Yukie estava sentada em uma das cadeiras do hospital ao lado do irmão que chorava silenciosamente deixando as lágrimas molharem as mãos que apertavam com força a roupa da irmã. Ambos muito ansiosos aguardando notícias sobre o estado de saúde da mãe para poderem trocar palavras. Os olhos azuis da pequena Hyuuga estavam vazios de expressão e não fixavam nenhum lugar em específico, deixando claro que estava visivelmente abalada.

Ela se sentia presa é um eterno carrossel de azar, onde podia ver a sua vida girar em torno dos problemas dos outros familiares e apesar de jovem já estava começando a silenciar o seu coração infantil e despertar para a vida adulta. Sentia que estava sendo forçada a amadurecer e isso a estava fatigando e destruindo aos poucos, as mãos estavam começando a ficar calejadas pelo peso que tinha que carregar, mas naquele momento ela estava abalada e não conseguia focar atenção em nada.

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Naruto atravessou as portas do hospital com uma velocidade absurda e foi direto a recepcionista que se assustou ao vê-lo.

_ Hokage sama?!- depois do susto deu um leve suspiro apaixonado. Sempre o achara muito atraente e agora com o olhar aflito, estava simplesmente irresistível – O que deseja?- tentou fazer charme na voz.

_ Hinata! Onde está Hinata?- disse apressadamente.

_ Hyuuga Hinata? Ela está sendo atendida pela Tsunade sama agora na sala 302, sente-se ali e quan...

Saiu em disparada sem se importar com os protestos da enfermeira para que aguardasse ser chamado. Não podia ficar aguardando por formalidades, precisava saber o que havia acontecido á Hinata para ela parar no hospital em estado grave. Sentia as emoções se confundirem em seu coração sem conseguir compreender o motivo de tanta comoção, afinal eles não eram mais casados.

Passou apressado pelo corredor olhando para as placas nos umbrais das portas para encontrar o quarto, 299...300....301....302. Girou a maçaneta afobadamente entrando sem cerimônia nenhuma e fazendo Tsunade que estava tirando a pressão da morena se assustar dando um ligeiro pulo para trás.

_ Está louco? Você não pode entrar assim. - olhou-o reprovando o seu comportamento. Ainda suspirava longamente pelo susto.
_ Desculpe Ba chan, eu não podia ficar sentado esperando notícias. A Hinata está bem?- falou visivelmente aflito.

Tsunade pousou a mão na cintura e suspirou longamente, realmente era impossível manter o ninja mais hiperativo de Konoha quieto.

_ Felizmente ela vai sobreviver. – disse suspirando visivelmente cansada enquanto aplicava soro em seu braço - Perdeu muito sangue, mas vai ficar bem.

Naruto suspirou e foi em direção a cama. Sentiu como se uma flecha estivesse perfurando o seu coração ao se deparar com a imagem de Hinata. Estava pálida e um semblante triste enfeitava sombriamente o rosto que antes era sorridente e cheio de ternura. Era a primeira vez que reparava nela depois do divórcio, nunca havia sequer perguntado como ela estava e não pode deixar de se sentir culpado por nunca ter se preocupado.

_ O que aconteceu com ela?- disse sem desviar o olhar.

Tsunade olhou para ele séria, não era muito agradável dar uma notícia assim. Reuniu a coragem necessária e fitando os olhos dele que estavam indagativos  tentou ser o mais breve e incisiva possível.

_ Ela tentou se suicidar. - falou sem desviar o olhar como se o culpasse por não estar ao lado dela.

Naruto sentiu a resposta atravessar seu coração violentamente. Cambaleou um pouco pela violência da verdade, sentindo o corpo tremer de aflição. Saber que Hinata havia tentado suicídio era como uma punhalada certeira e muito difícil de acreditar, deixou os olhos vagarem pela imagem pálida da morena em busca de indícios, rezando mentalmente para que Tsunade estivesse lhe pregando uma peça, mas ao olhar para os pulsos enfaixados da Hyuuga não pode deixar de se sentir ainda mais culpado e incrédulo.

_ Porque ela faria algo assim?!- olhou indagativo para a loira- Sempre foi uma mulher forte, porque tentaria se matar?

Tsunade encarou séria como se não acreditasse que Naruto não soubesse o que estava acontecendo com a mãe dos filhos dele,seria muita falta de atenção e carinhos abandonar de  vez a pessoa com quem com viveu por mais de cinco anos.

_ Naruto não me diga que você não sabia o que a Hinata tinha.

_ É algo muito sério Tsunade no ba chan?

_ Já passou desse patamar a muito tempo Naruto. A Hinata estava sofrendo de depressão, e muito me admira que você não tenha percebido.

_ Depressão? Desde quando, ela sempre foi tão alegre e....

_ Desde que você a abandonou para ficar com Sakura. - ele olhava surpreso- Há tempos ela vinha apresentado uma piora nesse quadro, para ser franca, ela agüentou mais do que o estimado.

Naruto tornou a olhar para a mulher que um dia amara tanto, olheiras fundas marcavam o seu rosto sentindo o coração pesar ao imaginar que lhe causara tanto sofrimento sem perceber, sem se importar. Pegou uma das mãos dela e segurou com força sentindo as lágrimas descerem impetuosas, não sabia explicar o que estava sentindo, era uma mistura de raiva, decepção, tristeza e ... amor?

_ Você tem uma filha muito forte. - Naruto sentiu o corpo parar ao ouvi-la falar. – Se não fosse a Yukie pensar rápido ela não teria sobrevivido. Com certeza ela é um gênio diferente do pai.

