Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 23
Capítulo 23 - Baile




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"As festas são momentos em que se confundem luzes, cheiros, sabores, cores e sons num só."

~ Elin Casqueira

Capítulo 23 - Baile

- Então..você foi convidada para a festa de aniversário desse rapaz? - diz Eleonora, a mãe de Monalisa em sua personalidade de guia, em mais uma conversa particular com a filha no momento em que chega do trabalho. Monalisa tem conversado com sua guia muito mais do que conversou com sua mãe em todos esses anos.

- Isso mesmo - respondeu a garota - Ao que tudo indica, é nessa festa que será realizado o evento, não é?

- Pode ser que sim, pode ser que não...mas fez bem em aceitar - continua a mulher, enquanto balança sua perna cruzada - De acordo com o seu sonho, é mais do que certo de que o próximo evento ocorrerá em alguma reunião desse tipo.

- Certo - concorda Monalisa - Será nesse sábado...vou junto com minha colega Cibele.

- Oh, sim. Ela já veio aqui em casa uma vez, não veio?

- Há muito tempo atrás para fazer um trabalho de escola - respondeu Monalisa - Então você se lembra dela?

- Claro que sim. Lembro de tudo que se refere à sua mãe. Ou melhor, eu sou sua mãe, isso nunca mudou.

 Monalisa quase disse que ela não era sua mãe de verdade, afinal, ela não sabia nem quem era de verdade, mas pensou duas vezes. Bem ou mal, Eleonora estava ajudando bastante e um comentário daqueles talvez pudesse chateá-la. Tomar cuidado com suas escolhas é essencial no Labirinto e isso incluia o que era dito ou deixado de dizer.

- Seja como for - continuou Eleonora - Se essa sua amiga irá acompanhá-la nessa festa é sinal de que colabora para suas escolhas corretas. Pode ficar tranquila em relação a ela.

- Ah, que bom - aliviou-se Monalisa - Mas...era sobre isso que também queria falar. Como devo agir em relação à Ariadne?

- Está falando da garota nova que tem se aproximado de você? Pensei ter dito para evitá-la ao máximo, não?

- Esse é o problema. Estudo na mesma classe que ela. Como posso evitá-la?

- Bem, talvez tenha sido muito radical. Evitar a garota sem motivo aparente não faria sentido. Você sabe que fora dos eventos o Labirinto se comporta de forma totalmente racional, não?

- Sim. Longe dos eventos, o Labirinto é simplesmente o mundo que eu conhecia antes.

- Exato. Será considerada louca se não fizer a sua parte e encenar junto com todos. É assim que as coisas funcionam por aqui.

- É muito estranho...

- Infelizmente, não posso te contar mais do que isso - continua a mãe - Meu conselho é continuar sendo amigável com essa menina, mas nunca aceitar nada que ela proponha sem me consultar, tudo bem?

- T-Tudo bem - concorda Monalisa.

 Elas não discutem muito mais do que isso. No dia seguinte, o cotidiano segue normalmente. Monalisa não teve mais nenhum sonho perturbador desde o último. Sinal de que o próximo evento precisaria acontecer antes. Ainda restavam alguns dias até sábado e, nesse meio tempo, é claro que nem tudo foi tão fácil para a garota. Naquele dia, Ariadne chega ao colégio no mesmo horário que Monalisa e a cumprimenta educadamente, como sempre.

- Monalisa? Bom dia

- Bom dia - responde a loirinha, reparando que os cabelos de Ariadne haviam crescido um pouco. Antes não chegavam até os ombros.

- Chegamos juntas. Que raro - comenta a ruivinha.

- É...coincidência, né? - diz  Monalisa, não acreditando nem um pouco que poderia ser uma coincidência. Mesmo assim, procura conversar normalmente. Do ponto de vista de alguém introvertida como ela, conversar normalmente significa, pelo menos, mostrar que está ouvindo a pessoa.

- Sabe - diz Ariadne, após trocar algumas ideias banais sobre a aula do dia anterior ou o último programa que assistiu - Esse sábado minha mãe está pensando em preparar uma receita nova de lasanha. E, não é por ser minha mãe nem nada, mas ela é uma excelente cozinheira. Se você quiser, está mais do que convidada para jantar lá em casa.

- Jantar? Você quer dizer...à noite?

- Sim. Jantar normalmente é à noite, né? - ri a ruivinha - Minha mãe tem uns problemas para resolver durante o dia, mas a lasanha está mais do que prometida.

 Bastante sutil, mas Monalisa já havia feito sua escolha para sábado à noite.

- Desculpe...sábado à noite eu não posso. Já tenho um compromisso - responde ela.

- Sério? Você não é do tipo que sai muito...

- Saio às vezes. Mas obrigada pelo convite, viu?

- Ah, que pena - lamenta Ariadne - Mas vê se aparece na próxima. Você não vai se arrepender de provar a comida da minha mãe.

