Apenas mais Uma Lágrima - One-shot escrita por Gragra


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/134829/chapter/1

Capítulo Único...

A garota pôs a arma no peito.

Estava cansada desse mundo perverso que só a fazia sofrer, cansada de chorar por alguém que não a merecia. Cansada dessa vida estúpida que não merecia sua presença.

Ela sabia quais as consequências de seus atos, mas qualquer outra sentença seria melhor do que viver nessa vida perversa que só a fazia sofrer cada dia mais.

Lágrimas escorriam por sua face. Ela não queria chorar. O choro era a demonstração da sua mais forte fraqueza humana.

E ela também não queria dar esse gostinho ao garoto que estragou com sua vida.

Não, ela não viveria mais nesse mundo que toda desilusão para ela era a mais infinita dor.

Como amara aquele garoto! E ele? Nada. Só a usava quando necessitava de companhia. Só a usava quando brigava com a namorada vagabunda dele.

Ela nem o amava de verdade, só estava com ele por causa das aparências, e ele sabia disso, mas mesmo assim ele a amava com todas as forças.

Só que esse amor se transformou em obsessão, bem, não era muito diferente do amor que essa frágil garota aqui retratava.

Como seu ato final.

Ela nunca quis que chegasse a esse ponto, nunca pensou que um amor pudesse ser tão forte.

Claro que a humilhação que ela vinha passando também ajudava na sua depressão.

Além de usá-la, o garoto a humilhara, mesmo sendo ela a garota que sempre o escutou, que dedicou horas do seu tempo ajudando-o.

Foi isso que partira o coração dela.

Essa frieza, essa indiferença.

Ela o amaria para sempre, não podia abster esse amor de seu coração. Nem mesmo a morte poderia fazer isso.

Milagres não aconteciam.

Não na vida dela.

E ela já estava cansada de só sofrer o tempo todo e nunca ganhar nada em troca.

Se acreditava em Deus? A resposta era não.

Já tinha acreditado, mas quando o garoto entrou no colégio só coisas ruins aconteceram, nada de bom.

Nenhum milagre. Só sofrimento. Como Deus estava fazendo isso com ela?

Não, não havia Deus. Só havia duas coisas que agiam contra ela: carma e destino.

Como poderia ela viver assim? Não, nunca, esse mundo não era feito para garotas como ela.

Só os fortes sobreviviam, os fracos eram aniquilados. E ela não era forte.

Acredite, ela tentou. Tentou extravasar todos os sentimentos que sentira por ele, tentara expulsá-lo de sua cabeça, mas sempre que o via, ela voltava à estaca zero.

E toda noite ela sonhava com ele. Com ele despedaçando seu frágil coração, destruindo seus sonhos.

Ela não podia, não queria, mais conviver assim. Sempre chorando.

Decidira que era hora de dar um basta em tudo, em todo o sofrimento.

Fora difícil tomar aquela decisão insana de se matar.

Ela tinha tantos planos para o futuro, tinha uma família amorosa, mas nada disso importava. Ela não ligava, todo seu amor estava em um único ponto.

O garoto.

O destino pregara uma peça cruel com ela, submetendo-a a esse garoto maravilhoso por qual se apaixonou. Talvez o destino estivesse pedindo uma prova de força. Uma prova que ela não conseguia dar.

A garota fechou os olhos e imaginou o garoto, mas uma parte do garoto que não existia.

Imaginou-o sorrindo para ela. Imaginou-o ele aproximando o rosto perfeito do seu. Imaginou-o dando-lhe um beijo delicado em seus lábios vermelhos.

Imaginando-o dizendo que a amava...

Tentou induzir a imagem para que não sentisse tão sozinha, para que não partisse para o outro mundo - se é que havia mesmo um - sozinha.

Deixou uma lágrima a mais escapar e sorriu enquanto apertava mais o revolver no peito e apertava o gatilho.

Tudo ficou negro.

Sua imagem estava turva.

