O dia seguinte foi muito estranho.

Todos os chalés foram chamados para uma reunião logo depois do café da manhã. Todos os campistas sentaram no chão divididos por seus respectivos grupos, e observaram com atenção o que Quíron tinha a dizer.

Nina olhou em volta. Ela estava sentada sozinha, mas isso não era o que mais a incomodava. Ela não gostava nada de ter uma reunião tão de repente. Lembrava de quando eles se reunirão para dizer que os doze partiriam em missão.

Flávia estava esperando que os números que ela vira fossem ditos a qualquer momento por Quíron. Tinha certeza que eles eram importantes.

Todos os doze olhavam para o palco, com milhões de preocupações ao mesmo tempo. Mas uma coisa que era unânime era o nervoso que sentiam por verem que Percy Jackson não estava lá. Muito menos a Clarisse e a Annabeth.

- Silêncio! – Pediu Quíron e todos se calaram para prestarem atenção. Ele respirou fundo tomando coragem para falar – Estamos passando novamente por momentos difíceis. O despertar dos titãs é algo que está parecendo cada vez mais eminente.

Todos arregalaram os olhos com medo.

- Como todos devem saber... Percy Jackson partiu em uma missão para o Mundo Inferior junto com Annabeth e Clarisse para resgatarem os 4 meio-sangues perdidos. – Continuou ele – Mas... Não tiveram sucesso. Ao se depararem com grandes problemas eles tiveram que retornar ao Acampamento Meio-Sangue. Não só porque forma perseguidos, é claro... Mas por que... Tinham que nos entregar uma notícia nada agradável.

Nesse momento todos pararam de respirar ao mesmo tempo. A maioria do acampamento sabia onde isso ia dar.

- Cronos está juntando forças para se levantar novamente. – Continuou Quíron – Ele, aliado de vários outros titãs se uniram novamente para saírem do Tártaro.

- Mas...! – Nina falou um pouco alto demais, e Quíron olhou para ela.

- Fale, Nina. – Disse ele.

- Eles sempre ficaram no Tártaro. – Falou ela – Eles podem sair assim do nada?

- Com ajuda, sim. – Afirmou Quíron sombrio – Infelizmente, tenho que dizer que os titãs novamente estão recebendo apoio de meio-sangues para poderem se libertar.

Houve vários múrmuros ao mesmo tempo. Estavam todos tensos, dava para sentir isso no ar. Tensos, desconfiados, nervosos, e acima de tudo... Com medo. Os titãs não eram simples inimigos. Eram forças poderosas que ameaçavam os Deuses.

Aquilo não era nada bom.

- Atenção! – Pediu Dionísio – Não transformem isso em uma bagunça! Prestem atenção! Estamos com problemas sérios. Não é hora para nenhum de vocês ficarem desconfiando uns dos outros.

- Tem toda a razão. – Concordou Quíron – Devemos ignorar esse fato. Acusar uns aos outros de serem traidores, só vai piorar mais ainda a nossa situação. Vamos nos tornar desorganizados, e isso nos enfraquecerá. Temos que permanecer unidos.

- E o que vamos fazer? – Perguntou alguém do chalé de Ares.

- Vamos distribuir tarefas. – Disse Quíron – Não cometerão o mesmo erro de antes. Cronos foi derrotado por heróis no passado, e não permitirá que isso aconteça novamente. Ele vai atacar primeiramente o Acampamento Meio-Sangue.

- Vamos dividir umas tarefas. – Disse Sr. D – O chalé de Zeus, Poseidon e Hades vão ficar dentro dos limites do acampamento, para caso algum monstro entre. O chalé dos meus filhos vai ficar com a patrulha de perímetro. O chalé de Apolo vai estar ficar de guarda a noite na Casa Grande, protegendo o Oráculo de Delfos. O chalé de Atena, Ares e Hefesto vão ficar a postos em linha de frente. Quero o chalé de Hermes pronto para informar a todos as situações.

- Isso lá é trabalho? – Comentou Amanda um pouco alto demais.

