Momentos Equalizados escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Baseado na Música Equalize da Pitty.



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            Lily estava sentada no chão do seu quarto. O tédio tomava conta do lugar. Como se o tempo tivesse parado apenas para perturbá-la. Ficar quieta era a coisa que mais a irritava, mas não havia nada que pudesse fazer. Rose havia saído escondido para se encontrar com um namorado misterioso, seus irmãos estavam jogando alguma coisa idiota com Hugo, e ela era obrigada a ficar no quarto, simplesmente deitada esperando alguma coisa acontecer.

            - Vejo que tem algumas estrelas descolando. – Lily falou olhando o teto cheio de falsas estrelas. – Vejo que mamãe não limpou os cantos direito. – Ela analisava o lugar. – Sinto que tem uma ruiva enlouquecendo nesse estabelecimento. – Lily disse. – Ei... A ruiva sou eu! – Ela se levantou e olhou no espelho. – Quem sabe uma música resolva todas as coisas.

            Sua imagem no espelho parecia dizer “bela tentativa, não irá funcionar, mas tente”. Lily ligou o rádio e trocou de estação, parecia que todos queriam falar de acidentes, mortes, e tristezas. Onde estavam as músicas? Ela se perguntava a cada vez que apertava o botão mudando de uma voz grossa a outra. As vozes grossas faziam com que ela se lembrasse de alguém que tinha uma voz que fazia com que ela se arrepiasse sempre que a ouvia.

            - Lily... – Lily exclamou o próprio nome para fazer com que sua mente não trabalhasse na direção que ela já conhecia. Era loucura, era absurdo, era impossível.

            Falar seu nome em voz alta pareceu funcionar bem, e as lembranças foram afastadas. Ela voltou a mexer no rádio até que um toque que mesclava o lento e o rápido começou a tocar.

            - Hum... – Lily disse parando na música. Ela se deitou na cama com a cabeça para fora. Levar o sangue até a sua cabeça fazia com que se acalmasse, e ela estava muito agitada para passar um dia todo em casa, sozinha, e sem nada para fazer.

           

“Às vezes se eu me distraio

Se eu não me vigio um instante

Me transporto pra perto de você”

            Lily nem escutava mais a letra da música, ela tinha fechado os olhos. Tal gesto sempre fazia com que ela se transportasse para momentos que tinham passado, mas que jamais saiam de sua memória. Ela precisava se viajar constantemente para não voltar aos momentos há todos os instantes, e mesmo assim sempre se distraia, sempre esquecia, sempre voltava a se lembrar. Da voz, dos olhos, dos cabelos, do perfume, da risada debochada, das ironias, das brigas, das festas. Lily simplesmente sentia como se voltasse a viver os momentos, e ele parecia ali, perto dela.

            “Já vi que não posso ficar tão solta

Me vem logo aquele cheiro

Que passa de você pra mim

Num fluxo perfeito”

            Lily conseguia se lembrar exatamente do dia mais importante da sua vida.

Quem nunca esperou pelo primeiro beijo? Quem nunca temeu o primeiro beijos? Quem não se sentiu uma idiota quando era a única garota que conhecia que nunca tinha beijado? Enfim, essa era Lily, ela tinha seus 15 anos e todos tinham conquistado o momento tão importante, até mesmo sua prima tímida. Lily não havia beijado porque quem ela queria beijar era totalmente proibido. Mas o cheiro dele passava para ela mesmo que ficassem a quilômetros de distancia. Mais parecia uma praga.

            Mesmo agora enquanto ela estava trancada no quarto, parecia que o perfume dele tinha entrado pelas frestas impregnando o local inteiro. Ela permaneceu de olhos fechados ainda se lembrando do primeiro beijo. Quem poderia imaginar que aconteceria daquela maneira? Quem um dia iria acreditar que fora de longe o melhor beijo de sua vida? Todos reclamam do primeiro beijo, falam que é cheio de baba, que os dentes se batem e muito mais coisas que não deveriam acontecer. Lily discordava sempre, o primeiro beijo dela foi como nos livros trouxas que Hermione insistia em ler para todos eles, mesmo que sua mãe e seu tio Rony achassem perda de tempo. O primeiro beijo dela tinha sido mágico.

            E ela percebeu que muitos trouxas só sentem o poder da magia quando se tocam juntando as almas. Ela sorriu, as lembranças eram boas mesmo tendo que ser escondidas. O que viria depois do primeiro beijo? O segundo? O terceiro? Muito beijos? Ela ainda estava esperando a continuação, mas aparentemente não chegaria.

