Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 9
Capítulo IX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136935/chapter/9

Amu aproximou-se de Tadase, suspirando cansada.

— Se você veio falar com...

— Não! – interrompeu – Não é isso. Eu quero pedir sua ajuda para outra coisa, Amu-chan – ele explicou, segurando com força o livro que trazia nas mãos. Amu não resistiu ao olhar de cachorrinho morto, e o acompanhou para fora da sala. 


— E então, Hotori, o que você precisa? – Amu perguntou, mantendo sua pose exterior que causava exclamações animadas das garotas que passavam pelo corredor – o intervalo logo termina, então fale rápido.

— Eu gostaria que me ajudasse a encontrar Yamisaki Hitomi-san, para devolver a ela esse livro – Tadase pediu, com cara de choro, mostrando o objeto nas mãos.

O sinal indicando o final do almoço tocou. Algumas outras garotas que passaram por ali, possivelmente do Ensino Ginasial, começaram a cochichar, ao vê-los juntos. Que ótimo! Agora novos boatos surgiriam...

— Ah! Certo, eu vou com você... é só conseguir o endereço! – Amu respondeu apressada, querendo entrar logo na sala, para evitar dar mais assunto para garotas sem vida social comentarem pelos cantos – Até depois da aula – ela disse, virando de costas, e se arrependendo amargamente depois de ouvir o “kyaa!” animado que as ginasiais deixaram escapar.

Nikkaidou apareceu repentinamente, logo após Amu acomodar-se em seu lugar. Trazia uma pilha de livros nos braços de maneira que não poderia ver nada a sua frente, mas os equilibrava bem de certa forma, o que garantiria uma entrada normal e sem tombos, pelo menos dessa vez.

— Abram os livros na página 127!

-

Ao soar o sino de final das aulas, Rima voou porta afora, torcendo para que Amu não prestasse atenção. Nadeshiko a seguiu, mais calma e lentamente. Encontrou Rima ao lado do armário de sapatos, dando pequenos pulinhos de inquietação. Sorriu e calçou seus sapatos de fora, rumando logo depois para o Café.

Chegando ao local, andaram direto até o balcão, onde o gerente preparava algumas xícaras de chá, com semblante entediado e um pano branco apoiado no ombro, por cima do avental azul com desenho de um gatinho branco que dormia.

— C-com licença – Rima chamou, perdendo toda a coragem que havia aparecido de repente durante a aula – Eu sou Mashiro Rima e...

— Eu sou Ikuto – ele sorriu galante, analisando Rima e Nadeshiko dos pés à cabeça – Quer que eu te chame pra sair ou algo assim?

— D-do q-q-que está f-f-falando? – Rima perdeu-se nas palavras, dando dois passos para trás instintivamente. Nadeshiko enrijeceu-se, com os punhos cerrados, fitando Ikuto com discreto furor.

— Pode ficar tranquila, baixinha – Ikuto gargalhou, sem conseguir controlar-se ao notar a face indignada da garota - Esse seu estilo loli-moe não é meu tipo. Poucas curvas, entende?

— Bem, então o que você viu na Hinamori? Ela não é bem um exemplo de garota... bem formada... – Nadeshiko deixou escapar, fazendo um gesto com as mãos para especificar o que dizia.

— Aaah! Ela esconde bastante coisa por debaixo do uniforme – Ikuto disse, sorrindo e piscando como um pirata em sua barganha. Não parecia querer esconder qualquer envolvimento com Hinamori. Sorriu de canto, olhando Nadeshiko de cima abaixo – Acho que você me entende, né, parceiro?!

Nadeshiko sobressaltou-se, ficando ainda mais pálida do que o normal. Ele teria percebido alguma coisa? Ou estaria só a cantando? A segunda alternativa pareceu tão asquerosa, que Nagihiko torceu que fosse a primeira, ainda que custasse seu emprego. Pigarreou, entrando no balcão sem cerimônia alguma e arrastou Ikuto pelo braço até a mesma salinha onde ele havia estado com Amu dias atrás.  Rima ficou para trás, piscando atônita.

— Como você... digo, o que quer dizer com isso? – Nadeshiko exclamou, esquecendo-se por um minuto de mascarar a voz, e também do motivo que o levara até ali.

