Uma das piores partes foi dizer à toda a minha família sobre a minha doença.Claro que foi um choque para todos,mas eles lidaram tão bem....estavam mais reunidos e sempre perto de mim,como acontecia quando eu ficava simplesmente resfriada.E receber toda aquela atenção,em um momento daqueles era gratificante.

O início foi muito difícil.Eu não queria ficar no hospital,eu podia ficar em casa,mas com a obrigação de ir lá todos os dias.Mas isso foi me cansando.Aliás,qualquer esforço me cansava.Andar um pouco mais depressa,subir escadas e até coisas que eu costumava fazer,que jamais me deixariam cansada,agora acabavam comigo.Eu voltei pra escola,logo depois.Era uma das coisas de que eu não abriria mão.E era a única coisa que me fazia esquecer de todo aquele pesadelo que eu estava vivendo.

Quando saía de lá,ia pro hospital e então,voltava pra casa.Foi assim nos 3 primeiros meses.Meus alunos acabaram sabendo e eu nunca pensei que existissem crianças tão amorosas no mundo e que elas se importassem tanto com algo assim.No dia do meu aniversário -que foi um dos melhores que já tive- fui surpreendida por aqueles pingos de gente que haviam feito uma festa surpresa pra mim com todo o cuidado e com tudo  perfeitamente detalhado.Eu não me contive de chorar na frente deles e de alguns responsáveis presentes.Eu não merecia tudo aquilo.Eu era só a nova professora,que ocupava o lugar de uma professora insubstituível praquela escola e para todas aquelas pessoas que viviam nela.Eu era a professora novata que não tinha experiência e não ia ficar muito tempo ali.

E de repente,eu ganhava uma festa surpresa dos meus baixinhos,com uma sala cheia de balões de felicitações,desenhos e presentes fofos,como ursinhos de pelúcia segurando um coração que dizia me amar.

Foi um dia inesquecível!Eu iria me lembrar daquele dia pra sempre e de cada um daqueles rostinhos.Em casa,outra festa surpresa.Estavam os meninos da banda,minha família e alguns amigos.Jamia estava lá com a nova namorada do Mikey,Alicia.Conversamos a noite toda.Foi um ótimo aniversário,mesmo passando por aquela fase...eu me esqueci de tudo aquele dia,sequer tinha lembrado do hospital.

Gerard estava sendo o melhor namorado do mundo!Nunca mais discutimos sobre aquele assunto e ele me parecia estar se comportando muito bem.

Ele e a banda continuavam a fazer shows pelo estado e em algumas cidades fora,enquanto já se preparavam pro segundo cd.Toda aquela correria estava voltando e Gerard precisaria passar mais tempo fora.Ele pensou em adiar os planos da banda pra poder ficar comigo e acompanhar a quimioterapia,mas não deixei que fizesse isso.A banda era tudo pra ele e não era justo ele perder tantas oportunidades pra ficar me observando fazer exames e reclamar da vida.

Um mês e meio depois,meu pesadelo só foi piorando.Eu estava mais magra do que podia ficar,as náuseas ficaram mais freqüentes e meu cabelo,começou a cair.Primeiros,os fios se soltaram no travesseiro,depois na escova,em seguida,na minha mão.Foi o dia mais assustador pra mim!Eu contei pra minha mãe e ela me levou ao médico.Ele decidiu que eu não tinha mais condições de ficar em casa e acabou por me internar de vez.

Meu pai me aconselhou a cortar o cabelo,coisa que eu neguei de imediato.Eu amava o meu cabelo,era o que eu mais tinha orgulho no meu corpo.Preferia vê-lo cair,a raspar a minha cabeça.Eu ia ficar horrível.Iria parecer outra pessoa.Eu não queria de jeito maneira.Pensei no Gerard,em como ele reagiria ao me ver daquele jeito.Entrei em pânico.

Mas depois de alguns dias,eu vi que não tinha mais jeito.Deixei a enfermeira cortá-lo e ela foi até gentil.Disse que não o cortaria todo,porque era melhor eu ir me acostumando aos poucos.

Os fios que antes cobriam meu busto,passaram a cobrir meu pescoço.Semanas depois,eles viram chanel e em questão de dias,eles já não estavam mais aonde deveriam estar.Eu chorei tanto,como nunca tinha chorado na minha vida.

Eu não deixei ninguém ver aquela cena horrorosa.Nem eu me permiti a ver.Só o que vi,foram meus fios de cabelo perdidos e espalhados pelo chão.Uma parte de mim estava indo embora.

Naquele mesmo dia,Donna me levou um presente.Eu podia imaginar,vindo dela:uma peruca.Eu achei a idéia tão repugnante e ofensiva.Mas ela acabou por me fazer gostar.Era do mesmo tom do meu cabelo,com uma franjinha delicada e o mesmo corte chanel,que eu tinha semanas atrás.Não ficou ruim.Achei que fiquei até mais nova,com uma expressão melhor do que tinha há alguns dias.

Eu me senti um pouco melhor.Era bem mais fácil me olhar no espelho daquele jeito,mesmo que ainda estivesse pálida,com olheiras e parecendo uma anoréxica.

Proibi qualquer pessoa de chorar na minha frente,ou de passar a mão na minha cabeça,mesmo que eu estivesse com a peruca.Nem Gerard eu deixaria.Me ver sem ela,só a enfermeira podia.Eu morria de vergonha.Era constrangedor ao extremo toda aquela situação.

Com o tempo fui me acostumando.Elena conversava muito comigo e ela me fazia ver as coisas de uma forma diferente,e eu achava às vezes que não era tão ruim.Eu estava encarando bem,no ponto de vista dela e confesso que isso me convenceu,embora no fundo,achasse totalmente o contrário.

Jamia e Alice eram outras que me davam todo apoio possível e sempre me visitavam,me levavam revistas,me contavam fofocas,e várias outras perucas.Já tinha uma coleção e cada semana eu estava com uma diferente.Era um tanto divertido,quando eu não levava tão à sério.

No mesmo dia,assim que elas foram embora,minha mãe me avisou me Gerard estava vindo.Me desesperei.Ele era o único que ainda não tinha me visto desde que eu havia raspado a cabeça.Eu estava com medo da reação dele.Até pedi pra minha mãe,dizer pra ele não vir,porque eu já estava dormindo,mas ela não me ouviu.

Quando eu menos esperei,ele entrou no quarto e eu pude ver a surpresa e o susto,passar por seus olhos.