Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 33
Capítulo 33 - Visita




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/33

"Welcome"

~ Mensagem do tapete da entrada

Capítulo 33 - Visita

 Após o término das aulas, Monalisa e Ariadne almoçam juntas em um restaurante barato do centro. No entanto, Ariadne acaba falando de coisas mais aleatórias além do caderno de sonhos. Embora o assunto ainda não fosse a coisa mais comum do mundo.

- Adoro a comida daqui. Não é cara e é bem gostosa - comenta Ariadne, enquanto Monalisa apenas concorda com a cabeça - Não acha?

- Já almocei aqui algumas vezes - responde ela, sem sequer metade do entusiasmo da colega - Apesar de que minhas amigas preferem um lugar mais perto.

- Suas amigas?

- A Cibele e a Luana. Você já deve conhecer as duas.

- Ah, sim - lembra Ariadne, entre uma garfada e outra - Sabe..elas não se parecem em nada com você.

- Mais do que você imagina - balbucia Monalisa.

- Desculpe. Não escutei.

- Nada, nada. Só devo ter pensado alto de novo - disfarça a loirinha - Esquece.

- Não quis chamar suas amigas para almoçar com a gente? - pergunta Ariadne.

- Ah, elas não ligam muito para esses assuntos - explicou Monalisa - Você deve entender isso bem.

- Muito bem - concorda a ruivinha - Fico feliz de ter alguém com quem compartilhar minhas ideias. Não me sinto uma louca.

- Que bom - comenta Mona, enquanto terminava o arroz de seu prato.

- É estranho, né?

- O quê?

- Mesmo o gosto da comida é só aquilo que nossa mente interpreta. Será que as coisas tem mesmo um gosto?

- É...elas só devem ter um gosto para quem tem língua - concorda Monalisa.

- Não é? Você me entende

 Na verdade, Monalisa entendia melhor do que ela imaginava. Estava ali, em um almoço com a única pessoa capaz de tirá-la de seu Labirinto. No entanto, essa guia milagrosa não tinha consciência de seu verdadeiro papel. Mesmo assim, inconscientemente ela sempre podia ajudá-la. Essa era sua única função. Acontece que Monalisa percebe dois problemas em se basear às cegas nas dicas de uma guia desmemoriada. O primeiro é que ela corria grandes riscos de interpretar as dicas dela de forma errada. O segundo é que aquela Ariadne tinha uma personalidade levemente distinta da Ariadne que conhecera antes de voltar do futuro. A outra era gentil, mas não era tão empolgada. Esta era bastante entusiasmada em suas ideias e falava com mais confiança. Seria uma Ariadne verdadeira? Ou mesmo a outra deveria ser assim se tivesse feito as escolhas corretas?

 É fato que Monalisa já fez inúmeras ações diferentes e podia dizer que não estava mais na mesma linha de tempo. Talvez isso tenha alterado o fluxo das coisas, acabando por alterar a personalidade de Ariadne. É possível, aliás, perfeitamente plausível, já que a personalidade da guia muda dependendo dos eventos ativados. Caso Monalisa cometesse um erro incorrigível, Ariadne assumiria uma personalidade obscura acarretando na exibição da única saída possível quando todas as outras fecham (também chamada de morte). Contudo, desde que ainda existam saídas, Ariadne está programada para guiá-la até essa saída. Ao menos, foi isso o que o Mestre dos Relógios contara e esse era o ponto que estava se baseando por todo o tempo.

- Então...vamos? - pergunta Ariadne, terminando de comer após Monalisa que, por sua vez, se perdia em seus pensamentos, ouvindo outras conversas aleatórias da ruivinha.

- Oh, sim. Claro. Minha casa não é muito longe daqui. É só um ônibus e...bem, você tem dinheiro para a passagem?

- Relaxa. Para ida e volta. Sei me virar bem por aí.

- Oh, entendo. Minha mãe também sempre me soltou bem cedo. Ainda mais que ela trabalha o dia todo.