- Não são mensageiros? Façam isso! – Falou o Sr. D – Agora... Onde eu parei? Ahm... O restante fique só atento. Não podemos nos dividir, entenderam?

Amanda assentiu, e ficou parada observando os outros discutirem questões de estratégia. De repente... Algo bateu nela. Ela olhou para o lado e viu que era um pedaço de papel.

“There are more than one liar here. There are 3 people that will cheat us.”

Amanda leu o papel e franziu o cenho. Ela olhou para os lados. Ninguém estava nem prestando atenção nela... Foi aí que ela viu Rodrigo. Observava o papel. Foi ele.

- Isso... É uma música? – Perguntou ela chegando para o lado.

Rodrigo negou com a cabeça tenso. Amanda notou que ele estava mais estranho que o normal. Ele tinha escrito em... Inglês! Ele escrevia em inglês sempre que ficava nervoso.

- Tem mais de um mentiroso aqui. Têm 3 pessoas que vão nos trair. – Amanda traduziu baixinho. Ela pegou o seu canivete e pediu para que ele se convertesse em um lápis. Deu certo.

Ela escreveu e jogou de volta para ela.

Rodrigo abriu e leu: “Who?”. Quem?

“I don’t know, but... That’s the true.” Respondeu ele.

Amanda pegou o papel e olhou em volta. Ninguém tinha notado.

- Não sei, mas... É a verdade. – Leu ela.

“How do you know?” Ela escreveu no papel, e a resposta para essa pergunta a deixou tensa.

“Rachel Elizabeth Dare.” Respondeu Rodrigo no papel. O Oráculo de Delfos.

Amanda arregalou os olhos para ele.

- O que?! – Ela disse sem som. Rodrigo fez um sinal para ela esperar Quíron acabar de falar, e depois eles podiam conversar.

- Isso é tudo. Vamos começar a nos organizar agora mesmo. – Disse ele.

Todos os campistas se levantaram e partiram para seus lugares. Nina, Natália e Rodrigo ficaram andando separados por dentro do acampamento. Flávia ficou no chalé descansando e esperando o anoitecer.

Mariana, Bia e Mateus (juntos de seus irmãos) ficaram perto da entrada do Acampamento Meio-Sangue, sempre atentos para qualquer coisa que cruzasse a barreira mágica.

Bruna e seus irmãos resolveram ajudar o chalé de Apolo.

Amanda não. Ela e seus irmãos tinham que transmitir informações. Ela fingiu que tinha uma mensagem importante para entregar ao filho de Hades e saiu correndo.

Ela passou por quase todas as partes do Acampamento, mas nada do Rodrigo.

- Psiu! – Fez alguém. Ela olhou em voltar. Estava perto da floresta. Não era nada bom ter alguém a chamando ali. – Amanda!

- Aparece! – Desafiou ela mostrando a sua espada – Quem é?

- Sou eu! Abaixa isso! – Falou ele.

Amanda viu ele se materializar na sua frente, e isso a deixou surpresa.

- Você pode ficar invisível também?! Que loucura! – Exclamou ela, mas logo se lembrou do que tinha para falar – Que... Que história é essa do Oráculo de Delfos? Você foi ouvir uma profecia?!

- Fui. – Afirmou ele – E não é nada boa.

- Por que fez isso?! Agora teremos que partir em uma missão, não é? – Disse ela lembrando da última vez.

- Não. Eu... Eu acho que não. – Falou ele olhando em volta – O Oráculo de Delfos não contou para ninguém, então... Acho que ninguém precisa saber, não é? Assim nós não vamos precisar ir.

- Ok. Mas qual é a profecia? O que ela diz? – Perguntou ela querendo saber.

- Ela diz que só seis sairão vivos, e que 3 traidores ficaram no exílio. Eu particularmente acho que é o Tártaro. – Contou ele – Uhm... Disse também algo sobre uma cisão. Não tenho idéia do que essa palavra quer dizer.

