Think Twice escrita por Nuvenzinha


Capítulo 18
C18. The Best Day


Notas iniciais do capítulo

AUIFAHOSFUISDHOFAUIS OLHA EU AQUI! )o)
E aí galerinha, como vão ocês? Bem? Eu tô bem véi, tô mucho loka hoje! /nem dá pra perceber, Capitão Óbvio, obrigada por constar./
Querem saber por que eu tô mucho loka? Bom, pra começar, como eu havia prometido, eu resolvi fazer um capítulo alegre hoje. Mas sabe o que isso realmente quer dizer? Quer dizer que eu resolvi abrir minha torneirinha de fanservice e deixar rolar, porque teve MUUUUUUITA fofura dessa vez. Sério, os níveis de fofura desta vez estão tão tão elevados que até eu surtava enquanto escrevia.
E, gente... É MAIS DE OITO MIIIIIIIIIIL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! *quebra medidor de palavras do Nyah!*
Sério cara, ontem eu estava nem na metade disso. Até que eu comecei a digitar como uma maníaca, tipo, "ESSA PORRA VAI SAIR ESSA SEMANA, CARALHO! PEDE PRA SAIR!!!!!!!! *digitando like a demon*" O_O /quem conversou comigo sabe porquê/
E desta vez eu tenho uma música pra recomendar, porque ela tem muito a ver com coisas que eu coloquei )o)
A música é Penguin, da Christina Perri. Na boa, é a música mais fofa de todas. E, se você continuar ouvindo ela até terminar o capítulo, pondo pra repetir, e entender o que ela canta, você vai sacar muito bem aquilo que eu aproveitei.
Sem falar que eu gosto da música, então dane-se.
De qualquer jeito, não me matem pela overdose de palavras. X3



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Tudo começou naquela tarde, enquanto ainda trabalhava. Caminhava pacificamente pela rua, seguindo seu colega de trabalho, Tom, até o próximo lugar que teriam de ir. Havia amanhecido com um clima agradável, apesar das nuvens, e estava tudo pacífico.  Shizuo também estava particularmente bem naquela manhã, não só porque tivera uma boa noite de como também não houve grandes “complicações” em seu caminho - ou seja, não havia tido nenhum ataque violento de raiva, o que permitia que se sentisse em paz consigo e com o mundo a sua volta; coisa rara.  Dias como aqueles poderiam ser mais frequentes.  

Deram uma parada num mercado não muito grande atrás de alguma coisa para comer enquanto caminhavam, pois haviam perdido mais tempo em um lugar do que o previsto e pularam a hora do almoço. Como não queria perder muito tempo, o mais alto foi direto numa seção de produtos embalados, algo que pudesse comer enquanto caminhasse. Apesar de não ser um trabalho que realmente gostasse, não gostava de perder tempo. Acabou por cair em algo que sempre gostou bastante: doces. Nunca teve um motivo especial para gostar, mas sempre os apreciou. Era numa estante perto do caixa, que estava meio cheio, mas já era uma vantagem. Não tinha paciência pra filas e se estivesse mais longe, outras pessoas poderiam entrar na fila e aumenta-la. Pegou um bolo de morango, que parecia uma bola de massa circular cor de rosa pelo que aparecia do plástico transparente, e foi à fila do caixa.

Enquanto na fila, ficou a observar a rua do lado de fora da vidraça, um pouco avoado. Via muitos adolescentes passando, alguns da Raira, vários deles entrando na loja. Será que era por isso que um dos primeiros corredores era o dos doces? Vai saber. Mas acabou por lembrar-se de sua aprendiz, Tsugumi. Será que ela havia ido à escola naquele mesmo dia, como dizia que iria, ou ficado em casa? Pensou um pouco. Deveria ter ficado em casa, preguiçosa como só ela era... Saiu de seu lugar na fila, aproveitando que a multidão de adolescentes ainda estava correndo pelos corredores sem ter um rumo, e pegou mais um daqueles bolinhos que pegou para si.

Achava que a menina estava muito magra, ao ponto de ter medo de parti-la em pedaços só de tocar – sabia muito bem de sua capacidade de machucar aos outros mesmo sem a intenção-. Talvez devesse ganhar um pouco de peso, porque tentar ser mais forte era desnecessário, já que a força já existia. Tomar um pouco de sol também faria bem, porque sua pele estava branca e aumentava ainda mais a aparente fragilidade, por mais que soubesse que fosse apenas ilusão sua. Afinal, era sua aprendiz porque possuem a mesma estranha força. Pensou em deixar o segundo bolinho na prateleira ao se lembrar disso, mas acabou por voltar pra fila com os dois. Daria a ela depois que seu horário de trabalho terminasse. Mas foi voltando à fila que se deu com uma figura conhecida.

-Heiwajima-san!~- acabada de entrar na loja, Misaki foi até ele com um sorriso enorme em seu rosto – Que sorte te encontrar aqui!

-Ah, oi... – fez uma breve pausa; lembrava-se de quem aquela era, mas... – Qual seu nome, mesmo? –coçou atrás da cabeça.

-Misaki, Yoshida Misaki. – seu sorriso mudou de um alegre para um ligeiramente irritado, mas logo voltou ao normal – O que está fazendo?

-Trabalhando.

-Seu trabalho é comprar doces?

-Não, esse é meu almoço.

-Vai almoçar o que? – tentou espiar.

-Bolo de morango. – Estava ficando irritado com tantas perguntas.

-Por que está levando dois? – Abriu um sorrisinho quase malicioso, com uma expressão petulante que o lembrou de Izaya.

-Um é pra Tsugumi. – fez, novamente, uma breve pausa; em seguida, assim que chegou ao caixa e pagou, estendeu um dos pacotes à ruiva – Você entrega pra ela?

-Por que eu entregar? – seus olhos brilharam de um jeito esquisito – Vamos fazer uma festinha pra Tsugumi de noite. Dá uma passada lá e entrega você mesmo!

-Festinha? Vocês? Mas...

-Aqui, ó! – colocou um papel em sua mão – Esse é o horário e o lugar! – em seguida virou-se e saiu andando, acenando de costas – Até lá! – e sumiu na rua.