Naruto virou-se fitando a loira de maneira incrédula.

_ Como ela pode ter feito algo, só tem sete anos?!- disse assustado. – É algo impossível para uma menina da idade dela.

_ Não quando se é inteligente. Ela enfaixou os pulsos da mãe para interromper a hemorragia e concentrou chacka nos braços e pernas para agüentar o peso. - deu as costas para ele- Eu preciso avisá-la de que a mãe não corre mais perigo.

Naruto ficou mais um tempo com Hinata, pensando em tudo o que viveram juntos, nos filhos, no divórcio. Havia sido muito egoísta. Enquanto estava feliz ao lado de Sakura e da filha mais nova, ela e os filhos estavam sofrendo. Nunca imaginou o que podiam estar passando, não era a toa que Yukie estava tão revoltada; afinal cuidava do irmão mais novo e da mãe depressiva. Sentiu o coração apertar mais e os olhos derramarem mais lágrimas. Hinata havia sofrido tanto para ficar com ele, arriscou-se a ser banida do clã, perdoou a traição dele e as mentiras quando ele começou a se encontrar com Sakura escondido, sempre o recebendo com um olhar carinhoso e um sorriso meigo, e dificilmente reclamava de algo, mesmo cansada estava disposta a fazer os caprichos dele. E como ele retribuiu? Trocando-a por outra, traindo o amor que dizia sentir por ela, nunca perguntando como ela estava totalmente aéreo as tristezas dela. Era um crápula.

_ Porque me amou Hinata? Eu não sou digno de tê-la, não fui um bom marido, nem um bom pai. – passou a mão suavemente pelo rosto dela. -Não quero que sofra mais. –- Eu vou consertar as coisas e você não vai mais precisar sofrer. Eu prometo.

Deu-lhe um beijo carinhoso na testa antes de se levantar.

Saiu do quarto pela porta de trás e topou com os filhos sentados nos bancos do corredor. Yukie com o rosto parcialmente enfaixado segurava um copo de café com o olhar perdido no chão. A roupa estava suja de sangue assim como partes do rosto e mãos. Não esboçava nenhuma reação, estava em estado de choque. Daito ao seu lado estava com a cabeça enterrada na camisa da irmã, chorando abafado.

Naruto já havia presenciado muitas cenas deprimentes na vida, mas nenhuma das suas experiências anteriores haviam preparado ele para a cena que estava presenciando. Os filhos pareciam fazer parte de uma pintura triste, desolados e desesperançosos. O choro abafado de Daito enchia o saguão de maneira gótica, deixando o clima pesado e tenso, mas nada superava o olhar estarrecido de Yukie que parecia estar em outro mundo.

Naruto sentiu o corpo pesar e se abaixou abraçando os dois. Nenhuma reação, apenas o olhar vazio e o som do choro abafado.  Ficaram assim por vinte minutos abraçados sem dizer nada, apenas sentindo o calor do outro.

_ Você prometeu. - a voz de Yukie saiu baixa e rouca. – Prometeu que nunca nos abandonaria. - continuava a fitar o chão sem reação. - Que sempre estaria perto. Disse que nos amava que éramos importantes para você.

Yukie se desvencilhou do abraço e olhou para as mãos sujas de sangue, deixando o copo que segurava cair no chão, e sentindo o corpo tremer ao se lembrar do que passara. Passou a mão pelos cabelos nervosamente desarrumando-os ainda mais.

_ Eu acreditei. Perdoei suas falhas como pai. E foi isso que ganhei- passou as mãos pelo rosto enfaixado- Você não foi capaz de perdoar a minha falha. Não cumpriu a sua promessa. Não estava perto para nos ajudar na hora em que mais precisávamos. – Não havia raiva na voz dela, apenas amargura.

Ele sentia as palavras dela como bofetadas que doíam mais ao ouvir a consciência concordar. Havia abandonado os filhos, deixado-os a mercê da própria sorte, quebrado a promessa que havia feito quando saiu de casa pela última  vez.

_ Filha, eu sei que não fui um bom pai, mas prometo que vou me esforçar de agora em diante e as coisas vão mudar. - Passou a mão na cabeça do filho que se encolheu ao seu toque, fazendo-o entristecer mais.

_ Não pai, nada vai mudar.  Não depois do que aconteceu. - olhava séria para ele- A única coisa que vai mudar é o jeito com que encaro a realidade ao meu redor.

Yukie levantou seguida pelo irmão, e foi em direção ao quarto onde a mãe estava, hesitou um pouco antes de abrir a porta.

_ Porque simplesmente não some das nossas vidas?Você já provou que não é capaz de cumprir as promessas que faz. Já que não somos importantes o suficiente para você porque não sai das nossas vidas de uma vez. Volte para a sua família perfeita. - disse sem olhar para o pai e entrou.

Naruto ficou ajoelhado no chão com o olhar triste enquanto os filhos entravam no quarto onde Hinata estava. Por mais que tentasse não conseguia reunir força suficiente para levantar. As palavras da filha ecoavam dentro dele fazendo-o fechar os olhos enquanto mais lágrimas desciam quentes pelo rosto. Os detalhes da conversa pareciam flutuar no ar ao seu redor, os olhos sem emoção da filha, o filho se encolhendo com medo do seu toque, as palavras desiludidas. Tinha que admitir que perdera os valores que possuía quando criança em algum ponto da sua caminhada. Levantou com um único pensamento, que estava para se tornar sua nova meta. “Eu prometo que nunca mais vou fazê-los sofrer. Nunca mais”.