“Enquanto você conversa e me beija

Ao mesmo tempo eu vejo

As suas cores no seu olho, tão de perto”

            - Lily? – A voz em sua cabeça parecia bem mais real do que normalmente. Sem duvida ela estava melhorando a imaginação. – Lily Luna Potter!

            - Que? – Lily abriu os olhos de cabeça para baixo. Nunca era bom escutar o nome inteiro, até mesmo ela sabia disso. Encontrou um par de pernas cobertas por uma calça jeans surrada, um tênis limpo. Ela conhecia aqueles tênis, mas limpo daquele jeito? Ela foi subindo os olhos lentamente passou pela camiseta coberta por um suéter. Parou nos olhos azuis que a encaravam. – Que?

            Lily olhou assustada, ela estava desarrumada com o cabelo arrastando no chão e percebeu que o perfume não tinha invadido o quarto por frestas, mas tinha entrado pela porta sem ser convidado. A ruiva caiu da cama ao tentar se levantar.

            - Não sabia que gostava de musicas trouxas? E por que está assim? – Hugo disse sentando-se no tapete e encostando-se na cama sem nem ao menos ajudar Lily.

            - Eu cai... E você nem me ajudou, quanto cavalheirismo. – Lily disse emburrada. – E eu gosto de muitas musicas trouxas para sua informação. E por que invadiu meu quarto?

            - Você sempre fala demais. – Hugo disse deitando a cabeça na cama. – Alvo e Tiago começaram a brigar e eu sai de lá antes que minha mãe colocasse a culpa em mim.

            - Mas... – Lily disse. – Tinha que invadir meu quarto?

            - Você estava sozinha e sem fazer nada. Por que não poderia invadir seu quarto?

            - Eu estava aproveitando o meu tédio sozinha.

            - Aproveitamos seu tédio juntos. – Hugo sorriu. – Larga de ser chata. Não sabe para onde a Rose foi?

            - Sair com o namorado misterioso. – Lily disse. – E não fui eu quem contou.

            - Tudo bem... Eu não ia contar para ninguém mesmo. – Hugo disse dando de ombros. – O que estava pensando? Sorria demais.

            - Eu... Estava... – Lily corou. – Lembrando de umas coisas engraçadas.

            - Que coisas?

            - Hugo... Sabia que você faz muitas perguntas. Que chato. – Lily disse chateada indo aumentar o som do rádio.

            - Eu estava me lembrando de umas coisas também. – Hugo disse sorrindo. – mas acho que você nem se lembra delas.

            - Que coisas? – Lily disse sentindo o coração disparar e a face queimar.

            - De uma festa em Hogwarts em que não ficamos no salão principal. – Hugo disse se levantando e caminhando até Lily.

            - Talvez eu me lembre dessa festa também. – Lily disse tímida. – Preferimos ficar passando frio sob a neve.

            - Preferimos ficar conversando enquanto os flocos encobriam nossas roupas e cabelos. – Ele disse parando de frente a ela.

            - Hugo... – Lily disse tentando fugir dele.

            - Eu sempre me lembro do nosso primeiro beijo. – Hugo disse fazendo seus olhares fixarem.

            - Claro... – Lily riu. – Se lembra quando beija a Luiza? Ou quando namorou com a Letícia?

            - Você sabe que é só um jeito de não me envolver com você. – Hugo disse. – O que todos diriam? Mas acho que você não se lembra do quanto foi...

            - Mágico... – A voz de Lily saiu fraco. – Claro que eu lembro. Você é tão inseguro, mas comigo parece se transformar em outra pessoa.

            - Você também é tão maluquinha, mas comigo resolve se transformar na garota sensata. – Hugo disse rindo.

            - Temos só 16 anos, nem sabemos o que é amor. – Lily disse. – Segundo a Rose, e também a minha mãe e a sua mãe.

            - Isso vem da mulher que se apaixonou aos onze anos em uma estação de trem, e de uma mulher que atacou o amor da vida no meio de uma guerra. – Hugo disse.

            - É... Elas não entendem nada. – Lily sorriu.

            - Não entendem mesmo...

            - Hugo... – Lily disse fraca. Ela queria lembrar se o primeiro beijo foi realmente tudo que aquilo que o coração dela dizia que tinha sido. Mas era errado.

            - Lily... – Hugo passou a mão suavemente no rosto da prima. – Podemos simplesmente ignorar tudo novamente.

