Acho que sou idiota. Na verdade, eu sou o maior dos idiotas. E ainda por cima estava cansado. Terrivelmente cansado de ser um idiota. Mas eu não podia desistir agora. Eu tinha chegado até ali, eu tinha estragado minha vida, minhas amizades, meu... meu único amor. O que eu tinha? O que eu tinha pra não continuar?

Me aproximei do Rio Estige e ele me parecia um rio normal, a não ser é claro, pelo que eu sei que ele podia fazer comigo. Ele poderia me deixar imortal para que Cronos pudesse me usar. Usar. Não era muito diferente do que os deuses faziam comigo? Eu queria, eu precisava de vingança. Eu precisava destrui-los pelo o que eles haviam feito na minha vida e na vida dela.

- Ande logo, Luke! - a voz de Ethan Nakamura que estivera calado até ali chegou ao meus ouvidos como uma faca me perfurando.

- Eu já vou, Nakamura! 

- Mestre Cronos já deve estar impaciente, então se apresse!

- Eu já vou Nakamura, você não ouviu o que eu acabei de falar?

Suspirei, pensando para quem eu rezaria quando estivesse lá embaixo. Cronos me dissera que eu deveria manter algo na minha mente, algo como se fosse um fio para me manter ligado a terra. Mas o que eu amava, eu já abandonara. Tentei tirar esse pensamento da minha cabeça e me concentrei no meu ponto vulnerável. Cronos me dissera que eu deveria escolher um pedaço embaixo do meu braço esquerdo. Eu o faria. "Concentre-se, Luke!" Então me joguei.

A dor era terrível. Era pior do que tudo que eu havia experimentado era terrível como se estivesse sendo queimado vivo. Eu não conseguia nadar, não conseguia chegar a superfície, não conseguia  respirar. Já estava ficando tonto, quando vieram outras imagens na minha cabeça. Imagens que me provocam dor, imagens que eu queria e deveria apagar de minha mente. Minha mãe berrando que eu estava em perigo com aqueles olhos verdes que sempre me aterrorizavam, Hermes dizendo que se preocupava comigo e que me amava, Annabeth lutando com os monstros, sua estatura tão pequena, tão criança e seus olhos cinzentos ardiam quando brandia a faca que eu havia lhe dado. E eu afundava nessas imagens, afundava, afundava...

- Luke? Luke, seu idiota, vem aqui em cima agora! - a voz de uma garota furiosa ressou. Não era apenas uma garota furiosa, era ela - Dá pra você subir agora, Castellan? Eu não quero ficar aqui esperando e você sabe como eu odeio esperar!

Olhei para cima e vi uma Thalia furiosa. Seus olhos azuis soltavam faiscais, suas roupas punks estavam limpas e não amassadas, como na ultima vez que eu a vira e ela estava incrivelmente mais bonita que já era. Não pude deixar meu coração se encher de energia renovada para que eu pudesse chegar perto dela. Ela se ajoelhou na beirada do rio e mostrou o dedo do meio. Mas quando falou sua voz não estava mais tão furiosa, estava calma, sarcástica e aparentemente... doce.

- Sobe agora, Castellan.

E me oferecou a mão. 

E eu subi. 

Tudo que pudesse me levar até Thalia, eu faria. Tudo.

Emergi das águas, tossindo e arfando. Ethan apressou-se em me ajudar, recuando logo depois.

- Caramba, eu pensei que você tivesse morrido! E você está quente, olha a cor da sua pele...

Olhei para os lados procurando Thalia enquanto Ethan continuava a falar assombrado. Pra que me enganar? Eu sabia que ela não estaria ali. Ela fora a corda que me salvara. Que sempre me salvaria. Meus olhos se encheram de lágrimas durante alguns instantes, mas eu não podia chorar na frente de Ethan que é claro reparou nisso.

- A dor deve ser terrível né? Bom, vamos agora, você consegue andar? Eu posso te ajudar. Mestre Cronos já deve estar bem impaciente com nossa demora.

Me levantei com a ajuda de Ethan e fomos de volta para Cronos.
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- Vocês demoraram - disse a voz fria e gelada do caixão - Pode nos deixar, Nakamura.

