Havia chovido um pouco. As ruas estavam lindas. Bem delineadas. Escuras. O asfalto estava prestes a vê-lo.

E lá estava ele. Bolsa às costas. Tênis, calça jeans e camisa de mangas compridas. Jaqueta enfiada em um dos braços.

- Está pronto pra mais um pouco de emoção, Lenk? - falou um conhecido do, agora, "antigo" ensino médio.

- É. Mais um. - respondeu sem muito entusiasmo.

- Mas, e as garotas?

A baixa auto-estima em pessoa falando: Como se ele tivesse alguma chance... Era melhor ficar calado mesmo. Correr pra sala e esquecer esse papinho de "aspirante" todo.

- É. Mais um. - respondeu desconexamente.

- Mais um, o quê? - confundiu-se o indagante.

- Mais um degrau que eu tenho que subir. - riu.

As turmas todas avisadas. Viria aí o primeiro desconhecido a dar as boas vindas na sala de aula.

É que ontem já havia tido uma recepção fora do "campus".

Poderiam perguntar-me: Então por que a impressão de primeiro dia?

Respondo, caros leitores. Foi por isso que eu, "praticamente", comecei com as falas, lembram?: Está pronto pra mais um pouco de emoção, Lenk?

Aaah... Lembroou. Não foi?

Bem, o clima estava bom. Não sei se dentro da sala tanto assim. Vou dar uma olhadela:

Sim, está bom. O Jonas é que não se dá conta de algumas garotas que olham* pra ele aí.

- Como se chama? - indagou alguém querendo puxar papo.

Ele não ouviu. Nunca ouve coisas favoráveis. Não que nunca "houvesse". Ele é que não ouve. Nunca "houve dado" atenção! Ou melhor, houvera.

 "Não vejo ninguém conhecido aqui. O carinha que puxou conversa na entrada está em outro curso, e agora?" (vinha pensando coisas absurdas desse tipo).

Agora?! Agora é botar pra ferver. Se solta! A coisa toda é mais que ficar dando uma de fracassado e olvidar por querer as chances que te aguardam.

Mas ele não estava animado como o escritor aqui se mostra.

O que você diria a ele* uma hora dessas?

(*Usei o asterisco pra indicar que sei que a forma certa seria "Dir-lho-ia" (como antes "o olham"), mas eu não vou formalizar tanto assim a história senão a linguagem ficará forçada, perderá a fluência. Os moderadores do site que me perdoem, por favor.)

Bem, voltando ao assunto... O que dirias?

Penso que você, mais descolado, diria: Ah, vai te catar, moleque! Arruma logo uma gata aí! A chapa tá quente! E "tu" vai gelar, é?

Outros mais corteses sei que diriam: Vai, rapaz, eu acredito em você!

A sala estava cheia, é verdade. Ele tinha algumas garotas ao seu favor. Mas aquela booolsa... Hum... Não sei não...

Tinha que tentar demonstrar estar à vontade. Mas não estava à vontade. O que ia fazer? Dramatizar?

Nesta hora alguns diriam: É! É mesmo isso que eu estava pensando!

Mas o Jonas não é daqueles que se contentam em não ser aquilo que de fato sempre foram. Ele é calado. Não chato, só calado. Gosta de ler romances, tipo Lad Lit's em casa e sonhar que sua vida vai mudar um dia.

Mudar o quê? Nada precisa mudar. Bem, uma coisinha só. A forma de encarar a vida.

- E aí, rapaz? - puxando assunto um colega de classe.

- Mais um, né? - falou meio que sem se dar conta nem do que falava direito.

- Mais um mesmo! - repetiu o outro, mesmo nem sabendo do que se tratava.

- Hum... - o Jonas balançou a cabeça.

Daquele jeito o menino não iria descobrir nunca do que se tratava afinal a conversa. Que papo era aquele? Que coisa ele queria dizer mesmo?

Nem ele sabia. Digo "ele", ele o Jonas... Ou ele o menino... Tanto faz. Ninguém sabia mesmo.

Tinha uma gatinha sentada do lado dele. O carinha do lado atiçou. Ele estava tranqüilo demais. Não porque fosse desenrolado. Nada disso, mais por ser mais um zé roela... Perdoem-se... Um cara pouco experiente. Pouco? Um cara totalmente inexperiente!

Mas ainda haveria muitos dias pra consertar isso tudo.

- Oi, Jonas. Esse é o seu nome, não é? - falou toda receptiva uma garota que nem eu vi de que carteira se levantou...

* Bem, nos vemos no próximo capítulo. Fica aí com seus pensamentos... Pode ser que eles estejam certos mesmo.

Aqui. Lad Lit. Um abraço.