Maré Vermelha escrita por Re_mione


Capítulo 11
CAPÍTULO XI – DRAMAS PESSOAIS




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Bella estava sentada na mesa da cozinha conversando com Raquel, Paul estava com Billy na sala acompanhando o jogo na TV, Nessie estava sentada na escadaria da varanda, tinha o queixo sobre os braços cruzados, apoiados sobre seus joelhos. Ela contemplava o horizonte pensativa, a tarde já caía e o sol baixo escondia-se atrás das nuvens que se espalhavam sobre o céu azulado como se fossem chumaços de algodão desmanchando-se com o rolar do vento.

Não podia compreender porque sua mãe estava tão certa de que Jake realmente voltaria, claro que o descaramento dela em telefonar para Leah e praticamente exigir que fizesse alguma coisa dava-lhe certa dose de autoconfiança, mas  a falta de notícias a estava deixando preocupada, na verdade, quase desesperançada. Desde que se lembrava ele nunca a deixou sem notícias e dessa vez ele partiu e sequer lhe deu um telefonema. Por mais que ela soubesse que em anos atrás Jacob havia partido devido ao casamento de seus pais, a relação entre eles era diferente, passaram meses sem se ver, mas nunca ela ficou sem notícias dele, sempre sabia onde e como encontrá-lo... e agora isso! Ao mesmo tempo, perguntava-se porque nutria por ele esse sentimento de posse... – “Será que tipo... tenho direito de querer que ele me dê notícias? Ele é maior, vacinado, faz da vida dele o que quiser!” – Mas mau ela completava esses pensamentos e já estava ruminando outros... “Quer saber... ele não pode dispor da minha vida assim... tem dívidas comigo! Onde você está Jake... onde?” Mas a conversa interna de Nessie logo teve um fim.

Paul e Bella foram os primeiros a perceber a aproximação de Jake, Bella torceu o nariz fazendo uma horrível cara de nojo, mas contraditoriamente a sua fisionomia, seguiu-se um suspiro de alívio. Em seguida, Nessie também percebeu e imediatamente levantou-se, Jake ainda não tinha saído de entre as árvores, mas ao perceber a presença dela sentiu-se invadido por uma inexplicável sensação de conforto, esse era um sentimento novo, era ele quem normalmente fazia-a sentir-se confortável e protegida... – “Que outros sentimentos mais surgirão entre nós? Será que um dia ela será capaz de me amar como homem, como Leah me ama?” – Jacob não pôde evitar o pensamento.  Mas, pelo menos naquele momento, o conflito foi providencial... foram os segundos que ele precisou para notar que Nessie começava caminhar em sua direção e para esconder sua nudez, deixou que o lobo surgisse. Então, lançou-se numa corrida até ela e no meio do caminho alcançaram-se, ela abraçou o lobo enorme e apesar de ela estar em pé, ainda assim ele era muito maior. O pranto rolou sobre seu rosto inundando os pêlos do pescoço dele.

- Não faça isso comigo nunca mais, não me torture dessa maneira, foram os dois dias mais longos da minha vida! – Tocou-lhe a enorme cara para que ele pudesse ver cada uma de suas memórias desses dias, ela sabia muito bem como vingar-se.

Imediatamente a dor atravessou os olhos do lobo e ele abaixou a cabeça envergonhado.

- Desculpe, desculpe, desculpe... – ela arrependera-se. – Fiquei com raiva, tive medo de nunca mais vê-lo. E levantou a cabeça do lobo olhando em seus olhos ternamente, mas essa mesma ternura foi totalmente dissipada quando ela percebeu o papel amarrotado e sujo que ele ainda levava na boca. – O que é isso Jake?  É a maldita carta não é?!

Jacob abaixou a cara desajeitado.

            - Vai continuar nessa “depre”? – Nessie perguntou irritada. – Olha como você está péssimo! Está sujo, todo desgrenhado e perdeu peso. – Constatou incrédula. – Ficou sem caçar? Está sem comer faz dois dias? Inacreditável Jacob Black! Tipo assim, você tem alguma tendência suicida? – Ela agora quase gritava, explodiu em ira e sustentou os olhos tristes do lobo segurando com força os pêlos da lateral do seu pescoço.

            - Ness! – O tom de Bella era de repreensão. – Pare de agredi-lo, filha!

            A adolescente dentro do corpo de mulher desmoronou em soluços altos, um misto de amor, alívio e ódio haviam lhe tomado completamente, estava vivendo as emoções tão intensamente que estouravam de seu peito sem que ela sequer pudesse controlá-las.