Shizuo ficou a olhar o papel em sua mão, parado ao lado do caixa enquanto esperava que seu colega pagasse seu almoço. O que era pra fazer com aquilo? Ir até uma festinha de adolescentes seria perda de tempo para ele, seria completamente isolado de tudo e teria o mesmo nível de tédio de ficar mofando em casa. Não que se importasse de ficar isolado, mas não queria ouvir as conversas dos outros enquanto permaneceria quieto. Iria lá para que? Detalhe é que o horário escrito no papel conferia com seu horário de trabalho... Poderia dar uma passada lá, dizer alguma coisa para a aprendiz, entregar-lhe o bolinho que havia comprado e ir embora. Não iria tomar muito do seu tempo nem do dela. Era a oportunidade perfeita de vê-la, ter certeza de que ela estava bem, sem ter de lhe prestar visita em sua casa. Não estava com vontade alguma de tomar por a Sra. Amano lá, o que aconteceria de certo. Tinha certo receio de tê-la ofendido, sem contar que seria o teste supremo de sua paciência se tivesse de ouvir mais um daqueles comentários com excesso de sinceridade. Só de pensar no que ouvira o fazia ficar vermelho, tanto de irritação quanto de constrangimento. Nunca tinha ficado tão incomodado com um comentário ao ponto de corar.

Tom logo o chamou quando saiu do caixa, o que fez com que voltasse a ficar alerta ao mundo ao redor. Não demoraram em sair do mercado e começarem a caminhar em silêncio, já comendo. Suas conversas eram quase sempre muito breves e procuravam não fazer perguntas, então não foi novamente questionado a respeito do segundo bolinho, nem porque apenas comeu um enquanto caminhavam direto ao próximo lugar marcado para aquele dia. Ambos preferiam manter o silêncio na falta de algo construtivo a dizer, e aquilo não incomodava nenhuma deles.

Enquanto caminhava, o loiro ficava a olhar a sacolinha em sua mão. Estava distraído com aquilo, não sabia dar um exato por que para o fato de estar pensando tanto na menina. Aqueles dias que estavam passando sem se verem por causa do repouso dela o lembravam da vez que ele a machucara, e aquilo deixava um gosto amargo em sua boca. Era sua culpa, de novo. Podia ter feito algo a respeito antes dela ir fazer alguma loucura, mas não adiantava se remoer. Então por que se remoía? O que faria agora, diferente da primeira vez, seria apoiá-la no que precisasse durante a recuperação. Talvez tivesse até de esforçar um pouco de sua boa vontade e ouvir algumas coisas que ela quisesse lhe falar. Só de pensar em ter de ouvir papo de adolescente de novo o zangava.

Mas então voltou à questão do papel. Ir ou não ir? Não tinha nada a fazer, mesmo. Como já dissera antes, ir teria o mesmo nível de tédio de voltar para casa e ficar sentado no sofá. De um jeito ou de outro, se cansaria rápido e iria a perder tempo nas ruas. Seria até mais prático ir até essa festinha e depois ir embora do que ter de esperar ao dia seguinte e fazer todo o trajeto até o apartamento dela, lugar que era difícil de achar. Iria, então.

Mas ele sequer imaginava o que iria acontecer.

~x~

Caminhava, com passos largos, pelas ruas de Ikebukuro, usando sua melhor roupa no corpo e seu maior sorriso no rosto.

Tsugumi mal era capaz de acreditar que sua mãe havia tão facilmente a deixado sair de casa com seus amigos. Achava que ela iria ficar louca da vida e que iria lhe dar uma grande bronca, possuída. Que a iria forçar a ficar em casa dado o seu estado, toda cheia de feridas. Mas não; sua pergunta foi recebida com um sorriso gentil, primeiramente interpretado como um sorriso cheio de ironia, ou uma demonstração controversa de sua irritação. Tinha pensado até em retirar a pergunta antes que baixasse o inferno na Terra, mas logo percebeu que aquele não era o caso quando a mãe a levou para seu quarto, escolheu uma roupa para que usasse e a ajudou com suas feridas quando saiu do banho. Disse algo sobre que sair um pouco estimularia sua recuperação ou algo assim.

Não quis pensar muito naquilo depois da ajuda e já saiu de casa, agora estando a caminhar pela calçada rumo ao centro, ainda soltando o calor que adquiriu durante seu banho e com os cabelos úmidos. A noite era quente, então não teria hipotermia, mas já tinha saído apenas porque estava muito inquieta para esperar um pouco. Queria encontrar logo seus amigos. Tinha fixa a ideia de que poderia recuperar o laço de amizade que teve no começo do ano, mas que perdeu; que aquela era sua chance de reatar. Naturalmente, considerando seu estado psicológico conturbado daquela fase que estava passando, ainda tinha uma parte de si que achava que aquilo não aconteceria, que não daria certo, que o que havia perdido não iria voltar, e aquela vozinha que insistia em lhe dizer aquilo ia ficando cada vez mais alta.

Numa tentativa de se distrair daquilo, passou a mirar as ruas que a cercavam. Colocar qualquer coisa em sua cabeça para que deixasse de tentar aniquilar sua própria motivação. Havia andado até lá sem prestar atenção, então se viu perdida.  Deparou-se já com o centro da cidade, com as luzes fortes penetrando em seus olhos e fazendo-os doer. Seu cérebro ficou ainda mais confuso. Esfregou seus olhos um pouco para que parassem de incomodar tanto e deu alguns passos bambos para a direção que achava que era o seu destino.

Conhecia apenas de visão o lugar que Misaki havia especificado na mensagem, então caminhava rente à parede das lojas, enquanto alternava sua visão entre o mapa em suas mãos e as paredes propriamente ditas. Tentava observar o melhor que podia, mas não deixava de ter esperanças de que algum deles estaria esperando-a na porta do lugar para lhe receber. Até duvidava um pouco, levando em consideração que a preguiça é um fator. Mas sua falta de atenção no chão fez com que colocasse um de seus pés num buraco e beijasse a calçada em seguida.

Caída, permanecia com a face no asfalto. Não sabia se levantava e saía andando como se nada houvesse acontecido ou se seria melhor se levantar e correr como se não houvesse amanhã. Estava na dúvida, pois não sabia como as pessoas estavam olhando-a, mas não queria tanto descobrir. Preferia o asfalto cinza aos rostos de pessoas. Mas não poderia ficar o tempo inteiro ali, por isso tentou levantar e fingir que aquilo não havia acontecido. Já estava de pé quando olhou ao redor e percebeu, do outro lado da rua a mirá-la, um grupo de rapazes vestindo amarelo.

