~> POV Renesmee

 Dei uma olhadela e percebi que ele estava me encarando. Fiz que sim com a cabeça e sorri, voltando a atenção para a professora. Meu coração se aliviou. Talvez tivesse mesmo uma boa razão para não ter telefonado no final de semana. Por enquanto a solução era esperar pelo melhor.

- Não posso me demorar muito. - expliquei a Chace, fechando a porta do jipe dele. - Tenho de estar na casa de Nina dentro de meia hora.
Chace estava bonito como sempre, vestindo uma blusa preta de gola olímpica e um jeans desbotado. Seus olhos brilhavam muito."Ele está feliz por me ver",pensei. Um arrepio gostoso correu pela minha espinha. Finalmente as coisas iriam voltar ao normal.
- Espero que me desculpe por não ter ligado este fim de semana.
Fiz que não me importava, como se não tivesse nem percebido que o telefone havia ficado mudo por três dias inteiros.
- Oh, tudo bem. Eu estava ocupada com meus avós.
Chace concordou.
- Sim, eu estava ocupado também.
Decidi olhar diretamente em seus olhos e perguntar sobre sua ex-namorada. Se o passado era passado, então não haveria motivo para ciúmes.
- Então, teve chance de ver Thais no fim de semana? Ouvi dizer que ela estava na cidade.
Chace mordeu o lábio e ficou olhando fixamente para o volante do jipe, como se fosse um quadro de Picasso em vez de alguns quilos de metal e plástico.
- Ahh, sim. Na verdade, foi por isso que estive ocupado.
– eer ...
Não havia mais nada a dizer. Deveria sair do carro e nunca mais falar com Chace. A mistura de excitação e culpa em sua voz já havia dito o que eu precisava saber. De repente estava cara a cara com a possibilidade real de ser descartada.
Como uma boba, não sai do carro. Apenas fiquei sentada ali, parada, em silêncio, esperando que ele dissesse mais alguma coisa.
- Ela não sai com ninguém na faculdade. E realmente sente a minha falta e acho que sinto falta dela também.
- – permaneci perplexa.
Lágrimas tentavam brotar de meus olhos e pisquei rapidamente. Quase permitira que Chace percebesse quanto me sentia humilhada e magoada.

- Vamos tentar uma relação à longa distância. Não é que eu não ame você, acho você muito legal. Mas acho que Thais e eu estamos destinados a ficar juntos, sabe?
Engoli em seco e me endireitei no assento do jipe.
- Acho isso muito legal, Chace.
Surpreendentemente minha voz parecia natural e suave.
- É mesmo? - ele perguntou, espantado.
- Sim. Porque tem uma coisa que preciso dizer a você também.
Enfiei as mãos nos bolsos do casaco para que ele não percebesse que estavam trêmulas.
- Tem, é?
De novo ele pareceu surpreso. Suas belas sobrancelhas estavam levantadas e ele me encarava direto nos olhos.
– Sim. Nesse fim de semana, Jacob e eu percebemos que estamos apaixonados um pelo outro.
Mesmo enquanto falava, não podia acreditar que aquelas palavras estivessem saindo de minha boca. "Desculpe, Jake", pensei.
–
Senti uma certa satisfação quando notei que Chace ficou abalado.
- Não é uma coincidência muito engraçada? Temos tanta sorte que terminamos sem magoar um ao outro.
- Sim. -  concordou, embora parecendo confuso.
- Bem, acho que nos veremos por aí.
Inclinei-me e dei um beijo no rosto dele. Abri a porta e saí do carro.
- Tchau Nessie.
- Tchau Chace. - respondi, fechando a porta atrás de mim.
Quando ele saiu do estacionamento, meus joelhos se dobraram e caí no chão em soluços.

Normalmente gosto de tomar conta de Nina. Naquela tarde, porém, isso parecia mais uma sentença de prisão que um trabalho. Ela ficou me perguntando coisas sobre a relação entre meninos e meninas a cada minuto.
- Andy vai dar uma festa na sexta-feira.
Nós estávamos no estúdio da casa dela, pois eu ajudava a garotinha em um projeto de artes para a escola.
- Legal. - respondi vagamente. Não estava lá morrendo de vontade de falar sobre festas.
- Ela vai convidar uns garotos. - continuou Nina. Ela parecia ansiosa por conhecer minha reação.
- Que emocionante.- Percebi na hora que não estava sendo justa com Nina e o olhar magoado em seu rosto me fez sentir uma onda de culpa. - Desculpe. - disse, dando um abraço nela. - Tenho certeza de que vocês vão se divertir muito.
Nina era uma garotinha, mas não era boba. Ela sabia que alguma coisa tinha acontecido.
- O que foi, Nessie? Você parece triste.
Fiz que não liguei, tentando conter as lágrimas.
- Chace e eu terminamos hoje. Por isso estou triste.
- Eu não gostava dele mesmo. - retrucou ela, como se essa declaração encerrasse o assunto.
- Você nem o conhecia. - lembrei a ela.
- Certo, mas Jacob me falou dele. - ela recortou um coração de papel e escreveu suas iniciais nele.
- E o que ele disse?
- Disse que Crawford era um grande idiota e que você merecia alguém muito melhor.
Quase caí na risada. Desde quando Jacob discutia minha vida amorosa com uma garotinha de dez anos?
- Acho que ele não deveria ter dito isso. Com quem eu saio não é da conta dele ou da sua.
Vi Nina escrever outras iniciais no coração de papel, H.R, que deveria ser sua paixão mais recente.
- Mas ele estava certo. Não estava? - ela me olhou com seus olhos azuis, grandes e confiantes.
- Sim...Acho que ele acertou.

