Doce Insanidade escrita por Monny


Capítulo 12
Meu mal hábito


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas chegou! ;)



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Ela mantêm os olhos fixos no jornal, está sentada em uma poltrona marrom, parece antiga, meio antiquada... Os olhos claros seguem o
diâmetro do parágrafo. Ela mal consegue acreditar no que está lendo, parece reviver um passado ainda aberto em possibilidades...
Tudo naquele artigo remetia uma história que para ela, ainda não tivera um fechamento.
Foram anos vivendo na sombra de um caso mal sucedido pelo FBI, algo pelo qual ela se culpava constantemente... Gostaria que tudo tivesse sido diferente, muitas coisas poderiam ter mudado, mudado sua posição na Academia... Seus pais estariam orgulhosos agora caso ela o tivesse conseguido...
Clarice Starling, tinha tudo para ter dado certo no caso Buffalo Bill, Ele estáva lá para ajuda-la, mas nada saiu como era o esperado.
Clarice Starling , a ex queridinha de Jack Crawford, uma verdadeira promessa no FBI, agora apenas um borrão na Academia, esguiando-se das possibilidades que não pertenciam mais á ela.
Starling lia o artigo á respeito da fuga de Hannibal Lecter, perguntava-se se deveria se incomodar, se preocupar, se importar... Á tanto o tinha como um mal hábito, um espectro de um ser surreal, fantástico, o qual lhe cedeu um pouco de sua vasta sabedoria em troca de um pouco de sua vida pessoal, desmascarada, entregue em uma bandeja de prata...
Ela sabia que não passara de mais uma vítima de Lecter, sabia também que nunca rejeitara esse 'cargo', pelo contrário, com o passar do tempo convivendo com Ele além 'jaula' ela sentia-se pertencente á vida dele assim como sentia que Lecter pertencia á sua própria.
Chegara a cogitar a possibilidade de ter se apaixonado pelo carisma psicótico e alucinado do doutor, que com maestria, conseguia reger seus sentidos á seu bel prazer.
Clarice estava convicta de que, Hannibal Lecter a procuraria. A procuraria porque ela sabia que ele á desejava á seu modo, doentio, insano, mas a desejava... E, ela queria mesmo isso?? Ou seria só uma ação inconsciente??
Fechou o jornal, colocou-o na mesinha ao lado, afundou-se mais na poltrona e fechou os olhos. Com os olhos fechados voltou á sua época de estrela no FBI, com todas aquelas possibilidades a rondando, com todo o carinho de Jack Crawford disponível para transformá-la em alguém indispensável... Seu futuro teria sido tão diferente se as coisas tivessem acontecido de forma diferente... Starling tem seus pensamentos interrompidos pelo telefone que chamou uma... duas... três... quatro vezes até ela se decidir se atenderia ou não.
– Alô?!
– Starling? Aqui é Jack Crawford, a quanto tempo não a vejo... Creio ter boas notícias. Já está sabendo da fuga de Lecter?
– Sim.
– Temos pistas de onde ele deve estar, creio que o FBI necessite mais uma vez da sua ajuda. Entenda isso como uma segunda chance que muitos creem que você não a mereça. Podemos contar com você?
– Claro.


Hannibal Lecter esgueira-se pelos corredores extensos de Florença, são tantos turistas, tantas compras, tantos aromas e tanta gente repudiosa num lugar tão cheio de tudo. Lecter observa com seus olhos pequenos, faíscados de vermelho, a moça com o longo vestido bege do outro lado da calçada. Enquanto caminha, parece flutuar entre a multidão, há um brilho nela que a faz perambular sinuosamente de frente as lojas. Ela tem aroma de cerejas frescas respingadas por vinho branco e salpicadas por canela... O cheiro dela é nupcioso, sexual, delicioso. Hannibal caminha devagar sem tirar os olhos dela que afasta o cabelo do rosto toda vez que a brisa italiana tenta brincar.