Ela quase havia desmaiado na aula de ciências. Não acordara bem essa manhã.

— Adriana, você está bem? - perguntou o professor preocupado.

— Estou um pouco tonta... - disse ela ainda com a imagem meio difusa.

— Alguém a leve para a enfermaria, por favor. - pediu o professor.

Levantou a cabeça, mas nem precisava, pois já sabia qual seria o garoto que a levaria para fora da sala.

Will. Seu melhor amigo.

O garoto que estava apaixonado por ela. Era realmente uma pena que ela não poderia corresponder esse amor.

— Cara, você tá branca feito uma fantasma. - comentou ele.

— Não sei o que me deu. - disse. - Nunca fiquei assim antes.

— Talvez seja por que você se preocupa demais. Demais com a pessoa errada, Adri.

— Não posso deixar de pensar nele. - ela disse e corou.

— Não pode ou não quer?

Ela não respondeu. Sabia que eram as duas opções.

Will a levou para a enfermaria, queria ficar lá com ela, mas a enfermeira foi firme e o mandou de volta para a classe.

Adriana se deitou na maca, ainda sentido vertigem.

— Você tomou café da manhã? - perguntou a enfermeira a ela.

— Não. - Há muito tempo que não faço mais nada a não ser pensar nele, pensou Adriana.

— Isso é um erro, nessa idade vocês têm que... - e continuou passando um sermão.

Adriana não escutava e quando o sinal para o lanche bateu, ela exalou um profundo suspiro.

Sua cabeça estava melhor, e melhoraria ainda mais depois que comesse alguma coisa.

Pegou sua comida na cafeteria e foi até a mesa de Will e se sentou.

— Melhor? - perguntou ele para ela.

— Um pouco. - respondeu.

O garoto sorriu e começou a falar com ela.

Adriana ria quando ele contava suas piadas, mas essa risada parou quando viu ele.

Eduardo.

Com ela!

Christina.

— Não ligue para eles, Adriana. Só fazem você chorar e sofrer. - disse Will balançando a cabeça.

— Não consigo. Eu amo o Eduardo! E ele fica de joguinhos com essa vagaba. - disse ela com raiva.

— Essa “vagaba” é namorada dele e ele a ama. A ama. Não a você!

Adriana suspirou e tentou prender as lágrimas que tentavam escorrer pela face.

Não podia dar esse gostinho a ninguém. Ninguém podia vê-la chorando.

— Não fique assim. Ele não a merece. - Will tocou-lhe a mão.

— Não acho que ele não me mereça. - disse Adriana, fazendo Will suspirar.

— NÃO MERECE! - o garoto quase gritou e, ganhou um olhar de frustração de Adriana.

— Tá, tá.

Will estreitou os olhos e olhou para a bandeja de Adriana que havia parado de comer quando Eduardo chegou.

— Coma. - ordenou.

A garota revirou os olhos lagrimosos e se pôs a comer, com muita rapidez.

— Não coma tão rápido, Adriana. Vai lhe fazer mal.

Ela deu de ombros e tentou comer mais devagar, mas o que ela queria mesmo era sair de lá rapidamente e se trancar no banheiro para poder chorar.

A comida passava raspando em sua garganta quase fechada por ela ter contido o choro.

Will percebeu e passou-lhe os braços em seus ombros.

— Vamos, não fique assim. - ele tentou dar um sorriso. - Desde que ele chegou você ficou obcecada por ele. E isso não é bom para você, Adri.

Adriana sabia, mas não podia conter seu amor tão grande pelo garoto que nem ligava para ela.

Não devia ter...

O sinal tocou, interrompendo seus pensamentos. Ela se levantou e caminhou com Will para a sala.

Infelizmente, essa aula não seria junto com seu melhor amigo, mas sim com seu amor não correspondido.

Will despediu-se dela e seguiu para sua sala. Ele sabia que a amiga não suportaria mais viver daquele jeito. Seus olhos já perderam todo o brilho e ela estava cada vez pior.