            - Hey Jake! – Paul sabia exatamente o que Jacob precisava naquele momento e atirou-lhe uma bermuda.

Jacob pulou abocanhando-a, deixando que a carta caísse. Nessie favorecida pelos seus instintos vampiros apanhou-a rapidamente, ainda no ar, não deixaria a oportunidade escapar nem por toda vergonha que pudesse lhe causar depois.

Apesar dos olhares repreensivos que caíram sobre ela, Ness desamarrotou a carta e começou a ler e antes que pudesse terminar Jake já estava ao seu lado. Ao terminar, em meio a lágrimas, ela espalmou a carta nervosamente contra o peito desnudo dele e vociferou:

- Acho que isso lhe pertence!

Ele então colocou sua mão sobre a dela e antes que Ness pudesse reagir segurou-a sobre seu peito.

- Eu sei que você está com raiva de mim... eu sinto muito... mas não consegui...

- Desculpe Jacob, mas eu não posso entender o por quê de todo esse estrago? –Sua voz continuava ácida.

- Isso porque você não conhece a história toda... ainda... – Ele explicou.

Desconfiada e magoada atirou-lhe duramente:

- Quantas coisas mais eu ainda não sei sobre você? 

- Controladora... como seu pai... – Beijou-lhe a testa, carinhosamente compreensivo e emendou. – É uma triste história... não minha, da Leah.

- Adoro dramas! – O sarcasmo lhe atravessando a voz. – Mas sou paciente, sou capaz de esperar até que você tome um banho e coma alguma coisa.

- Rapidamente, suponho! – Jake falou sorrindo do jeito autoritário de Nessie.

- Suposição correta. Aguardarei na varanda.

- Não farei com que espere muito mais! – Dizendo isso correu até a casa, deu um beijo na testa de Bella, abraçou fortemente sua irmã e seu pai e agradeceu a compreensão do cunhado sorrindo e acenando-lhe afirmativamente com a cabeça.

******    

Num aparente sossego, deitada na rede da varanda Nessie balançava-se lentamente olhando a luz das primeiras estrelas surgirem no céu da noite que caía serena, mas clandestinamente aquela manifesta paz segredava rasgões de sentimentos. Então, trazido pelo vento sentiu um aroma adstringente e refrescante de aloés que lhe acariciou o rosto, era dele que vinha aquele agradável e inebriante perfume que na antiguidade escondeu o segredo da beleza de Cleópatra, ela não entendia como os vampiros o sentiam diferente, era majestoso e entorpecia seus sentidos, intimamente agradecia por ser diferente de seus pais.

Jacob aproximou-se e passou por baixo da rede ficando de frente para ela. Os cabelos úmidos brilhavam ao luar e seu vigoroso corpo de pele morena aveludada trazia em si a força do sol. Nessie constrangia-se diante de seus pensamentos: “Como pode ser tão lindo... tão luminoso! Toda essa sensualidade é quase obscena!” – Mas hoje ela não o adularia com lisonjas, ele não merecia e escolheu as palavras cuidadosamente:

- Assim está bem melhor, mais corado, precisava de por alimento para dentro!

- Você tem se revelado adoravelmente impetuosa e irascível nos últimos tempos, sabia?!

- Não pense que vou facilitar as coisas para você Jacob Black, não vou “me dobrar” ao seu joguinho sedutor! – Mas era tudo “da boca pra fora”, internamente seus pensamentos a corroíam. – “Por que ele tem que ser sempre assim tão nobre? Até para criticar ele se faz agradável? Aiiii que ódio de mim mesma, eu não consigo sentir raiva dele!”

Jacob levantou seus braços e deu um passo para trás, fingindo uma atitude defensiva.

- Ok, já entendi, está mesmo brava! Mas ao menos você poderia me dar à chance de um julgamento justo ou já fui condenado!

- Diante do fato de você ser réu primário lhe concederei o direito de defesa! – E estendeu sua mão para que ele viesse sentar-se ao seu lado.

Dentro da casa sorrisinhos maliciosos e piscadas de um para o outro denunciavam que todos ali prestavam atenção a conversa dos dois.

Jacob sentou-se na rede e fez menção de puxar Nessie para mais perto de si... mas divertindo-se perguntou:

- Posso?

- E se eu disser que não! – Respondeu provocativa.

- Farei do mesmo jeito! – E trouxe-a carinhosamente para seus braços.