— Fala sério, você acha que eu não consigo perceber uma garota quando vejo uma? Você realmente não é uma, cara!

— I-isso realmente não vem ao caso, mas... por favor, não fique pensando que eu sou... sabe... Eu gosto de mulher, sacou?

Ikuto gargalhou durante alguns minutos, deixando Nagihiko furioso e Rima assustada do lado de fora.

— Eu não tô nem um pouco interessado nos seus fetiches, e se você quer saber, eu notei o jeito que olhou pra baixinha. Não vou te dedurar, só não me mete nos teus rolos – Ikuto disse, dando soquinhos no ombro de Nagihiko como se falasse com um velho amigo – e agora, diz aí, o que você e a baixinha querem comigo?

— A Rima – Nagihiko enfatizou bem o nome – e eu queremos saber o que você tem com a Hinamori. Ela está preocupada com a amiga e... bom, acho que eu também deveria ficar, depois de te analisar bem.

— Droga! Escuta bem, eu gosto mesmo daquela pirralha, mas... ela é mais nova, inexperiente, eu não quero magoa-la...  – Ikuto passou a mão nos cabelos azulados, nervosamente –... já disse milhares de vezes pra ficar longe de mim, e ela não me ouve ... mas eu realmente tenho intenção de namorar sério... só não tenho coragem de assumir e ir falar com os pais dela e coisas assim...

— Certo... – Nagihiko coçou a cabeça, tentando compreender a fundo as palavras de Ikuto – A Amu gosta mesmo de você,  eu posso tentar ajudá-los. Também vou convencer a Rima de que você não é só um aproveitador lolicon, mesmo que eu não esteja totalmente certo disso... E em troca, você pode guardar bem os meus segredos, sem deixar escapar. Nenhum dos segredos!

Ikuto bateu continência desleixadamente, sorrindo logo depois. Pegou Nagihiko pelo pescoço, num abraço de urso, e bagunçou seu sempre alinhado cabelo. Ele se debatia desesperadamente, mas não pareceu surtir nenhum efeito.

— Aaah!! O que você tá fazendo! Me solta!

— Sabe que eu sempre quis um irmãozinho mais novo?

-

— Então, é aqui – Tadase fitou a mansão enorme que se erguia majestosamente a sua frente em um estilo europeu impecável, verificando mais de uma vez o papel que trazia em mãos onde estava anotado o endereço da garota do livro. Amu estava chocada demais para balbuciar qualquer palavra. Nem mesmo a casa de Rima, que era uma respeitável residência, não chegava aos pés do palácio que ocupava o espaço de mais de quatro quadras inteiras, e bem no meio da cidade.

Estava certo em esperar algum tempo na escola, para que Hitomi retornasse antes. Seria desconfortável ter que conversar com um mordomo ou algo do tipo, ainda mais do que encarar aquelas feições de irritação e tédio mortal que o garoto já havia percebido ser algo constante na colega de escola.

Tremendo por dentro, Tadase tomou a dianteira e apertou a campainha. Alinhou a gravata e o paletó do uniforme, pensando repentinamente que qualquer coisa que estivesse usando o faria sentir-se como um mendigo dentro daquele lugar.

Os dois esperaram durante 10 minutos inteiros até ver ao longe algum sinal de movimentação. Os portões de ferro balançaram e começaram a abrir, dando passagem para um encantador jardim, que mesmo no início do outono, brilhava perfeitamente em tons de verde-dourado.

Amu vacilou, entre seguir o andamento ou sair correndo, mas acabou por decidir a primeira opção, ao ver o garoto seguindo pelo caminho de pedras polidas em direção à entrada.

Ao chegar à frente da colossal porta de madeira, Tadase sentiu-se diminuído. Aquilo era muito maior do que parecia de fora. Antes que pudesse tocar no batente da porta, no entanto, esta se abriu, revelando a face da garota do telhado.

Ela vestia uma blusa simples e shorts jeans, o que de alguma forma a deixavam mais humana do que o rígido uniforme escolar. Seus cabelos negros, normalmente desgrenhados, estavam amarrados num coque no alto da cabeça, e a franja presa acima da testa. Seus olhos, muito mais do que irritação, demonstravam surpresa.