Ayelleen usa um de seus vestidos preferidos, é leve, romântico, delicado... Esvoassa com a brisa, tem peso e caimento onde devem ter, a transforma em uma mulher sensual, elegante. Quando caminha, a barra rendada do vestido toca o peito nu de seus pés. É um vestido daqueles que nunca está na vitrine, é criado para ser único, feito a mão, detalhado, caprichado, individual.
É um vestido bege que mescla a seda, com o bordado, com a renda... A união perfeita de símbolos que juntos se transformam em uma obra de arte. Ela exala um perfume fechado, exuberante de cerejas, canela e vinho. Um perfume feito para ela, assim como o vestido.
Ayelleen aprendeu á prezar os detalhes do bom gosto quando visitava Hannibal Lecter na prisão, em Baltimore. Seus requintes se tornaram muito inerentes aos dele, diferenciados somente por um gosto preferencial ao bege, ao rosê, ao salmon.
Naquele momento, Ayelleen passeava na frente das joalherias, o cabelo dançava com a brisa e o sol incomodava um pouco seus olhos claros. Ela era linda em qualquer época, andando rápido ou devagar, se esquivando da multidão, sorrindo para cachorros de rua,
recebendo flores de floristas em suas bicicletas... Ela era a beleza pura ornamentada em um único ser humano e não existe quem poderia dizer o contrário. Mas Ayelleen não passeava com felicidade, passeava com angústia... Sentiu que seu amado Hannibal Lecter escondia algo dela, ele poderia lhe mandar milhões de flores com milhões de bilhetes mas, a expressão no rosto dele na noite passada após seu momento de amor, não fora o que ela esperava... Ela começou então a vasculhar sua memória, lembrou das vagas vezes que ele lhe falou sobre o fracassado caso Buffalo Bill... Quem mesmo pediu ajuda á ele?? Ester... Star... Starling!! Sim, uma tal Clarice Starling que o fazia
falar num tom diferente, com uma expressão diferente, uma expressão distante... de saudade...
Sim, era uma ponta de ciumes. Talvez a ponta afiada de uma lança de ciumes. Era ciumes porque ela o amava e não conseguiria lidar com o fato de existir alguem nos pensamentos dele além dela. Ayelleen agora caminhava de maneira diferente, uma maneira pesada, segura, séria; não desviava mais da multidão, batia de ombros, não pedia desculpas, o olhar fixo á sua frente e assim seria com qualquer um que cruzasse seu caminho principalmente alguém que ousasse trazer á tona um passado de seu amado que não deveria existir. Não deveria.


Hannibal perdeu Ayelleen de vista. Por um momento se perdeu em alguns pensamentos não com ela mas com Clarice... Por um breve momento lembrou de seu jeito caipira, dos carneiros, da súplica presente no olhar dela implorando por sua ajuda... Clarice estáva anos atrás de Ayelleen, provavelmente jamais chegaria á ter um punhado de sua elegância, bom gosto... A personalidade de Clarice era chata, influenciável, vazia... Mas o vazio dela poderia ser preenchido com o que ele quisesse e isso era deveras, fascinante. Hannibal imaginou o que Clarice estaria fazendo naquele exato momento, imaginou como ela teria reagido quando os jornais anunciaram sua fuga... Estaria agora planejando algo? Estaria... Sob a mira do FBI para reconquistar a confiança de Jack Crawford? Ah! Ele estava curioso e ansioso por um sinal, menor que fosse.
Ele sorriu para si mesmo, atravessou a rua e reencontrou Ayelleen entrando na confeitaria, tocou em seu braço e sorriu, Ayelleen não fez o mesmo, mas segurou em seu braço e entraram juntos. Hannibal estranhou a expressão séria de Ayelleen mas ela não fez questão alguma de muda-la, estava indiferente e permaneceu na indiferença até o fim da torta de uvas verdes tirando de Hannibal um ponto de dúvida num olhar sério.

Clarice Starling não imaginava que um dia Jack Crawford voltaria a se lembrar dela como uma possível fonte de ajuda. Ela, hoje, era só uma sombra, uma sombra que voltaria á ser alguém se as coisas ocorressem da maneira certa dessa vez mas ela estava confusa com os sentimentos conflitantes que se mostravam presentes no momento.
Clarice deu um gole do copo de uísque da mesinha enquanto olhava para a caixa onde guardava seu passado no FBI, um passado que teria lhe proporcionado um futuro brilhante...
– Você de novo... Pois bem Dr. Lecter, acho que chegou a hora de nos encontrarmos de novo, pela última vez.

Última??...


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