estar do lado de Houjou...”

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Kagome corria desesperadamente pela floresta, procurando abrigo da criatura que a perseguia. Foi obrigada a interromper seu trajeto quando o monstro surgiu diante dela. O sangue escorria de suas garras. Seus olhos vermelhos ainda desejavam mais sangue, o dela. Ela deu alguns passos para trás e deparou-se com uma árvore. O youkai levantou suas garras para satisfazer sua vontade.

– Inu-Yasha! Não!

Ela abaixou-se e conseguiu evitar o golpe daquelas garras que chegaram a partir a árvore ao meio. Rapidamente, escapou pelo lado e continuou sua corrida pela vida. Com o braço esquerdo segurava o ombro direito, do qual sangue jorrava, manchando sua roupa. Inu-Yasha a havia acertado após ela ter usado o Koto-dama mais duas vezes, depois dele ter matado o youkai rato. Porém suas tentativas foram em vão. Ele não despertava. Seus olhos outrora dourados e que tantas vezes foram doces com ela, agora estavam vermelhos de desejo, desejo de ter mais sangue em suas mãos. Logo, a visão da colegial começou a ficar embaçada. Estava perdendo as forças por causa do sangue que perdera. Mas ainda podia escutar, atrás de si enquanto corria, o som daquelas garras que já a salvara tantas vezes, agora derrubando a vegetação para matá-la. “Isso é um pesadelo! Só pode ser! Por favor, eu quero acordar! Eu quero acordar!” suplicou ela a si mesma.

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Miroku e Sango chegaram até o local onde estava o corpo do youkai que Inu-Yasha matara, mas não havia nenhum sinal dele ou de Kagome.

– Onde será que eles estão, Miroku?

– Eu não sei, mas...

Interrompeu suas palavras quando, ao percorrer o local com os olhos, notou um objetivo. “Essa não...” O monge correu até o objeto, seguido por Sango. Lá estava ela, a espada de Inu-Yasha, Tessaiga, cravada no solo, abandonada. Miroku largou a mochila de Kagome, pegou a espada e ficou olhando para ela. Percebeu que Sango também observava o objeto em suas mãos com grande preocupação.

– Calma, Sango. Só porque a Tessaiga está aqui, sozinha, não quer dizer que...

Percebeu que já não tinha mais a atenção dela. A exterminadora passou por ele e foi aonde algumas marcas se revelavam no solo. Como que criando uma pequena trilha, as marcas eram compostas por três depressões no solo, iguais as que Inu-Yasha deixava quando Kagome usava o Koto-dama. Ao final da terceira marca, estavam manchas de sangue. Ela tocou o sangue e o observou na ponta de seus dedos. “Esse sangue... é... é humano!” Voltou-se para o monge atrás de si.

– Miroku! Esse sangue é da Kagome!

– O quê? – Aproximou-se dela. – Você tem certeza?

– Após tantas lutas, eu sei a diferença entre sangue humano e sangue de youkai, Miroku... E este sangue é humano, com certeza. – Ficou observando uma trilha por onde seguiam as manchas de sangue. – Vamos por ali.

– Certo.

Na pressa, o monge acabou esquecendo-se da mochila. E dentro dela estava o vidro com os fragmentos da Jóia Shikon.

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Kagome corria por sua vida, tropeçando e cambaleando pelas árvores. Já estava ficando sem forças. Escutou então um som familiar, o som de um rio. “Talvez ele perca o meu rastro no rio...” pensou ela. Seguiu na direção de onde achava vir o som. Acabou deparando-se com um penhasco e, abaixo dele, corria um rio tortuoso, cheio de pedras inclusive.

– Ai, não posso pular daqui...

Deu meia volta e parou de olhos esbugalhados a ver o hanyou transformado em youkai diante de si. Parecia menos insano, não sorria, mas seu olhar frio era assustador. Seu quimono vermelho estava manchado de sangue e rasgado. Havia muitos ferimentos por seu corpo, mas ele parecia não se importar. Nem mesmo com ela, como se a tivesse esquecido.

– Você prometeu que jamais me esqueceria, Inu-Yasha! – As lágrimas rolavam por sua face.

Ignorando as palavras dela, ele avançou e a segurou pelo pescoço com apenas seu braço direito. Ergueu-a no ar e sorriu maldosamente. Começou a apertar-lhe a garganta, o que lhe tirava as palavras. Pouco a pouco, sua vista foi escurecendo, tendo em sua mente apenas o rosto dele.



Continua no próximo cap...

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