- Muito bem Joseph, aqui está sua recompensa. – disse Turner entregando-lhe algumas moedas de ouro.

- O que? Só isso? Você prometeu um valor maior!

- É, mas vocês o trouxeram com uma perna furada e um braço quebrado. Pago por um fugitivo inteiro, não com só parte do corpo funcionando.

Joseph olha para o chão e assente com a cabeça, os dois cochicham algo que não consigo ouvir e logo se cumprimentam e se despedem.

Joseph anda um pouco e se junta ao grupo que esperava por seu líder à beira da estrada.

- Vamos embora. – disse ele.

- Ele pagou a menos de novo, não?! – perguntou Patrick.

- É o valor justo.

- Não acho que seja...

- Claro que não é. Ele está nos enrolando de novo, logo não nos pagará mais. – interrompeu Sebastian.

- Bom, então na próxima vez vamos apenas acertar o cavalo e não o fugitivo. – disse Joseph advertindo Sebastian.

O silêncio tomou nosso grupo e fomos para nossa “casa”. Vivíamos numa floresta perto dali, mas não dentro do feudo. Era um pequeno pedaço sem dono. Uma cabana abandonada era o nosso refugio.

- Joseph, Sebastian pode ter razão? – perguntei ao chegarmos ao lar.

- Talvez Jay, mas não se preocupe com isso. Nós conseguimos nossa recompensa, que tal comemorarmos indo à cidade?

- Mas e os outros?

- Eles são bem grandinhos, podem ir sozinhos se quiserem.

Acompanhei Joseph então. Fomos à uma cidadela que pouco tinha para se fazer, mas possuía uma bela vista já que tinha um grande lago.

Eu e Joseph fomos para lá. Sentamos na beira do lago e ficamos admirando a noite. Ele me contava suas histórias, de como conhecera Patrick, os gêmeos e até o rabugento Sebastian, e claro das aventuras juntos. Mas quando chegava a minha vez de falar ele, estranhamente, só perguntava de pouco tempo antes de eu fugir de Londres, no máximo das estratégias do meu antigo grupo e como eram cada um deles. Raramente perguntava de Hammel  e admirava muito Campbell, Mark e Steve,  o que era muito curioso.

- Grandes cavaleiros, grandes. – dizia ele ao se referir aos três.

- Sim, eram.

- E o que houve com eles?

- Bom, meu mestre, Campbell como já disse foi embora. Os outros, da ultima vez que vi voltavam de uma missão bem sucedida.

- E sua mestra Leyla?

- Não sei ao certo.  Na verdade não me importo, nunca nos demos muito bem mesmo.

- Que coisa! Sempre foi tão desejada, me admira alguém que esteve com o senhor Campbell não gostar dela.

- Como?

- Sim, quero dizer, Campbell a amava. Até a pediu em noivado.

- O que? Não, Campbell mal a conhecia.

- Nunca ouviu falar da fuga dele?

- Do que está falando?

- Sim, ele pediu a mão da moça e logo depois partiu. Ao que eu soube se encontraram novamente na grande invasão de Londres. Ao menos é o que todos dizem.

- Mas... Eu sempre pensei que fossem apenas conhecidos e por isso ele a pediu para treinar-me.

- Garanto-lhe minha querida Jay, não eram só conhecidos.

Fiquei quieta, nunca havia cogitado aquela possibilidade, nem pensado que Campbell um famoso cavaleiro poderia ter uma noiva.

- Mas não fique assim amada. Sei se tinha sentimentos por ele...

- Eu não...

- Jamie! Eu lhe aceito mesmo assim. E quero que sejas minha. – disse ele beijando minha mão. A puxei rapidamente.

- É melhor voltarmos à cabana. – disse.

O sorriso que antes iluminava seu rosto agora havia sumido.

- Pois bem, - disse sério - pode ir se quiser, irei ainda ao bar.

Fiz que sim com a cabeça e me levantei. Fui embora para a cabana. Estava andando só com meus pensamentos  quando percebi algo se mexendo entre as árvores. Fiquei observando atentamente e logo, me dando um susto, Sebastian apareceu.