- Quer dizer separação. Quando... – Amanda parou para pensar no significado que ela teria e não gostou nada – A profecia fala sobre nós doze?

- É... Acho que é... Após a cisão os doze partirão. – Disse ele se lembrando.

Amanda não gostou daquilo.

- Quer dizer que após uma divisão nós vamos embora. – Contou ela – Isso... Não é só uma divisão comum. Não tem nada de amigável em uma cisão.

- O que isso quer dizer? Fala logo. – Pediu ele.

- Quer dizer que vamos brigar e nos dividir. Nos separar. – Disse ela tensa – Não... Não somos nós doze, né? Podem ser outras doze pessoas!

- Você realmente acredita nisso? – Perguntou Rodrigo cético – Somos nós. Sinto muito, mas... Acho que é isso que vai acontecer.

Amanda estava pronta para protestar, mas viu que era verdade.

- Não... Eu não vou me separar de ninguém. Sempre me dou bem com todo mundo. Se nós tentarmos... Fizermos um esforço... Tenho certeza que podemos continuar todos juntos. – Ela sorriu tentando ser confiante, mas por dentro estava extremamente insegura.

- Não. – Falou ele simplesmente. Rodrigo também estava triste, mas... Ele não ia começar a mentir. Tinha que encarar a profecia – Acho que dessa vez é o nosso fim.

Amanda sentiu como se todo o chão tremesse. Parecia que ele tinha acabado de falar que somente seis sairiam com vida, e mesmo assim... Não estariam juntos. Era como um game over.

- E o que nós fazemos? – Perguntou ela – Ficamos parados aqui fingindo que ninguém ouviu droga de profecia nenhuma?! Temos que fazer alguma coisa! Se o Olimpo precisa de nós...!

- O Olimpo sempre precisa de nós! – Interrompeu Rodrigo - Você ainda não viu isso? Nenhum Deus pode ter intervenção direta com outro. Não podem roubar um do outro ou coisa do tipo. Aí... O que eles fazem? Usam os heróis. Do mesmo jeito que os titãs estão usando 3 meio-sangues, o Olimpianos estão nos usando.

- E você acha isso ruim? Eles são nossos pais, tios, primos, meio-irmãos... São família. Se nós não os ajudássemos, quem ajudaria?! – Falou ela – Escuta... Eu andei pensando... Se juntarmos a profecia que fala sobre os 3 traidores, com o jeito que ninguém queria nos contar sobre o que estava acontecendo... Será que três de nós são traidores?

Rodrigo parou para pensar naquilo.

- Acho que faz sentido. – Respondeu por fim – Mas... Acho que Quíron está certo. Não podemos ficar apontando os traidores.

- Também acho. – Concordou Amanda.

- Até por que... Eu ia começar a bater no babaca do Vinícius! Aposto que ele está nessa lista! – Exclamou ele – E mais algumas pessoas... Mas tipo... Gente que ninguém espera! Como a Flávia, ou o Rhamon... Talvez até você!

- Oi?! – Exclamou ela – Como assim eu?!

- Vem com esse discurso de “Família isso, família aquilo”, mas no fundo você quer ajudar os titãs a ferrarem os Olimpianos! – Acusou Rodrigo.

Amanda deu um soco na barriga dele.

- Idiota... Eu tenho mais o que fazer para ficar parada aqui ouvindo essas acusações ridículas. – Resmungou ela. Antes de sair correndo, ela virou-se e disse – Não sei o que vai fazer agora que sabe da profecia, mas é melhor agir rápido. Se eu fosse você... Falaria com o Quíron.

Amanda saiu correndo e Rodrigo ficou parado por alguns instantes... Pensando no que ele iria fazer.

Nina estava no meio da formação em “U” do chalés principais, quando viu Amanda correndo.

- Amandinha! – Chamou ela. Amanda parou e foi até Nina – Fica aqui comigo. Eu não quero ficar sozinha esperando o ataque de um monstro.

- Tudo bem. – Concordou ela um pouco tensa – Entregar mensagens é legal, mas... Tem coisas que eu prefiro não saber.

