Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 56
Capítulo 56 - Coerção




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"É melhor morrer do que viver eternamente em uma mentira"

Capítulo 56 - Coerção

 Monalisa ainda não conseguia acreditar na situação em que acabara de se meter. Aquele broche..aquele simples broche que ela aceitou, mas jogou fora logo em seguida, colocou a menina naquela situação. Presa junto com Gabriel, um dos principais elementos que a quer dentro do Labirinto. Como isso foi acontecer?

- Só pode ser brincadeira - lamenta a garota - Eu joguei fora esse broche! Eu nunca quis essa porcaria!

- Como não? Você mesma o aceitou - esclarece Gabriel - E além disso, também foi você mesma que quis vir para cá.

- Do que está falando?

- Esse evento nunca teria sido ativado se você não tivesse entrado nessa sala. Mas além de ter aceitado o broche, você ainda veio diretamente para cá.

- Mas eu...eu não sabia que isso iria acontecer!

- Mesmo? Você não tinha uma guia que iria te levar direto ao seu destino? Se mesmo com uma guia você ainda veio parar aqui, é sinal de que não quer mesmo sair.

- Cale a boca! Tudo que eu quero é sair daqui!

 Monalisa tenta correr de novo para a porta que ela vê claramente que levava de volta à estrade de tijolos amarelos, mas ela simplesmente volta para o mesmo lugar. Era inútil. Gabriel apenas sorri maldosamente.

- Você sabe disso muito bem. Não pode mudar as coisas, a menos que ative um evento.

- Droga! - reclama a mocinha - Então...não tem nenhum jeito de sair daqui...

- O evento se resume a permanecer para sempre nessa sala enquanto esse broche for seu. Simplesmente não há meios de voltar atrás.

- Esse broche... - Monalisa balbucia furiosa, arracando o enfeite, jogando-o no chão e pisando em cima dele com raiva - Eu nunca quis essa droga!

- É inútil - diz Gabriel. E, de fato, assim que Monalisa termina de pisotear o broche ele simplesmente reaparece preso na roupa dela, como se não tivesse sofrido nada.

- Mas como?

- Esse broche é seu por toda a eternidade. Não adianta você destruí-lo, não adianta você jogar fora. Ele sempre vai voltar. Ele é seu, assuma.

- Meu...para sempre - balbucia a menina, já caindo em desespero.

- Aceite, bela Monalisa - diz Gabriel de forma galanteadora e serena - Você ficará aqui para sempre...

- Não! Não quero!

- Por que tanto desânimo? Como eu disse, esse é o meu espaço restrito...e não só isso, esse é o melhor lugar que você poderia estar.

- Do que está falando? É uma sala em branco, sem nada. O que pode ter de bom aqui?

- O que você quiser...

- Hã?

 Gabriel estala os dedos e o cenário muda para um lindo campo a céu aberto. Flores, grama verde, céu azul e pássaros voando.

- Bonito, não é?

- O que você fez?

- Se o cenário da sala não te agrada posso mudar quantas vezes quiser. Basta você me pedir.

- Não importa o cenário...eu ainda estou presa aqui!

- Se o fato de mudar a paisagem não te agrada, talvez esteja com fome...posso fazer aparecer aquela mesa quantas vezes quiser.

 Ele estala os dedos de novo e a mesa cheia de comida reaparece, do nada, na frente de Monalisa, mais uma vez repleta com todos os pratos deliciosos que haviam antes.

- Não sei que tipo de mágica está fazendo...mas ainda assim não me convence.

- Mágica você diz? Não faz sentido - retruca Gabriel - Mágia ocorre quando você faz algo contrário à natureza. Mas nesse lugar, realizar suas vontades e desejos é parte integrante da natureza.

- Como?

- Eu disse Monalisa, você está em um paraíso restrito. Esse é o melhor lugar que existe, pois tudo conspira a seu favor. A melhor coisa aqui é que a morte não pode entrar.

- O que disse?

- Exatamente. Enquanto estiver dentro desse espaço, você simplesmente não morre, não adoece e nem mesmo envelhece. Fiz questão de criar o melhor espaço para que você pudesse viver.

- Isso é...isso é impossível. Como pode...

- Eu já disse. Esse mundo particular é um presente meu para você. Fui eu que o criei, mas tudo que está nele é para o seu próprio prazer.

- Mesmo assim...

- O que foi? Acha tedioso? Não tem problema...

 Gabriel bate palmas e faz aparecer um tipo de portal em pleno ar, que mostrava os mais diversos tipos de imagens.

- Esse portal pode mostra todos os tipos de coisa que podem acontecer no universo. Aqui você nunca sentirá tédio.

