Lágrimas de Uma Sucessora do Estilo Shinmei escrita por Lexas


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Love Hina pertence a Ken Akamatsu.



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- Por que, Urashima? Por que?

- Como?

- Você me ouviu muito bem, embora eu não entenda o motivo. Por que?

- Por que o quê, Motoko?

- Por que você está me ajudando?

- Preciso ter um motivo especial para isso?

- Não, não precisa... mas eu simplesmente não entendo o que se passa pela sua cabeça... ou o que você quer realmente - ela o olha com uma expressão peculiar, a qual era sua marca registrada para ele, que demonstrava que ela ainda tinha suas reservas em estar ali com ele.

- Ei! Pare com isso! No que é que esta pensando?

- Eu? Ora, seu tarado! Você é o inconseqüente aqui, é você quem deve me dar explicações, começando com o porquê de você estar fazendo tudo isso!

- Só estou querendo te ajudar, Mokoto-chan!

- Não me trate assim, Urashima! - ela saca sua espada e parte para cima do mesmo, parando-a a poucos centímetros do pescoço dele. - Não pense que eu sou como Haruka-san, que te tolera por que são parentes, ou Kaolla-chan e Sarah-chan, que são jovens demais para perceber suas más intenções. Não me confunda com Shinobu-san, a qual você tem seduzido, ouviu?
- Eu? Seduzindo-a? Tá doida?

- Não sou eu que me faço de inocente aqui! E ao contrário da Kitsune, da Naru e da garota-melancia, eu não acho nem um pouco agradável a sua companhia, tampouco me sinto segura ao seu lado!

Ele sua frio, assustado com aquilo. Será que a cada cinco minutos alguém tentaria matá-lo?

E o pior era que a espada estava praticamente roçando em seu pescoço, fazendo um pequeno corte.

A espada.

Sua espada.

Ou melhor, a espada da família. Não a espada Hina, já que Motoko havia dito que havia uma aura maligna na mesma e resolveu deixá-la guardada junto de sua bagagem, de modo que agora ela estava apontando para ele outra espada que o mesmo lhe arranjou.

- Gccc! AAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!

- Fique quieto, Urashima! Aceite seu destino como homem!

- GAC! Eu não quero aceitar meu destino! Não quero! Não quero!

Silêncio total. Quando ele arregala os olhos, percebe que não havia morrido. Ou melhor, ao contrário das outras vezes, não chegou nem a ser atingido mortalmente.

A espada ainda estava no seu pescoço, sibilando de um lado para outro. No entanto, não havia uma força segurando-a. Pelo contrário, ela estava praticamente solta, quase caindo no chão.

Ainda suando, ele ergue um pouco a cabeça e, para sua surpresa, a garota-kendô não estava mais com aquela expressão de quem queria fatiá-lo ou testar nele a "nova técnica suprema do seu estilo".

Ela estava com a cabeça encostada em seu peito, com a mão livre na testa, como se quisesse esconder algo.

O que era? Ainda estava com medo. Em verdade, nada parecia ser capaz de matá-lo, nada. Os socos megatons de Naru, as invenções de Su, os monstros que encontrava ocasionalmente nas explorações de Seta-san...

Mas ainda assim, doía. E como. Chegava a desejar que estivesse morto, mas não, continuava vivo. A dor durava um curto instante... mas esse curto instante parecia se esticar por toda a eternidade.

Mas, por mais incrível que pudesse parecer... ele não conseguia ficar irritado com aquelas garotas, tampouco odiá-las.

Com cuidado ele retira a mão da mesma da frente, e tendo ainda mais cuidado, encosta a mão em seu rosto e o ergue, comprovando o que imaginou que encontraria.

Motoko.

Chorando.

Tocando delicadamente em seu queixo, ele ergue o rosto dela, apenas para receber um tapa em sua mão.

- Não faça isso - ela tentava inutilmente virar o rosto para não encará-lo - Não... não tenha pena de mim. Eu... eu sou um estorvo, é isso o que eu sou. Não sirvo para nada.

Ele balança a cabeça, desaprovando o comentário dela. Pelo visto, tirá-la daquela crise não seria coisa fácil.

E por que seria? Na verdade há pouco tempo fora derrotada pela irmã - o que não era tão grave assim. Afinal, a mesma havia dito anteriormente que só aceitava ser derrotada pela irmã - e, como se não bastasse, a mesma a expulsou do seu clã e lhe retirou o status de samurai.