Sorriram e Nessie aconchegou-se sobre seu peito. Ficaram assim por alguns minutos desfrutando do calor que a aproximação de seus corpos lhes trazia. Mas ela não pôde aguentar por muito tempo calada:

- E então Jake... agora você acredita em mim? Ou continua achando que eu vejo coisas onde não existem?!

- Eu realmente não quis acreditar Ness... é insuportável saber que sou responsável por fazer sofrer o coração de quem não merece, se eu pudesse impedir, Leah  seria a pessoa no mundo a quem eu nunca imporia essa dor.

- Afinal qual a misteriosa história?

- Leah já foi muito apaixonada ela amou muito um homem... Sam!

- Sam??? O Sam da Emily?

- O próprio... eles namoravam há muito tempo e estavam felizes juntos, até que Sam conheceu Emily e as coisas mudaram entre eles... Bella nunca lhe contou essa história?

- Não... também até dois dias atrás não era algo que dizia muito respeito a nenhum de nós!

- Pois então... você não faz idéia o sofrimento dela, parecia que tinham lhe arrancado a vida! Demorou muito até que ela se recuperasse, quer dizer, até que ela se habituasse, porque na verdade, ela nunca lidou muito bem com essa rejeição. E a situação piorou ainda mais depois que o lobo se manifestou nela também, ser a única mulher e pertencer a matilha de Sam a amargurou ainda mais, a gota d’água foi quando ela se descobriu, como ela mesmo se auto-denomina, um beco genético...

- Beco genético?

- É Ness, assim como Alice e Rosalie e agora também a sua mãe, Leah não pode ter filhos, seu corpo está estacionado, não se desenvolve, não se transforma e a maternidade exige mudanças que o corpo de nenhuma delas pode sofrer.        

- Mas ela pode parar de se transformar, não é? Assim como você!

- Desde que por algum tempo ela não tenha a proximidade de vampiros e convenhamos, essa é uma realidade meio distante de nós hoje em dia!

- Então você está me dizendo que para você voltar a se desenvolver como um ser humano normal e Leah poder ter filhos eu e minha família teríamos que partir de Forks para sempre!

- Sim e não... você e sua família, infelizmente, não são os únicos vampiros da face da Terra! Outros já estiveram por aqui... Talvez se um dia vocês partissem... houvesse tempo para Leah ter um filho, mas isso também não é certeza, já que a qualquer tempo outros podem surgir. São especulações Nessie... não dá para saber!

A conversa de repente havia tomado um rumo muito doloroso para ambos... nenhum dos dois se quer queriam pensar naquela possibilidade. Então Jacob decidiu continuar com as justificativas em sua defesa.

- Eu e sua mãe nunca escondemos de você o que aconteceu entre nós no passado... e quando ela escolheu seu pai... eu sofri muito e em consequência disso, Leah e eu nos aproximamos.

- Posso entender... vocês dois estavam sofrendo a dor da rejeição... Então, na verdade, não foi pelo Seth que ela passou a fazer parte da sua matilha?! Foi para se afastar de Sam.

- Dedução correta.

- Fala sério! Agora... ela se apaixona por você e você não a ama da mesma maneira! Que roubada Jake... eu é que não gostaria de estar no seu lugar!

- E então... culpado ou inocente?

Nessie para responder levantou-se e apoiou-se num dos braços, assim pôde olhar de frente para Jacob, ficando quase que por sobre ele. E sorrindo maldosamente declarou:

- Culpado... mas não vou condená-lo, vou lhe conceder o perdão! A defesa foi bastante consistente, mas isso não te inocenta por ter desaparecido por dois dias quase matando a todos nós de preocupação! Portanto, você não é mais réu primário ouviu e tenho dito, caso encerrado! – Mas quando terminou de falar estava tão próxima dele que ambos podiam sentir a respiração soprar-lhes o rosto, o hálito de uma boca tão perto da outra era quase possível sentirem o gosto do beijo.

O mesmo arrepio forte e profundo que Nessie havia sentido na praia, na noite do luau percorreu-lhe a espinha, mas dessa vez ela reconheceu como uma manifestação do seu corpo à proximidade do de Jacob. Ele, por sua vez, sentiu o sangue ferver nas veias, sua visão nublou e sua respiração tornou-se acelerada. Inconscientemente Ness mordeu o lábio inferior e Jacob precisou fechar os olhos para se controlar. Aproximou-a num abraço apertado e murmurou no seu ouvido...

- Obrigado por estar aqui!