Ele sabia também que teria que achar um jeito de tirar a amiga dessa.

Mas, como?

Adriana desenhava corações em seu caderno, alheia a aula.

Seu estado de espírito estava o mesmo: Perfeitamente... horrível!

Aparentemente, Eduardo tinha brigado com Christina no intervalo e eles haviam terminado. Adriana sabia que isso não significava nada. Amanhã já iam estar novamente de mãos dadas.

Mas, hoje...

Novamente o sinal a avisou que a aula terminara.

Hora de ir para casa e encarar o que tivesse de encarar com Eduardo. Ela sabia que ele a procuraria hoje, para afugentar suas mágoas com ela.

Adriana sabia que não passava disso, mas se entregaria a ele.

Como sempre ao chegar em casa não havia ninguém. Todos trabalhavam e, logo seria ela. Logo, ela iria fazer dezoito anos.

Jogou a mochila no sofá e foi para seu quarto. Fechou as portas e despiu-se. Depois tomou um banho quente e procurou uma roupa para vestir.

Optou por uma regata branca e uma calça jeans.

Depois penteou seus longos cabelos negros molhados e pôs uma sapatilha preta.

Sentou-se em sua cama de dossel e pegou seus fones, escolhendo uma música para passar o tempo enquanto o esperava.

Mas, nem teve tempo de a música acabar e a campainha tocou. Anunciando a chegada de seu amado.

Adriana respirou fundo e correu até a porta. Assim que a abriu viu o garoto: seu cabelo perfeito, sua boca carnuda, seus olhos maravilhosos, a face de um anjo...

Ele nem disse oi, pegou-a quase com brutalidade e beijou seus lábios.

Ele estava desesperado por amor. Sempre era assim quando ele e Christina terminavam.

Adriana se derreteu em seus braços, finalmente enxergava um resquício de felicidade.

Os dois se encaminharam para o quarto e depois para a cama.

Fora com ele a primeira vez dela. A primeira e todas as outras.

Os dois despiram-se e entraram em uma verdadeira dança corporal.

Adriana só sentia amor e Eduardo só sentia desejo.

— Já vai? - Adriana lhe perguntou.

— Já. - disse Eduardo vestindo-se e levantando da cama.

— Por que tão cedo?

— Já não tenho mais o que fazer aqui. Obrigado.

E se encaminhou para a porta.

— Te vejo depois. - murmurou ele por sobre o ombro.

Ela ouviu a porta batendo e depois pegou um travesseiro - que ainda tinha cheiro dele - e tapou a cara, começando a chorar.

Essas eram apenas mais lágrimas que ela derramava por ele.

Adriana acabou adormecendo e novamente sonhando com Eduardo. Dessa vez ela sonhou com o dia que ela conversou com ele.

Estavam na sala de aula. Era o primeiro dia de Eduardo na escola e, o garoto veio sentar-se ao lado dela.

Desde o inicio o achara maravilhoso, gentil e simpático. Mas, não trocaram muitas palavras durante as aulas. Adriana era focada em seus estudos.

Quando o dia acabou eles realmente conversaram.

E por aquela simples conversa ela se apaixonou por ele.

E também por aquela simples conversa, ela viria a sofrer.

O estrondo de um trovão a acordou. Parecia que uma tempestade se aproximava.

Adriana sentou-se na cama e acendeu seu pequeno abajur, notando que já eram mais de 7hrs00min e seus pais ainda não haviam chegado.

Estranhando, ela pegou seu celular e viu que existiam lá três mensagens de texto de seus pais.  

Nas mensagens eles diziam que iriam se atrasar por conta de uma notícia inesperada no trabalho.

Ela suspirou e se levantou, secando algumas lágrimas que ainda caiam de seus olhos.

Foi para o banheiro e lavou o rosto. A água fria deu-lhe uma sensação boa por alguns instantes e, depois seus olhos focaram-se no espelho. No seu reflexo.

O cabelo negro estava desgrenhado e seus olhos verdes tristes. O seu rosto estava pálido, todo o tom rosado havia se esvaído.

