Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 51
Capítulo 51 - Caos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/51

"Começou a perceber que o ser humano se adapta a tudo, inclusive ao caos"

~ Augusto Cury

Capítulo 51 - Caos

  Monalisa não conseguia disfarçar seu olhar espantado. Ela já passou por muitas coisas estranhas e bizarras desde que se descobriu no Labirinto, mas ainda podia ter alguma certeza de onde estava. Agora, tudo que havia diante dela, era uma imensidão de paredes cobertas por plantas em uma forma de...labirinto. Exatamente. Era literalmente um labirinto. Mas um labirinto imenso, com paredes que se estendiam até onde seus olhos podiam alcançar.

 - Isso é...

- O Labirinto de verdade - responde Ariadne, como se adivinhasse os pensamentos de Monalisa - A agência é o centro dele. Nosso objetivo é chegar até ali.

  Ariadne aponta para uma enorme torre, localizada muito longe de onde estavam. Talvez demorasse dias, não, semanas para chegar até lá. Sem Ariadne, Monalisa podia ter certeza que levaria séculos. Afinal, era um labirinto gigantesco.

- Você sabe o caminho, não sabe? - pergunta a loirinha. Ariadne sorri e balança a cabeça positivamente.

- O caminho mais curto para a torre nos leva lá em doze horas, indo a passo lento.

- Doze...horas? - repete Monalisa impressionada.

- É pouco se parar pra pensar que está perto. Aquela é a torre da pessoa que você quer conhecer - informa a guia.

- Está falando...da pessoa por trás do Labirinto?

- Ela mesma. É com ela que você quer se encontrar antes de sair, não é?

- S-Sim. Não fará sentido sair sem saber de verdade porque estou aqui.

- Oh, então estão atrás daquela pessoa? - murmura uma voz conhecida. Monalisa olha para trás e dá de cara com um sorriso. Em poucos instantes, o sorriso vai se completando até assumir a forma de um gato. O Gato de Cheshire, um dos primeiros tutores de Monalisa, estava ali, na frente dela.

- Cheshire! - exclama a garota.

- Olá, Alice. Há quanto tempo.

- Já falei pra parar de me chamar assim! - bronqueia Monalisa - Já disse que...

- Ou seria Aurora?

- Aurora? Está falando...

- Ora, não se lembra de mim? - continua o gato, se transformando mais uma vez em um jovem de chapéu - E agora?

- Não é possível...José?!

- É...foi o nome que usei naquela camada. Hihihi. Nos divertimos bastante lá, né?

- Então...era você na segunda camada.

- Fui o tutor escolhido para dar as dicas para você. Devia ter se lembrado logo que é preciso atender o chamado da aventura se quiser uma história interessante...

- Faz sentido..todo aquele papo de história e aventura. Sabia que tinha ouvido em algum lugar.

- Mas você percebeu bem rápido, mais rápido do que eu imaginava - elogiou Cheshire, retornando para a sua forma de gato - A chave não passava da própria camada inferior do Labirinto...tudo que você precisava fazer era aceitar o chamado da aventura e recusar seu mundo cômodo. Sair do seu conforto é sempre o primeiro passo, lembra-se? Tudo aquilo não passava de mais uma das várias metáforas do Labirinto...

- Ainda bem que percebi logo...mas agora...nunca pensei que o Labirinto fosse mesmo um..

- Labirinto? Irônico, não é? Mas esse lugar não se resume apenas a andar pelo caminho certo...e creio que a nossa amiga aqui sabe muito bem disso.

  Ariadne concorda, com uma expressão séria.

- Ele está certo - responde Ariadne. Monalisa nem se deu ao trabalho de apresentá-lo, já que obviamente se conheciam - Esse Labirinto não é apenas um mundo disfarçado como era antes. Agora é um mundo caótico, sem a mínima regularidade.

- Mas você não disse que sabe o caminho?

- Sim, eu sei. Mas isso não nos livra dos perigos que vamos passar. Monalisa, preste atenção no que vou dizer, agora esse Labirinto é como um mundo de sonhos, onde nada é o que parece e tudo pode acontecer. 