- Sei que não...a minha não cozinha nada bem - diz a loirinha, na esperança de quebrar o gelo.

- Haihaha. Que maldade. Deixa sua mãe saber disso - ri a colega. Pelo menos ela não fez muita questão no convite. Menos mal. Se ela é mesmo suspeita de ser um vírus, escolher o convite de Ariadne poderia resultar em consequências bastante graves. Por via das dúvidas, era melhor seguir o conselho da guia. Eleonora concordou com isso, quando Monalisa conversou com ela em mais um momento antes do sábado.

- Um jantar justamente no dia da festa que você foi convidada - diz Eleonora, com uma expressão séria no rosto - Muito suspeito, não acha?

- Obviamente eu recusei - diz Monalisa - Sabe-se lá que tipo de coisa aconteceria se eu aceitasse o convite dela.

- Não fez isso de forma rude, fez?

- Não, não. E ela também não insistiu muito.

- Que bom. Você está indo mesmo pelo caminho certo, Monalisa. Tudo indica que essa festa será seu próximo evento.

- Você diz "tudo indica", mas...você deve saber o que vai acontecer, não?

- Bem....digo isso porque nada pode garantir que o evento se concretize.

- Como assim?

- O Labirinto não pode interferir no seu livre arbítrio, lembre-se disso. Só posso dizer que se você ficar na festa até o fim, certamente ocorrerá um evento.

- Que você não pode me dizer qual é...suponho.

- Sinto muito - lamenta a mãe - Mas...posso lhe dar algumas dicas.

- Dicas?

- Por via das dúvidas...lembre-se do seu sonho e siga-o.

- Como assim?

- Bem...você se lembra que um jovem misterioso a chamou para dançar, não é?

 Monalisa fica ruborizada. Não. Não poderia ser isso, poderia?

- Está falando que...

- Hihi. Na hora você vai saber. Por enquanto, bem, deixe-me embrulhar essa camiseta que comprei para o aniversariante. Sabe que é falta de educação ir à uma festa de aniversário sem levar um presente, não é?

- T-Tudo bem

 Sua mãe era bem mais falante e expansiva quando estava na personalidade de guia, mas Monalisa preferia que não fosse tanto assim. De qualquer maneira, sábado chega e a garota encontra-se com Cibele em um ponto próximo à escola por volta das seis da tarde. Por ser uma festa simples é claro que nenhuma das duas se arrumou toda. Usavam jeans e camiseta o que, provavelmente, seria o mesmo que a maioria dos convidados usaria (com exceção das garotas mais patricinhas). As camisetas de Monalisa nunca tinham estampa nenhuma, por outro lado, Cibele usava uma rosa com o desenho de uma garota sorridente e as frases "All right" logo abaixo. Monalisa não sabia dizer se aquilo tinha algum simbolismo no Labirinto ou não, mas imaginava ser um bom sinal.

- Você bem que podia ter se arrumado mais, né? - comenta Cibele - Afinal, seu príncipe encantado estará lá hoje

- Não viaja! Não quero nada com ele

- Mentira...se não quisesse, não teria vindo.

- Bem, eu nunca saio de casa...queria variar um pouco.

- Sei. Conta outra para mim, viu? - provoca Cibele - Eu sou sua amiga, Mona. Admite que também tá a fim. Também, com ele, quem não estaria? Deixa de ser tímida!

- Não é nada disso! - exclama a loirinha, ainda vermelha. Não tinha o mínimo traquejo para lidar com esse tipo de conversa - E a Luana? Ela vem?

- Ah, e você acha que aquela lá fica de fora desse tipo de coisa? Se bobear, já deve estar lá.

- Bem a cara dela - comentou Monalisa. Luana era uma amiga ainda mais extrovertida e, se também estava na festa, é sinal de que também estava do lado certo. Menos mal.

 As duas seguem conversando até chegarem à casa de Gabriel. Era uma casa grande, mas não chegava a ser uma mansão. Gabriel era um garoto não muito alto, mas de boa aparência e olhos claros. Era um bom atleta e conversava bem, atraindo facilmente as garotas. Com exceção de Monalisa que, mesmo sendo madura para algumas coisas, ainda era bem atrasada em assuntos mais emocionais. Apenas agora, quando teve aquele sonho, começou a prestar mais atenção em Gabriel. Provavelmente, ele deveria ter alguma ligação com o rapaz que a conduziu em uma dança naquele sonho.

- Monalisa, você veio! - diz ele, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

- F-feliz aniversário - diz ela, meio receosa, entregando o presente.

- Ah, uma camiseta. Não precisava! Obrigado!

- Espero que seja do seu tamanho e... - antes que ela terminasse de falar, o garoto dá um beijo em seu rosto em agradecimento. Cibele sorri com a timidez da amiga. Gabriel agradece mais uma vez.

- Obrigado mesmo. Fiquem à vontade. Ainda tem bastante gente para chegar.