— O que estão fazendo aqui? – Hitomi rosnou, saindo e fechando a porta rapidamente. Parecia nervosa e inquieta, e ignorou a presença de Amu completamente – Como descobriu onde eu morava, garoto? Não me diga que... você andou me seguindo? – indagou, com uma sobrancelha erguida presunçosamente.

— Claro que não Yamisaki-san! – Tadase negou, erguendo as mãos defensivamente – eu só vim entregar o livro que você esqueceu no telhado – ele disse rapidamente, pegando o objeto de dentro da pasta.

— Aaah! Entendo... – ela pegou o livro das mãos do garoto, surpreendida. Nem havia se dado conta que o perdera – O-obrigada... – deixou escapar entre os lábios franzidos, enquanto fitava um dos pilares da entrada com o rosto corando.

— Não foi nada – Amu bradou rapidamente, cansada de ser deixada de lado - ... é melhor irmos, Tadase-kun – falou baixinho, depois de ver o enorme Pastor Alemão que os fitava com olhar ameaçador do jardim mais próximo. Amu agarrou o braço de Tadase, puxando-o da maneira menos brusca que conseguia em direção à saída.

— Eeei! Hicchan!!! – uma voz arrastada e rouca ecoou pelo ar, vinda do segundo andar. Hitomi congelou no lugar, lançando um olhar quase desesperado para Tadase, numa tentativa muda de fazê-los ficarem no lugar – Quem está aí?!

— N-não é ninguém! – disse, com a voz trêmula subindo algumas oitavas, grata pelo teto da entrada exageradamente grande tapar a visão do andar de cima– eu tava conversando com o Pudim!

— Pudim?! – Amu repetiu exasperada, sussurrando – O nome daquela monstruosidade é Pudim?!?!

— Droga! Ninguém pode vê-los aqui! – Hitomi disse baixinho, empurrando-os para frente – Meu tio é curioso, logo vai querer verificar, é melhor sumirem logo daqui!

— Tudo bem, Yamisaki-san – Tadase disse, aflito – Não queremos causar qualquer incômodo. Até amanhã, na escola – despediu-se, andando o mais rápido possível até o portão de ferro (que ficava a uma distância considerável da casa) com Amu em seu encalço, que tremia levemente encarando Pudim.

Hitomi suspirou, entrando novamente na casa, não sem antes dar uma pequena espiada no garoto que se afastava. Mas que droga, ele não podia simplesmente deixar tudo isso pra lá? A sua presença só iria causar problemas para ela, e também para ele mesmo, definitivamente.

Amu andava ao lado de Tadase, pensando em muitas coisas ao mesmo tempo. Agora que Nadeshiko e Rima já sabiam sobre seu segredo, elas iriam interferir? Iriam procurar por Ikuto, ou então, contar aos seus pais? A garota estava tão imersa em si mesma, que não percebeu que caminhava em direção à rua movimentada e com o sinal vermelho para os pedestres.

Por sorte, Tadase a segurou a tempo, impedindo um acidente horrível e desnecessário.

— Aah, obrigada – ela disse, automaticamente. Nem havia notado a situação em que se encontrara.

— Você tem algum problema, Amu-chan? – ele perguntou, sinceramente preocupado – Nós somos amigos há bastante tempo, você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa!

— Você tem razão, Tadase, me desculpe – Amu disse, com a cabeça baixa – mas eu não quero falar de mim, não agora. Me desculpe... mas e você? Por favor, me diga, por que você quis procurar aquela garota? – ela desviou o assunto, curiosa.

—Bem... eu não tenho certeza – ele respondeu, confuso – mas ela tinha perdido o livro, e ...

— Fala sério, Tadase! Você só precisava entregar isso ao presidente da sala, ou deixar nos achados e perdidos! Não precisava ir até a casa dela e... aliás... que casa, nee!!!

— Isso não vem ao caso – ele disse, olhando para as nuvens enquanto caminhava. Aquele tom de azul puro do céu o fazia lembrar alguma coisa, mas o que?

— E a Nadeshiko-chan, hein? – Amu comentou, fingindo estar distraída, com as mãos cruzadas nas costas – já se esqueceu dela?

