“Ontem tive um sonho. Um sonho em que eu estava próxima á um local aonde poderia abandonar toda a dor que eu carrego em meu coração.

As ondas arrebentam com brutalidade contra a parede de pedra milenar, fazendo algumas gotas voarem com violência em uma dança alucinante e mágica que parece me convidar a bailar com elas. Sinto meus pés moverem por impulso, como se fossem independentes do corpo fazendo eu me aproximar mais do abismo.

Ouço uma voz familiar gritar meu nome em desespero para que eu não vá, mas ela está muito longe para me impedir. Não há como impedir um pássaro que deseja voar.

Mais um passo.

O vento assopra impetuosamente fazendo meus longos cabelos serem arrastados para trás deixando meu rosto à mostra. Uma sensação estranha toma conta de mim, e sinto cócegas quando as lágrimas descem dos meus olhos. Porque estou chorando? Eu me sinto tão bem, finalmente posso dizer Adeus a tudo que me magoa e preocupa.

A pessoa atrás de mim continua a correr e gritar, ainda muito distante. Por cima do ombro eu lanço a ela um olhar de alegria como se dissesse que estou livre enfim.

Em um ato impensado e repentino eu abro os braços e me lanço em direção às ondas que se chocam contra o paredão em um convite furioso.

Não queria deixá-las esperando mais.”