Adriana não se reconhecia. Nunca fora assim, nunca.

As coisas mudam, falou mentalmente para ela mesma.

Já se passava das 10hrs00min e nada de seus pais, que ainda estavam presos no trabalho.

Adriana já tinha jantado e agora preparava-se para tomar um banho.

Despiu-se e entrou no banheiro, abrindo a água escaldante, que relaxava seus músculos tensos e preocupados.

Tudo o que ela vivia era demais para uma garota de dezoito anos, ainda por cima frágil.

Suas lágrimas sofridas misturaram-se com a água do banho. Adriana não conseguia ficar sem chorar por muito tempo, somente na frente de sua família. Em compensação, ela chorava a noite inteira em sua cama.

Seus pensamentos em Eduardo custaram um pouco de tempo e, logo que ela viu, a água quente já acabava.

Adriana enrolou seu corpo esguio e molhado na toalha e saiu aos tropeços do banheiro.

Em seu quarto ela jogou-se em cima da cama, pouco importando se a molhava. Ficaria molhada mesmo com suas lágrimas.

Fechou os olhos e tentou não pensar em nada, mas não adiantou por muito tempo. Seus pensamentos iam direto para a última pessoa que ela gostaria de se lembrar agora.

Suspirou e levantou, indo em direção a seu armário. Lá de dentro pegou sua fina camisola de seda.

Vestiu-a depois que se enxugou e passou seus cremes.

Foi direto para cama de dossel e cheirou um de seus travesseiros. O cheiro impregnado era de Eduardo.

Um sorriso triste abriu em seus lábios se lembrando de sua primeira vez.

Fora mágico e excitante, mas tudo não passava de uma recordação distante agora.

Derramou mais lágrimas em seu rosto antes limpo e deitou-se debaixo das cobertas.

Novamente adormeceu. Desta vez com o cheiro dele.

E, claro, teve mais sonhos com o garoto que desgraçou sua vida antes perfeita.

Eram exatamente 6hrs00min quando acordou e levantou.

Seus pais que já haviam chegado cumprimentaram-na da cozinha.

—Bom dia, querida! - exclamou sua mãe dando um beijo no rosto de Adriana.

— Olá, filhinha! - seu pai sorriu, mostrando pés de galinhas em seus olhos.

Adriana sorriu, embora soubesse que seu sorriso não chegava a seus olhos.

E, infelizmente a mãe de Adriana notou seus olhos inchados por causa do choro.

— Por que seus olhos estão inchados filha?

— Er... Eu... - respirou fundo e falou a primeira coisa que pensou. - É porque ontem eu assisti a um filme muito triste.

A mãe sorriu.

— Bobinha... sempre tão sensível. - e deu uma leve e espontânea risada.

Adriana sorriu e foi para o banheiro se aprontar para mais um dia de aula.

Lá, se trocou com o uniforme, escovou os dentes e pôs uma leve maquiagem, somente para acentuar-lhe seus olhos e esconder o inchaço.

Satisfeita, colocou um gloss vermelho e, pegou sua mochila.

— Não vai sair sem comer nada, não é? - perguntou a mãe.

Adriana pensou no assunto. Se comesse, tudo voltaria na mesma hora.

Há muito tempo seu estômago estava sensível.

— É que eu não to com fome, mãe.

— Mas, não pode sair sem comer nada. Tome pelo menos um suco de laranja. - ralhou a mãe preocupada.

— Deixe-a... - seu pai ia começar, mas foi impedido pelo olhar zangado da mulher.

— Tá. - disse a garota já pegando o maldito copo de suco e tomando-o. - Pronto. Agora tenho que ir, senão eu não entro.

Antes que a mãe pudesse forçá-la a mais alguma coisa, Adriana saiu pela porta.

O sol brilhava e aquecia seu rosto.

A antiga Adriana ficaria feliz por ver o sol brilhar daquele jeito. Jeito tão perfeito para uma de suas festas na piscina.