Ethan se curvou torto e saiu logo em seguida. Só ficamos eu e Cronos na sala.

- Me desculpe meu senhor. Eu fui o motivo do atrasado.

- Espero que tenha se banhado e não tenha dado uma de covarde, Castellan.

- Não meu senhor. Fiz o que deveria ser feito.

- Então, você não se provou um tolo total - disse Cronos, dando uma risada - Venha até aqui Castellan e realize sua missão.

Engoli em seco. Eu ainda estava pensando na minha visão de Thalia.

- Qual o problema? Quer conversar sobre a visão da sua namorada?

- Como você...

- Como eu sei? Seu tolo, eu sou um titã. Um titã poderoso.

- Me desculpe pelas minhas fraquezas meu senhor.

- Não é hora para desculpas. Venha para cá, Castellan, agora!

Subi o altar até onde estava o caixão dourado e coloquei minhas mãos na tampa. No mesmo momento, me lembrei de Thalia com a lança no meu pescoço, me encarando e dizendo furiosamente:

- Ele é um traidor, Annabeth! Um traidor!

- Ah, o amor! - disse Cronos, talvez vendo a mesma visão que eu tinha - Um sentimento tão puro e bobo. Você ofereceu um lugar para ela conosco, mas ela não aceitou Luke. Agora vamos levante essa tampa e começaremos uma nova era dos Titãs!

Outras lembranças: Thalia dando a vida para nos salvar. Eu envenenando sua árvore. Era assim que eu retribuia a pessoa que amava?

- Castellan?

Eu estava imóvel, respirando ruidosamente. Eu não poderia, eu não iria. Eu não podia traí-la desse jeito. Então, eu dei meia volta e corri.

- CASTELLAN? CASTELLAN! DETENHAM-NO!

Eu corria em direção oposta a Cronos, corria contra ele, eu iria me juntar a Thalia, sim eu provaria para ela que não era mal. Eu iria voltar a cuidar de Annabeth, pediria perdão para Percy, meu pai, Silena e todos aqueles que eu tinha prejudicado. Antes, porém que eu chegasse a porta, dois gigantes me seguraram. Eu era forte, mas nem tanto para me livrar deles.

- ME SOLTEM! - Cronos ria.

- Você achava realmente seu idiota, que eu deixaria você fugir assim, meu hospedeiro?

 - ME SOLTEM!

- Não Castellan. Seu corpo agora é meu para sempre.

- Thalia, Thalia... - sussurei.

Os gigantes me colocaram em frente ao caixão me segurando fortemente, até que um monstro que eu nem reparei o que era se aproximou do caixão.

- Sabe Castellan, mesmo desistindo de mim, mesmo fugindo para se encontrar com essa meio-sangue nada iria adiantar, sabe o porquê? Ela se tornou uma Caçadora de Artémis. Isso quer dizer que mesmo você querendo, ela não poderia ficar mais com você. 

Endureci, parando com as tentativas de me soltar. Thalia havia virado uma caçadora? Por quê? 

- Agora abram o caixão.

- ESPERA! - berrei - Espera, porque ela se tornaria uma caçadora? Thalia odiava as caçadoras, porque se tornar uma?

- Oras Castellan, pense: Porque Thalia Grace se tornaria uma caçadora?

- Por causa... por minha causa? - Cronos riu a resposta

- Ela desistiu de você. Desistiu de você como você desistiu dela, seu tolo.

Um momento de silêncio enquando eu meditava sobre essas palavras. Eu não fiquei infeliz. Na verdade, eu estava feliz porque eu queria que Thalia fosse feliz. Se ela estava feliz sendo uma caçadora, longe de mim, eu estaria feliz. Eu ficaria feliz por ela em qualquer lugar que eu estivesse.

- Abram o caixão! - ordenou Cronos.

Eu queria que Thalia soubesse. Eu precisava que Thalia soubesse. Enquanto via as mãos do monstro arrastarem a pesada tampa dourada, murmurei comigo mesmo:

- Pai... se você me ama mesmo, faça Thalia saber essa mensagem. Diga a Thalia que... que eu a amo. Que estarei esperando por ela, onde quer que eu esteja.

Um clarão dourado e tudo escureceu.