Arregalou os olhos até que não pudesse mais, dando um passo bambo para trás. Justo os Lenços Amarelos tinham de estar lá para julgá-la? Ela os viu e não tinha certeza se tinham visto ela ou o círculo ao seu redor, mas apenas a visão daquele grupo fez a batida de seu coração aumentar pronunciadamente. Começava a se lembrar daquela noite horrível e de algumas das sensações que tivera. Insegurança. Fraqueza. Medo. Dor. Tudo aquilo voltava para ela, sentindo na pele tudo outra vez. Sentia os curativos grudados sobre sua pele, cobrindo suas feridas, que latejavam e doíam. Quando se deu conta, já estava correndo.

“Eles vieram! Vieram terminar com a minha vida de uma vez!”

Disparou para frente, desmanchando o círculo de pessoas que haviam se formado ao seu redor em sua queda. Não tinha mais controle sobre nada – nem corpo, nem mente. A sensação de dor era tão grande que a única coisa que toda sua existência dizia era para que fugisse. Fugir, fugir, fugir. Não poderiam pegá-la de novo.  Não iria deixar que tomassem sua vida, por mais medíocre ou nula que fosse. Não iam pegá-la, não iriam.

Já havia corrido ao menos dois quarteirões quando conseguiu diminuir o ritmo de seus passos, passando a apenas caminhar rapidamente, mas ainda olhava mais para trás do que para frente. Não haviam sequer se voltado para a direção em que ela havia ido e, pelo que dava para ver de onde estava, andavam na direção oposta. Claro que não era muito claro o que faziam, pois haviam muitas pessoas na frente, mas de certo estavam longe. Então, por que continuava em desespero? Apenas conseguia justificar aquela medida como sendo manifestação de seu instinto. Não conseguia nem pensar naqueles caras sem sentir seu coração martelar contra seu peito. Tinha de se acalmar antes de chegar! Ajeitou a barra do vestido que vestia, mexeu em seus cabelos e respirou fundo, ainda andando, tentando recuperar a compostura, ao mesmo tempo em que fazia aquilo para acalmar-se um pouco.

Chocou-se desta vez com alguém, durante sua caminhada às cegas. Havia encontrado seu rosto diretamente contra o tórax da pessoa em questão, congelando ali. Não conseguia sequer olhar para cima pra ver quem era, apenas mantinha o nariz no tecido, sentindo o cheiro de cigarro vinculado a ele.  Era uma textura já conhecida, até confortável. A falta de reação do desconhecido reforçava a sua ideia de que aquele, na verdade, era um conhecido. Só não era um dos seus amigos, pois eles não fumavam, até onde ela sabia. Então...

-Oe, Tsugumi, o que você tá fazendo? - Shizuo chamou sua atenção colocando uma das mãos em seus ombros, meio desconfortável.

A mais baixa soltou um leve riso, virando sua cabeça de modo que sua orelha estivesse contra o tórax dele – posição deveras mais confortável. Cumprimentou-o como se nada acontecesse e em seguida soltou um suspiro. Ainda bem que não era um desconhecido! Mal queria imaginar o constrangimento que sentiria se fosse algum homem qualquer. Com isso, pôde mover-se e olhá-lo nos olhos, percebendo que ele estava um tanto vermelho. Corou também, dando um passo para trás. Estava perto demais. Sentia um tipo de constrangimento diferente daquele que sentiria se fosse uma pessoa estranha, um constrangimento que facilmente disfarçou tentando puxar um assunto.

Olhou ao redor um instante e viu-se diante de uma vidraça, que tinha nela escrito o nome do lugar onde havia sido marcado. Dentro do café, as mesas estavam praticamente vazias, e as que estavam ocupadas não eram por seus amigos. Na verdade não havia sinal deles. Mirou outra vez o mestre e ele lhe entregou uma sacola com um bolinho dentro. Ele, em seguida contou que Misaki havia dito que eles todos estariam ali e que resolvera aproveitar a chance de lhe entregar aquilo, e disse algumas palavras numa tentativa de desejar-lhe melhoras, um tanto desajeitado. Inclinou sua cabeça para um dos lados como demonstração de sua confusão, mesmo que mantivesse um sorriso em seu rosto como agradecimento pela guloseima. Olhou o relógio de seu celular. Já haviam se passado 15 minutos desde o horário combinado. Por que estavam atrasados? Em seguida, lhe veio a seguinte pergunta: Por que a amiga havia pedido que o barman viesse?

Seu celular vibrou ainda em suas mãos e logo mostrou uma mensagem de sua amiga: “Neh, Tsu-chiin, não pudemos ir, nem eu, nem Mikado, nem Kida. Mas tudo bem! Você não vai estar sozinha! Divirta-se!” e no final um sorrisinho formado por dígitos, que pôde interpretar como um sorriso brincalhão, de um jeito cruel também. Deu uma leve engasgada ao perceber o que estava acontecendo. 

Sua reação automática foi sentir raiva. Aquela irritação subiu à cabeça junto do sangue, enrubescendo seu rosto. Era raiva e constrangimento junto. Mas não sabia de quem exatamente estava com raiva. Da amiga, que havia tramado tudo aquilo, ou de si. Não deveria ter cedido à insistência da colega, não estaria naquela posição tão desconfortável se tivesse sido o caso. Não devia ter deixado a responsabilidade sobre os ombros da colega do jeito que deixou. Estava ela encostada na vidraça da loja, segurando seu celular na mão, e Shizuo ao seu lado, olhando-a sem entender direito, um tanto curioso.

-Seus amigos chegam que horas? – O loiro perguntou-lhe com um tom de inocência, com a cabeça levemente tombada.

-Não vão demorar... – mirava os próprios sapatos, nervosa; Não poderia contar pra ele sobre o que a amiga havia tramado, senão ele teria um ataque de raiva que não poderia controlar, então preferiu não dar indicação nenhuma de absolutamente nada e pegou o bolinho na sacola em suas mãos, abrindo-o e dando uma grande mordida na bola de massa rosada – D-Doce... – doce o suficiente para distraí-la um pouco do que pensava antes, dissipando um pouco da sua raiva.

-Você gosta de doces? – Ele voltou a fazer perguntas, vendo a expressão corada e os olhos brilhantes no rosto dela.

-S-Sim... Você gosta, Shizuo-san?