- Sua mãe não está em casa, né? Igual à minha. Aliás, meus pais trabalham juntos na mesma empresa e...

 Ariadne começa a falar sobre seus pais. Monalisa tenta fingir o mínimo de interesse, uma vez que já conhecia a história de vida dela bem antes. Era exatamente a mesma história e isso significava que se Ariadne mudou de personalidade em relação à outra linha do tempo, pelo menos não mudou de história. Enquanto esperavam o ônibus chegar, Monalisa tenta repassar seus planos.

 "Tudo bem", pensa ela, "O sonho mais estranho foi o último, onde sonhei com a própria Ariadne...e no fundo é esse sonho que eu quero que ela veja. Qual será a reação dela? Será que isso ajuda a ativar o gatilho? Na outra linha do tempo, Ariadne foi despertada quando simplesmente contei a verdade para ela. Será que ainda é isso?"

 Monalisa tinha em mente que ativar o evento da guia seria o melhor cenário possível. Não era boa com as interpretaçoes do Labirinto e se deixasse guiar apenas por dicas falhas, poderia falhar de novo. Agora ela não teria segunda chance. Certo. Tentar falar a verdade pode ser um caminho, mas e se for falho? Ela poderá achá-la uma louca e querer se afastar. Daí despertá-la seria um caminho ainda mais complicado. Não podia admitir falhas agora, mas era uma hipótese bastante provável. Por fim, ela decide esperar Ariadne ver seu caderno de sonhos e ver que tipo de reação ela terá.

 As duas não demoram para chegar na casa de Monalisa. Ariadne parecia bastante animada. Monalisa estava apenas ansiosa. Era uma casa de classe média comum, com garagem (sem os carros), algumas plantas mal cuidadas próximas à escada da entrada principal e algumas pedras de mármore. Na porta de entrada, havia um tapete com a palavra "Welcome" (bem-vindo em inglês). Ariadne acha tudo bem interessante.

- Sua casa é bem bonitinha - comenta ela.

- Obrigada - agradece Monalisa, enquanto escolhi as chaves para abrir a porta - Não repare na bagunça.

- Com licença - diz a ruivinha, embora não fosse muito de fazer cerimônia - Err...tudo bem mesmo eu vir aqui sem falar nada com a sua mãe?

- Relaxa. Ela volta tarde. Quando ela voltar, você já deve estar em casa.

- Já tá querendo que eu vá embora?

- Hã? Não! - exclama Monalisa, assustada - Eu...não quis dizer isso e...

- Hahaha! - ri Ariadne - Eu sei! Só tava brincando...você é muito ansiosa!

 A loirinha dá um suspiro de alívio. Ariadne ainda ri.

- Bom...fique à vontade - diz Monalisa, tirando os tênis e jogando-os pela casa. Era bem bagunceira para alguém que escreve um caderno de sonhos. Ariadne também tira os seus tênis, porém deixando-os alinhados, próximos à porta. Já que o piso no chão estava brilhando, permitindo quase ver o próprio reflexo, Ariadne preferiu ficar só de meias para não sujar. Resultado do bom trabalho da empregada da limpeza que vinha fazer a faxina todos os sábados.

- Onde está o seu caderno? - perguntou Ariadne.

- Aqui no meu quarto - respondeu a loirinha. O quarto dela também não era um dos mais arrumados.

- Hihi - Ariadne dá um risinho.

- O que foi? - estranhou Mona.

- Nada. É que o seu quarto não é bem o que se espera de um quarto de menina. Achei que tivesse mais bichinhos de pelúcia ou coisas assim, mas só tem livros e material de escola.

- Ah, eu não ligo muito para essas coisas - responde Monalisa - Mas está bem limpinho, não precisa ficar com medo de que vá sair alguma barata ou algo assim.

- Ai, credo. Nem fale uma coisa dessas! 