Fiquei em pé na entrada da casa dos Black tremendo de frio. Tinha saído tão depressa que em me lembrara de pegar o casaco.
- Nessie!
No instante em que me viu, Jacob me deu um grande abraço.
- Sinto muito. - cochichou em meu ouvido.
Enxuguei as lágrimas na manga da blusa dele e o encarei com curiosidade.
- Como você soube?
- Pela expressão do seu rosto, poderia dizer que alguém de sua família tinha morrido ou que você e Chace tinham terminado. Como sua mãe me pareceu normal quando falei com ela ao telefone, imaginei que seria a outra coisa.
Cobri meu rosto com as mãos e me atirei no sofá da sala de estar.
- Me sinto péssima.
- Sei exatamente como você se sente. - ele sentou-se perto de mim e me deu um tapinha nas costas.
- Como você pode saber o que estou sentindo?
- Jane me deu um fora quando estávamos patinando domingo. - respondeu ele com voz natural.
- Por quê?
Essa novidade era chocante o bastante para me fazer esquecer minha própria dor por um instante.
- Quem sabe? - ele atirou-se no sofá, todo torto.
- Eu nunca fui com a cara dela.
Dei todo o meu apoio a Jacob e não ia sentir nenhuma falta de ser boazinha com a rainha Jane.
- E eu nunca gostei de Chace.
- Falando em Chace, disse a ele uma coisa realmente idiota.
Eu tinha decidido me confessar. Jake estava prestes a me ouvir contar que eu anunciara que nós dois estávamos apaixonados.
- O quê?
- Promete que não vai ficar zangado.
- O quê? Fala logo.
Sua voz soava impaciente e eu não queria irritá-lo mais ainda antes de colocar para fora o que tinha a dizer.

- Bem, quando Crawford me disse que ele e Thais estavam reatando, eu me senti tão completamente humilhada...
- Que...?
- Que, para salvar as aparências, disse a ele que nós dois estávamos apaixonados um pelo outro.
Fiquei olhando fixamente para um vaso, esperando por seu ataque de raiva. Para minha surpresa, ele soltou uma gargalhada.
- E quem se importa?
- Verdade?
Pelo menos era uma preocupação a menos na minha cabeça.
- Claro. O pessoal vive dizendo que somos apaixonados, você sabe disso. Em uma semana a gente diz para todo mundo que decidimos que o melhor é ser apenas bons amigos e tudo fica por isso mesmo.
Pela primeira vez desde que Chace tinha terminado comigo, sorri.
- Você está certo. O que a gente faz não é da conta de ninguém.
Jacob concordou balançando a cabeça.
- E mal posso esperar para ver a cara de Jane. Será um momento digno de uma foto.

~ POV Jacob.

Hoje vi Jane flertando com Nahuel no saguão. E sabe de uma coisa? Não senti nada. Bom, quem sabe tenha sentido peninha de Nahuel (rá, brincadeira). Na verdade, eu me senti um pouco magoado. Será que signifiquei alguma coisa para ela? E, mais uma vez, será que ela significou algo para mim? Talvez Renesmee estivesse certa o tempo todo. É provável que eu não saiba mesmo o que é um verdadeiro amor, mas quem sabe? :S

Na sexta-feira à noite Nessie e eu estávamos curtindo nossa fossa atacando uma banana split na Sweet Lips. Seth estava com a gente, mas quase não conversava. Ele só ficava olhando para o sorvete como se o futuro estivesse escrito na calda de caramelo. Nós três formávamos um grupo bem melancólico.
- Você sabe qual é o seu problema Renesmee Carlie Cullen?
- Sei. É você ficar sempre me perguntando se eu sei qual é o meu problema. - ela respondeu automaticamente.
Já tivéramos muitas e muitas conversas que começaram exatamente daquela forma.
- Errou de novo. Seu problema é que você se apaixona muito facilmente.
- Ahh, não acredito que ouvi isso do cara que me desafiou a me apaixonar. Que hipócrita!
- Mas agora estou mais velho e mais sábio. E decidi que o amor está absolutamente fora dos limites.
Ela batucou a colher na taça de sorvete, pensativa.
- Acho que tenho uma sugestão que vai fazer você reconsiderar a sua fuga do amor.
- Duvido, mas experimente.
- Você pode convidar Alice para sair. - respondeu ela, e se recostou na cadeira, com uma expressão satisfeita.
- Alice? - perguntei, surpreso.
Sabia que Alice arrastava uma asinha para o meu lado, mas nunca tinha pensado em sair com ela. Quero dizer, depois de mim, ela era a melhor amiga de Nessie. A idéia de sair com ela me parecia muito esquisita.

