No Olimpo

  Todos os Deuses estavam reunidos no amplo palácio do Olimpo, deliciavam-se do bom vinho e ouviam a boa música que era tocada pelas ninfas. Zeus recebia os cumprimentos por mais um ano de sua união com Hera, o que visto por alguns Deuses, mais parecia um tipo de circo já que Hera fora frequentemente traída pelo marido. Poseidon, conversava alegremente com Dionísio e Hermes, sempre mantendo-se ao lado de sua esposa Anfitrite, uma bela mulher de cabelos castanhos e olhos azuis como a água do mais puro dos oceanos. Apenas Hades mantinha-se calado, observando a vista noturna do Olimpo, enquanto segurava em sua mão direita uma taça de vinho.

  Ele usava uma vestimenta negra e seus olhos estavam extremamente azuis, não como água, e sim como gelo. Zeus fitou o irmão de longe, e até considerou ir falar com ele, mas desistiu quando viu que outra criatura iria fazê-lo.

  De longe ela parecia uma criança, tinha os cabelos louros presos em uma trança, e apenas uma ou duas mexas mais curtas ousavam desabar por sua face, seus olhos eram contornados por um fino traço preto, seu corpo, coberto por um vestido rosado, da mesma cor que os belos lábios dela. Zeus ficou parado, observando perplexo sua filha Córe, aproximar-se do Senhor do Submundo, lógicamente que a Deusa das Flores não conhecia o fato daquele homem ser Hades, era tão ingênua, que não conseguiria ver maldade nem no pior dos seres humanos. Córe parou a alguns passos de Hades, que sentiu a presença de alguma divindade e virou-se para ver de quem se tratava.

  Tamanha foi sua surpresa ao mirar seus olhos nas belas íris azuladas da Deusa, analisando minuciosamente cada parte de seu corpo, dando assim, um sorriso involuntário, que encorajou a Córe a sorrir também.

- O senhor não me parece muito bem... – a voz dela era mais bela do que Hades imaginava, era como a voz de uma mulher misturada a de uma criança.

- Eu não estou. – Ele disse friamente, aquelas palavras fariam gelar a alma de um mortal.

- O senhor deseja algo? – Ela continuou, determinada a descobrir o que atormentava aquele Deus.

- Dance comigo. – Ele respondeu, aproximando-se dela, de uma forma que ele chegou a sentir a respiração acelerada que vinha do corpo de Córe.

  A Deusa da Primavera apenas assentiu, olhando ao redor, procurando pela figura de sua mãe. Mas não encontrou nada. Apenas Zeus olhava-os de uma forma curiosa, e quando seu olhar encontrou os olhos cor de relâmpago dele, viu neles algo como um encorajamento. Ela voltou a olhar Hades, sem nem ao menor saber quem ele era, pousou a mão esquerda em seu ombro, e levantou a mão direita, que logo fora amparada por uma das mãos de Hades, enquanto a outra enlaçava a cintura da Deusa.

 A música começou leve, embalando ambos em uma dança calma e controlada. Hades mantinha o olhar firme ao da pela Deusa Córe, esta mesma, exibia um sorriso doce e acolhedor, todos os demais deuses observavam tentando esconder suas faces de espanto, enquanto Córe e Hades dançavam despreocupadamente ao som de uma doce melodia. Dionísio e Apolo ficavam em um dos cantos do vasto salão, ambos seguravam um cálice de vinho, e o bebiam com uma clara expressão de desgosto, enquanto observavam aquela que eles gostariam de ter como esposa, dançar nos braços de outro homem.

  Poseidon aproximou-se de Zeus, que assistia a cena escondendo uma pontada de felicidade.

 - Isso parece não lhe incomodar irmão – Poseidon disse, observando Zeus.

- E não incomoda – Zeus disse, dando um gole em sua bebida, enquanto Poseidon o olhava confuso – Veja por um lado irmão, Hades parece ter encontrado alguém que o encante, e esta pessoa parece correspondê-lo.

- Córe não sabe quem ele é.

  Zeus assentiu ao ouvir as palavras do irmão, mas isso não o abalou na esperança de haver um romance entre Córe e Hades.

- Ela sabe que ele é do Hades, e não do Olimpo – Zeus disse, fitando o irmão.

- Mas não sabe que ele é o próprio Hades! – Poseidon ergueu seu tom de voz, o que chamou a atenção de outros deuses que estavam por perto.

 - E qual a importância que isto tem meu irmão? Por um acaso esta pertencendo ao pequeno grupo de Apolo e Dionísio? – Zeus disse contento o riso.

  Poseidon bufou, ignorando completamente o comentário.

- Você sabe irmão, que alguém não iria se agradar em Córe ser Rainha de Hades.

- Deméter.

- Exatamente, irmão. – Poseidon assentiu as palavras de Zeus.

- Está preocupado com o que Deméter pensa ou se ela ainda continuaria banhando-se com você depois que a filha for para o Submundo? – Zeus provocou.

  Poseidon trincou os dentes, e apenas se retirou da companhia de Zeus, estava farto das piadinhas do irmão.

  Aos poucos os deuses iam se acostumando com Hades e Córe dançando pelo salão, e iam juntar-se a eles gradativamente. Hades observava a deusa em seus braços, escondendo um largo sorriso de satisfação, seus pensamentos voavam pelo belo rosto dela.

- Gostaria de dar um passeio pelo jardim, Córe? – Hades perguntou a ela, que ficou um pouco espantada pelo fato dele saber seu nome, mesmo assim, ela assentindo, sorrindo inocentemente.

  Hades segurou na mão direita de Córe, conduzindo-a para o lado de fora do palácio. Chegaram a certa altura, que a música parecia apenas um ruído abafado. Estavam sozinhos no jardim. Hades pegou uma das rosas que crescia no jardim, sem arrancá-la de seu caule, ele sentiu sua textura.

 - Deusa das Flores – ele disse, pela primeira vez sorrindo para Córe, ainda que seja discretamente.

  Ela assentiu, aproximando-se de Hades, até ficar ao lado dele e tocar a mesma rosa que estivera nas mãos do Deus do Submundo a alguns segundos atrás. Hades retirou uma mexa do cabelo da deusa, que atravessava o rosto da mesma, fazendo assim o contorno da face dela com o dedo indicador.

  Aos poucos, ele ia aproximando sua face da dela, até poder roçar seus lábios nos de Córe, causando nela um arrepio que percorreu toda a sua espinha. Hades colocou seus braços ao redor da cintura da deusa, puxando-a mais e mais para perto de si, e dando inicio a um beijo completamente apaixonado.