-Gosto, sim.

E o silêncio na rua. Aquilo só podia ser brincadeira. Conhecendo as capacidades terroristas de Misaki, ela poderia muito bem ter mandado aquela mensagem apenas para desesperá-la quando na verdade eles estavam mesmo vindo. Mas, se fosse esse o caso... Qual era o sentido de ter chamado seu mestre para vir também? Conforme levava ora uma ora outra opção, seu rosto ficava vermelho e voltava ao tom normal constantemente. Permaneceu apoiada na vidraça numa esperança de que, fingindo estar esperando pelos amigos, o homem fosse se afastar, mas ele permanecia ao seu lado.

Gritava por dentro. Tinha todas as perguntas formuladas na cabeça, mas não sabia transmiti-las em palavras como as outras pessoas normalmente conseguem fazer tentando começar uma conversa. Quais seus hobbies? Tipo preferido de música, de comida? Família? Amigos? Nada saía da sua cabeça. Por mais que aquela fosse, de fato, a oportunidade perfeita para conversarem informalmente, queria que ele fosse embora logo, que se cansasse de ficar ali e voltasse a fazer o que quer que estivesse fazendo antes, mas ele não saía de seu lado. Por que aquilo não acabava logo? Que sensação horrível a de desejar que a pessoa que se gosta vá embora, mas estava tão transtornada que preferia dessa maneira.

Passaram-se 20 minutos e só agora Heiwajima Shizuo começava a se mostrar irritado. Batia pé, rangia os dentes. Virava e mexia, lançava em sua direção um olhar rígido e ao mesmo tempo questionador. Parecia começar a entender o que acontecia ao que a menina observava, mas esta continuava sem dizer nada, apenas rebatendo ao olhar dele com seu próprio, um olhar inocente que pareceu convencê-lo de que era vítima daquilo (o que não era mentira). Mas aquilo não pareceu o suficiente para que ele se acalmasse. Deveria estar com uma raiva amarga de Misaki, pois apenas de olhar em seu rosto era possível ter a sensação de ser fuzilada por toda aquela raiva, enquanto o ouvia murmurar algo em tom de quem roga praga. Dava até medo.

Abraçou-o de súbito com toda a força que seus braços fragilizados podiam exercer. Afundou seu rosto nele enquanto o apertava, mesmo sem saber exatamente o porquê de fazer aquilo. Queria acalmá-lo? Claro que queria. De todas as expressões que vira no rosto dele, aquela fora a mais assustadora e raivosa que vira, e não gostava de vê-lo daquele jeito. De todas as maneiras de se acalmar alguém... Tinha de justo abraça-lo? Tudo bem que não tinha muitas outras ideias de como fazê-lo ficar mais calmo, mas também não sabia se ele iria se acalmar com aquilo ou não. Vai que ele não gosta de abraços e nunca reclamou das outras vezes que o abraçou por causa das circunstâncias? Aquilo lhe dava quase tanto medo quanto aquela expressão facial, mas seus braços continuavam a segurá-lo e seu nariz novamente sentia o forte cheiro de tabaco das roupas do barman. Apenas torcia para que aquilo ajudasse enquanto esperava uma reação dele quando sentiu a mão dele em seu ombro.

-Você deveria bater nesses babacas dos seus amigos. – dava-lhe suaves tapinhas em seu ombro, quase que acariciando seu ombro numa tentativa de confortá-la – Fazer você sair de casa estando nesse estado e te deixarem na mão.

-Shi-Shizuo-kun...!? – ergueu sua cabeça e olhou-o com certa perplexidade; será que ele não entendeu o motivo do abraço?

-Você deveria voltar pra casa e falar com eles amanhã.

-NÃO! – sua voz saiu alta, porém falha, o que o espantou – Eu não quero voltar pra casa... –abaixou o olhar e voltou a recostar sua cabeça contra ele – É solitário...

-Então aonde pretende ir?

-... Não sei...

~x~

Shizuo permaneceu em silêncio, apenas olhando para baixo, vendo Tsugumi colada em seu tórax. Como assim, não sabe aonde vai? Tudo bem que ela não estava planejando levar um cano dos amigos, mas se ela queria tão desesperadamente fora de casa, deveria ao menos ter concebido alguma coisa em sua mente. Ter alguma ideia, qualquer ideia. A primeira coisa que lhe passou pela cabeça foi ir embora. Já tinha feito o que queria fazer – que era lhe entregar o bolinho que havia comprado pra ela. Só. Mas...

Não queria admitir, mas receber aquele abraço, por mais repentino que fosse, fez com que ganhasse seu dia. Sentira-se ligeiramente alegre com aquilo, como se uma onda passasse por ele. Seu dia tinha sido tranquilo até agora, ao ponto da monotonia, mas por mais que tivesse gostado dele, nem toda a paz do mundo poderia suprir a sua necessidade de carinho – por menor e mais transparente que fosse se comparada com todas as suas outras necessidades ou vontades. Por mais que sua natureza agora fosse a de ser solitário, ainda havia parte dele que precisava daquilo de vez em quando, mesmo que em pouca quantidade. Era uma sensação quente que chegava ao seu coração.

Voltando ao problema em suas mãos, sua pequena alegria o fez descartar a primeira opção que havia imaginado. Não poderia simplesmente ir embora. Talvez fosse apenas um estranho surto de bondade que o havia tomado, mas sentia que deveria fazer algo por ela. Não perderia nada se fizesse companhia para ela, uma vez que ele não havia nada para fazer. Iria voltar para casa e ficar sentado no sofá por horas a fio até cair no sono. Se passasse um tempo com a aprendiz, estaria ao menos ocupando seu tempo com algo relativamente construtivo. Mas tomada a decisão de ficar, surgiu um outro problema, que era o de não saber o que fazer com uma adolescente sem “apertar os botões errados”. Qualquer coisa que dissesse para a menina poderia causar um grande surto, até onde sua mente era capaz de especular. Também não sabia como um adolescente se distrai ou se diverte, porque sua vez havia passado há muito. A solução que encontrou foi perguntar.

-O que você quer fazer? – coçou atrás da cabeça ao falar, olhando para outro canto, como se evitasse o rosto dela.

-E-Eh? – a pequena ergueu seu queixo sem se soltar dele, pondo-se a olhá-lo diretamente em seu rosto com um olhar de dúvida, confusa.