Mas, não a nova Adriana. Para esta, todo o dia era acinzentado.

Chegando à escola, ela já pode sentir mais lágrimas querendo escapar com a cena que via.

Eduardo e Christina estavam se beijando!

A garota correu para dentro do banheiro e depois de checar se todas as cabines estavam vazias, pôs-se a chorar novamente.

Dessa vez, eram lágrimas mais sofridas.

E dessas lágrimas, brotaram uma ideia. Uma ideia para acabar com todo o seu sofrimento.

A garota pôs a arma no peito.

Estava cansada desse mundo perverso que só a fazia sofrer, cansada de chorar por alguém que não a merecia. Cansada dessa vida estúpida que não merecia sua presença.

Ela sabia quais as consequências de seus atos, mas qualquer outra sentença seria melhor do que viver nessa vida perversa que só a fazia sofrer cada dia mais.

Lágrimas escorriam por sua face. Ela não queria chorar. O choro era a demonstração da sua mais forte fraqueza humana.

E ela também não queria dar esse gostinho ao garoto que estragou com sua vida.

Não, ela não viveria mais nesse mundo que toda desilusão para ela era a mais infinita dor.

Como amara aquele garoto! E ele? Nada. Só a usava quando necessitava de companhia. Só a usava quando brigava com a namorada vagabunda dele.

Ela nem o amava de verdade, só estava com ele por causa das aparências, e ele sabia disso, mas mesmo assim ele a amava com todas as forças.

Só que esse amor se transformou em obsessão, bem, não era muito diferente do amor que essa frágil garota aqui retratava.

Como seu ato final.

Ela nunca quis que chegasse a esse ponto, nunca pensou que um amor pudesse ser tão forte.

Claro que a humilhação que ela vinha passando também ajudava na sua depressão.

Além de usá-la, o garoto a humilhara, mesmo sendo ela a garota que sempre o escutou, que dedicou horas do seu tempo ajudando-o.

Foi isso que partira o coração dela.

Essa frieza, essa indiferença.

Ela o amaria para sempre, não podia abster esse amor de seu coração. Nem mesmo a morte poderia fazer isso.

Milagres não aconteciam.

Não na vida dela.

E ela já estava cansada de só sofrer o tempo todo e nunca ganhar nada em troca.

Se acreditava em Deus? A resposta era não.

Já tinha acreditado, mas quando o garoto entrou no colégio só coisas ruins aconteceram, nada de bom.

Nenhum milagre. Só sofrimento. Como Deus estava fazendo isso com ela?

Não, não havia Deus. Só havia duas coisas que agiam contra ela: carma e destino.

Como poderia ela viver assim? Não, nunca, esse mundo não era feito para garotas como ela.

Só os fortes sobreviviam, os fracos eram aniquilados. E ela não era forte.

Acredite, ela tentou. Tentou extravasar todos os sentimentos que sentira por ele, tentara expulsá-lo de sua cabeça, mas sempre que o via, ela voltava à estaca zero.

E toda noite ela sonhava com ele. Com ele despedaçando seu frágil coração, destruindo seus sonhos.

Ela não podia, não queria, mais conviver assim. Sempre chorando.

Decidira que era hora de dar um basta em tudo, em todo o sofrimento.

Fora difícil tomar aquela decisão insana de se matar.

Ela tinha tantos planos para o futuro, tinha uma família amorosa, mas nada disso importava. Ela não ligava, todo seu amor estava em um único ponto.

O garoto.

O destino pregara uma peça cruel com ela, submetendo-a a esse garoto maravilhoso por qual se apaixonou. Talvez o destino estivesse pedindo uma prova de força. Uma prova que ela não conseguia dar.

A garota fechou os olhos e imaginou o garoto, mas uma parte do garoto que não existia.

Imaginou-o sorrindo para ela. Imaginou-o ele aproximando o rosto perfeito do seu. Imaginou-o dando-lhe um beijo delicado em seus lábios vermelhos.