- Que susto. – disse.

- Não se preocupe, não farei mal algum à você. Apenas quero conversar.

- Comigo? Sempre achei que não gostasse de mim.

- Jamie, preciso lhe alertar de algo. Joseph não é quem você acha que é. Sei que ele está tramando alguma com Turner.

- Do que está falando?

- Eu não sei ao certo o que é, mas já estou lhe avisando para não confiar tanto assim nele. Sempre fui desconfiado do jeito certinho dele. Até avisaria os outros, mas os gêmeos são uns idiotas, não acreditariam em mim e Patrick apesar de ser meu primo e muito esperto também é o melhor amigo de Joseph...

- Calma aí Sebastian, eu não estou entendendo nada.  Por favor, me deixe em paz.

- Só estou lhe avisando garota.

- Bom obrigada. – agradeci me virando para ir embora.

- Há. E eu achando que você ainda poderia ter uma salvação.

Parei e me virei novamente. Ele já estava indo embora. O acompanhei com os olhos e segui meu caminho. Cheguei à cabana e lá estava apenas Patrick. Ele estava sentado na entrada da velha casa entalhando algo num pedaço de madeira.

- Olá Jamie. – disse ele ao ver eu me aproximar.

- Olá. O que está fazendo? – perguntei sentando-me ao seu lado.

- Um lobo. – respondeu me mostrando a pequena miniatura de madeira do animal.

- Nossa, parece de verdade. Você é muito bom nisso.

- Obrigado. É que meu pai era carpinteiro e ensinou-me muita coisa antes de eu sair de casa.

- Não sabia que seu pai era carpinteiro.

- Mas era. E o seu era ferreiro, não?

- Não, na verdade eu não conheci meu pai. O ferreiro foi quase como um para mim.

- Ah, isso é legal. Foi com ele que você aprendeu a atirar certo?

- Sim. Mas melhorei mesmo foi com os treinamentos de Campbell, meu antigo mestre.

- Entendo.

- Posso perguntar lhe perguntar algo Patrick?

 - Claro. O que quer saber Jamie?

- Sebastian... Bom, ele é confiável?

Ele deu uma risada.

- Porque pergunta isso?

Fiquei quieta.

- Bom, ele pode seja mal humorado e rabugento, mas ele é um cara legal. E por mais que seu jeito diga para não fazê-lo você pode confiar nele. Ele é esperto Jamie, muito inteligente, mas também muito desconfiado de tudo. Por isso sempre arranja discussão quando algo diferente acontece.

- Ah.

- Mas o que houve? Ele lhe disse algo?

“Joseph não é quem você acha que é. Sei que ele está tramando alguma com Turner... Patrick apesar de ser meu primo e muito esperto também é o melhor amigo de Joseph...”

- Jamie?

- Ah, não. Não me disse nada. Era só curiosidade mesmo.

- Está bem. – disse terminando seu lobo entalhado. – Tome. – disse-me entregando-o.

- Obrigada.

Ele assentiu com a cabeça. Me levantei, mas antes que pudesse entrar na cabana ele disse:

- Sabe Jamie, não a conheço muito bem, mas acho que posso dizer que você parece um lobo. Ao que sei de sua história você é guerreira como um, mas também enganou muita gente. E como um lobo, já percebi que, quando corre perigo, como aquela vez em que topamos com uns franceses, você age com ferocidade.

- Obrigada.

- Não é um elogio. Sabe que lobos andam em bando, mas se tornam monstros assassinos quando o que protegem corre perigo. Espero que saiba o que você protege.

- Ora... Eu protejo a minha vida. – respondi depois de pensar um pouco.

- Isso é bom. Sempre soube que era uma boa garota.

- Mas os lobos são maus.

- É verdade, mas talvez as lobas não sejam. – disse ele dando uma piscadela.

Sorri e finalmente entrei na cabana. Fui para o monte de feno e tecidos que formava minha cama.  Dormi.