Fronteiras da Alma escrita por By Mandora


Capítulo 2
Sua Presença




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Mais uma semana se passou e agora a época de provas havia terminado. Apesar da quantidade de faltas, Kagome havia tirado boas notas e passado de ano. Não teria mais que se preocupar com escola até o ano que vem, isto é, exceto pelo fato de ter que ir a escola para devolver os livros que pegara emprestado na biblioteca. Sua única preocupação agora era com aquela pessoa que não saia de seus pensamentos. Ela ficou observando seu irmão Souta brincar com o gato e alguns amigos do lado de fora da casa. Eles estavam fazendo guerra de bolas de neve. Vestiu uma calça jeans e um pulôver de lã bem quentinho e resolveu ir logo levar os benditos livros. Ao passar pelo irmão, Kagome não pôde deixar de comentar.

– Souta, vê se não fica muito tempo nesse frio senão vai pegar um resfriado!

– Ah, mana! Não me faz passar vergonha!

Kagome riu e continuou caminhando. Passou lentamente na frente do templo do poço. “Faz muito tempo que eu não entro nesse lugar...” Respirou fundo e seguiu seu caminho até a biblioteca.

– A senhorita estudou bastante... – Disse a atendente, observando a pilha de livros.

– É, eu tive uns probleminhas... Está tudo certo?

– Sim, está. Tenha um bom dia.

– Obrigada, tenha um bom dia também. – Distraída, Kagome deu uns dois passos para trás sem prestar atenção na pessoa atrás dela e acabou pisando em um pé. Livros foram ao chão. – Desculpe, eu não... Houjou?

– Oi, Higurashi! Que coincidência! – Abaixou-se para pegar os livros que deixara cair.

– Deixa eu ajudar você!

Ela também se abaixou e ambos acabaram pegando o mesmo livro, mas foram suas mãos que se tocaram. Olharam um nos olhos do outro e coraram, largando o livro ao mesmo tempo. Kagome ficou meio sem graça, enquanto Houjou entregava os livros no balcão.

– Desculpe, Houjou, eu estava distraída...

– Não tem problema, Higurashi. Você já está melhor da gripe?

– Ah, já sim, aquela essência foi milagrosa! Muito obrigada...

– Fiquei sabendo que você passou de ano. Meus parabéns! Deve ter sido muito difícil por causa dos seus problemas de saúde.

– Ah... é... Obrigada...

– Posso acompanhar você?

– Claro. “Ele é sempre tão gentil...”

Ela deu um sorriso e os dois saíram da biblioteca. A atendente ficou a observar o casal pela janela, passeando na calçada lá fora. “O dia dela vai ser bem melhor que o meu... Ai, ai, que garota de sorte!”

O entardecer já estava chegando e as ruas começavam a ficar alaranjadas. Os dois caminhavam lado a lado, meio que sem graça com a presença um do outro. Ela caminhava de braços cruzados por causa do vento gelado. Ele caminhava com as mãos nos bolsos, protegendo-as do frio. Passaram em frente a uma lanchonete que Houjou ficou olhando.

– Você quer tomar um chocolate quente, Higurashi?

– Ia ajudar a espantar o frio...

Entraram no local que possuía aquecimento interno. Era gostoso e aconchegante. Fizeram seus pedidos e rapidamente a garçonete lhes trouxe duas xícaras de chocolate quente. Kagome segurou sua xícara com as duas mãos e não ousava olhar nos olhos dele. Apesar de estar ali, seu desejo real era estar com outra pessoa.

– Você está se sentindo bem, Higurashi?

– Me desculpe, Houjou... – Olhou para ele. – É que eu estou com a cabeça cheia...

– Tem alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?

Ela olhou ternamente para ele e sorriu docemente. Ele corou.

– Já está fazendo, obrigada. Você sempre está preocupado comigo e procurando algum jeito de me ajudar... – Aproximou-se um pouco e colocou a mão do lado de seu rosto, sussurrando. – Sabe, algumas amigas minhas pensam que nós somos namorados...

O rapaz se atrapalhou todo e até gaguejou um pouco.

– Hã, o quê? Mas que coisa, não é, Higurashi? Eu apenas me preocupo com as pessoas, só isso... – Disfarçou com uma risada.

– Sabe, Houjou, você fez tanta coisa por mim... Pode me chamar pelo meu primeiro nome...

Ele a fitou por um momento, com um ar de satisfeito e suavemente pronunciou o nome dela.

– Kagome...

O nome dela nos lábios dele a fizeram estremecer e, por um segundo, viu o hanyou diante de si. “Inu-Yasha...” Mas a imagem logo desapareceu e ela abaixou a cabeça com um ar tão triste que ele não pôde deixar de notar.

– O que foi, Kagome?

Ela respirou fundo, levantou-se e colocou as palmas das mãos sobre a mesa.

