Um Lugar para Nós escrita por Jessy Rodrigues


Capítulo 5
O Segundo Dia É Sempre Melhor


Notas iniciais do capítulo

Leitores fantasmas? É só o que tenho, mas de boa. Boa leitura! ~^.^~



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                No segundo dia, foi bem mais fácil acordar Zoey.

-Hora do banho. – A mãe comunicou séria.

                Zoey não fez nada, só ficou sentada na cama balançando a cabeça negativamente.

-Não vai fugir? O que você ta aprontando?

-Só tomo banho com uma condição.

-Wow, evoluímos, agora estamos entrando em acordos. Diga sua condição, mafiosazinha. – Disse o pai fazendo graça.

-Vou tomar banho sem arrumar problemas se...

-Se... – Repetiram os pais na curiosidade.

-Se vocês fizerem carinho na minha orelha. – Cruzou os braços e fechou os olhos. A resposta não vinha. – Vocês não vão falar nada?

-Mas de onde você tirou essa idéia? – Perguntou a mãe em choque por saber que só era preciso fazer um carinho na orelha.

-Ontem o Elliot fez isso comigo. Ele disse que se eu tomasse banho faria carinho na minha orelha.

-Vamos tomar banho e depois faço todos os carinhos que você quiser.

                Zoey pulou da cama e entrou no cubículo para tomar banho.

-No chuveiro, Zoey? – A mãe estranhou.

-No chuveiro a água não esfria, lembra?

                Tomou o banho sem abrir a boca. Não era por estar sendo boazinha, é que tinha medo de engolir água. Saíram do banho e Zoey estava enrolada em uma toalha felpuda.

-Mãe, os meus amigos me chamaram para dormir lá na creche Petit Mew com eles algum dia. Posso?

                A mãe pegou uma escova de cabelo e penteou as orelhinhas felpudas. Deveria estar feliz pela filha arrumar amigos, mas tudo lhe parecia tão distante. Aquelas crianças eram tão diferentes quanto ela, mas por quanto tempo aquele esconderijo iria durar? Os transformados não poderiam ficar lá eternamente, um dia precisariam trabalhar, estudar de verdade, ter uma família. Como seria a vida dessas crianças no futuro? Será que já seriam aceitas? Será que aquilo não estava matando os pequenos aos poucos?

                E eles nem podiam ir para um médico examiná-los, era tão perigoso.

-Mãe, você me ouviu? Eu perguntei se posso dormir na creche qualquer dia desses.

-É claro que eu ouvi, eu sempre te escuto.

-Menos quando ta vendo novela, você nem vê que eu entro na sala.

-É, menos quando eu to vendo novela. Se você quiser mesmo dormir, tudo bem, mas quando?

-Tava pensando em dormir hoje.

-Hoje é noite da pizza aqui em casa.

-Ta bem, pode ser amanhã!

-Então hoje quando você chegar da creche, vai me ajudar a arrumar suas coisas, ok?

-Ok! – Respondeu fazendo sinal com a mão. – Agora, faz o carinho! – Lembrou.

                A mãe começou a coçar a orelha esquerda da filha.

-Não é assim, ta fazendo errado.

-E como é que se faz?

-Eu não sei, só o Elliot sabe.

-Então você pode pedir para ele fazer quando chegar na creche. – A filha assentiu.

                Desceram as escadas, tomaram o café da manhã e quando iam saindo Zoey correu para o quarto.

-Zoey, o que foi? – O pai perguntou do andar de baixo.

                Ela desceu as escadas correndo.

-Eu tava esquecendo o laço que a mãe do Elliot me deu.

                No carro, Zoey foi prendendo o cabelo com as fitas vermelhas. Quando iam sair do automóvel para a menina entrar na creche, foi preciso colocar uma boina na cabeça e os pais irem seguindo atrás para ninguém ver a cauda felina. Eram coisas que o uniforme não cobria.

                Quando Zoey entrou em segurança os pais suspiram aliviados.

-Tchau! – Zoey balançou o bracinho e correu para dentro. Nem deu um beijo nos pais, o lugar devia ser legal mesmo.

-Zoey, você voltou. Ficamos com medo que não voltasse. – Era Mark abraçando a menina, que retribuiu.

-Você pode tirar a boina, aqui dentro não tem perigo.

-Vocês não vão acreditar!

-No que, gatinha? – Perguntou Dren.

-Não sou gatinha, e meus pais me deixaram dormir aqui, amanhã!

-Que legal! Cuidado com o Daisuke. – Avisou o loiro.

-Por... – Zoey nunca terminaria a pergunta.

                Agora estava jogado no chão de pedra com Daisuke em cima lambendo o rosto.

-Pára, haha! Pára, faz cócegas! Elliot, me ajuda! – Pediu e logo o menino segurava o cachorro nos braços, longe de Zoey. – Elliot, você pode fazer carinho nas minhas orelhas de novo? Eu tomei banho sem problemas em casa, mas minha mãe não sabe fazer carinho.

-Claro! Ai! – Reclamou quando o cachorro pulou de seu colo e o jogou no chão. Daisuke começou a pular em Zoey.

-Você ta bem, Elliot?

-To. – Respondeu de cara amarrada.

-Não fica assim, não. Eu também caí no chão, você não passou vergonha sozinho. – Consolou Zoey se agachando ao lado do loiro.

-Vem, vou fazer carinho em você.

                Zoey se sentou mais perto do amigo e aproveitou o carinho.

