Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 26
Capítulo 26 - Déjàvu




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"Sou um homem que sonhou ser uma borboleta ou uma borboleta que sonha ser um homem?"

~ Chuang Tzu

Capítulo 26 - Déjàvu

 Ainda atordoada, Monalisa deixa o celular de lado, esfrega os olhos e tenta absorver, raciociando com calma tudo que se passou. Não parecia ter sido apenas um sonho. Tudo parecia realmente ter acontecido, desde o começo até o instante em que Ariadne se jogou do prédio. No entanto, como ela acordou ali, na sua cama, daquele jeito? Teria sido mesmo um sonho? Ela sabia que alguns sonhos podem aparentar ser muito reais, mas não imaginava ser real a tal ponto. Normalmente, a pessoa aceita rápido que todos os acontecimentos imaginados eram apenas sonhos, mas Monalisa não estava aceitando isso tão fácil.

"Difícil de acreditar que sonhei todos aqueles dias", pensa ela, enquanto se levanta e segue para o banheiro, ainda de pijama. Diante da pia e o espelho, ela lava seu rosto e depois observa seu reflexo. Ainda era a mesma garotinha loira de sempre. Sua casa, o quarto, o banheiro, tudo parecia exatamente como sempre. Parece que não havia outra explicação racional a não ser aceitar que tudo não tivesse passado de um simples sonho. Labirinto, eventos, tutores...nada disso existiu de fato. Era tudo fruto de um pesadelo infeliz que teve. Um pesadelo detalhado e longo, mas apenas um pesadelo. A menina fecha os olhos, respira fundo e suspira. Nada daquilo havia acontecido. Finalmente poderia se sentir aliviada.

 Alguns minutos depois ela toma um banho rápido, coloca seu uniforme e segue para a mesa do café. Seu pai já estava de saída. Sua mãe ainda comia algum pão, acompanhada de café.

- Bom dia, filha. Já estava saindo - diz o pai, apressado - Até mais tarde.

- Até - se despede Monalisa. Depois disso, era apenas ela e a mãe. A garota ainda se lembrava dos detalhes de seu sonho e de como sua mãe a havia enganado, fazendo-a tomar todas as decisões erradas. Monalisa gostaria muito de acertar contas com sua falsa guia e estala os dedos, mesmo sabendo que isso não adiantaria de nada.

- O que foi? Por que estalou os dedos? - pergunta Eleonora, ainda mantendo sua postura séria.

- Não...nada...só lembrei de uma música.

 A mulher ignora o comentário, termina de comer em silêncio e levanta para retomar suas atividades cotidianas. Ainda era a mesma mãe calada e ausente de sempre.

- Estou indo - disse ela, alguns instantes depois, enquanto Monalisa ainda terminava de comer - Não vá se atrasar para a escola, heim?

- Claro que não - respondeu a menina, terminando de tomar seu leite com chocolate e observando o relógio. Havia acordado um pouco mais cedo do que de costume, então poderia se dar ao luxo de demorar um pouco mais. Ela lava a louça rapidamente e sai de casa, com o mesmo uniforme e a mesma mochila de sempre. No caminho para o colégio, passa pelas mesmas pessoas, pegando o mesmo ônibus e ouvindo os mesmos comentários aleatórios de suas viagens para a escola. Alguns comentando do jogo de futebol anterior, outros em silêncio com seus fones de ouvido, outros reclamando de seu trabalho, da falta de tempo, dos problemas da cidade grande. Mesmo nunca gostando muito da mesmice da vida, Monalisa sentiu-se aliviada por ser apenas mais uma na multidão. O mundo não conspirava contra ela. Tudo não passou de um pesadelo. Todos viviam suas vidas independente dela. Não era o centro do mundo e nem gostaria de ser. Era uma sensação de paz, no entanto, a presença do pesadelo ainda era muito forte. Afinal, ela conseguia se lembrar com clareza de todos os acontecimentos, como se realmente tivesse passado dias no chamado Labirinto.

 Mesmo assim, era mais cômodo acreditar que tudo não passou de um sonho. Após descer do ônibus, Monalisa segue seu caminho normalmente para a escola até se deparar com a fatídica esquina onde tudo aquilo começara. Por simplesmente ter mudado seu caminho, ela se viu em um pesadelo sem fim. Não iria passar por tudo aquilo novamente e...nisso, Monalisa sente um calafrio de súbito. Mudar o caminho da escola passando por aquele quarteirão. Ela fez aquilo...semana passada. Isso mesmo. Seu cérebro começou a perceber que havia alguma coisa errada.

"Espere...mas eu mudei o meu caminho! Lembro que estava entediada de fazer o mesmo caminho de sempre, estava adiantada para a aula e resolvi dar a volta no quarteirão para variar", pensa ela, com a mão na boca e espantada. "Isso mesmo...eu não lembro de ter sonhado dando a volta no quarteirão...eu lembro que REALMENTE dei a volta no quarteirão há poucos dias atrás. E foi isso que começou tudo!"