Jogou na cara da mesma que ela tinha uma técnica medíocre, que não estava a altura de ser a sucessora do estilo.

E, desde então, Motoko tem se empenhado em ser uma pessoa "normal", por assim dizer. Sem ligações com sua família.

O que não estava dando muito certo.

Felizmente ele a tinha convencido a ir até Kyoto para se encontrar com a irmã novamente e, a essa altura, estavam no trem que ia para lá.

Motoko...

- Por que, Urashima?

- Como?

- Por que? Por que está me ajudando? Por que está fazendo isso por mim? - seu auto-controle ia por água abaixo, e as lágrimas corriam soltas pelo seu rosto.

- Porque não? Você está com problemas, não é mesmo?

- Não é a mesma coisa! Por que VOCÊ está me ajudando?

- Ué ... agora sou eu quem está confuso!

- Não se faça de engraçadinho, Urashima!

- Engraçadinho? Mas... eu não entendo... Você não pediu para eu fingir que éramos noivos ? O que tem de tão estranho em te ajudar agora?

- É diferente! E é justamente por causa disso! VOCÊ! Eu - ela cerra o punho, ignorando que ainda estava com a cabeça no peito dele- eu nunca gostei de você, Urashima. Você, seu jeito atrapalhado, sua estupidez nata, seu modo desastrado de ser, seu azar que contagia todos ao redor, seu assanhamento com todas as garotas... eu sempre fiz questão de deixar isso bem claro, mas... mas... mesmo assim... você... você me ajudou... não só agora, mas... tantas vezes... por que, Urashima ? Qual é o seu problema? Por acaso está tentando me seduzir?

- Não. Isso nunca passou pela minha cabeça.

- Então o que é, então ? Quer mostrar que é superior a mim? É isso?

- Pare com isso, Motoko! Por que eu preciso de um motivo para te ajudar? Você precisa de ajuda, apenas isso.

- Eu não aceito isso! Não aceito isso vindo de você... de... você... - ela afunda seu rosto novamente no peito dele, abafando um choro - eu já tentei te fatiar tantas vezes, Urashima... por que você ainda quer me ajudar? Não sou como as outras garotas... não sou como a Narusegawa... na verdade, nem espadachim eu sou, agora. Já mostrei que sou um fracasso em tudo o que faço, por que está me ajudando? Tudo o que eu vou conseguir em Kyoto é envergonhar minha irmã novamente, e nada mais!

- Você está enganada, Motoko-chan. Tremendamente enganada. Não tem noção do que está dizendo. - ele coloca a mão delicadamente em seu cabelo e começa a alisá-lo, tentando confortá-la - acha que é um fracasso? Acredita mesmo nisso? Olhe para mim, vamos. Olhe para mim! - ele segura no queixo dela, forçando-a a olhar para cima e encará-lo.

Ela o fita por alguns instantes, segurando uma vontade enorme de tornar a chorar.

Keitarô estava com uma expressão diferente agora. Não era uma face séria e concentrada, a qual fazia quando estivera estudando para entrar na Toudai. Nem a sua clássica expressão de quando ela o atacava. Ou sua cara de choro quando tinha uma terrível noticia. Ou até mesmo sua cara de alegria.

Era uma expressão diferente.

Confiança.

Seus olhos transmitiam para ela, naquele momento, uma confiança enorme, capaz de fazê-la enfrentar sua irmã com as mãos nuas.

- Não se martirize, Motoko-chan. Nem sempre as coisas são fáceis para nós. Para ninguém. Não será a primeira vez em que irá se deparar com algo assim, em que vai ter vontade de jogar tudo para o alto. Lembre-se de que não é a primeira. Lembra-se do quanto você ficou desesperada quando foi derrotada pelo Seta?

- Sim... você me ajudou naquela ocasião...

- Eu, Sarah e Su... mas nada adiantaria se você não acreditasse que era capaz.

- Eu sou uma incapaz, isso sim! Um desastre completo! Não sirvo para nada nessa vida!

- Olhe para mim - ele a segura firmemente pelos ombros, forçando-a a encará-lo novamente - olhe para mim e repita o que acabou de me dizer. Está falando com o sujeito que falhou três vezes em entrar para a faculdade, antes de conseguir realmente. Vamos, Motoko-chan, olhe para mim. Sou eu, o Keitarô. O Urashima. O cara que quando chegou aqui, era visto por todas como um trapalhão, idiota, encrenqueiro, pervertido e saco de pancadas. Certo, vocês ainda me vêem dessa forma, mas também perceberam que o pervertido conseguiu realizar seu sonho por que acreditou nele, por que não desistiu em momento algum. O mesmo pervertido que está agora ao seu lado, te acompanhando até Kyoto para encarar sua irmã. Você não é uma incapaz, Motoko. Tampouco um desastre. Você tem muitas qualidades, muitas das quais você mesma não enxerga.