-É bom ver que está se dando bem com todo mundo, Zoey! – Disse a mulher loira atrás deles, assustando-os com exceção de Elliot.

-Ô, dona, não faz isso com a gente, não. – Pediu Dren com o coração disparado.

-Mão, você é sorrateira demais, eles não estão acostumados...

-Desculpem-me. Eu só queria avisar que hoje teremos Cabo de Guerra.

-Meninos contra meninas? A gente ganha fácil...

-Não conte vantagem, Dren, elas também são fortes e agora têm uma aliada, não é, Zoey?

-Uhum. Meninos, gosto muito de vocês, mas eu vou ajudá-las a ganhar.

-Traidora. – Murmurou Sardon. Zoey deu língua.

                Foram para o grande quintal, se posicionaram.

-Meninos contra meninas... – Sra. Grant parecia pensar a respeito da formação. – Sardon, Renée, Mark e Bridget em um grupo, Elliot, Zoey, Dren e Corina em outro.

                A maioria revirou os olhos e xingou mentalmente a formação do grupo. Os únicos a realmente não se importarem foram Zoey, Elliot e Bridget.

-Certo, acho bom que vocês ganhem. – Ordenou Corina.

                Começaram o jogo e Corina ficou em última, Dren a sua frente, Zoey à frente e Elliot em primeiro. Quando Dren olhou para trás, viu que Corina não estava fazendo nada.

-Você não vai ajudar, não?

-Isso não são jogos para uma dama.

-Aaahh! – Ouviram o gritinho fino de Zoey ao ser puxada para o chão.

                Extremamente constrangida levantou os olhos para ver o estrago. Caíra em cima de Elliot que se virou para proteger o rosto. Corou violentamente demais para uma criança.

-Desculpe.

-Tudo bem... Você se machucou? – Perguntou se levantando e ajudando a mesma.

-Não, mas você sim. – Disse apontando para a mão raspada.

-Você se machucou, sim, olha aí o seu joelho.

-Certo, os dois venham comigo, vamos fazer um curativo.

                Zoey estava pior que Elliot, seu joelho ficou com um grande estrago.

-Pronto, isso vai evitar que fiquem com cicatrizes, a menos que fiquem arrancando a casquinha. Vão lá fora brincar mais um pouco. – Disse a loira quando terminou o curativo dos dois.

                Os dois correram em disparada para a caixa de areia.

-Eu vou fazer uma montanha. E você, Elliot?

-Vou ver você fazer uma montanha. – Respondeu monotonamente, mas continuou observando. A montanha já estava pronta quando Dren pulou em cima. – Hey, você destruiu minha montanha!

-E agora você vai chorar?

-Não, eu não choro por causa de idiotas como você!

                Dren começou a pisotear mais o que antes era uma montanha de areia. Deixou completamente destruída. Zoey sentiu raiva, muita raiva. Seus olhos lacrimejaram, mas não eram de tristeza pela montanha destruída, mas sim raiva de quem fez aquilo. Como ele podia ser tão cruel?

                Os grandes olhos chocolate derramaram uma lagrima no rosto nervoso e Dren arregalou os olhos felizes, exibindo o começo de um sorriso. Isso enfureceu mais Zoey.

-Ai! – Dren reclamou quando Corina deu um murro em sua cabeça.

-Nunca mais faça isso com uma garota, ta ouvindo bem?

-Eu tenho escolha? – Perguntou acariciando onde a azulada machucou.

-Vem ficar com a gente, Zoey. Estamos vendo a Renée desfilar.

                Zoey foi arrastada por Corina. Passaram o resto da tarde brincando e conversando sobre besteiras infantis. Renée era a mais velha, tendo 7 anos - a mesma idade de Elliot e Sardon -, mas mesmo assim gostava de ficar com as mais novas.

                Quando deu a hora do almoço correu para lavar as mãos. Pegou seu prato e já ia se sentar com os garotos quando a voz de Corina foi ouvida.

-Zoey, vem sentar com a gente, você não pode ficar o tempo todo com eles!

                Zoey olhou indecisa para as duas mesas. Elliot fez um movimento com a cabeça indicando que Zoey se sentasse com as amigas e sorriu para ela ver que estava tudo bem.

-Então, Zoey, fale mais sobre você.

                A ruiva contou tudo que lembrava sobre si. E também descobriu muitas coisas sobre as novas meninas. Renée foi a primeira garota transformada e deveria ser uma modelo famosa, assim como sua mãe. Corina era a filha mais nova dos Bucksworth, que eram renomados em alguma coisa sobre chá. Zoey não tinha certeza se eram provadores ou produtores de chá, era algo por aí. Bridget era a filha mais velha, seu irmão tinha quase um ano. Kikki era filha única até o momento, mas seus pais pretendiam ter ao menos mais um.

-Kikki nem mesmo vai conhecer direito os pais se o mundo continuar do jeito que está. Nós só podemos sair dessa creche com nossos pais, e nem eles sabem quando é que vão nos tirar daqui. O fato é que se duvidar muito, isso vai virar um orfanato para crianças como nós. – Falou Bridget.

-Não que a gente deseje que nasçam mais crianças como nós. – Completou Corina. Renée ouvia tudo, embora não fosse de falar. Comentava pouco sobre si e sobre os assuntos.

                Zoey ficou pensando no que conversou naquela tarde, enquanto estava na cama tentando dormir. Será que viriam mais crianças como ela e aquelas da creche? Desejou internamente que não.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Review. Não gostaram? Review. Querem uma melhor? Vão fazer! u.u