- Sonho, é? - ironiza Cheshire, lambendo as patas - Você é bem otimista.

- Tsc, tem razão - concorda Ariadne - Talvez...pesadelo seja a palavra mais correta.

- Pesadelo, heim? Como todos aqueles que tive para tentar descobrir as pistas dos eventos.

- A diferença é que agora você não está dormindo..a menos que você considere que o lado de fora do Labirinto seja a realidade e tudo aqui seja apenas um sonho. É uma interpretação possível.

- Não - diz Monalisa - Eu não me sinto como em um sonho...tudo parece bem mais intenso agora.

- Então pense em tudo que pode acontecer em um sonho com essa mesma intensidade. Isso é o Labirinto - fala Ariadne - Os riscos aqui envolvem muito mais a sua sanidade do que a sua vida.

- Minha sanidade...fico em dúvida se ainda a possuo.

- No Labirinto? É claro que não...todos aqui são loucos - comenta Cheshire.

- Caso contrário...eu não estaria aqui - complementa Monalisa - Mas não cheguei tão longe para desistir. Vamos nessa.

- Devo desejar...boa sorte? - fala Cheshire.

- Você não vem? - pergunta Monalisa.

- Eu só passei aqui para cumprimentá-la - respondeu ele - No Labirinto real, não precisamos mais fingir. Não há mais necessidade de ativar eventos para revelar nossa verdadeira natureza. Tudo agora já está desvelado.

- É verdade...aqui tudo é permitido - fala Ariadne - Não há mais porque esconder a conspiração.

- Ótimo. Isso quer dizer que também não preciso mais fingir - fala Monalisa - Também estou livre.

- Além disso - fala Cheshire - Também passei aqui para mudar seu figurino.

- Meu figurino?

 Monalisa olha para si mesma e vê que ao invés do uniforme escolar, usava um vestido azul com babados, enormes meias brancas, sapatinhos pretos e uma tiara. Ao olhar para Ariadne, vê que ela usava um vestido parecido, mas vermelho e com detalhes pretos.

- Estilo Alice...meu preferido - fala Cheshire - Agora você está vestida a caráter. Adeuzinho.

- Ei, não quero usar isso...- mas o gato já havia desaparecido por completo, deixando seu sorriso por último.

- Acho que ficou muito bem em você - comenta Ariadne.

- Só não me chame de Alice - retruca Monalisa.

- A roupa não importa muito agora - a guia retoma, agora com um olhar mais sério - Precisamos ir logo.

- Oh, claro. Eu saio desse Labirinto vestida de uniforme, de Alice ou até pelada, mas eu saio.

 Ariadne ri.

- Até que você é engraçada de vez em quando.

- Hã? - Monalisa fica vermelha - Ah...falei sem pensar.

- Hihi. É bom rir um pouco agora...porque daqui para frente, tudo vai ficar mais difícil.

- Mesmo? - diz Mona, acompanhando a guia por onde ela ia - Como pode ficar tão difícil e...opa!

 Ela diz isso quando Ariadne para do nada. Elas chegaram a um tipo de sala com cerca de umas trinta portas diferentes.

- Hã? Mas como? Quando entramos nessa sala? Estávamos ao ar livre há poucos instantes e...

- O espaço aqui dentro muda de uma hora para outra. Quando quis aproveitar a outra camada com você não foi apenas por sentimentalismo. Acontece que agora não podemos confiar nem nas leis da física. Nada aqui vai fazer muito sentido. Chamar você de Alice não é exagero. Estamos literalmente em um País das Maravilhas...se é que existe alguma maravilha aqui.

  Monalisa apenas aceita e segue Ariadne por uma das portas e, assim que a abre, se vê em um tipo de deserto. Com cactos e coqueiros que espalhavam água como um irrigador.

- Mas...como? - estranha Monalisa.

- Ignore! - adverte Ariadne - Se tentar pensar, as coisas podem ficar ainda piores.

- Como?

- Quanto mais você achar estranho, mais estranho ele vai ficar. Apenas me siga e tome cuidado.