- O que aconteceu? – Perguntou Nina sem entender.

- Ahm... Um dos campistas de Ares pediu para eu falar uma cantada para uma filha de Afrodite. – Inventou Amanda de última hora.

Iná riu ao imaginar a cena.

- Sh! Finge que entregou a mensagem e fica aqui comigo. – Riu Nina – Eles são muito idiotas. Esses caras só sabem bater nas pessoas!

- É... Tiveram a quem puxar. – Comentou Amanda, baixinho – Espero que ele não tenha ouvido isso.

- Amanda... – Nina pôs a mão sobre o seu ombro – Ele sempre ouve. Você está ferrada.

- Então você também está. Você riu, Nina. – Disse Amanda.

- Mas você é a garota que fez o celular dele tocar “Single Ladies” na frente de todos os Deuses. – Lembrou Nina – Ele guarda mais rancor seu do que meu.

- É... Mas eu corro. – Lembrou Amanda – Você vai ficar para trás, e ele vai matar você primeiro.

Nina tirou a mão do ombro dela e encarou Amanda.

- Amandinha... Você não faria isso com a sua amiga, não é? – Sorriu Nina.

- Uhm... Não. – Respondeu ela – Posso transportar nós duas para longe dele.

- Não! Aí eu vou ficar enjoada! – Lembrou Nina – Você fica para morrer como uma heroína corajosa que você é, e eu corro, certo?

- Você é muito sacana! – Exclamou Amanda rindo – E eu...!

- Ora, ora! Vejam se não é a dupla dinâmica! – Exclamou uma voz zombando as duas. Elas se viraram e viram quem era. Spencer, o filho de Ares.

- Você não tinha que estar na fronteira? – Perguntou Amanda.

- Não é da sua conta onde eu fico. – Respondeu ele – Para falar a verdade, eu estou a fim de ficar aqui. E aí? Vão me expulsar?

- Não. Vamos só mudar de lugar. – Respondeu Nina com um sorriso no rosto.

- Eu acho que não. – Falou ele.

Assim que as duas tentaram ir embora, outros 5 filhos de Ares apareceram no lugar. Eles bloquearam o caminho delas, e Nina e Amanda começaram a sentir medo.

- O que vocês querem agora? – Perguntou Amanda – Vão embora e tomem conta da fronteira, antes que o Acampamento seja invadido!

- O Acampamento pode esperar alguns minutos, enquanto nós matamos as duas inúteis que roubaram de nós na captura da bandeira. – Respondeu Spencer.

- Fala sério! Era só um jogo! – Reclamou Nina – Deixem de ser maus perdedores e vão embora.

- Não vai ser assim tão fácil. – Respondeu um deles.

- Ótimo. Se vocês não tem trabalho o suficiente para fazerem, eu e Nina temos. – Disse Amanda – Vamos embora daqui.

- Ah, você tem trabalho é? – Riu Spencer – Entregar mensagens de um lado para o outro! Que útil! A única coisa que você faz bem é repetir a mensagem dos outros, mas quer saber? Ninguém dá a mínima para você!

Spencer empurrou Amanda e ela quase caiu no chão.

- Deixa ela em paz, seu retardado! – Reclamou Nina morrendo de vontade de lançar um raio nele.

- Ou o que?! A filha inútil de Zeus vai ficar irritada? – Perguntou ele rindo – Você é outra imprestável! É uma filha dos três grandes, mas não move nem mesmo um músculo! Até um passarinho é mais forte do que você! Até mesmo quando está usando os seus raios idiotas!

- Há há! E vocês são uns babacas sem cérebro que só sabem lutar! – Rebateu Nina, mas logo se arrependeu disso.

Todos os 6 filhos de Ares estavam rindo, mas ao ouvirem aquilo pararam e fuzilaram elas duas com o olhar.

- Estamos ferradas, Nina... – Murmurou Amanda baixinho.

- É... Deu para ver. – Murmurou Nina de volta.