- Por exemplo? - o choro cessa, e a mesma estava atentamente prestando atenção ao que ele dizia - Que qualidades? O que uma desastrada como eu tem de especial?

- Posso citar umas dez coisas, e mesmo assim, não estaria falando tudo. Você é esforçada, isso ninguém pode negar. O próprio Seta-san confirmou isso, ao reconhecer que você tinha uma técnica bastante apurada para a sua idade. É dedicada. Quando assumiu como doméstica na pensão, se preocupou com o café da manhã, com a roupa suja, com o chão que precisava ser encerado, dedicou-se por completo para manter a pensão em ordem. É orgulhosa. O orgulho não é necessariamente uma característica ruim. Você tem orgulho de suas origens, de ser descendente de uma longa linhagem de samurais que se dedicam ao extermínio do mal. Corajosa, isso já pude comprovar por diversas vezes, como por exemplo, quando foi atrás de mim me dar a boa notícia de que eu havia passado na Toudai e enfrentou aquelas tartarugas gigantes. Também é carinhosa e afetuosa, bem mais do que você mesma acredita. Não há ninguém em quem Kaolla confia mais do que você, de forma que a única coisa que supre a saudade que ela tem da sua terra natal é a sua companhia. - As lágrimas já haviam cessado, e a expressão de choro também, de modo que ela forçava um sorriso. Mas o mesmo, lentamente, se tornava algo natural - Tem um belo sorriso, isso eu já pude comprovar, pois apesar de na maioria das vezes manter uma expressão séria, não se nega ao prazer de sorrir quando está bastante feliz. Se importa com os outros. Mesmo quando se retirou para aquele acampamento por alguns dias e Su ficou no meu pé direto, você se preocupou em me dar alguns conselhos para manter a segurança da pensão. E tantas outras coisas que seu fosse dizer, nós passaríamos direto por Kyoto e sua irmã iria mofar lá.

A garota se recompõe, encostando delicadamente sua cabeça no peito de Keitarô, quase na altura do ombro, e ajeita sua cabeça de forma que está fique de lado, ao passo que fica de olhos fechados, como se estivesse dormindo.

- Motoko... você é uma menina... é uma garota... e uma samurai. Ninguém pode tirar isso de você, seja quem for. Ninguém é perfeito, tampouco sabe fazer tudo. Todos temos nossos pontos fracos e fortes, e são os mesmos que nos tornam únicos. Está tudo em você, só precisa acreditar nisso. Tem se preparado para suceder seu estilo, tem sido uma guerreira de corpo, mente e alma. Ser um guerreiro que combate os maus espíritos é muito mais do que vencer, vencer e vencer. Muitas vezes você perde, mas isso serve como aprendizado, se não para você, ao menos para outros. Não cobre tanto de si mesma, Motoko. Não pense que perdeu a honra por que sua arma fora destruída. Honra não está em uma arma ou em um objeto, está na própria pessoa! E isso é algo que sua irmã não pode tirar de você. Se você rasgar o diploma de um médico, ele não vai deixar de ser médico por causa disso. Claro que ele provavelmente vai ficar irritado com isso, mas não vai deixar de ser o que é só por causa de um pedaço de papel. Sua irmã pode te derrotar, pode te vencer mil vezes, mas nunca poderá arrancar de você o que você realmente é, Motoko-chan.

Ele a observa ternamente mais uma vez, percebendo o brilho em seus olhos, o qual havia substituído o desânimo.

Motoko era uma garota forte, e se não acreditasse nisso, ela não teria entrado naquele trem para Kyoto.

Ela só precisava que alguém lhe dissesse isso, reconhecesse do que ela é feita.

Ele continua acariciando seus cabelos, com ela tendo a cabeça encostada no peito dele. Era uma adolescente, ele já tinha mais de vinte. No entanto, a altura dela enganava muito bem as pessoas, fazendo-a parecer bem mais velha do que era, fora a expressão fechada que ela mantinha na maioria das vezes, mas um simples sorriso dela a fazia parecer uma menininha.