- Ficou vermelha só com um beijinho - comenta Cibele assim que Gabriel sai de cena. Monalisa desconversa e as duas continuam a entrar. Ele havia arranjado um globo espelhado e um esquema de luzes que tornava a própria garagem um tipo de danceteria. Claro que Luana já estava ali no meio.

- Mona! Cibele! Já chegaram?

- E você já tá na dança, né? - comenta Cibele.

- É claro, menina. E eu perco tempo? Mas quem não perde tempo mesmo...é essa aí, né? - diz ela, olhando maliciosamente para Monalisa.

- Ah, não! Você também não, Luana!

As duas provocam mais um pouco, mas logo acabam mudando de assunto. A festa continuava rolando. As músicas variavam de internacional à eletrônica, ritmos comuns em festas, mas Monalisa não tinha nenhum gosto em especial. Enquanto suas amigas aproveitavam para dançar, ela apenas observava tudo, tomando um pouco de refrigerante (afinal, era uma festa para menores de idade). Ela era observada por duas garotas de vestido e cabelos lisos, uma loira e outra morena.

- Essa é a menina que o Gabriel tá a fim? - comenta uma garota loira para sua colega, falando baixinho.

- Sim - sussurra a outra em resposta - Ela mesma.

- Não acredito que um gato daqueles gosta de uma mosca morta dessas...

 Apesar de cochicharem, Monalisa podia adivinhar fácil que falavam mal dela. Seja lá que elemento do Labirinto elas fosse, devia dizer que estavam imitando bem o papel de patricinhas fofoqueiras.

"Odeio festas", pensa Monalisa, enquanto não via a hora do tempo passar. Gabriel sempre passava por ela, perguntando se precisava de alguma coisa e ela apenas dizia que estava tudo bem. O rapaz precisava dar atenção a diferentes convidados, mas a garota não se importava nem um pouco com isso. Só lamentava o fato de precisar ficar ali até o fim para ativar seu evento. Na verdade, esse evento seria ativado um pouco antes disso.

 Algumas horas depois, as músicas alternaram para estilos mais lentos e românticos. Alguns casaizinhos já formados na festa aproveitavam para dançar juntos, quando, o que ela mais temia realmente aconteceu.

- Monalisa? - Gabriel se aproxima dela - Não quer dançar?

- Eu...não sei dançar - ela responde, tímida.

- Ah, o que é isso? Ninguém aqui é dançarino profissional. Vai, vamos lá, não está enjoada de ficar aí só olhando? Eu sei que você tá!

 A garota olha para a pista, depois para suas amigas Cibele e Luana dando risadinhas. Aquelas duas não tinham jeito. É aí que ela se lembrou do seu sonho e da dança que teve com o jovem mascarado misterioso. Será que isso era necessário? Era realmente necessário?

- E então? - insistiu ele - Você vem?

- Hmmm...tá. Posso tentar, mas já aviso que danço muito mal - responde a mocinha.

- Não se preocupe. É só mexer para lá e para cá, não é? - diz ele, já segurando a cintura e a mão dela com cuidado - Acho que uma dança lenta combina mais com você, não é?

- P-Por quê? - gagueja ela - Eu sou lenta, é?

- Não, claro que não. É que você parece ser bem romântica...

"Romântica? Eu?", pensa Monalisa. Mas a conversa estava indo para um rumo meio que diferente de um evento do Labirinto. O que aquele rapaz estava querendo?

- Vou ser honesto - ele continuava falando em voz baixa - Eu me amarrei em você desde a primeira vez que te vi, mas você parecia ser tão distante..

- Como?

- É. Não quero te assustar, nem nada, mas estou sendo sincero. Queria pelo menos te falar isso...

- Bom, eu...eu não sei bem o que dizer - falou ela.

- Você sente alguma coisa por mim?

- Eu? Bom, a gente nem se conhece direito...

- Então não sente nada

- Bom, você é bonito e...

- Você também é muito bonita - diz ele.

 A conversa estava indo para um rumo estranho. Monalisa sabia muito bem onde ele queria chegar, mas o que exatamente ela deveria fazer? Aceitar ou recusar? Ao se lembrar do sonho, ela se deu conta de que não havia tido a oportunidade de conhecer o rapaz do baile. E, de acordo com a interpretação da guia, o evento dependeria de deixar-se levar pela festa. Mas...deixar-se levar por ele? Isso quer dizer que...antes que tivesse condições de pensar em alguma coisa, os lábios de Gabriel estavam se aproximando dos dela. Aproximando-se cada vez mais.

  "Deixar-se...levar? Que seja...se for para sair desse Labirinto...", pensa ela, enquanto fechava os olhos. E assim, os lábios dos dois se unem...o que aconteceria agora?


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Notas finais do capítulo

Deixo os comentários do primeiro beijo da Mona com vocês! XD

Bem, se isso liberou um evento ou não...é o que veremos no próximo capítulo.

Até lá! ;)