-O que você quer fazer? – repetiu-se, não entendendo o porquê dela ter ficado confusa quando aquilo que dizia estava bastante claro.

Tsugumi hesitou em responder logo, se soltando dele, se encolhendo e em seguida abaixando o olhar, com as bochechas rosadas. Não conseguia ver seus olhos por causa da franja, então não conseguia ter nenhuma ideia do que se passava. Apenas ficou a encará-la, esperando uma resposta. Aquela reação que ele tivera o fez ter a impressão de que fez algo errado, o que não pôde entender. Era apenas uma pergunta. Quis repeti-la mais uma vez, mas ela lhe deu uma resposta curta assim que percebeu que o faria.

Pediu-lhe que fossem em um parque de diversões, qualquer um. Não que fosse um pedido absurdo, uma vez que já ouviu pedidos piores, mas não tinha nenhuma imagem formada em sua cabeça de um lugar como esses, o que o deixou meio confuso. Não se lembrava de ter estado em um nem em sua infância nem em sua adolescência, apenas das propagandas que vez ou outra via na TV ou em cartazes. Concordou por falta de ideia melhor.

Seus olhos, violetas como as flores, brilharam e em seu rosto se abriu um sorriso pequeno, que foi ficando maior lentamente. Estava acostumado em ver sorrisos como aqueles no rosto dela, mas já não o via há tanto tempo que lhe pareceram mais radiantes que nunca, o que o incomodou um pouco, mas este pouco foi o suficiente para corar de leve. Queria desviar o olhar, mas não podia simplesmente virar o rosto, por algum motivo que desconhecia. Ficou a encará-la até que, de repente, ela segurou em sua mão e começou a andar em uma direção com certa rapidez, dando-lhe um puxão.

-Eu sei onde tem um bem legal! Vem! – disse, animada.

E já foi marchando, a puxá-lo. Shizuo chiou. A menina era mais nova que ele e ainda o levava como criança. Aquela atitude, além de irritá-lo um pouco, também o deixou meio confuso. Para alguém que acabara de ser esquecida pelos amigos na própria “festa”, ela estava muito animada. Mais estranho ainda era o fato de que não conseguia argumentar contra aquilo. Preferia daquele jeito a vê-la a sofrer, por isso apenas fez com que ela soltasse sua mão e apenas o guiasse, mantendo as mãos no bolso para que a aprendiz não voltasse a segurá-las. Era suficientemente constrangedor caminhar ao lado dela pela rua, mais ainda se andassem de mãos juntas. Era uma proximidade que preferia evitar, provavelmente por não estar acostumado com tal.  A última vez que andou de mãos dadas com alguém foi quando era pequeno e ia com seu irmão a pé para a escola, e davam as mãos apenas para atravessar a rua.

O detalhe era que a aprendiz era realmente muito determinada, o que podia se confundir com teimosia, então ela continuou tentando segurar sua mão, tentando até arrancá-las de seus bolsos com a força, mas continuava a podá-la. Depois de alguns quarteirões disso, começou a pensar um pouco e viu que ela iria continuar tentando, fazendo cada vez mais esforço, o que poderia feri-la – visto que era evidente pelos curativos em seu rosto que suas feridas não estavam totalmente cicatrizadas. Ficou bravo consigo mesmo e até hesitou em fazer aquilo que concluiu por ser mais correto, mas acabou por tirar uma das mãos do bolso de sua calça despretensiosamente, quase que se rendendo. Deixou que ela logo agarrasse usa mão, mas não o faria outra vez em ocasião futura. Não iria mimá-la.

Não pretendia, sequer, segurar a mão dela também, mas acabou por mudar de ideia ao sentir sua temperatura. Sua pequena palma e seus dedos finos estavam um tanto frios, como se acabasse de mexer em água, o que o deixou meio preocupado. Talvez estivesse frio e ele não tivesse percebido por estar de calça e manga comprida. Se este fosse o caso, ela poderia ter passado frio por mais de 20 minutos, conclusão que o fez imediatamente fechar seus dedos sobre a mão dela. Tudo bem que não era mais obrigação sua cuidar dela sem ser como mestre, mas não deixava de se preocupar, pelo simples fato de já ter se acostumado a ser responsável por seu estado. Já se sentia como um irmão, ou algum tipo de amigo que agia como tal, ou talvez outra coisa. Não importava, era só não ter mais de fazer aquilo que esse hábito sumiria. Mas, por distrair-se acabou por deixar suas mãos unidas.

A franzina parou defronte para o portão de um parque de diversões numa parada brusca. Já dali, era possível ver alguns poucos brinquedos grandes, mas uma variedade enorme de barracas variadas, máquinas de videogame e outros tipos de eletrônicos, além de mostrar que havia poucas filas para as coisas. Deveria ser mais um daqueles lugares que abriam na cidade e que não eram anunciados, então poucas pessoas vinham. Tal perspectiva o fez sorrir ligeiramente, de modo a passar despercebido.

Tsugumi saiu a andar na frente, ainda a leva-lo pela mão, em um saltito alegre, à procura de alguma coisa. Provavelmente, em busca de alguma das atrações do parque em especial, ao qual parecia conhecer bem. O loiro meramente a seguiu, olhando de um lado ao outro. Passar um tempo por ali seria uma experiência nova. Até onde podia se lembrar, não haviam tantos parques de diversões como esses durante sua infância e não achava tempo ou paciência para frequentá-los durante a adolescência. Tantas confusões em sua vida também o faziam ter medo de ir. Não aguentaria tomar filas grandes, gente grosseira e também ficaria indignado se os preços fossem altos; todas essas coisas poderiam fazê-lo irritado e acabaria por destruir tudo, como fazia mesmo sem a intenção. Mas seu estado naquele momento era de grande paz. Afinal, pelo que via, as coisas não eram como havia estipulado. Parte de si, alguma parte de sua personalidade que permaneceu criança, estava um tanto fascinada com todas aquelas cores e sons. Mesmo sabendo de antemão de seu mau temperamento, será que abrir mão de ir em parques de diversão tinham sido a decisão correta a se tomar? Vai saber. Talvez devesse ter pensado melhor antes de optar por evitar tal forma de entretenimento.  Mas nada mudaria seu passado, mesmo, então não adiantava se questionar a respeito.