 Ainda assim, Monalisa não estava nem um pouco satisfeita. Ela não queria ficar em um outro Labirinto. Ela queria sair dele. Era sua única vontade.

- Eu não quero nada disso! O que eu quero é sair daqui! - retruca Monalisa.

- Infelizmente...essa é uma das únicas coisas que eu não posso te dar - fala Gabriel - A minha função nesse mundo é ouvir todos os seus desejos e vontades e realizá-los, mas existem três coisas que eu nunca poderei fazer.

- Três coisas?

- A primeira é...morrer. A morte não entra nesse mundo, logo eu nunca poderia morrer mesmo que quisesse.

 Monalisa continuava ouvindo com atenção. Ela não sabia, mas aquelas palavras iriam mudar muita coisa.

- A segunda é responder qualquer pergunta a respeito do Labirinto. Mesmo que você soubesse, não iria mudar muita coisa, pois não iria sair daqui. Afinal, a terceira e última coisa que eu não posso fazer por você é...deixá-la sair daqui!

- Maldito! - reclama Monalisa, caindo de joelhos no chão - Por que...por que isso aconteceu comigo?

- Você é uma convidada ingrata, Monalisa. Estou lhe dando a oportunidade de viver no mais perfeito de todos os mundos. Um mundo onde você não pode morrer, não pode se entendiar e pode ter tudo que tiver vontade. A única coisa que você precisa é ficar aqui.

- Eu não queria nada disso... - balbucia a menina, enxugando as lágrimas - Tudo que quero é saber a verdade...enquanto tiver essa dúvida na minha cabeça nunca poderei viver em paz.

- É uma pena, mas não posso realizar esse desejo. Você não ouviu o que eu disse? O único jeito de sair daqui seria se esse broche não fosse seu. Mas...você o aceitou, lembra?

 "Droga. Por que eu o aceitei?", pensa a menina, reconhecendo que fez aquilo antes de se encontrar com Ariadne. Nunca pensou que uma decisão tão simples pudesse ter mudado toda a sua jornada. Agora que estava ali, sem saída, talvez Ariadne nem existisse mais. Teria que aceitar o destino de viver para sempre, sem nunca saber o sentido de estar ali. Era o pior cenário possível.

- É claro que você pode se cansar da minha presença e pedir que eu traga mais pessoas para cá. Posso perfeitamente fazer isso.

 Gabriel estala os dedos novamente e muda o cenário para uma cidade movimentada. Pessoas, carros, gente andando por todos os lados. Gabriel e Monalisa estavam ali, cara a cara, no meio de toda a multidão. Um dos pedestres era um vendedor de sorvete e oferece um picolé para a menina.

- Sorvete, mocinha? - diz ele.

- Hã? - ela pega o picolé sem entender muito bem. Gabriel apenas ri de leve.

- Vê? Pode conversar com todos eles. Todos possuem histórias de vida programadas, mas...são apenas ilusões. Você pode pensar em dar o seu broche como presente para qualquer um deles, mas mesmo que aceitem, não são reais. Seria o mesmo que jogar o broche no chão.

- Então...você é a única pessoa desse mundo que poderia aceitar o meu broche?

- Isso mesmo - Gabriel ri, agora de forma mais maldosa - Eu, e somente eu, posso te tirar daqui. Mas eu nunca irei aceitar o broche que dei a você com tanto carinho. A menos que você me convença, NUNCA IREI ACEITÁ-LO!

 Monalisa ouve essa última frase ecoando em sua mente. Tudo estava perdido. A única forma de sair daquele mundo dentro do Labirinto seria convencendo o próprio Gabriel a aceitar o broche, mas ele nunca iria fazer isso. Não havia mais saída. Ela cai de joelhos no chão. Gabriel muda o cenário mais uma vez, de volta à velha sala branca, com a mesma mesa cheia de comida. Ele pega um taça de vinho e senta-se tranquilamente com as pernas cruzadas.

- Mas esses são os únicos desejos que não posso realizar - diz ele - Fora essas três condições: morrer, falar sobre o Labirinto ou aceitar o broche, serei seu gênio da lâmpada eterno. Irei fazer qualquer coisa que quiser, seja humilhante ou não.

 Era uma situação simplesmente inusitada. Monalisa tinha em mãos tudo. Ela podia pedir qualquer coisa. Qualquer coisa que qualquer outra menina sonhasse em ter, estaria às mãos dela. Conforto, luxo, roupas novas, comida, diversão, pessoas. Qualquer coisa. Diante do poder de Gabriel, qualquer pedido dentro daquele mundo poderia ser realizado. Mesmo assim, ela não queria nada daquilo. A sensação de mentira era infinitamente maior ao conforto ou luxo. Ela precisava sair dali. Mas como? Gabriel nunca aceitaria seu broche de volta e essa era a única forma de deixar a sala. Tudo estava acabado. Talvez devesse se conformar e aceitar viver em um mundo perfeito, a não ser pelo fato de que nunca revelaria a verdade para ela. Não havia mais saída. Ou...haveria.