Os braços dela o envolvem, apertando-o mais e mais, e no mesmo instante ele percebe que ela precisava de consolo, de alguém para se encostar, mesmo que fosse por um curto período de tempo.

Como ele poderia negar tal coisa?

No entanto, de tanto pensar no fato dela estar mais calma, ele mal se deu conta quando as mãos dela subiram, de modo que uma se prendeu em sua cabeça, e a outra em seu pescoço.

Quando percebeu, já era tarde demais.

Ele olhou para baixo, encarando aquele olhar dela. O mesmo olhar de menina sapeca que ele teve a chance de vislumbrar por raras vezes.

Ela o olhou no fundo dos olhos, percebendo o conflito pelo qual ele passava. De certo modo, ele queria e não queria fazer aquilo.

- Hã... Motoko... chan?

- Urashima - ela coloca o dedo nos lábios do mesmo, silenciando-o - não estrague tudo. Não desta vez - e avança lentamente, tocando nos lábios dele, permitindo-se sentir algo novo, algo que nascia dentro da mesma e se espalhava pelo seu corpo, fruto do toque daquele homem. De seus lábios. Das suas mãos nas costas dele, das mãos dele em suas costas, apertando-a.

Seu primeiro beijo em um rapaz, e a mesma se esforçava ao máximo para esquecer do beijo que Su lhe arrancou.

Ele retribuiu o carinho, tentando ignorar seus próprios conflitos. Por um lado, se sentia um crápula, um traidor, um oportunista por estar se aproveitando do sofrimento de Motoko e estar traindo seus sentimentos em relação a Narusegawa.

Por outro lado...

Sentia algo estranho.

Era dificil explicar. Paixão? Afeto? Carinho? Desejo?

A questão era que ele realmente estava gostando de sentir os lábios de Motoko, de desfrutar de sua inocência, de observar sua inexperiência e instruí-la a fazer corretamente - como se ele tivesse dado muito mais beijos do que ela - de sentir a respiração dela, ouvir seu coração batendo apressadamente, perceber que ela o apertava com todas as forças, como se não quisesse, não permitisse que ele se afastasse dela nunca mais.

No momento em questão, não sabia explicar, mas em meio aquela enxurrada da dilemas morais, ele se deu conta de uma coisa: de alguma forma, não se sentia culpado. Nem um pouco. Como se tudo em que ele estivera pensando fora jogado para o alto, e só restassem ambos ali, naquele trem para Kyoto.

***

Faltava pouco. Em alguns minutos, o trem iria chegar ao seu destino.

Keitarô joga os braços para trás, espreguiçando-se um pouco, tomando o devido cuidado para não se mexer muito e acordar Motoko bruscamente, a qual estava com a cabeça em seu colo, desfrutando de um adorável cochilo.

Motoko, a garota-samurai.

Era até interessante de se ver, pois mesmo dormindo de maneira singela e amável, ela ainda assim mantinha uma certa guarda, como se estivesse pronta para despertar e atacá-lo, visto que também ainda estava segurando a espada.

Receoso ele desce sua mão até a face dela, mas no último instante ele para.

No que estava pensando?

Ele... ele a beijou... ele se aproveitou de um momento de fraqueza dela.... não tinha esse direito...

- Hmmm ... Keitarô - ela se remexe, ainda dormindo, livrando-o do que seria o início de seu martírio.

Será que ele agiu tão mal assim? Será que realmente passou da conta? Afinal, era uma adolescente, com os hormônios à flor da pele, e ele... ele...

Não... ele a confortou... a ajudou a sair daquele estado depressivo, e a simples visão da face dela enquanto dormia era mais do que suficiente para acabar com qualquer dúvida se ele se aproveitou da situação ou não.

Mas não era hora de ficar pensando nisso. Em alguns minutos ela teria que encarar sua irmã, seu maior pesadelo. Finalmente, depois de tudo, haviam chegado em Kyoto.

Ainda se remexendo, ela dá um sorriso quando ele finalmente toca em seus cabelos, acariciando-os.

Não imaginava... não entendia... era como se o toque dele despertasse nela sensações nunca antes experimentadas.

Será que era isso que sua irmã sentia quando beijava seu marido?

Provavelmente.

Ainda tinha muito o que fazer. Muito o que pensar. Um assunto para resolver, um assunto para terminar.

Quanto ao Urashima... não, Keitarô - era engraçado, mas ela não conseguia se referir mais àquele tonto como Urashima, e sim como Keitarô. Kei-chan - ela confirmou que ele ainda era um tarado.

Mas um tarado muito especial.


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