Ambos andavam dispersos pelo lugar, rolando seus olhos de um lado ao outro. A menina parecia analisar tudo de maneira mais minuciosa, por mais que aparentasse já conhecer as coisas; provavelmente buscava alguma novidade ou fazer um planejamento mental do que desejava fazer primeiro.  Virava e mexia, parava diante de algumas coisas, olhava da esquerda, da direita, sorria e seguia em frente em seu saltitar, mas sem dar grandes atenções, nem mesmo pelos quais o rapaz se mostrara interessado.

Porém, ao passarem por uma parte onde havia um certo acúmulo de jogos de conseguir prêmio, seus olhos ficaram fixados por tanto tempo em um deles que parou de andar completamente por alguns segundos, antes de correr até lá, grudando sua face no vidro.

Catou sua bolsa, que estava pendurada em seu ombro, e foi logo colocando suas moedas no coletor e levando sua mão ao joystick com rapidez. O vestido de barman se aproximou curioso, a olhar por cima da cabeça da menor. Era uma caixa de vidro grande em cima de uma estrutura metálica, tendo dentro dela vários bonecos e pelúcias, separados de um buraco que levava a uma gaveta do lado exterior por barreiras; Na parte de cima, um gancho, que julgou ser controlado pelo joystick. Ergueu uma de suas sobrancelhas. Já tinha visto algumas daquelas por aí. Havia a possibilidade de já ter tentado pegar algum prêmio de uma delas e, se bobeasse, poderia ter tentado jogar uma daquelas em Izaya. Parecia um jogo simples.

Por algum motivo, ela estava extremamente focada numa boneca em especial. Uma de uma menina usando uniforme escolar e orelhas de gato na cabeça. Presumiu ser de algum anime. Mas ela não conseguia pegar a boneca de forma alguma. Shizuo apenas mexia sua cabeça de um lado ao outro, apenas vendo a situação se desenrolar, sem intervir. Depois de dez moedas gastas, a menina se aborreceu de vez, chutando um dos pés que suportava a máquina, em seguida apoiando suas costas nela e escorregando até o chão, até que ficasse sentada abraçada aos joelhos.

-Não vai mais tentar? – sentou-se de cócoras diante dela, mirando seu rosto birrento.

-Não. Desisto. – fora curta e grossa em sua resposta, em tom de choramingo. – Essa máquina só serve pra roubar dinheiro, não dá prêmio algum.

Fuçou os bolsos da calça e de seu colete e achou três moedas, duas delas conferindo com o valor indicado. Por não saber previamente que aquele dinheiro estava lá, não se importava em gastá-lo – sem falar que havia mais dinheiro em sua carteira, portanto aquela quantidade medíocre não lhe varia falta-, por isso decidiu tentar. Fazer alguma coisa não lhe faria mal. Se levantou e olhou bem pra boneca através do vidro. Depositou o dinheiro no coletor e levou a mão ao bastão de controle. O gancho era difícil de mexer, lento e pouco articulado. Fez uma cara feia para o gancho cinza. Queria pegar a porcaria da boneca, agora em sua segunda tentativa, porque tinha sido muito perto de ganhar. Mexeu o gancho para lá e para cá, até que achou ter acertado a posição do objeto que queria pegar, e então apertou o botão para pegá-lo. Não saíra completamente perdedor, mas não pegou aquilo que queria. O prêmio que viu na garra foi um pinguim de pelúcia, com uma expressão meiga em seu “rosto” e os olhinhos de botão. Ficou meio na dúvida se o pegava ou não, mas retirou-o da gaveta e o estendeu para ela.

-Toma. – disse, seco – Consegui pegar este aqui.

-Eh? – Ela ergueu o olhar.

-Pode ficar. – esticou mais seu braço, deixando o bichinho mais próximo dela.

-...! – seus olhinhos brilharam junto do que suas bochechas brancas assumiram tom rosado. Ela se levantou sem tirar os olhos do pinguim e esticou seus braços lentamente na direção dele, até que o abraçou com uma força que facilmente sufocaria alguém, o que o fez inconscientemente ter pena do bicho – Que lindo!!! – sacudiu-o em seu colo, tirando-o de sua mão – Obrigada! – e então abraçou ao rapaz.

-Pensei que queria a boneca... – mesmo confuso, colocou uma das mãos sobre a cabeça dela, com uma expressão neutra.

-Eu queria sim, mas qualquer coisa que você me der já vai me fazer feliz, Shizuo-kun!

Primeiramente ela sorria radiante para ele, logo depois que saltou e ficou de frente para ele, mas em pouco tempo assumiu uma expressão de pânico e o rosto vermelho, que escondeu em seu presente enquanto balbuciava palavras numa tentativa de mudar sua frase. O loiro ergueu as sobrancelhas, abrindo um meio sorriso nervoso. Seu rosto foi se aquecendo na medida em que petrificava no lugar, tenso. Deu uma piscadela nervosa, como se tivesse um cacoete. Aquela frase o deixara embaraçado ao ponto de não saber o que se passava, apenas tinha aquela sensação de que fizera algo errado mais uma vez. Não via outra explicação para ela agir daquele jeito, mas daquela vez ia arranjar uma maneira de sair daquela situação.

-Qu-Que bom que gostou. – sua expressão demonstrava certa tensão, meio constrangido, mas logo continuou, mesmo que sua primeira frase tenha soado exclamatória sem ter a intenção – A-Agora vamos pra outro lugar logo antes que você enfie na cabeça de pegar outro desses bichos!

-Ha-Hai!!! – ela respondeu no mesmo tom exclamatório, também mostrando uma face que demonstrava certo desconforto, um pouco vermelha – Va-Vamos! – e partiu na frente.

Que momento desagradável. Coçava atrás da cabeça nervosamente. Não estava acostumado com pessoas se dirigindo a ele de forma tão positiva, muito menos da maneira com a qual ela tinha dito. Parecia até uma cena de filme, falando com aquele tom meigo e aquele sorriso no rosto. De onde tinha saído aquilo? Cenas como aquelas não deveriam acontecer fora de filmes. Tinha parecido até bonitinho, mas estava tão transtornado que não sabia mais no que diabos estava pensando, era tudo um nó só, então deixou aquilo quieto e foi atrás da adolescente, em busca de qualquer coisa que desviasse a atenção daquilo que acabara de acontecer.