- Claro que Alice. Ela é bonita, inteligente e dez vezes mais legal do que qualquer outra garota com quem você tenha saído.
- Não, obrigado. Acho que vou ficar na minha.
Naquele momento Seth desviou o olhar da sua taça de sorvete.
- Concordo com Renesmee. O que você tem a perder?
Eu o encarei.
- Ei! Você não é o cara que ainda está sem namorada desde o começo do semestre?
- Mas é diferente.
- Por quê?
Fiquei na expectativa do que ele ia dizer e percebi que Nessie também estava curiosa. Ultimamente Seth tem feito muito segredo sobre o que se passa em sua cabeça.
Ele lambeu a colher e limpou a boca com um guardanapo.
- Porque eu vou pedir Elizabeth em namoro, em breve. Muito breve.
Revirei os olhos.
- Ah, sei. Do mesmo jeito que você ia falar com ela uma dúzia de vezes nos últimos dois meses.
Seth corou um pouco.
- Eu teria falado com ela, mas estava em processo de eliminação. Agora, depois de estudar quarenta e duas garotas do colégio, concluí que Liz é a única que merece. Sem ofensa, Nessie.
Nessie fez que não se importava. Já estava acostumada aos comentários detestáveis sobre as mulheres da parte dele.
- Você é um mentiroso. Não falou com ela ainda porque morre de medo de levar um fora.
Seth colocou dinheiro sobre a mesa.
- Pense o que quiser Black, mas aceite o conselho de Nessie e saia com Alice. Ficar em casa no sábado à noite não é uma boa. - ele se levantou. - Vejo vocês mais tarde.
Depois que Seth saiu, Nessie colocou sua colher na mesa.
- Não diga que não tentei. Se você morrer velho, grisalho e sozinho, não diga que Renesmee Cullen não tentou ajudar.
- Vou pensar nisso. Mais por ora todas as minhas energias estão concentradas em esquecer que Jane Volturi existe. E é um trabalho em tempo integral.

- Então temos o mesmo patrão. Muito trabalho, pouco salário. Termina isso. - ela empurrou para mim a taça de sorvete quase vazia.
Dei umas colheradas e raspei a calda de caramelo no fundo da taça, saboreando o gostinho doce.
- Que tal a gente dar uma olhada no que vai passar na "Sessão Coruja". - perguntei, antes mesmo de engolir a calda.
- Legal.
- É a semana do romance no canal quatro.
Ela se levantou e pegou o casaco e o chapéu do cabide. Enquanto a ajudava com o casaco, captei nossa imagem no velho espelho pendurado na parede.
Estávamos sorrindo e percebi que nos parecíamos com qualquer outro casal na sorveteria. Se não conhecesse a situação, pensaria que éramos o casal mais vibrante do colégio, jovens e apaixonados.

Duas horas e meia mais tarde, Nessie desligou a televisão, no estúdio de sua casa, suspirando. Acabáramos de assistir “Diário de Uma Paixão" e ela tinha uma expressão sonhadora nos olhos, que eu já tinha visto muitas vezes antes. Apesar de sua aparência meio durona, Nessie sempre foi do tipo manteiga derretida em relação a romances.
- Você acha que algum cara pode me amar tanto quanto Noah amou Allie no filme?
- Que pergunta boba.
- Por quê? Você acha que ninguém nunca vai me amar tanto assim, por isso?
Nessie estava esticada no sofá, com as pernas em meu colo. Quando olhei para seu rosto, observei que a expressão sonhadora fora substituída por um ar de tristeza.
- Não, Nessie. Porque tenho certeza de que tem um monte de caras que podem e vão amar você tanto quanto Noah amou Allie.
Ela sorriu.
- Você acha? De verdade?
- Renesmee, você é a garota mais maravilhosa do colégio e do mundo. Qualquer cara que não se apaixone por você só pode ser doido.
Ela sentou e me abraçou. Retribui o abraço, aliviado por ver que ela sorria novamente.
- Estou tão contente por você ser meu melhor amigo. - falou com a voz abafada por minha camiseta.
- Nem metade do que eu estou. - dei um aperto em seu ombro e a abracei mais forte ainda.
- Eu te amo. - Nessie falou, com o rosto contra meu peito.
- Também te amo. Sempre.

Renesmee e eu usávamos a palavra "amor" com freqüência. Nós sabíamos que era no sentido de "como amigos", e nunca nos incomodamos em dizer isso. Mas naquela noite as palavras pareceram mais verdadeiras do que nunca. Pensei que fosse porque nós dois passáramos por maus bocados e descobrimos que, mais do que nunca, acreditávamos em nossa amizade.
Nessie inclinou a cabeça e me deu um beijo amistoso na bochecha. Retribui o beijo. Depois ela me beijou do outro lado do rosto. E eu retribui. Ficamos nessa beijação de face até contar uns vinte beijos.
Num dado momento, quando ia beijar sua bochecha, meus lábios, assim meio sem-querer-querendo, tocaram os lábios dela...