– Vamos continuar nossa caminhada? Está meio abafado aqui dentro...

Os dois continuaram a caminhada, mas dessa vez estavam mais à vontade. Chegaram a uma rua sem movimentação. Ao começar a cruzá-la, Houjou notou um carro em alta velocidade, mas Kagome estava distraída e nem percebeu a aproximação do veículo.

– Kagome, cuidado!

Rapidamente ele a agarrou e correu para a calçada em segurança. Acontece que, por causa da neve, ele escorregou, bateu com o ombro na parede de um prédio e ambos caíram. Ele recostado à parede e ela sobre o colo dele, com a cabeça em seu peito. “É a primeira vez que alguém além de Inu-Yasha salva a minha vida...” pensou a moça. Só então se deu conta da situação. Ambos se olharam e suas faces coraram ao mesmo tempo. Levantaram-se rapidamente.

– Kagome, me desculpe! Você está bem? Não se machucou?

– Eu estou bem sim... Não se preocupe.

– Tem certeza?

Ele movimentou-se um pouco e sentiu o ombro direito, aquele que batera na parede.

– O que foi, Houjou?

– Não se preocupe, não foi nada... – Segurava o ombro e havia dor na expressão de seu rosto.

– É culpa minha... Se eu não fosse tão distraída... Deixe-me ver o seu ombro.

– Eu estou bem, não é nada grave... – Ela começou a examinar o ombro. – “Onde ela aprendeu medicina?” Ai!

– Desculpe! Não está quebrado, mas é melhor tirar uma radiografia.

– É só um arranhão... Já está melhor.

– “Mas que teimosia...” Houjou, nós vamos agora ao hospital e se você continuar dizendo que não, eu vou ficar muito zangada com você.

– Mas...

Kagome estava decidida e cruzou os braços.

– Chega de ‘mas’...

A moça agarrou o rapaz pelo outro braço e o levou ao hospital. Felizmente, não acontecera nada grave, só uma leve contusão. Novamente, diante das escadas de sua casa, ele insistia em subir aquilo tudo.

– Houjou, eu não acho que você deva se esforçar assim depois daquele acidente.

– Aquilo foi uma bobagem, o importante é que você não se machucou.

Ela corou e ele virou o olhar para as escadas. A altura era considerável e os degraus estavam cobertos com gelo, tornando-se perigosos.

– Além do mais, Kagome, estas escadas estão escorregadias. E se você cair?

Kagome deu um sorriso maroto e colocou as mãos na cintura.

– Você está dizendo que eu sou uma desastrada?

Ele retribuiu o sorriso e disse gentilmente:

– Não... Eu estou dizendo que vou te proteger, Kagome.

Novamente ela teve aquela estranha sensação da lanchonete. “Inu-Yasha também já me disse a mesma coisa uma vez... Mas o que está acontecendo? É bom ter o Houjou por perto, mas... Mas ele me faz lembrar do Inu-Yasha toda hora... Como se fosse ele ao meu lado.” Respirou fundo, aliviando a mente e cruzou os braços.

– Você não vai me levar até lá em cima e ponto final! – Disse firmemente, mas percebeu que ele tinha preocupação no olhar. – Mas, se você quiser, pode vir jantar aqui em casa hoje à noite... “Kagome, o que você está dizendo?”

Um brilho de alegria tomou conta do rosto de Houjou. Ele mal podia acreditar.

– Sério? Mas a sua família não vai se incomodar?

– Imagina! A minha mãe vive mesmo me perguntado sobre o garoto que me manda presentes... Bem, se não for te atrapalhar...

– Atrapalhar? De jeito nenhum! – Olhou um relógio em um prédio ao lado. – Nossa! Eu tenho que comprar alguma coisa para trazer! Até logo mais! – Saiu correndo.

– Não precisa se preoc... Ah, já foi...

Ela estalou os dedos e esticou os braços para o alto. Depois os soltou, deu de ombros e começou a falar consigo mesma.

– Kagome, você é uma tonta! Imagina se o Inu-Yasha aparece aqui e dá de cara com o Houjou? Vai cortar o pobre coitado em pedacinhos! – Cobriu o rosto com uma das mãos.

Ela começou a subida com cuidado, pois realmente o gelo deixava a escadaria perigosa. Ao passar em frente a Árvore Sagrada parou por um instante. “Eu não consigo esquecer você, Inu-Yasha...” Olhou para o céu que agora já estava escuro. A lua não se mostrava.

Lua nova... Você deve estar ficando humano agora... – Entrou em casa.

-x-x-x-x-x-

Mais tarde naquela noite, Houjou retornou a casa de Kagome, levando uma garrafa de um sake muito refinado e um lindo bouquet de rosas brancas, o qual entregou a Kagome.