            - Mas...

            Lily não conseguiu mais se concentrar em um argumento. Seu coração clamava por sentir os lábios de Hugo junto aos dela. E foi o que aconteceu. Ele segurou na cintura dela delicadamente e aproximou sua face fazendo com que Lily pudesse sentir a respiração deles se confundindo. Os lábios se tocaram com uma ternura surpreendente. Lily ergueu um dos pés como havia acontecido no primeiro beijo, ela sentiu a mesma energia percorrendo seus nervos, a mesma sensação de borboletas voando dentro de seu estomago, e a mesma idéia de que o mundo poderia acabar naquele momento.

            Hugo pediu licença com a língua e os lábios de Lily se entreabriram dizendo que ela aceitava aprofundar o beijo. Suas línguas se encontraram causando uma suave corrente elétrica pelo corpo de ambos, elas dançavam uma com a outra delicadamente enquanto o ar começava a faltar.

            “Me balanço devagar

Como quando você me embala

O ritmo rola fácil

Parece que foi ensaiado”

            O beijo se desfez fazendo com que a respiração de ambos se tornasse ofegante. Lily encostou-se ao peito de Hugo escondendo o rosto vermelho. Ele levou as mãos a costa da menina balançando o corpo lentamente de um lado a outro. Lily ergueu os olhos com um sorriso brincando nos lábios.

            - Hugo Weasley dança?

            - Só com Lily Potter. – Ele disse fazendo com que o sorriso dela se abrisse ainda mais.

            Lily voltou a se encostar-se ao peito do garoto deixando ele a levar de um lado a outro. Nenhuma outra palavra foi trocada por um longo tempo. Ela conseguia ouvir o coração dele batendo e isso parecia dar ritmo ao seu próprio batimento cardíaco.

            “E eu acho que eu gosto mesmo de você

Bem do jeito que você é

Eu vou equalizar você

Numa freqüência que só a gente sabe”

            Depois de um tempo a música não chegava mais ao ouvido deles, fazendo com que Lily voltasse a abrir os olhos. Parecia que à tarde já havia caído. O dia tinha passando tão rápido. E era o ultimo dia de férias, imaginar que no dia seguinte começariam o penúltimo ano de Hogwarts fazia com que Lily gravasse cada segundo daquele momento, cada nota da musica, cada gesto de Hugo.

            Se separaram em silencio e foi assim que desceram para o jantar. Nada tinha acontecido. Como da primeira vez. Uma história sem final feliz, disso Lily tinha certeza. Mas ela também sabia que finais felizes eram apenas para livros trouxas. Ela queria arriscar e no fundo sabia que arriscar era a única maneira de se sentir completa.

            “Eu te transformei nessa canção

Pra poder te gravar em mim

Adoro essa sua cara de sono

E o timbre da sua voz

Que fica me dizendo coisas tão malucas

E que quase me mata de rir

Quando tenta me convencer

Que eu só fiquei aqui

Porque nós dois somos iguais

Até parece que você já tinha

O meu manual de instruções

Porque você decifra os meus sonhos

Porque você sabe o que eu gosto

E porque quando você me abraça

O mundo gira devagar

E o tempo é só meu

E ninguém registra a cena

De repente vira um filme

Todo em câmera lenta

E eu acho que eu gosto mesmo de você

Bem do jeito que você é

Eu vou equalizar você

Numa freqüência que só a gente sabe

Eu te transformei nessa canção

Pra poder te gravar em mim”

            Lily e Hugo estavam sentados na cabine. Rose tinha saído para verificar os corredores, e a voz de Lily era calma, ela cantava fazendo com que Hugo sorrisse. Seus olhares não estavam conectados, seus corpos não estavam próximos. Ela olhava pela janela e ele lia algo sobre quadribol.

            Mas o sorriso dizia mais que mil palavras.

            - Eu vou equalizar você... Nunca freqüência que só a gente sabe... – Lily cantou vendo a paisagem passar.

            - Eu te transformei nessa canção... – Hugo a acompanhou.

            - Pra poder te gravar em mim... – Os dois cantaram ao mesmo tempo.

            E a viagem seguiu assim. Fingir que nada aconteceu, mesmo que o coração diga que o nada é tudo e que o tudo deveria voltar a se repetir. Um jogo de amor que só eles saberiam jogar. Uma música gravada. Um beijo encantado. Uma história começando.

                                                                                                                                                         Continua... 


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