POV Percy Jackson

Se você é filho de Hades, parabéns por aguentar toda a coisa da viagem pelas sobras. Caso não seja e nunca viajou em cima de um cão infernal, agradeça a todos os deuses por isso. Vamos levar em conta que no começo é muito divertido, com as sombras e o vento e tudo mais, mas depois é como quando você anda de avião pela primeira vez: você sai todo borrado. Não que eu tenha andado de avião, apenas ouvi alguns comentários, ok?

Nico disse que fazia a parada da viagem nas sombras sozinho. Bom, de qualquer forma, Ozzy farejou Grover. Até Los Angeles, Hollywood. E depois o coitado capotou no chão. Nico tinha nos avisado que ele ficaria bem cansado por causa de toda a viagem.

E apesar de Los Angeles ser um dos locais da minha lista de lugares para visitar, não era agora que eu queria visitar lá. Nem desse jeito. O bom é que não estava chovendo tanto. Paramos bem em frente à um estúdio de gravação, e Nico apareceu alguns minutos depois, do nosso lado, meio zonzo mas ele estava bem.

– Então... o que nós fazemos aqui? - perguntou Thalia - Olha, eu bem que gostaria de passar em umas lojinhas e tudo mais...

– Algum ator famoso filmou alguma coisa aqui? - perguntou Julie, maravilhada.

– Não vamos em nenhuma 'lojinha', Thalia. Cara, vocês nem sabem o que é isso direito! - reclamou Nico.

– Então, Nico, o que é isso, exatamente? - perguntou Annabeth.

– É uma pena que vocês não tenham morrido, vai dar muito trabalho... - ele disse e Annabeth cruzou os braços - Esqueçam, me sigam - ele falou por fim e empurrou a porta de vidro, entrando em seguida. O lugar era sinistro, tinham algumas plantas esquisitas e haviam muitas pessoas por lá, e todas elas pareciam... fantasmas.

– Essa gente toda morreu? - sussurrou Julie. Nico fez que sim com a cabeça e continuou andando. Thalia estremeceu-se por causa daquilo, talvez por causa de Luke. Nico andou até um balcão, aonde um cara estava de costas.

– E ai, Caronte! - disse Nico, e o homem se virou. Ele parecia um soldado, ou coisa assim, ele era todo esquisito.

– Ora, ora... Nico di Ângelo por aqui? De novo? Espero que dessa vez seus amigos estejam mortos - respondeu Caronte. Pelo visto, Nico já tinha trazido alguns amigos dele aqui.

– Hmm, pois é - disse Nico, nervoso - Precisamos ver Hades.

– Como eles morreram? - perguntou Caronte, ignorando Nico.

– Bem, nós... nós morremos de... intoxicação alimentar - disse Julie.

– E o que comeram? - perguntou Caronte.

– Err, aquele danone de intestino, sabe? Havia passado a validade... - soltou Thalia. Nico abaixou a cabeça e Annabeth balançou a cabeça, negativamente.

– Que coisa horrível... - disse Caronte.

– Hã, você me ouviu, Caronte? Precisamos ver Hades.

– Ah, pois é, seu pai anda ocupado ultimamente... Ele está tentando se acertar com um sátiro que as nossas queridas Benevolentes pegaram. Ele só nos trás problemas... - dito isso, um arrepio percorreu minha espinha, e olhei nervoso para Nico.

– Eu preciso ver Hades, é urgente - disse Nico, e se aproximou de Caronte - Você tem que nos deixar passar, caso contrário, todos os deuses irão acabar com você - ele ameaçou. Caronte pareceu um pouco apavorado, mas não se entregou.

– Você passa, eles não - ele disse.

– Por que não? Nós temos algo para entregar para Hades, e é urgente, caso contrário, todas as fúrias irão acabar com o mundo, inclusive com essa sua cara de rato! - xinguei. Ok, eu fiquei irritado, e então percebi que havia feito a maior burrice da minha vida. Nico se virou e balançou as mãos. Acho que agora sim nós iriamos morrer, e então iriamos entrar no Mundo Inferior.

Caronte se aproximou de mim e disse:

– Você não está morto. Nem esses pentelhos - e então ele se virou para Nico, que parecia relaxado - Você tentou passar a perna em mim de novo?

Nico já ia brigar com ele, mas então Thalia o cutucou falou dos dracmas. Nico começou a mexer na mochila, mas não encontrava o saco. Thalia arregalou os olhos, e Julie começou a ficar impaciente.

– Sumiram! - disse Nico - Acho que deixamos naquele bar imundo!

– Mas que droga! Você tinha que ficar com fome, Percy? - disse Thalia.

