Fiquei imóvel. Você estava ali, ao pé da minha janela novamente, sorrindo. Ficar ali, te encarando sorridente a poucos metros de mim não era nenhum desafio, a cada segundo eu redescobria um detalhe e o brilho dos seus olhos só aumentava.
- Vai ficar ai, olhando, não vai descer, é? - você gargalhou, eu não pude continuar ali em cima, distante. Desci correndo as escadas, que pareciam os menores dos obstáculos. Quando cheguei à porta me dei conta de que havia deixado a chave no quarto. Ótimo momento para pegar aquela que fica dentro do vaso ao lado da televisão. Ao abrir a porta eu sabia que você ainda estaria em baixo da janela, corri até lá. Você tinha uma flor cor-de-rosa entre os dedos, mas, quem se importaria com uma flor agora? Você estava novamente comigo, e havia um número maior de coisas a fazer ao invés de pegar a flor. Abracei-te forte, o mundo parecia pouca coisa diante daquele abraço. Seus braços não eram mais aqueles braços finos, agora tinham músculos. Seus ombros estavam largos, mas, você ainda sabia como me abraçar. Seu abraço era feito sob medida. Os braços que cruzavam pelas minhas costas e me apertavam com o furor de um abraço que há muito tempo estava para ser dado.
Quando nos afastamos daquele momento, você segurou minhas mãos na altura de seu quadril, enquanto eu obedecia aos comandos que seus olhos me passavam.
- Você não pode chorar – delicado você disse, enquanto passava o dedo pela minha bochecha, assim tirando a lágrima que ali escorria, em seguida, colocando aquele dedo molhado pela lágrima em sua boca. Soltei um pequeno resmungo quando você apertou minha mão, ainda suja de sangue, o que te fez encará-la assustado, em seguida tentar limpá-la, sem muito sucesso, você não era a melhor pessoa quando se tratava dessas coisas. Mas logo você a esqueceu, eu não era a única que me perdia com os detalhes da pessoa a minha frente.
Então, ouvimos o barulho de carro, provavelmente meu pai chegando a essa hora, nosso pequeno momento seria interrompido. Você sabia disso, puxou minhas mãos e as juntou a seu peito, olhou em meus olhos e sorriu.
- Amanhã eu irei partir novamente, porém, não falta muito tempo para que nós nos formemos. Eu voltarei a Londres para ‘fazer faculdade’ – brincou com as aspas no ar, sem soltar minhas mãos – você provavelmente também irá estudar e mais do que nunca eu sei que o destino vai se encarregar de nos unir novamente, promete me esperar... De novo?
- Você sabe que eu espero, eu esperei até hoje, por você... – seus olhos me diziam que você voltaria, só que não me especificavam o tempo. Por mais quanto tempo duraria tudo isso?
- Não se esqueça de me dar boa noite, sempre – você me deu um beijo delicado na testa e se virou, dando alguns passos, quando começava a sumir da minha vista, eu conseguia relembrar com perfeição do momento que me deixaste a tanto tempo atrás, tive medo de que não parasse novamente, mas, você não me decepcionou, se virou e sorriu para mim, murmurou algumas palavras e tomou seu caminho novamente, sumindo da minha vista sem me deixar perdida.
Só depois me lembrei que havia me esquecido de dizer que ainda te amo.