Imaginando-o dizendo que a amava...

Tentou induzir a imagem para que não sentisse tão sozinha, para que não partisse para o outro mundo - se é que havia mesmo um - sozinha.

Deixou uma lágrima a mais escapar e sorriu enquanto apertava mais o revolver no peito e apertava o gatilho.

Tudo ficou negro.

Novamente, tudo escurecia a sua volta na sala de aula.

Adriana estava mais fraca a cada dia, ela própria sabia disso por causa da ideia que teve.

— De novo? - perguntou uma garota amiga de Christina.

A própria Christina ria.

— Está tudo bem com você, Adriana? - perguntou seu professor preocupado.

A garota assentiu e recostou-se no tampo frio da carteira.

Seu mundo inteiro girava.

— Será que alguém pode... - ia começando o professor.

— Não, não. - Adriana fez um esforço enorme para falar, mas não queria ir de novo para a enfermaria. - Já to melhor, não se preocupe.

O professor deu de ombros, ainda lançando um olhar para sua aluna, mas recomeçou a explicação da matéria.

Ao fundo, Christina ainda ria, recostando-se de modo protetor no namorado, que aproveitava cada minuto.

Quando o olhar dos dois se encontraram, Adriana pôde perceber que não havia arrependimento ou preocupação no olhar do garoto.

Ou seja, ele não estava nem um pouco afim dela.

Suas últimas esperanças destroçaram seu coração.

Quando a última aula acabou, Adriana recolheu seu material, mas foi impedida de sair por Christina (e seu grupo de garotas riquinhas e patricinhas!) e por Eduardo.

— Sabe... pessoas que sempre passam mal, geralmente tem coisa. - disse ela indicando gravidez com um gesto de mão.

— Só passo mal por ver sua cara! - respondeu Adriana.

— Olha, quem tá estressadinha!

Adriana bufou e os risos de Eduardo ecoaram pela sala.

— Cuidado, Adri. - ele ria. - E, por favor, garotas, não briguem por mim.

Christina revirou os olhos, mas Adriana lutou para reprimir suas lágrimas.

— Ah... não chora! - ele ainda ria.

Adriana juntou toda a coragem que tinha e deu um tapa no rosto do garoto.

— Se estou chorando, é unicamente por culpa sua, seu idiota. - e então disparou. - Pra você eu só sirvo como válvula de escape, quando essa - indicou Christina - idiota termina com você. Cansei de ser usada por você.

Ela virou de costas parra o grupinho e para Eduardo (que não ria mais, mas tinha ficado pálido). Antes de sair, porém, disse para Christina por sobre o ombro:

— Parabéns, Chris. - ela deu uma risada falsa. - Acho que ganhou o prêmio de mais traída do ano!

E saiu. Chorando.

Quando chegou em casa, decidiu realizar sua ideia maluca.

Jogou a mochila no sofá e foi para o quarto dos pais.

Pegar a arma. A arma que seu pai tinha para proteger sua família em casos de urgência.

Antes que realizasse o ato da morte, pegou uma folha de seu caderno e uma caneta.

Para deixar uma carta de despedidas.

“Queridos mamãe e papai,

Desculpem-me, mas eu não conseguia mais viver assim. Era muita dor para mim aguentar.

Espero que me entendam e não se culpem. Se há verdadeiramente um culpado, sou eu. Sou eu que sou fraca e não aguentei as provas que a vida dá.

Por favor, sigam com suas vidas e, novamente, me desculpem pelo que vou fazê-los sofrer.

Com amor, Adriana.

PS: Digam a Will que eu o amo, que ele era meu melhor amigo e, digam para ele seguir com sua vida adiante também.”

Colocou a carta debaixo de uma flor vermelha, deixando cair uma lágrima na folha.

Essa era apenas mais uma lágrima que chorava por Eduardo.

E não seria a última, pois ela tinha certeza que haveria muitas delas durante o ato de sua morte.

Adriana suspirou e pegou novamente a arma.