Naquele instante, ela percebe que não lembrava exatamente onde o sonho havia começado. Suas memórias pareciam um pouco bagunçadas. Ela se lembrava claramente de que havia passado por ali, mas não se lembrava que sonhou passar por ali. Mesmo assim, ela resolve ignorar o quarteirão e seguir para o colégio pelo caminho habitual. Ao chegar lá, senta-se em um canto no pátio e observa os alunos conversando. A partir daquele instante, ela tem uma espécie de déjàvú, uma sensação de estar passando por uma mesma cena. Sim, aquilo parecia ser uma cena dos seus sonhos sobre o Labirinto. Ainda assim, ela não conseguia se lembrar exatamente quando acabavam as memórias e começavam os sonhos. Poucos instantes depois, uma voz conhecida a chama.

- Mona?

- Ah! Oi, Cibele - cumprimenta Monalisa, feliz em saber que sua amiga não era um vírus como acontecera nos sonhos.

- Tudo bem?

- Tudo - responde a loirinha, achando a cena familiar demais com seu sonho. Até mesmo o jeito de mexer no cabelo de Cibele parecia igual.

- Ei, sabe o Gabriel?

 Monalisa sente seu coração bater mais rápido. Não, não estava relacionado a nenhuma paixonite e sim ao fato de Gabriel ter sido o líder dos vírus em seu "sonho". Ficaria feliz de não lembrar mais dele.

- Gabriel? - pergunta Monalisa.

- É! Aquele menino da sétima C!  É muito lindo! Uma amiga minha conversou com ele...e sabe o que ele disse?

- O quê?

- Ele falou de você. Disse que te achava uma gatinha - diz Cibele, em um tom baixo, porém malicioso. 

- Como disse?

- É...é verdade. Que sorte, heim, amiga?

 Não era isso. Acontece que essa conversa foi exatamente igual ao que aconteceu em seu sonho. A loirinha começa a sentir uma vertigem, coloca as mãos na cabeça e pede licença para ir ao banheiro.

- Com licença...eu preciso...pensar um pouco

- Pensar? E tem o que pensar? Não vai perder um partido desses, vai?

 Mas Monalisa tinha problemas maiores para pensar. No banheiro, ela lava o rosto e sente suas mãos trêmulas. Tudo estava acontecendo como no sonho. As pessoas estavam agindo e conversando exatamente como ela havia sonhado e se lembrava claramente. Ela fica ali mais um tempo, quando ouve o sinal tocar e sobe para a aula. A garota tenta fazer seu caminho lembrando do sonho. O mesmo garoto gritando ali na frente, a mesma menina olhando no celular rosa perto da porta antes de entrar, a mesma professora de Inglês chegando para a aula. Sim. Exatamente igual. Até mesmo a ordem de ações: ela chega, pendura a bolsa na cadeira e deixa as pastas em cima da mesinha. Agora...ela chamaria a atenção dos meninos fazendo bagunça.

- Gente! Vamos sentando, por favor? - diz a professora.

 Eram exatamente os mesmos meninos, sentando exatamente nos mesmos lugares. Era o seu sonho. Exatamente idêntico. E se fosse como naquele dia do sonho...

- Bem - inicia a professora - Antes de começarmos, gostaria de apresentar uma nova aluna.

- Nova aluna? - os alunos se interessam - Nessa época do ano?

- Ela é nova na cidade. Quero que todos tratem ela bem, ouviram? - continua a professora - Por favor, entre. Pode entrar, não precisa ter vergonha.

 Sim. Ela mesma. Monalisa tenta controlar sua emoção e seu coraçõa acelerado ao ver que a garota entrando em sua sala era exatamente a Ariadne com quem ela achava que havia sonhado. Se ela fosse mesmo Ariadne, era sinal de que seu sonho não foi apenas um sonho...

 - Qual é o seu nome? - pergunta a professora com um sorriso terno, colocando a mão no ombro direito da garota.

  Embora todos ouvissem uma fala normal, Monalisa parecia ouvir cada sílaba saída dos lábios da garota como se fosse uma câmera lenta. Como se tudo aquilo fosse dirigido exatamente para ela.

- Ariadne - ela responde finalmente. 

 Não havia mais dúvida. O seu sonho não foi só um sonho. A loirinha podia sentir uma gota de suor escorrendo por seu rosto.

"Não foi um sonho!", pensa ela, "Eu...eu estou vivendo todo o passado novamente desde o dia em que conheci Ariadne. É como se...o tempo tivesse voltado!"


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Notas finais do capítulo

E assim abrimos a segunda fase da história. Explicações melhores virão...aguarde os próximos capítulos!

Até!