- Sempre que precisar! Ela respondeu, mas sua voz parecia tingida por certa decepção.   

- Ness... – Bella a chamava. – Precisamos ir, seu pai já ligou.

- Me dê mais alguns minutos. E já iremos. – Respondeu e continuou dirigindo-se a Jacob. – E agora o que será?

- Bem, preciso voltar ao trabalho, do contrário, Embry e Quil não vão querer me pagar esse mês.

- Ainda não conheço a oficina daqui!

- Então quando eu voltar de Port Angeles, passo na sua casa e pego você.

- E você aproveita para convencer meu pai sobre me ensinar a dirigir!

Bella sorriu comentando:

- Essa eu vou querer ver! Jacob, tarefa dura essa sua!

- Acredite sei bem o que me espera! – E revirou os olhos, imaginando o que teria que enfrentar. Então, levantou-se da rede com habilidade e deu a mão para que Nessie saísse também. Acompanhou-as até o carro e o observou até que saísse de suas vistas.

 ******

Bella dirigia com muito mais tranqüilidade do que qualquer outro com quem estivessem acostumadas a andar. Durante parte do caminho estiveram em silêncio, Nessie ia com a cabeça apoiada no vidro do carro como que admirando a paisagem, mas, na verdade, ela sequer saberia dizer onde estava.

- Não quer dividir comigo esses pensamentos que estão levando-a para tão longe de mim? – Bella indagou preocupada.

- Tenho medo só de pensar, que dirá pronunciá-los em voz alta! - Nessie respondeu receosa.

- Por acaso tem alguma relação com aquela conversa a pouco na rede?

- Com parte dela!

- Mais especificamente com a possibilidade de partirmos definitivamente de Forks.– Bella arriscou um palpite.

- Fala sério! Mãe, como você pode? Andou aprendendo com o papai? Desde quando é capaz de ler mentes?

- Não preciso ler mentes, sou observadora o suficiente para ter percebido a angústia e a tensão na voz de vocês dois naquela altura da conversa.

- Pois é... já pensou sobre isso? – Nessie queria saber a opinião da mãe apesar do medo que tinha da resposta.

- Na verdade, a pergunta que não quer calar é: Não seria o correto partirmos? Afinal aqui interferimos... sem nós por perto eles teriam uma chance maior da vida voltar ao normal... – Bella disse exatamente o que Nessie temia.

- Me dei conta que a Emily, a Kim e a Rebecca estão envelhecendo mãe... e o Sam, o Jared e o Paul estão estacionados no tempo. É justo com eles?

E Bella foi taxativa:

- A resposta é... NÃO.

Nessie tinha entendido tudo muito bem, os Cullen precisariam partir para que os Quileute não sofressem com a presença deles ali e seu pranto correu diante de sua dedução, suas lágrimas escorriam grossas pelo rosto.

- Então quando será? – Perguntou inconsolável.

- Essa que é realmente a pergunta difícil de responder! Nem sei se um dia iremos... – Bella estava sendo sincera, não tinha a resposta.

Nessie balançou a cabeça visivelmente confusa:

- Como assim mãe? Seria no mínimo muito egoísta...

- Pois é... mas nada nesse mundo é simples... – E Bella apesar de temer os desdobramentos que essa história teria concluiu que não havia mais como fugir. – Há  entre os Quileutes forças sobrenaturais que os regem, para perpetuação da espécie e proteção do povo... e apesar de eu não saber muito sobre o assunto, sei que enquanto para uns a nossa presença é um problema para outros ela é benéfica. – Bella pensava em Quil e Jacob quando respondeu isso a filha. – Os próprios Quileutes sabem disso e por hora estão em “compasso de espera”.

- Tipo assim... agora eu não entendi nada... para quem isso seria benéfico?  

 - Ness... esta é uma história que só um Quileute poderá lhe contar... por dois grandes motivos: primeiro porque é um assunto que realmente não domino, segundo porque diz respeito a eles e por isso penso que só eles mesmos é que devem contar.

- Nunca imaginei que umas férias em Forks pudessem ser tão cheias de surpresas! Pena que nem todas agradáveis.

- Isso é crescer minha filha... você está começando a fazer parte do mundo adulto... enquanto eu e o seu pai pudemos preservá-la o fizemos, mas parece que é chegada a hora de você começar a lidar com as dificuldades que nos são impostas.

 - Parece então que eu terei muito que conversar com um certo Quileute amanhã...– Nessie  murmurou pra si mesma.


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