– Hey, a culpa não é minha! - reclamei. Annabeth nos mandou ficar quietos e começou a mexer na sua mochila.

- Hmm, Caronte eu... - começou Annabeth.

- Senhor Caronte, por favor.

- Ok, me desculpe. Senhor Caronte, eu queria saber... Você aceitaria recordações, sonhos, hmm, algo que fosse um pouco mais valioso do que dracmas? - perguntou ela. Do que ela estava falando?

- O que você quer dizer com isso, mocinha?

- Algo que tenha mais valor... Algo que jamais irá ver novamente em sua vida, eu acho. E se quiser, podemos falar com Hades sobre aumento de salário - ela disse. Thalia me olhou, mas eu não sabia o que estava acontecendo. Annabeth tirou algumas coisas da mochila. Alguns dracmas e vários envelopes, amarrados por um pedaço de barbante. Eram as minhas cartas.Caronte pegou as cartas, analisou todas elas, e pegou os dracmas. Nico me olhou, procurando alguma resposta, mas eu apenas fiz o mesmo que Annabeth - peguei as cartas que ela havia me mandado e deixei em cima do balcão.

Todos pareceram confusos, e eu estava prestes a perder algo que realmente era importante para mim. Mas se isso fosse o suficiente para poder acabar com aquilo tudo, eu faria. Caronte nos olhou, com um pouco de pena. Ficou meio pensativo, e então disse a Nico:

– Apenas três de vocês poderão ir. O resto vai ter que aguardar lá fora. É o que posso fazer - ele falou. Todos queríamos ir - ou não - mas ninguém disse nada.

– Eu tenho que ir, e vocês sabem disso. Tenho um plano - falou Nico - E Percy também tem que ir comigo.

– E eu preciso ir também. Tenho que... terminar uma coisa que comecei. A profecia - disse Julie. Fazia sentido, e apesar de Thalia e Annabeth ficarem muito chateadas por não poderem ir, elas aceitaram.

– Vamos esperar lá fora - disse Thalia. Nico concordou e foi andando até um elevador, e Julie foi atrás.

– Me deseje sorte - falei para Annabeth. E então, ela fez algo que eu não imaginaria que ela fosse fazer. Não agora.

Ela me beijou. Por um instante, eu realmente achei que eu havia morrido.

– Boa sorte, Cabeça de Alga. E se você morrer, eu te mato.E então ela se virou e correu atrás de Thalia, e eu fui atrás de Nico e Julie.

– Cara, desde quando vocês estão juntos? - perguntou Nico. Apenas sorri e fiquei ali, com os outros, esperando Caronte.

(...)

Aquela viagem de barco havia me dado um pouco de trauma. Principalmente o rio Styx. Ignorando isso, Nico nos guiou até aonde deveriamos ir. Passamos por alguns lugares que eram, realmente, um pesadelo. Mas, Nico era esperto, e passou por vários atalhos que era capaz de nem Hades saber da existência. Julie estava meio nervosa, mas seguia em frente.Passamos pelo jardim de Perséfone, que era um dos jardins mais lindos que eu já vira, mesmo sendo no mundo inferior. Era o único ponto de alegria que eu vi ali, mas passamos rápidos para não ter que comer os romãs.

– Se preparem, Hades é um deus... surpreendente - falou Nico.

Aquilo me deixou um pouco nervoso, mas, de qualquer forma, continuamos. Subimos os degraus do palácio de Hades, que era todo escuro, e havia muitas colunas negras. Bom, acho que você já deve imaginar como é aquele lugar.Haviam vários esqueletos, como se fossem guardiões. Aquilo era muito assustador, mas eu apenas os ignorei. E então, chegamos até o lugar que deveriamos estar. As portas se abriram, e alguns guardas que estavam por ali se movimentaram. E então, Nico pediu para ir sozinho primeiro.

Hades, que tinha uns três metros de altura, ocupava seu trono, e haviam alguns guardas esqueletos em volta. Mas estava dando atenção para uma criatura engraçada, que falava grego e Hades apenas reclamava tanto que mal percebeu nossa presença, até Nico se aproximar. Assim que Hades o viu, apenas suspirou.

– Você sabe como eu adoro visitas, não é criança? - disse ele, sarcástico, mas Nico não pareceu se importar e começou:

– Peço desculpas ao senhor. Eu achei que...

– Aonde está? - perguntou Hades. Troquei olhares com Julie, e foi ai que ele nos notou - Ah, que ótimo! O filho do meu irmãozinho querido está aqui... E a filha do mensageiro também... Que ótimo ter a família reúnida! - ele disse. Que irônico, não?