– São para você, Kagome. Eu espero que não tenha alergia...

– Não se preocupe, Houjou. São lindas, obrigada!

Todos se sentaram à mesa. A mãe de Kagome havia preparado uma certa variedade de petiscos antes da refeição principal, que caíram muito bem com o sake que Houjou trouxe, o que alegrou o avô da jovem.

– Este sake é de uma ótima qualidade, Houjou... Como conseguiu um assim por aqui? – Perguntou o ancião.

– O meu pai tem uma fábrica em Nagoya. Ele passa muito tempo lá e sempre que volta, traz uma variedade de coisas.

A mãe de Kagome não pôde conter sua curiosidade sobre a família do rapaz.

– Você e sua mãe não se sentem um pouco sozinhos quando ele não está, Houjou?

– A minha mãe morreu quando eu era pequeno, mas eu não fico sozinho. Tem uma pessoa que fica sempre comigo, um amigo de infância...

– Eu sinto muito, Houjou...

Kagome o fitou com ternura. “Eu também sinto falta do meu pai, mas pelo menos, eu ainda tenho minha mãe, meu irmão e meu avô... Ele fica sozinho... Um amigo não é a mesma coisa...” Ela resolveu dizer algo para quebrar o clima nostálgico que se formara.

– Se for um sake tão bom assim, é melhor tomar cuidado...

– Por quê? – Perguntou o rapaz um tanto confuso.

– Senão pode ficar de porre!

Ela piscou para ele e ele riu.

– Eu já estou acostumado!

A partir daquele momento a conversa seguiu mais animada. Porém, uma estranha figura observava pela janela, oculta nas sombras.

– E então, senhor Higurashi, – continuou Houjou – como é ser um sacerdote?

Prontamente o velhote tratou de se gabar e aproveitou para passar um sermão nos netos.

– Ah... é uma vida muito boa e também muito difícil... Existem muitas obrigações a serem cumpridas... – Olhou de lado para Kagome e Souta. – Mas eu estou ficando velho, se ao menos alguém assumisse o meu legado...

– Vovô, corta essa. – Retrucou Souta.

– É, vovô. Ninguém aqui quer ser sacerdote. Não fique chateando o Houjou desse jeito. – Completou Kagome.

O avô deu de ombros.

– Não me culpem por tentar...

Houjou achou engraçada a situação e tentou animar o velho sacerdote.

– Está tudo bem. Sabe, senhor Higurashi, eu acho muito interessante essa coisa de sacerdócio, templos, espíritos, youkais e essas coisas. Meu pai também tem como hobby pesquisar histórias e lendas. Você não acreditaria na quantidade de livros, amuletos, espadas e sabe-se mais o quê existe no porão da minha casa!

– Mas que interessante, Houjou. Você também gosta de história? – Perguntou a mãe de Kagome.

– Muito. Meu período favorito é o Sengoku Jidai.

Kagome ficou pasma com o comentário e quase engasgou com um bolinho.

– Por quê, Houjou?

– Por causa das histórias fantásticas, Kagome. Já imaginou viver em uma era cheia de espíritos, youkais e bruxos?

– “Ai... Garanto que não é assim tão divertido...” Nossa! Ainda bem tudo não passa de lenda, não é mesmo?

– Não esteja tão certa. Eu acredito que youkais, espíritos e bruxos realmente existam. Só que no nosso mundo de hoje, eles não se mostram tanto como antigamente.

– Que legal!... “Eu tenho que mudar o rumo dessa conversa!” Mas e então? Quer mais marshmelow no seu chocolate?

– Ah, sim... Por favor.

– Vou pegar mais na cozinha. Eu já volto.

Kagome saiu correndo para a cozinha e fechou a porta do cômodo atrás de si.

– Ufa, mas que conversa mais sem cabimento... – Notou alguma coisa passando pela janela da cozinha. – O que foi aquilo?

Não pôde conter a curiosidade e resolveu sair para verificar. Não queria alertar os que estavam na sala e pulou pela janela mesmo. Lá fora, a escuridão era suprema. Demorou para que seus olhos se acostumassem à ela. Caminhou pelo pátio, mas nada encontrou. Então, olhou para o templo do poço e seguiu até ele. Era como se um imã a puxasse na direção daquele lugar. Parou diante da porta, a alisou um instante e a abriu. Olhou com um certo receio para o poço. Desceu lentamente as escadas e apoiou-se na beirada do poço, olhando para dentro dele.

– Se eu pelo menos tivesse a Jóia Shikon, um único fragmento que fosse, poderia voltar para você... Por que você não vem me buscar, Inu-Yasha? Por quê? – Suas lágrimas umedeceram a borda do poço.

– Você não está zangada comigo? – Perguntou Inu-Yasha, surgindo das sombras ao lado da escada.



Continua no próximo cap...

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