  Monalisa apenas concorda e continua seguindo sua guia. Nessas horas ela pensa que seria simplesmente impossível sair do Labirinto sem a ajuda de Ariadne. Quanto tempo levaria até chegar ao Mestre das Chaves ou simplesmente interpretar direito seus sonhos se não a tivesse do seu lado? Agora, graças a ela, faltava pouco para chegar até a torre da pessoa que, teoricamente, seria capaz de explicar o motivo de tudo aquilo. Talvez ela finalmente pudesse descobrir quem era de verdade.

  Contudo, essa distração nos pensamentos custou caro a Monalisa. Ela não ouviu quando Ariadne comentou para tomar cuidado onde pisasse e ela acaba pisando em um galho solto, um único galho solto no meio do deserto. Imediatamente, uma areia movediça é ativada bem abaixo dos pés da garota.

- Aaah! - grita a mocinha, surpreendida.

- Mona! - grita Ariadne - O que você fez?

- Eu não sei! Essa coisa está me puxando para dentro!

- Droga! Foi algum evento! Você pisou em alguma coisa?

- Não sei...devo ter pisado em algum galho, mas...

- Eu falei para não pisar em nada! Espera...

 Ariadne tenta usar um grande bastão jogado ali, perto de um coqueiro, mas a areia movediça começa a ficar mais forte. A guia não tinha forças para puxar Monalisa dali.

- Ariadne!

- Acalme-se, vou tentar te puxar.

- Eu tô...sendo sugada...socorro! - grita a garota, mas Ariadne não conseguia puxar. Na verdade, o bastão se quebra e Monalisa só estava com a cabeça para fora.

- Monalisa...Monalisa...escuta, seja lá onde você for cair depois que for sugada, fique lá! Não se mexa! Eu vou te encontrar! - grita Ariadne. Monalisa ouve, mas logo depois disso é sugada totalmente pela areia movediça. Não, não havia perigo de vida, mas ela cai em outro lugar totalmente diferente do anterior. Era um grande piso xadrez quadriculado ao ar livre. Mais uma vez, era um piso xadrez até onde os olhos podiam alcançar.

 "Como...posso estar ao ar livre depois de ser sugada para baixo do solo? Droga...não posso pensar muito, senão vai ficar pior", pensa ela, "A Ariadne falou para ficar aqui até ela me encontrar, então...melhor ficar!"

  Monalisa se senta no chão e abraça as próprias pernas tentando não pensar em nada, mas quanto mais queria espantar os pensamentos, mais eles voltavam. E agora? Não queria ficar nem um minuto sozinha. Ariadne, onde ela estava? É aí que ela ouve uma voz.

- Monalisa..

- Ariadne! - responde ela - É você, Ariadne?

- Monalisa... - a voz continuava a chamá-la. Mona se levanta e tenta seguir o som. Ela dá de cara com uma porta. Apenas uma porta no meio de toda a área quadriculada. Parecia que a porta levava a algum lugar, mesmo se vendo totalmente a área inteira. Como a porta poderia levar para dentro de algum lugar, se ali não tinha nem mesmo uma parede? Monalisa tentou não pensar, já que a voz de Ariadne continuava saindo dali e continuava a chamar pelo seu nome. A loirinha se abaixa e abre a porta. Ela realmente levava para algum lugar. Era também uma sala ao ar livre e piso xadrez. Ou havia uma parede transparente do outro lado, ou a porta levava para um outro lugar como um portal de teletransporte. Não dava para parar e pensar. Monalisa continua andando e seguindo a voz, mas é aí que se surpreende. A voz não vinha de uma única pessoa, mas de duas pessoas que a garota reconhece de cara.

- Mas vocês são...

  Elas mesmas...as duas melhores amigas de Monalisa na camada anterior, Cibele e Luana, mas agora..."amigas" não seria a expressão certa para descrevê-las.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Claro que não podia ser fácil, né, gente? O que Cibele e Luana planejam? Veremos no próximo capítulo.
Até!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pesadelo do Real" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.