Uma distração qualquer foi facilmente achada e dali não pararam mais. Foram à todos os cantos do parque, foram em um monte de barracas, jogos, pegaram filas pra várias coisas, ganharam tickets ao ponto de não terem de pagar por mais nada, foram até nas atrações do parque mais inúteis possíveis  e receberam prêmios inúteis – a maioria acabando por ficar com ela, que colocou tudo em sua bolsa-.

Até certo ponto, foi divertido. Alguns dos jogos de videogame eram bem interessantes, não havia grandes desafios pois era fácil de aprender e de jogar. Apesar de pegar filas, não eram grandes, e teve a sorte de não topar com nenhum babaca para furar a fila. Aquilo o deixou um pouco mais tranquilo e pôde sentir um pouco o gosto de ser adolescente de novo.

Nunca tinha jogado muitos daqueles jogos eletrônicos, muito menos contra alguém, o que parecia fazer Tsugumi cada vez mais irritada a cada derrota. Ela ficou tão birrenta com aquilo que passou até a evitar jogos de mais de um jogador.  Ria de leve a cada vez que ela fazia pirraça ao perder, mas não comentava nada depois. Não queria ter conflitos. Mesmo assim, os dois se divertiam como duas crianças.

Dada uma certa hora, a aprendiz avisou que tinha de ir embora, tinha combinado de voltar pra casa naquele horário com sua mãe. Eles dois estavam numa fila para andar numa espécie de montanha-russa que ficava numa parte externa do parque, mas não se incomodou com aquilo e logo saiu da fila. Não iria atrasá-la e também não iria sozinho, por mais ansioso que estivesse. Estava acompanhando-a, afinal. Foram andando quietos até a saída e logo chegaram à rua, onde cumpriu sua promessa de não deixar que ela segurasse sua mão outra vez. Andavam quietos, cada um com algo diferente em mente – por mais que não soubesse o que ela pensava, tinha esta certeza, pois sua mente estava longe dali. Estava lá se perguntando como um lugar barulhento como um parque de diversões podia ainda ser tão divertido.

Em um momento em que olhou para seu lado, percebeu a menina a sorrir, serena, levando seu pinguim nos braços em um abraço. No fim, ela havia gostado bastante dele... Aquilo fez com que seu rosto corasse um pouco, de modo que se pôs a olhar reto para que ela não percebesse. Mas que droga! Por que ela tinha que ter lhe agradecido daquele jeito?! E por que, agora que se lembrava daquilo, a cena se repetia em eco em sua cabeça?! E qual era o grande lance do pinguim?! É uma ave que não voa! Claro que ficou contente de não ter gastado seu dinheiro com nada, mas o jeito que ela lhe agradeceu implicava diretamente com o fato de ele ter dado a pelúcia pra ela. Tentava pensar que ela apenas havia se pronunciado errado, mas continuava constrangido.

Talvez ela gostasse mais das coisas quando as ganha de presente. Ele poderia entender daquele jeito. Era legal ganhar presentes, não podia culpa-la. Mesmo não recebendo muitos, também gostava de presentes. Droga, não sabia mais no que diabos estava pensando de novo. Tantos e tantos nós em sua linha de pensamento.

Permaneciam em silêncio durante o trajeto, vez ou outra olhando um o outro. Shizuo, em mais uma dessas breves observações, notou que a franzina estava a bocejar, mas não se preocupava com aquilo. Deveria estar cansada, já passava das onze, mas ainda estava de pé. O que mais incomodava era que ele também começava a bocejar quando ela bocejava. Amanhã ele tinha de trabalhar e ela de ir à escola, tinham de ir dormir logo. Tomada tal conclusão, deu uma acelerada no passo, mas não caminhou nem dois quarteirões e já parou. Olhou para trás e viu que a menina não fora capaz de acompanha-lo. Seus passos eram lentos e vacilantes, com o corpo mole indo de um lado ao outro como um pêndulo e os olhos quase se fechando a cada instante. Era perigoso caminhar daquele jeito. Ia se machucar.

Voltou para perto dela e a chamou, tentando despertá-la, mas a única coisa que ela fez foi responder com um pequeno grunhido. Tentou mais uma vez e deu na mesma coisa. Bufou. Ela já estava praticamente adormecida, teria de leva-la. Olhou um lado, olhou o outro. Não havia outra opção, teria mesmo de carrega-la, mas decidiu que seria mais fácil leva-la nas costas dessa vez. Não que houvesse um motivo especial para tal. Tendo tomado esta decisão, abaixou-se na frente dela e falou para subir em suas costas.

Ela passou de leve os braços por seu pescoço, levando o pinguim na mão, e deixou seu peso sobre ele. O rapaz deu um impulso e se levantou, passando a segurar as pernas da adolescente com os braços senão ela escorregaria de tão mole. Retornou sua caminhada ignorando a pelúcia abaixo do queixo.

Entretanto, aquela não lhe era uma situação cômoda, por mais que ignorasse. A aprendiz dava-lhe cada vez mais trabalho, e o problema morava no fato de que já estava tão apegado à ela que não sabia se deveria ou não reclamar. Era quase incondicional sentir aquela necessidade e obrigação de cuidar e protege-la. Por que ainda a via como uma garota frágil quando já vira do que ela era capaz? Sentia até certo teor de raiva em pensar e agir daquele jeito. Não queria que ninguém chegasse perto, queria segurá-la nos braços e não deixar ninguém chegar perto, o que julgava estranho se tratando de que não deveriam ter nenhum tipo de laço afetivo. Mas já tinha, o que lhe era contraditório e o irritava. Por que sentia daquele jeito? Não se entender dava uma raiva...

Parou de andar um instante, na dúvida de para onde deveria leva-la. O mais lógico seria deixa-la em sua casa, mas seria a sensação mais estranha de todas se aparecesse na porta do apartamento dela com ela no colo e topasse com a Sra. Amano sentada no sofá. Era a imagem que concebia na sua cabeça e sua vontade de revê-la era zero. Tinha ficado com a má impressão da primeira vez que se viram. Sem contar a sensação de que isso poderia causar problemas para a menina se sua mãe a visse em suas costas, quando ela havia saído com a premissa de se encontrar com os amigos. Talvez fosse melhor deixa-la com Celty, como da última vez em que ela acabou dormindo no caminho, mas por não saber se a motoqueira poderia cuidar dela optou por arriscar ir ao apartamento dela e acabou a história. Por isso, virou à esquerda na bifurcação que encontrara, tomando o caminho que se lembrava ter tomado das outras vezes que teve de visita-la.