– Na verdade, senhor, queremos lhe entregar algo que perdeu - falei, e ele sorriu, mas seus olhos eram cheios de raiva.

– Já não basta ser filho de Poseidon, ainda tem que ser o ladrãozinho. Nada melhor que isso! Ah, e o que mais? Vamos passar o Natal juntos? - ele disse. Vamos deixar bem claro que Hades era um cara horripilante, mas era muito idiota.

– Certo. Pai, queremos propor uma troca ao senhor - disse Nico.

– Olhem para mim... Eu tenho cara de cachorro pidão? - Hades respondeu. Nico revirou os olhos e eu tive vontade de rir daquilo. Mas fiquei quieto.

– Bom... Nós entregamos algo que pertece ao senhor... E o senhor nos devolve algo que nos pertence, tio - falei e ele pareceu intrigado.

– É uma troca inexistente. Não tenho nada que pertence à vocês.

– Hmm, na verdade tem sim. Nosso sátiro, Grover - disse Julie.

– Ah, sim, aquele bode chorão... Já devolvi ele pro seu devido lugar, ele realmente não tem utilidade.

– Você o matou? - perguntou Nico, se segurando para não cerrar o punho.

– Não, criança. Algum dia, ele ainda vai ser a minha melhor arma, quem sabe - respondeu Hades, coçando a barba - Bom, acho que podem me entregar o que me pertece.

– Hmm, antes eu tenho uma pergunta, tio. Suas fú... Benevolentes. Elas estão soltas por ai? - perguntei.

– Ah, é claro que estão. Alguém roubou a minha chave, os portões estão destrancados, aquelas criaturas são teimosas e estão aqui. Menino tolo. Nessa hora elas devem ter matado quase todos os semideuses que estão fora do acampamento de férias de vocês. Agora me diga, menino - disse ele, se levantando, e então começou a tremer, como uma imagem borrada e ficou em um tamanho um pouco maior que eu - Vocês que me roubaram?

– Não... não fomos nós - disse Nico - Era um velhote, um deus, talvez.

– Com todo respeito ao meu pai, mantive a minha opinião guardada, mas acho que foi Hermes. Eu senti algo em comum com aquele velho, algo como uma ligação. E se for preciso, pagarei punição por ele - disse Julie. ELA TINHA ENLOUQUECIDO? CARA, SÉRIO, EU ACHO QUE...

– Ah, claro. Pelos deuses, porque ele faria isso, menina?

– Diversão. Eu faço isso o tempo todo - ela disse. Ela estava tentando nos livrar ou algo assim. Cara, eu simplesmente não podia acreditar nisso tudo.

– Certo, certo... Depois discutiremos isso. Então, onde está minha caixa?Assim que ele disse isso, troquei olhares com Nico, e pedi pra ele fazer alguma coisa. Vários semideuses poderiam estar sendo mortos pelas fúrias! Nico ficou pensativo mas então finalmente propôs algo interessante.

– Bom, nós te devolvemos a sua chave e você nos devolve um amigo.

– Vocês sempre querem algo em troca? - ele perguntou e nós apenas o encaramos - Certo...

– Reencarne Luke - disse Nico. Aquilo fora a coisa mais inteligente que ele já fez. No começo, Hades não aceitou, de forma alguma. Mas então, fomos apontando as consequências que ele teria, falando sobre guerrar que aparentemente ninguém queria... E também falamos muito sobre Luke. Passamos muito tempo ali, e ele finalmente aceitou.

– Seu amiguinho aparecerá naquele ninho de semideuses.

– Nos dá sua palavra? - perguntei.

– Sim, eu dou, menino golfinho - respondeu Hades, já irritado com nossa presença. Peguei a caixa e entreguei à ele, que na mesma hora, começou a pegar fogo e sumiu. Uma luz dourada resplendeu todo o local, e alguns guardas se manifestaram, e alguns rugidos percorreram todo o lugar, e depois tudo voltou ao normal.

– Hmm, pai, será que você pode nos levar pra casa? Não temos pérolas, nem algo que possa nos levar embora. E se puder tirar nossas duas amigas, Annabeth e Thalia também... E, ah, dê mais previlégio para Caronte - pediu Nico. Hades suspirou, e mandou a gente se concentrar. Uma sombra nos envolveu, e aquela viagem fora tão esquisita quanto a do cão infernal.

E nós fomos parar em um lugar nada estranho. Caímos em um pedaço de grama, e depois Annabeth e Thalia apareceram ao nosso lado.

– Eu pensei que eu tinha morrido - disse Thalia, dando um longo suspiro.

– Se anime, estamos em casa - falei, olhando pra cima.