Tadase corou perceptivelmente, estacando no meio da calçada. A garota sorriu, olhando disfarçadamente para o amigo com o canto dos olhos, inclinando a cabeça.

— Eu só escrevi aquela carta por que o Kukkai insistiu muito, disse que combinava comigo fazer algo desse tipo. E eu achei Fujisaki-san uma dama muito refinada e atraente, foi só isso – ele justificou-se, discursando com os olhos fechados e sublimes.

— Háa!!! Dama refinada e atraente, não é? Espera só...

— Você sabe de alguma coisa ruim sobre Fujisaki-san, Amu-chan? – Tadase perguntou, chocado.

— Na verdade sei, mas é um segredo entre garotas... você não entenderia...

Tadase assentiu com a cabeça, sem entender. Aquela expressão confusa ficava particularmente bem nele, Amu concluiu, virando a esquina. Repentinamente, ela virou de costas, ficando de frente para Tadase.

— Eu vou passar na casa da Rima, então vou por ali – ela indicou com a mão a rua de trás – Parece que tá tudo mais liberado por lá, se eu tiver sorte, posso até ficar pra dormir – divagou distraidamente, seguindo na direção contrária.

— Então, até a amanhã, Amu-chan! – Tadase despediu-se, indo para casa. Falar sobre Fujisaki havia o deixado inquieto, mas não o fez ficar nervoso ou com o coração batendo forte como antes, e ele se perguntava o motivo de uma mudança tão repentina.

A garota seguiu seu caminho, até chegar à casa de Rima. Agora, aquela mansão de dois andares não parecia mais tão imponente e amedrontadora. Entrou passando reto entre os porteiros e seguranças, sendo já reconhecida pela maioria deles. Foi direto ao quarto de Rima, onde ela e Nadeshiko estavam assistindo a um filme na TV.

Ambas estavam sentadas em um sofá grande e branco do quarto, mas enquanto Nadeshiko parecia que logo pegaria no sono, Rima chorava copiosamente olhando para a enorme tela presa na parede, segurando com força o lencinho amarelo bordado entre os dedos.

Amu segurou o riso, entrando devagar no quarto e deixando sua pasta em um canto. Nadeshiko sorriu fracamente, parecendo grata por alguém ter chegado. Rima assuou o nariz, e olhou para Amu com os orbes vermelhos e inchados.

— Ah! Amu, que bom que você está aqui! – ela disse, sorrindo – eu e a Naddy temos uma coisa bem importante pra falar pra você!

— E o que seria? – perguntou, sentindo um leve temor pelo que podia estar por vir.

— Nós fomos falar com o seu... namorado - Nadeshiko se adiantou, inclinando-se sobre o sofá – bem esquisitinho, aliás... não sei o que viu nele, mas, voltando ao assunto, eu conversei com Ikuto sobre você, e, aparentemente, ele tem intenções sérias... então eu dou a permissão para vocês – concluiu, assentindo com a cabeça de olhos fechados.

Amu o fitou incrédula por alguns segundos, enquanto Rima se recompunha silenciosamente. Balançou a cabeça para os lados, confusa.

— Vocês fizeram o que? – indagou indignada para si mesma – Não acredito que foram procura-lo e…

— Nós estávamos preocupadas com você, Amu-chan – Rima disse, com a voz embargada e os olhos lacrimejantes.

— Oh! Rima-chan! – Amu emocionou-se, percebendo o quanto a amiga se importava realmente com ela. Empurrou Nadeshiko do sofá rispidamente e tomou o lugar dela, abraçando Rima com força.

Nadeshiko fitou a cena do chão, desorientada. Nunca havia visto Rima chorar tanto, nem mesmo na época em que ela andava mais deprimida por ter que ficar só em casa. E Amu, com suas variações constantes de humor, também deixava o garoto perdido. Ela havia entrado na casa animada, depois ficou irritada e agora chorava copiosamente.

E supostamente, Nagihiko deveria compreender e aceitar toda essa maluquice?

Bem vindo ao mundo feminino, caro Nagi-kun...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uguu~ Espero que tenham gostado!!

Vou ficar esperando os reviews, não esqueçam deles!!! *0*


Kisu♥