POV Darkness

As últimas gotas de chuva que caiam sobre mim, molhavam agora a minha camisola
negra.

Provavelmente, a minha aula de Biologia já devia ter começado e Light estaria a ter a sua aula, com o seu vasto grupo de amigos...

Light... o rapaz de branco. O moreno estrutural e brincalhão a quem tinha chamado LITERALMENTE aberração...

Raios!  Ele ocupava a minha mente muito mais do que o necessário.

Nem sequer o conhecia! Frequentava aquela escola há 3 anos e nunca o vira... Nem sequer ouvira o seu nome.

Light... O contrário de Dark ou Darkness...

O contrário de mim.

O facto de ele se ter sentado a meu lado, ter falado comigo, pedido um novo
encontro ainda me chocava.

Porque raio alguém faria isso? Porque raio alguém se aproximaria da rapariga mais estranha da escola?

Um vulto vestido de negro ziguezagueava perto dali e eu observei-o, tentando descobrir quem era. Constatei instantaneamente que se tratava da 2ª rapariga mais estranha da escola...

Ela tinha apenas um vestido azul-escuro, um par de botas negras e um casaco negro de cabedal. Todas as peças eram aparentemente novas.

Nós as duas e mais algumas pessoas éramos as “aberrações” da escola. As “anti-sociais”, as “miúdas esquisitas”, as “vestidas de negro”...

Todos estes nomes faziam qualquer um afastar-se de nós, mesmo antes de saber o nosso nome verdadeiro.

Toda a gente menos Light, está visto...

Ao contrário do que é representado em alguns filmes, as “miúdas esquisitas” não andam em grupo e tentam fazer de tudo para mudar o que são. Muito pelo contrário...

As “miúdas esquisitas” apenas procuram uma coisa: Paz.

E isso é algo difícil de encontrar.

Curiosa, observei a rapariga à minha frente. Tal como eu, ela não ligava aos comentários que eram feitos e não precisava de ninguém. Ela também não parecia deprimida com o seu nome...

Death observava cuidadosamente uma árvore que estava em frente à qual eu estava encostada. Estava mais ou menos a 7 metros de mim e eu rezei para que ela não se lembrasse de ir perscrutar todas as árvores do recinto. Não queria ser mal-educada com ela, nem aturar conversas.

Se ela era amiga de Light, então não queria mesmo fala com ela.

O sorriso de Light reapareceu na minha mente e eu senti uma grande dor de cabeça a aproximar-se.

Gemi baixinho, perguntando-me porque raio a minha mente gostava tanto de me torturar.

Olhei de novo para Death e desta vez, ela não estava a olhar para a árvore mas para umas flores que estavam perto dos seus pés. As flores pareciam apenas ervas, vistas daqui...

Algo que merecia ser arrancado da Terra... tal como eu.

Por momentos, questionei-me quanto tempo daria para ir até casa e voltar e não perder nenhuma aula...

De certa forma, a ideia de ir até casa não era animadora...

Entrar naquela casa todos os dias era uma tortura física e emocional... Por outro lado, tinha arranjado uma forma de me conseguir abstrair de tudo quando lá
estava. E como já tinham passado 5 dias desde a última vez, estava finalmente
na altura de fazer um favor a mim própria.

Antes de me levantar, o meu olhar dirigiu-se para Death, que também estava a observar-me.

Alarmada, estaquei e engoli em seco.

Death ergueu-se sem tirar os olhos de mim e sorriu-me como se tivesse estado a ouvir todos os meus pensamentos e me tivesse compreendido.

Eu pestanejei freneticamente e antes que conseguisse fazer algo, Death afastou-se, saltitando até ao edifício à nossa direita...

Assim que voltei a raciocinar, levantei-me de um salto e corri até à portaria,
pensando que desculpa daria ao porteiro para que me deixasse ir até casa...