O Misterioso Sabor da Cereja

            Prólogo

    - Seishirou-san? -Chamou Subaru encostado em Sakurazuka e olhando para suas luvas novas à luz do sol da manhã que entrava por entre os galhos da cerejeira.

    - Sim. - Respondeu Sakurazuka, engolindo outra cereja.

    - Isto é para sempre? Quero dizer, nós? - A voz de Subaru o traía, revelando um homem que ele se esforçava para conter, um homem fraco e com medo.

    Sakurazuka parou a cereja no meio do caminho e silenciou-se. Os únicos sons existentes eram o farfalhar das folhas ao vento e a respiração dele e de Subaru. Subaru temia a resposta, pois sabia que nada é para sempre. Sakurazuka tomou fôlego e disse, calmamente, passando a mão pelos cabelos negros de Subaru:

    - Eu te amo. E é isso que importa, é isso que é para sempre. - Seishirou sentia a mentira de suas palavras. Amor, ele nunca seria capaz de sentir algo como aquilo.

    Subaru sentiu que isso causava dor em Sakurazuka. Os dois Clãs, Sumeragi e Sakurazukamori, estavam em guerra há tempos e, tanto Subaru quanto Seishirou-san, temiam ter que tomar parte nessa guerra. Subaru não queria, não se importava com guerra, nem clã, nem nome. Só queria viver em paz em um lugar onde ele, Seishirou-san e Hokuto, sua irmã, pudessem viver em paz. Mas não há jeito de mudar o destino.

     - Não há como mudar o percurso natural das coisas, Subaru. - Disse Sakurazuka. - Mesmo que elas não sejam como nós esperamos. E você sabe disso. - Ele parou e pensou um pouco, sabia que não havia como mudar, mas não poderia fazer nada. Não queria lutar contra seu destino, nem seu hobbie. Seishirou não sabia, mas o amor que ele sentia por Subaru, o mesmo amor que ele lutava para negar, o mataria, destruiria sua vontade de matar. Simplesmente acabaria.

    Sakurazuka viu o medo de Subaru percorrer seu corpo. Seishirou-san sempre sentia Subaru, independente do quê, de onde e de quando. Ele sabia que isto seria o seu fim. "Mas me deixe aproveitar isto, este amor, esta paz... Subaru".

    - Arigatou, Seishirou-san. - Disse Subaru, beijando a mão de Sakurazuka que passeava por seus cabelos.

    Subaru se virou e encarou Sakurazuka. Aqueles olhos sofriam tanto... Aqueles olhos tinham tanto medo! Seishirou-san tinha uma cereja na outra mão, perto dos lábios e Subaru não iria perder para uma mera cereja. Não iria deixar aquela frutinha minúscula chegar aos lábios de seu amado na sua frente.

    Afastou a fruta da boca de Sakurazuka e o beijou. Enlaçou seus braços em volta dele, o apertando contra seu corpo como se ele fosse lhe escapar. Subaru não fechou os olhos, queria olhar para Seishirou-san para sempre. Queria ver aquele amor que ele sentia escrito em seus olhos. E viu, os olhos doloridos e frios de Seishirou também estavam abertos, o olhando, durante aquele beijo que durou séculos em um único segundo.

    Sua boca tinha gosto de cereja. Da vil fruta que Subaru tanto detestava. Não sabia ele, porém, nem Sakurazuka, que este seria um dos últimos beijos que dariam. E a ultima vez que Subaru sentiria o gosto da cereja.