- Ah! Aqui está! - Monalisa tira seu caderno de sonhos da gaveta. O mesmo caderno que foi transferido da outra linha do tempo por algum tipo de artifício que ela desconhecia. Mesmo assim, tinha todas as informações de sonhos lá. Que tipo de reação Ariadne teria? As duas se sentam na cama e começam a folhear o caderno. Antes disso, Ariadne fica um pouco receosa.

- Err...tudo bem mesmo se eu ler seu caderno? 

- C-Claro - gagueja Monalisa, embora também estivesse um pouco nervosa. Era um pouco constrangedor mostrar seu diário para outra pessoa, mesmo que fosse um diário de sonhos, mas Ariadne era sua guia e isso precisava ser feito.

- Está tudo bem. Eu confio em você. Não vai sair por aí contando para todo mundo o que eu sonho, né?

- Hihi. Claro que não - responde Ariadne, aparentemente satisfeita com a decisão da loirinha. Já Monalisa estava se preparando para o que pudesse vir.

 "São sonhos...claro que são estranhos", pensa ela, "Mas dependendo dos comentários de Ariadne posso ter algum norte e dependendo desses comentários posso usar de contexto para falar sobre o Labirinto. Claro, vou dizer que é uma teoria minha, mas se ela der corda, vou tentar falar mais...se sentir que não estou tendo resultado, paro por aí e espero ter alguma outra pista. Se isso acontecer, é sinal de que nessa linha do tempo as coisas são diferentes"

 Ariadne começa a folhear o caderno, sorrindo com ternura. Gosta bastante do primeiro sonho com o gato e do segundo, falando que era parecido demais com "Alice no País das Maravilhas" para ser verdade. Depois se assustou com o pesadelo da menina que cobrava um olho para tirar água do poço, do menino da cozinha. Por fim, achou o máximo o sonho do baile de máscaras.

- Seus sonhos são bem glamourosos - comenta ela. Não era bem o comentário que Monalisa gostaria de ouvir.

- Como assim?

- Um baile de máscaras, com valsa tocando...bem romântico, né? Mas por que será que eram máscaras?

- Não sei. Só anotei o que sonhei.

- Máscaras nunca significam algo bom. É sinal de que estão escondendo algo de você. Nunca teve essa sensação?

 Claro que sim. Todo o tempo. Seria interessante falar agora? Sim. Talvez ela entendesse.

- Então...Ariadne...sobre isso. Eu tenho uma ideia meio maluca...

- Nossa! - Ariadne grita.

- O que foi?

- Você sonhou comigo? - pergunta ela - Que legal!

 Ela leu o último sonho. Da escuridão, da barreira estranha, da luz que Ariadne emitia. Enfim, o sonho que teve após voltar no tempo.

- Ah, sim...

- Então..então foi por isso que foi conversar comigo? Com um sonho desses, também ficaria intrigada - diz Ariadne, aparentemente sem perder o bom humor. Pelo contrário, aquele sonho a deixou mais animada do que antes - Por que não falou logo? Agora isso está começando a ficar bem interessante!

- Interessante?

- Quero entender melhor esse sonho aqui - falou ela - Monalisa...

- Pode me chamar de Mona se quiser...Monalisa é meio pomposo...

- Que seja, bem, Mona...primeiro quero que você me diga o que acha que é esse sonho.

- O que acho? Não tenho a menor ideia.

- Claro que tem! Tem que ter uma razão!

- Como assim?

- Se você sonhou comigo, mesmo sem a gente nem ter se falado direito, significa que eu tive algum papel no seu subconsciente. Fala. O que você acha que eu significo para você?

 "E agora?", pensa a loirinha, "O que eu respondo para esse tipo de coisa? Talvez seja melhor arriscar falar a verdade...se funcionou da outra vez, pode funcionar agora, mas do jeito certo...sim, agora tem tudo para dar certo!"

    Será que vai funcionar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pesadelo do Real" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.