Estava pronta.

A garota pôs a arma no peito.

Estava cansada desse mundo perverso que só a fazia sofrer, cansada de chorar por alguém que não a merecia. Cansada dessa vida estúpida que não merecia sua presença.

Ela sabia quais as consequências de seus atos, mas qualquer outra sentença seria melhor do que viver nessa vida perversa que só a fazia sofrer cada dia mais.

Lágrimas escorriam por sua face. Ela não queria chorar. O choro era a demonstração da sua mais forte fraqueza humana.

E ela também não queria dar esse gostinho ao garoto que estragou com sua vida.

Não, ela não viveria mais nesse mundo que toda desilusão para ela era a mais infinita dor.

Como amara aquele garoto! E ele? Nada. Só a usava quando necessitava de companhia. Só a usava quando brigava com a namorada vagabunda dele.

Ela nem o amava de verdade, só estava com ele por causa das aparências, e ele sabia disso, mas mesmo assim ele a amava com todas as forças.

Só que esse amor se transformou em obsessão, bem, não era muito diferente do amor que essa frágil garota aqui retratava.

Como seu ato final.

Ela nunca quis que chegasse a esse ponto, nunca pensou que um amor pudesse ser tão forte.

Claro que a humilhação que ela vinha passando também ajudava na sua depressão.

Além de usá-la, o garoto a humilhara, mesmo sendo ela a garota que sempre o escutou, que dedicou horas do seu tempo ajudando-o.

Foi isso que partira o coração dela.

Essa frieza, essa indiferença.

Ela o amaria para sempre, não podia abster esse amor de seu coração. Nem mesmo a morte poderia fazer isso.

Milagres não aconteciam.

Não na vida dela.

E ela já estava cansada de só sofrer o tempo todo e nunca ganhar nada em troca.

Se acreditava em Deus? A resposta era não.

Já tinha acreditado, mas quando o garoto entrou no colégio só coisas ruins aconteceram, nada de bom.

Nenhum milagre. Só sofrimento. Como Deus estava fazendo isso com ela?

Não, não havia Deus. Só havia duas coisas que agiam contra ela: carma e destino.

Como poderia ela viver assim? Não, nunca, esse mundo não era feito para garotas como ela.

Só os fortes sobreviviam, os fracos eram aniquilados. E ela não era forte.

Acredite, ela tentou. Tentou extravasar todos os sentimentos que sentira por ele, tentara expulsá-lo de sua cabeça, mas sempre que o via, ela voltava à estaca zero.

E toda noite ela sonhava com ele. Com ele despedaçando seu frágil coração, destruindo seus sonhos.

Ela não podia, não queria, mais conviver assim. Sempre chorando.

Decidira que era hora de dar um basta em tudo, em todo o sofrimento.

Fora difícil tomar aquela decisão insana de se matar.

Ela tinha tantos planos para o futuro, tinha uma família amorosa, mas nada disso importava. Ela não ligava, todo seu amor estava em um único ponto.

O garoto.

O destino pregara uma peça cruel com ela, submetendo-a a esse garoto maravilhoso por qual se apaixonou. Talvez o destino estivesse pedindo uma prova de força. Uma prova que ela não conseguia dar.

A garota fechou os olhos e imaginou o garoto, mas uma parte do garoto que não existia.

Imaginou-o sorrindo para ela. Imaginou-o ele aproximando o rosto perfeito do seu. Imaginou-o dando-lhe um beijo delicado em seus lábios vermelhos.

Imaginando-o dizendo que a amava...

Tentou induzir a imagem para que não sentisse tão sozinha, para que não partisse para o outro mundo - se é que havia mesmo um - sozinha.

Deixou uma lágrima a mais escapar e sorriu enquanto apertava mais o revolver no peito e apertava o gatilho.

Tudo ficou negro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram?Espero que sim.Por favoor, deixem seus reviews!Entrem para a campanha: "Deixe um review e faça uma autora loka sorrir e daar pulinhoos!"