 "Espere...estou lembrando daquelas duas, a Luana e a Cibele. Elas poderiam ter mentido, poderiam ter me enganado naquele jogo das portas, mas seguiram rigorosamente as regras. E mesmo a Ariadne segue a programação dela...então...se ele está mesmo programado para me obedecer em qualquer coisa...espere...tem...tem sim um jeito de sair!", pensa Monalisa, quando uma ideia exótica, mas que poderia dar certo, passa por sua cabeça.

- Gabriel!

- Sim? O que deseja?

- Você disse que pode realizar qualquer desejo desde que siga aquelas condições, não é?

- Sim. Posso satisfazer qualquer desejo, desde que não envolva essas condições ou que altere as regras dessas condições.

- Entendo...então pode me realizar um desejo simples?

- Claro.

- Dá sua palavra de que realizará esse desejo?

- Não preciso dar minha palavra. Eu estou nesse mundo para realizar seus desejos e vontades.

 Monalisa sorri. Era exatamente o queria ouvir.

- Então...quero que me responda uma pergunta simples.

- Desde que não se refira ao Labirinto, é claro, posso responder.

- É uma pergunta lógica...que você deve responder simplesmente "Sim" ou "Não".

- Só isso? Claro. 

- E mais uma coisa...

- Sim?

- O meu desejo é que você obrigatoriamente responda essa pergunta com a verdade. Você não pode responder uma mentira, em hipótese alguma.

- Dou minha palavra. Direi a verdade. Faça sua pergunta.

- Dá mesmo sua palavra?

- Eu estou aqui para realizar seus desejos, repito. Faça sua pergunta e responderei verdadeiramente com todo o prazer.

- Bem, minha pergunta é muito simples.

- Sou todo ouvidos.

- Responda Sim ou Não com a verdade. Entre responder essa pergunta com Não ou aceitar esse broche de presente, você fará uma dessas ações?

 Gabriel sorri para responder, mas não demora muito para sua face mudar. Seu rosto começa a ficar mais pálido e Monalisa começa a sorrir maldosamente.

- E então, Gabriel? Qual é a sua resposta? Não é uma pergunta que envolve o Labirinto, só estou perguntando se você fará uma das ações que eu disse. Lembre-se...o meu desejo é que você fale a verdade. Mentir não é uma opção!

 "Pelas regras...eu não posso deixar de realizar a vontade dela, ou seja, eu não posso mentir", pensa Gabriel, "Se eu responder Não...estaria mentindo, afinal, uma das ações da pergunta dela é justamente responder a pergunta com Não, logo é uma mentira. Eu fiz uma das ações. Mas se eu responder Sim...o único jeito de não mentir é... "

- Estou esperando, Gabriel.

- S-Sim... - gagueja ele. Monalisa entrega o seu broche nas mãos dele e sorri triunfante.

- Obrigada por aceitar o broche, Gabriel. Você fez uma das ações e respondeu com a verdade. Viu? Não demorou muito para eu te convencer a aceitar o broche.

- Você...sabia que eu não podia deixar de realizar o seu desejo...e usou isso contra mim...muito inteligente.

- Obrigada, mas não tenho tempo para ficar e conversar. Se não se importa, estou saindo. Adeus, Jereth! - despede-se a menina.

- Por que, Monalisa? - fala Gabriel assim que ela passa - Você teria a vida eterna nessa mundo. Você poderia ter tudo que quisesse, só precisando aceitar as coisas como são. Por que escolheu sair da segurança desse mundo?

- Por quê? - fala Monalisa, sem se virar para trás - Porque é melhor morrer do que viver eternamente em uma mentira.

 Gabriel não fala mais nada, ele sequer se mexe. Monalisa segue na direção da porta de saída. Ela sabia o que estava deixando para trás. Uma oportunidade de viver em um paraíso construído. Mas havia algo mais forte a puxando. Algo mais poderoso. Ela até desacelera alguns instantes pensando nisso, mas não aceitaria ficar ali de jeito nenhum. Ela fecha os olhos, aperta o passo, atravessa a porta e, quando volta a abrir os olhos, dá de cara novamente com a estrada de tijolos amarelos.

- Consegui! Eu voltei! Graças a Deus! - sorri ela, começando a correr novamente, mesmo sabendo que talvez aquela estrada fosse infinita, mas precisa tentar de novo. Assim que começa a correr, sente alguém puxando seu braço. Ela olha para trás e exclama:

- Hã? Você!


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