Andava pela rua silenciosa, com a menina dormindo em suas costas. Carrega-la estava sendo tão fácil que apenas tinha certeza que ela não tinha caído de suas costas pois era capaz de sentir sua respiração em sua orelha, vez que ela mantinha a cabeça meio apoiada em um de seus ombros. Suspiros tranquilos, como se ela estivesse a dormir no conforto de sua residência, e todo aquele conforto dela o deixava mais desconfortável. Sentir a respiração dela em sua orelha o fazia ter repentinos calafrios, além de que aquilo lhe trazia memórias da vez em que tivera de passar uma noite com ela e acordara com ela em sua cama, dormindo grudada nele. Apenas a mera lembrança o fazia se constranger outra vez.

Permaneceu no silêncio por bastante tempo. Se sua memória não falhava, a julgar pelas construções que o cercavam, estava na metade do caminho. Foi então que, misteriosamente, a menina começou a falar. Falar baixinho, cochichando.

-Kyo... chan....? – Tsugumi estava obviamente adormecida – Kyo-chan... Hoje foi tão... Legal...

Shizuo teve um breve arrepio, franzindo as sobrancelhas, o que completou sua sensação de espanto e susto. O jeito que ela havia falado em seu ouvido parecia um fantasma, e o fato de ela estar falando com o irmão o deixava ainda mais nervoso, mesmo que não soubesse se ela realmente estava falando com o espírito do morto ou se apenas estava a sonhar com ele e acabara falando alto. Deu uma breve sacodida nela para que acordasse, mas não adiantou. A menina parecia crente de que aquele era o irmão a carregando. Ela continuou a falar quase como se fosse para ele ouvir, e contou do dia inteiro. Contou da confusão que a amiga havia criado, contou do susto que tomara a caminho do lugar combinado, do bolinho e do pinguim que ganhou, da raiva que sentiu da mensagem que recebeu e da felicidade que teve aquela noite de passar um tempo com seu mestre sem ter de se preocupar ou pensar em nada.

-Foi um dos... Melhores dias... Que já passei...

E então ela se calou. O rapaz poderia até ter sorrido um pouco com aquilo se não estivesse com a sensação de que tudo aquilo não era algo que deveria ter ouvido. Sequer prestar atenção deveria ter prestado. Enquanto ouvia aquela história toda que já conhecia, ia ficando cada vez mais transtornado com tudo, mas ao mesmo tempo andava mais rápido, e só se deu conta disso quando finalmente prestou atenção novamente aonde andava e já via as luzes da portaria do prédio onde a aprendiz morava.

Por querer logo dar o fora dali, deu uma pequena corrida até a portaria e logo pediu ao porteiro que o deixasse entrar, mostrando a menina nas suas costas para que não precisasse tocar o interfone. O senhor logo reconheceu-o da outra noite e também reconheceu a menina, com quem conversava todas as noites, e abriu ao portão rapidamente, logo saudando-o com um aceno. Acenou de volta por pura educação e entrou logo no prédio, indo de passos largos até o elevador.

Enquanto esperava para que o elevador chegasse, deu um pulo e deixou-se cair ao chão com pés pesados, o que acordou a franzina na base do susto. A colocou no chão em seguida e percebeu que ela nem tinha se dado conta se havia caído no sono ou piscado. Não disse nada e ela também, pois logo pareceu reconhecer o lugar em que estava e abraçou sua pelúcia.

Manteve a mesma postura infantil dentro do elevador, com a cabeça de seu pinguim colada à sua boca e as bochechas estufadas. Shizuo olhava para outro lado tentando evitar alguma conversa. Tinha certo receio de acabar comentando algo sobre aquilo que ouviu, mas quando haviam subido por volta de três andares, deu uma olhadela rápida na menina ao seu lado. Observando melhor, percebeu que ela sorria, enquanto seus olhos brilhavam de um jeito estranho e suas bochechas se tornavam rosadas. O que será que ela estava pensando?

-Vou ficando por aqui. – o rapaz disse no que a porta do elevador se abriu – Boa noite.

-Obrigada por tudo, Shizuo... – a fala dela ficou interrompida no que ela parou para fazer o esforço de se colocar na ponta dos pés, mesmo que suas pernas tremessem com a força. Não entendia o que ela queria até que ela o beijou na face esquerda, bem perto do canto da boca – Boa noite pra você também.

Antes que ele respondesse, ela apertou o botão de fechar o elevador e saiu de perto com um sorriso no rosto, com a inocência de uma criança ao acenar.  A porta ia se fechando devagar enquanto ele estatelava os olhos, sem poder controlar mais nenhuma das reações. Seu queixo acabou por cair de leve e sentiu seu rosto esquentar bruscamente. Deu uma breve engasgada no que iria tentar falar alguma coisa e a porta imediatamente terminou de fechar, com a cabine começando a descer.

Estremeceu um pouco e em seguida se esticou todo, travando os ombros ao lado de seu corpo e ficando naquela posição. Estava todo agitado por dentro, mas seu corpo simplesmente não se mexia.  Interpretou aquilo como irritação, pois era o único sentimento que conhecia que acelerava seu coração daquele jeito. Nada do que ela fazia lhe era lógico! O que ela estava querendo com aquilo?! Ainda sentia os lábios dela em seu rosto, o que o fazia cada vez mais vermelho. A única coisa que foi capaz de fazer foi dar um soco no espelho atrás dele, quebrando o vidro. 

Emburrou-se, ainda vermelho. O que ela estava tentando lhe dizer com tudo aquilo?! Por que ela não deixava nada claro para ele?! Não era vidente nem lia mentes para saber o que se passava com a adolescente, e nem com ele próprio.  Tentava pensar nas coisas que haviam acontecido antes, tentava se lembrar daquela alegria leve que sentira no parque de diversões, mas apenas conseguia pensar nela, nela e nela. No que ela tinha dito, no que ela tinha feito. Tudo estava confuso para ele agora. Tentou pensar na tranquilidade de sua manhã, no clima agradável, qualquer coisa, mas sempre voltava ao que lhe tinha acontecido agora, dando-lhe um nó brusco na cabeça.

Mas de que adiantava ter tido um ótimo dia se não podia se lembrar dele sem ficar todo embaraçado?! 


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